Tomba-Ya-Taba (bode)
Etoli — (camundongo)
Vyâdu — (antílope)
Njâ (leopardo)
Ko (rato silvestre)
Njâku (elefante)
Homem
Nyati (boi)
O Bode vivia com sua mãe na aldeia. Um dia ele disse:
— Consegui uma poção que me fará vencer qualquer luta. Ninguém será capaz de me derrubar ou derrotar. Vencerei todos os animais.
Os outros animais ficaram sabendo dessa bravata e foram desafiá-lo. Os primeiros a chegar foram os camundongos, centenas deles, e assim se deu o primeiro embate. O Bode derrotou um por um de seus duzentos desafiantes. Os camundongos reconheceram que não eram páreo para ele e foram embora.
Então os ratos silvestres chegaram e lutaram com o Bode. Mais uma vez, todos foram derrotados e voltaram para casa.
Em seguida vieram os antílopes. O Bode venceu cada um do bando, nenhum foi capaz de derrotá-lo. E também se foram.
Os elefantes foram os próximos, a manada inteira veio desafiar o Bode. Todos voltaram para casa derrotados.
E assim aconteceu com todos os outros animais. Chegavam e eram vencidos da mesma maneira e, como os outros, também iam embora. Apenas um ainda não havia tentado. O Leopardo decidiu enfrentar o Bode, certo de que sairia vitorioso. No entanto, também foi derrotado e assim ficou provado que não havia um único animal na selva capaz de vencer o Bode.
O Pai de Todos-os-Leopardos ficou sabendo daquilo e disse:
— Que vergonha um animal desse tamanho derrotar um de nossa espécie. Vou matá-lo!
E planejou sua vingança. Foi até a nascente usada pelos Homens e se escondeu ali perto. Alguns moradores da cidade apareceram para pegar água e o Leopardo matou dois deles. As pessoas então foram até o Bode e pediram:
— Vá embora daqui! O Leopardo está matando nosso povo por sua causa.
A mãe do Bode então aconselhou seu filho:
— Se isso for verdade, devemos ir visitar meu irmão Antílope.
Então foram até a aldeia do Tio Antílope e contaram tudo o que estava acontecendo.
— Pois fiquem em minha casa! — disse Antílope. — Quero ver se o leopardo tem coragem de aparecer aqui!
Permaneceram na aldeia do Antílope por dois dias. No terceiro, por volta das oito da manhã, o Leopardo apareceu por lá como se estivesse apenas dando um passeio. Ao vê-lo, o Bode e sua mãe se esconderam, enquanto o Antílope foi conversar com ele:
— Qual é o problema? Por que você está bravo com meu sobrinho?
Antes mesmo que o Antílope terminasse de falar, o Leopardo arrancou-lhe uma orelha.
— Por que me atacou? — gritou Antílope.
— Mostre-me onde Tomba-Taba (bode) e sua mãe estão — ordenou o Leopardo.
Amedrontado, o Antílope respondeu:
— Venha hoje à noite e mostrarei onde dormem. Faça o que quiser com eles, mas não me mate.
O Bode ouviu a conversa e foi avisar sua mãe:
— Temos de fugir ou Njâ (leopardo) nos matará.
Quando o sol se pôs, o Bode e sua mãe fugiram para a casa do Elefante. O Leopardo voltou à aldeia do Antílope por volta da meia noite, conforme o combinado. Procurou em todas as casas do vilarejo e, contrariado por não encontrar o Bode, foi até o Antílope e o matou.
Continuou suas buscas e enfim encontrou o rastro de sua caça. Seguiu no encalço do Bode até chegar à vila do Elefante. Njâku (elefante) o recebeu com indignação:
— Qual é o problema? — e o Elefante repetiu as mesmas palavras que o Antílope.
E como o Bode e sua mãe fugiram para a aldeia do Boi, o Elefante teve o mesmo destino que o Antílope: acabou assassinado pelo felino.
O Leopardo então foi até a aldeia do Boi, que repetiu a mesma conversa e teve o mesmo destino dos outros antes dele. Foi assassinado, mas o Bode conseguiu escapar.
A mãe do Bode, já cansada de tanto fugir e desgostosa com a morte de seus protetores, enfim disse:
— Meu filho! Se continuarmos a fugir de aldeia e aldeia, Njâ nos seguirá matando todos os animais. Vamos para as casas dos Homens.
Fugiram novamente e chegaram até a aldeia dos Homens, onde contaram sua história e foram bem recebidos. Um dos moradores acolheu o Bode e sua mãe como convidados, e mais tarde deu a eles uma casa.
Certa noite o Leopardo chegou à cidade, procurando o Bode. O Homem, ao vê-lo, disse:
— Os animais que você assassinou não souberam te matar. Mas aqui na nossa cidade nós o mataremos.
O Leopardo então voltou para sua casa.
Dias depois, o Homem construiu uma armadilha com dois compartimentos. Colocou o Bode em um deles. Quando chegou a noite, o Leopardo saiu novamente à procura do Bode e voltou para a cidade. Apurou os ouvidos e farejou o cheiro de sua presa.
— Esta noite finalmente o matarei — pensou.
Notou uma trilha que levava até uma casa. Abriu o que acreditou ser uma porta e caiu na armadilha. Podia ver o Bode pelas aberturas da parede, sem conseguir tocá-lo.
— Meu amigo! Você queria me matar, mas não vai conseguir — caçoou o Bode.
Quando o dia amanheceu, os habitantes da cidade encontraram o Leopardo preso na armadilha. Mataram-no a tiros e golpes de facão. O Homem então disse ao Bode:
— Não volte mais para a floresta. Fique aqui para sempre.
Esta é a razão de os bodes viverem junto dos homens: o medo dos leopardos.
Fonte: texto por Robert Hamill Nassau, in Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 1. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC. Distribuição gratuita.
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