− Você seria todo bonito, ouriço, se suas pernas não fossem tortas e cambaleassem.
O ouriço se zangou e disse:
− Do que você está zombando? Minhas pernas tortas correm mais depressa do que suas pernas retas. Deixe-me só ir em casa e depois vamos disputar uma corrida!
O ouriço foi para casa e disse para a esposa:
− Tive uma discussão com a lebre: queremos disputar uma corrida!
A esposa do ouriço respondeu:
− Você deve ter ficado maluco! Como é que vai correr com a lebre? As pernas dela são velozes e as suas são tortas e lerdas.
O ouriço disse:
− Ela tem pernas velozes, mas minha inteligência é rápida. É só você fazer o que vou mandar. Vamos para o campo.
Foram a um campo, ao encontro da lebre; o ouriço disse para a esposa:
− Fique escondida dentro dessa ponta da vala do arado e eu e a lebre vamos correr da outra ponta para cá; assim que ela se adiantar, eu vou voltar para trás; e quando ela chegar aqui na sua ponta, você aparece e diz: "Faz tempo que estou esperando você." Ela não vai distinguir você de mim, vai pensar que sou eu.
A esposa do ouriço escondeu-se dentro da vala do arado e o ouriço e a lebre começaram a correr da outra ponta.
Assim que a lebre se adiantou, o ouriço voltou para trás e escondeu-se dentro da vala. A lebre chegou em disparada à outra ponta da vala, olhou: a esposa do ouriço já estava lá! Ela deixou a lebre surpresa e disse:
− Faz tempo que estou esperando você!
A lebre não distinguiu a esposa do ouriço do próprio ouriço e pensou: “Que coisa incrível! Como ele conseguiu me vencer?”.
− Bem, − disse a lebre − vamos correr mais uma vez!
− Vamos!
A lebre partiu em disparada no caminho de volta, chegou à outra ponta, olhou: o ouriço já estava lá e disse:
− Puxa, minha cara, só chegou agora? Faz tempo que estou aqui.
“Que coisa incrível!”, pensou a lebre. “Por mais depressa que eu corra, ele sempre chega na minha frente. Bem, então vamos correr mais uma vez, agora você não vai me vencer.”
− Vamos correr!
A lebre correu o máximo que podia, olhou: o ouriço estava sentado na frente e esperava.
E assim a lebre ficou correndo de uma ponta da vala para outra, até não ter mais forças.
A lebre desistiu e disse que dali em diante nunca mais ia discutir.
Fonte: Liev Tolstói. Livros de leitura para crianças. Publicado originalmente em 1864. Disponível em Domínio Público
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