quarta-feira, 7 de maio de 2025

Asas da Poesia * 18 *

 

Trova de
ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Nesse horizonte infinito, 
onde o clarão é profundo, 
raiam bênçãos, acredito, 
para ungir a paz do mundo.
= = = = = =

Quadra Infantil de
ALCIR NICOLAU PEREIRA
Porto Alegre/RS

Ex-Pirata 

Nem pirata, nem cara de mau
Sou coxo agora de fato
Usaram a minha perna de pau
Pra brincar no jogo de taco
 
Minha cara dantes bonita
Olho de vidro agora não tem
Pois virou pequena bolita
Nos jogos de gude de alguém
 
Perdi tudo que eu tinha de bom
Fiquei sem olho e sem minha nau
Perdi perna que fazia mau som
E acabei nunca mais sendo mau
= = = = = = 

Trova de
HELENA KOLODY
Cruz Machado/PR, 1912 – 2004, Curitiba/PR

A vida o tempo devora;
o próprio tempo não dura.
Colhe a alegria de agora,
para a saudade futura!
= = = = = = 

Poema de
MESSODY RAMIRO BENOLIEL
Rio de Janeiro/RJ

Amor virtual

De paixões entendo.
Incomodam muito mais que
injeção de óleo no braço.
E o porquê do fracasso
na relação a dois 

Serão preconceitos
meros   conceitos
ou vontade apenas de
fazer valer "verdades pessoais"?

Sou mais a inconsistência incoerência
demência, todas as "ências"
de um amor virtual.
= = = = = = 

Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Ademar Macedo encerra
nesta vida o seu papel.
Um homem que deixa a Terra,
um anjo que chega ao céu!
= = = = = = 

Soneto de
LUCIANO DÍDIMO
Fortaleza/CE

Vida nova

Vamos arar a terra para o plantio
Às vezes é nas trevas que se semeia
O amor na noite escura melhor permeia
Faz brotar a semente em cada vazio

O perdão sempre acaba com todo estio
Multiplicando paz como grão de areia
Já que a misericórdia desencadeia
Fazendo que o doente fique sadio

Do escuro se distingue melhor a luz
É preciso que a água seja fervida
É preciso que a prata seja fundida

O alívio é privilégio de quem tem cruz
Na fé a nossa dor será arrefecida
Da semente que morre é que nasce a vida
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Esta aliança que um dia,
já guardou nossos segredos;
hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
= = = = = = 

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

Teu perfume

Neste perfume que teu corpo exala,
Inebriando por completo o ambiente,
Invade os meus sentidos e me embala
se espalha em meu olfato docemente.

Vertiginosamente me aproximo
quase sem perceber sigo teu passo,
em teus abraços me enroscando arrimo
pelo aroma atraída  a teu regaço.

Com todos os sentidos extasiados
numa entrega completa aos teus carinhos
meus membros obedecem exaltados.

Anseios satisfeitos relaxados...
Permanece o perfume, teus cheirinhos,
sentimentos tranquilos saciados.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Não importam a censura
e o louvor da sociedade:
procuro viver à altura
da minha própria verdade!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Sol e lua

Hoje, no lusco-fusco da manhã,
a lua cheia fulgurante e bela
trocou seu branco pálido-maçã
por rara maquilagem amarela.

Buscou bem alto o céu, sempre no afã
de embelezar-se mais que uma aquarela,
e assim ficou na espera de seu fã,
que não tardou em vir buscar por ela!

Afobado, surgiu o sol bem rubro,
com os trajes próprios para o mês de outubro,
sem se lembrar de que ainda é só agosto!

A lua se assustou, perdeu a cor
e sob as nuvens escondeu seu rosto...
Fazendo que nem viu seu grande amor!
= = = = = = 

Haicai de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

Barulho estridente
no bosque ao lado da casa –
Ah! Um pica-pau.
= = = = = = 

Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Entre frestas e olhares

Marejam aos infortúnios
do destino, harmonizam
em crepúsculos serenos,

são apenas arco-íris tênues, plenos.
Acalmam sorrindo ou lançam luzes
em pequenas doses, sutis venenos.
Teus raios iluminam minhas noites;
sois na vida, espetaculares acenos.
= = = = = = = = =  

Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

A oração tem mais fervor
e a fé se agiganta em brilho,
quando a mãe com muito amor,
clama a Deus pelo seu filho!
= = = = = = = = =  

Hino do
ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA/ PE

Entre ondas bravias, azuis
Sob um céu sempre cheio de luz,
Há um pedaço da minha terra,
Esta ilha, que a todos seduz.
Brancas praias, rochedos, luar
E o Pico, altaneiro, sem par,
Fernando de Noronha é um sonho
Do qual ninguém quer despertar.

Quem já viu qualquer coisa mais bela
Que os abismos do Sancho e Sapata,
Italcable, Cacimba do Padre
E o mar, espumando na Rata?
Atalaia, baía Sueste,
E, no mastro do forte, a bandeira,
São cenários que nunca se esquece,
São lembranças para a vida inteira!.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Meus retalhos de esperança,
juntei-os, pus no correio.
( Destino, velha criança,)
mas a resposta não veio.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
NA CADÊNCIA DO SAMBA 
(samba, 1962) 
Paulo Gesta e Ataulfo Alves

Sei que vou morrer, não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer, não sei a hora
Levarei saudades da Aurora

Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita de um samba
Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem fica a fama
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita de um samba
= = = = = = = = =  

Trova de
GERSON CESAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Dizem que eu sonho em excesso...
Mas insisto em voos altos!
E as pedras nas quais tropeço
impulsionam novos saltos!!!
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Soneto de
GAITANO LAERTES P. ANTONACCIO
Manaus/AM

Amor sem emoção

O amor de agora é uma troca virtual,
tão diferente, tão estranho ao coração,
que mais parece uma relação pactual,
entre seres humanos, sem emoção!…

O amor que se contempla nos amantes,
perdeu hoje, a essência da sinceridade.
É falso, não se manifesta como antes,
porque despreza a ética e a moralidade.

