quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Luiz Damo (As Faces da Trova) – 7 –

A saudade, tão discreta,
abala e nos causa dor,
mesmo não sendo direta
sempre afeta o nosso humor.
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Diz. o pequeno infrator;
nunca serei condenado!
Pois tem muito corruptor
que nunca acabou julgado,
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Em junho tem São João,
Pedro, Paulo e Santo Antônio,
este, pela tradição,
mediador do matrimônio.
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Enquanto nos deleitamos
com caprichos abissais,
das alturas vislumbramos
escombros e nada mais.
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É tão forte a dor do parto!
Diz à mãe, quem a conforte...
Sim, lhe responde e a reparto,
às que dizem, ser da morte!
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Forte luz sobre o horizonte
trouxe tantos imigrantes,
ígneo facho, ao sonho fonte
de paz aos perseverantes.
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Jamais o homem se acovarde
e impeça alguém de crescer,
nem a colheita retarde
pro fruto não se perder.
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Mais que dar um copo d'água
a quem sede voraz sente,
é não ser fonte de mágoa,
nem da dor uma vertente...
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Morte, um eterno Inimigo,
surge e ataca com desdém,
manda prover um jazigo
Na necrópole do além.
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Não permaneça caído
mas tente se levantar,
mesmo sendo dolorido
pode ser um mal-estar.
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Na vida somente vence
quem luta com dignidade,
porque a vitória pertence
a quem se arma da verdade.
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Nunca faças dos fracassos
o escuro fulcro do enterro,
mas do decurso dos passos
um laço de amparo e esmero,
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O escritor, agradecido,
reconhece em seu leitor,
que o doce fruto colhido
foi, ser lido como autor.
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O homem, de tudo tem medo,
desde a sombra que projeta
e a noite, com seu segredo,
mais insegurança injeta.
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O homem na dor a sofrer,
nada resta que o conforte,
está pronto pra morrer,
mas não preparado à morte.
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Partes de um sonho rompido
soltas ao longo da estrada,
são de alguém que tem caído
no curso da caminhada.
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Pelos campos da humildade
quem planta e for aguerrido,
não falta a oportunidade
para o fruto ser colhido.
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Pôr o ato em banho-maria,
ou volvê-lo em pano-quente,
é ter medo da água fria
por julgá-la estar fervente.
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Que a leitura companheira
não se afaste do leitor
e este, por mais corriqueira,
entenda a voz do escritor.
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Que o respeito varra à vida
tudo quanto causa a dor
e deixe a estrada varrida
com a vassoura do amor.
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Se as flores forem colhidas,
os jardins se descolorem,
sem as roseiras floridas,
os aromas também morrem.
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Se o escritor ficar gravado
com cuidado em seu leitor,
foi, por ter se transformado
no seu grande inspirador.
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Sob a ação devastadora
de um vendaval fulminante,
resta a dor assustadora
da defesa inoperante.
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Só quem luta sabe o quanto
pesa a dor de uma derrota,
seu rosto banhado em pranto
reflete o que ela denota.
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Toda a caneta denota
uma história a ser descrita,
se for prova, mostra à nota,
o poder que tem a escrita.
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Vibrante e excelsa Caxias
do Sul, com força total,
vivo rito de alegrias
num alegre ritual...

Fonte:
Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

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