O amor agora, vem se transformando
a cada dia, todo minuto, todo instante
deixando a paixão, muito mais distante,

enquanto a falsidade vai se avolumando.
O amor, hoje, não cede nenhum espaço,
não cabe num beijo, não vale um abraço!…
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Quadra Popular de Minas Gerais
AUTOR ANÔNIMO

Não furtar
nada que dos outros são;
mas você bem que furtou 
meu pobre coração.
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Poema de
MIFORI
São José dos Campos/SP

Manto da noite

No manto da noite vem,
as estrelas com seus brilhos,
e a lua cheia,  também,
clareando com rastilhos,
o namoro de um alguém.

Sei, que é no manto da noite,
atingindo a madrugada,
que silêncio vira açoite,
a quem tem vida agitada,
e insônia de pernoite.

E o manto da noite,  assim...
Com alegria e prazer,
diz: vim, olhe para mim!...
Viva e deixe-me viver,
quero chegar até o fim
tendo cumprido o dever.
= = = = = = = = =  

Setilha de
FRANCISCO NEVES MACEDO
Natal/RN, 1948 – 2012

Do sertão sou oriundo...
Aprendiz de agricultor,
no meu “roçado” eu cultivo,
a semente, o fruto, a flor.
Colhendo em cada leirão*,
dentro do meu coração,
os doces frutos do amor!
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* Leirão = espaço de terreno cultivado
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Soneto de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Por um beijo

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades que trago do chão de onde venho,
as promessas que eu faço, piedoso, ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança, que insisto em manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!
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Ode de
MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro/RJ, 1923- 2012

Ode a um quase calvo

Ontem, hoje
e amanhã
o homem o cabelo parte
parte o cabelo com arte
até que o cabelo parte.
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Poema de
MARI REGINA RIGO 
Canoas/RS

Sinais

No mundo da poesia 
Todos nós somos iguais. 
Loucos de amor 
Mas só mostramos os sinais. 

Nos alimentamos de quimeras 
E assim vamos atravessando 
Várias eras. 

Nascer e viver, sonhar e amar 
Lutar para merecer 
Crer e sobreviver. 

Para dizer que a lua é tua 
É só passear pela rua 
De mãos dadas com seu amor. 

As palavras são apenas sinais 
De sentimentos iguais 
À todos os mortais. 
Homem, poeta e trovador.
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Epigrama de
ALBERTO RAMOS
Pelotas/RS, 1871 – 1941, Rio de Janeiro/RJ

De tônico e tintura 
este vate usa e abusa.
Não há filtro capaz 
de redourar-lhe a musa.
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Poema de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Fotografias

Olhando o álbum de fotografias
eu não vejo retratos, vejo dias
que já não voltam mais.
Insuspeitada máquina do tempo,
cada página de fotos é exemplo
de outros aniversários e Natais.
Vejo que algumas ficam desbotadas,
depois de muitas páginas viradas
que as fizeram perder-se na distância.
E aquilo que ontem foi tão importante,
e mereceu ficar gravado num flagrante,
hoje não tem sequer mais importância.
Este álbum é a janela que o passado
abre, para o olhar do pensamento,
nos sótãos e porões da eternidade.
E o que ficou nas fotos registrado
e vai viver outra vez nesse momento
será o que chamamos de saudade.
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Soneto de
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ

Apoteose

Na bruma densa de um mar revolto,
Em manhã fria de um inverno intenso,
Sinto um medo aprisionado e envolto
Na cena fria de um terror imenso.
 
As ondas fortes entram pela praia
Lambendo a areia fina e cristalina,
A espuma branca vem beijar a saia
Já desbotada da pobre menina.
 
Do céu pesado com nuvens escuras
Faíscam raios, vêm as trovoadas,
As gaivotas fogem em revoadas...
 
E os meus olhos saem à procura
Do Criador, o nosso Deus Supremo,
Na apoteose de um pavor extremo!
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Quadra de
AGOSTINHO DA SILVA
Porto/Portugal, 1906 - 1994, Lisboa/Portugal

Tudo o que faço na vida
é só linha de poema
que cada um ordenará
conforme for seu esquema.
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Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Meu espelho

Vejo meu espelho, todo estilhaçado,
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
O meu rosto...  vejo tão transfigurado:
Foi o tempo, grande obreiro, quem teceu.

Traços profundos; um olhar apagado
Dum ser que passou pela vida e viveu...
Assim mesmo, valha Deus! Muito abençoado...
Que apesar dos estilhaços – cresceu!

Retornei  -  Ele não estava quebrado...
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
Não foi ele...  E o que deixou marcado?
Foi o tempo. Foi a vida. Ou fui eu...
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Aldravia de
EURÍPEDES RODRIGUES DA COSTA
Goiânia/GO

amanhã
virá
minha
voz
ouvirão
agora
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Galope à Beira-Mar de 
LUCIANO MAIA
Limoeiro do Norte/CE

Cantor das coivaras queimando o horizonte,
    das brancas raízes expostas à lua,
    da pedra alvejada, da laje tão nua
    guardando o silêncio da noite no monte.
    Cantor do lamento da água da fonte
    que desce ao açude e lá fica a teimar
    com o sol e com o vento, até se finar
    no último adejo da asa sedenta,
    que busca salvar-se da morte e inventa
    cantigas de adeuses na beira do mar.
= = = = = = = = =

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