sábado, 15 de março de 2025

Adega de Versos 136: Arlindo Barbeitos

 

José Feldman (Fábulas) Ingratidão

Havia um pequeno pássaro chamado Pipi, que tinha um canto lindo e único. Ele sonhava em ser ouvido por todo o mundo, mas não sabia como fazer isso.

Um dia, uma grande águia chamada Áquila, que era conhecida por sua sabedoria e generosidade, ouviu o canto de Pipi. 

Ela ficou impressionada com a beleza da sua voz e decidiu ajudá-lo a alcançar seu sonho.

Áquila levou Pipi para voar sobre as montanhas e vales, e apresentou-o a todos os animais que encontravam pelo caminho. Ela usou sua influência para que Pipi fosse convidado para cantar em todos os eventos importantes da região.

Pipi ficou famoso em pouco tempo, e todos os animais o admiravam. No entanto, à medida que sua fama crescia, Pipi começou a se esquecer de Áquila e de tudo o que ela havia feito por ele.

Ele começou a acreditar que seu sucesso era apenas mérito seu, e que Áquila não havia feito nada para ajudá-lo. Ele até começou a se comportar de forma arrogante e ingrata em relação à águia.

Um dia, Áquila se aproximou de Pipi e disse: "Pipi, você esqueceu de mim? Você esqueceu de tudo o que eu fiz por você? Eu estendi minha asa para você, e agora você me trata como se eu fosse nada?"

Pipi ficou envergonhado e percebeu seu erro. Ele pediu desculpas a Áquila e prometeu nunca mais esquecer dela e de tudo o que ela havia feito por ele.

Moral da fábula: 
A ingratidão é um veneno que pode destruir as relações e a própria alma. Devemos sempre lembrar e agradecer aqueles que nos ajudam e nos apoiam, pois sem eles, não estaríamos onde estamos hoje.
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Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Baú de Trovas “18”


851
Tão pão-duro é o sujeitinho,
que até para dar risada
pede ao bondoso vizinho
a dentadura emprestada!…
A. A. DE ASSIS
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852
Eu não possuo riqueza,
fui pobre desde criança!
Mas dentro desta pobreza
sou rica... tenho Esperança!
ADALZIRA BITTENCOURT
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853
Divide aquilo que tens
com quem tem fome e padece.
A partilha dos teus bens
tem mais valor que uma prece!
ALBA HELENA CORRÊA
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854
O meu melhor agasalho
é o colo de minha amada,
pois quando nele me encalho
não temo o frio ou geada!
AMILTON MACIEL MONTEIRO
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855
"Quem espera sempre alcança!..."
- Esperar por quem ?... Por quê?...
Se a derradeira esperança,   
morreu também com você!...
ANIS MURAD
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856
Sonho um mundo sem arenas,
mais justo, mais solidário,
onde a paz não seja, apenas,
três letras no dicionário.
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
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857
Se na memória eu não falho,
o poeta, qual todo artista,
é alguém que não dá trabalho
ao doutor cardiologista...
ANTÔNIO MÁRIO MANICARDI
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858
Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas;
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.
CAROLINA RAMOS
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859
Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES 
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860
Carimbar no coração
o dom - autenticidade -
é levar à multidão
um selo de qualidade!
CRISTINA CACOSSI
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861
Esse aroma ...tentação,
que deixaste...traiçoeiro,
abala meu coração,
dormindo em meu travesseiro!
CYNIRA ANTUNES DE MOURA
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862
Por mais que a vida se oponha,
traze os sonhos junto a ti,
porque, aos olhos de quem sonha,
o Infinito...é logo ali!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
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863
Eu vejo a noite indo embora
com seu véu de negros laços...
Deus acende a luz da aurora
e traz o sol em seus braços!
EDNA GALLO
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864
Abro a janela, e a neblina
lacrimeja na vidraça...
A saudade dobra a esquina,
entra em meu quarto e me abraça.
EDUARDO A. O. TOLEDO
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865
Sobreviver, nesta vida,
é travar uma batalha;
--chora-se a cada partida...
- vibra-se a cada medalha!
EULINDA BARRETO
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866
Entre os sonhos e a lembrança,
veja a vida, em seus compassos,
colher versos de esperança
na herança dos próprios passos!
EVA GARCIA
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867
Quando a seca nos acossa
e o rio mostra seu leito,
a tristeza que há na roça
roça com força em meu peito!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
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868
Aquele casebre pobre,
lodo em palha ornamentado,
oculta um coração nobre
que o tempo deixou marcado!
FRANCISCO MAIA
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869
Esperança - benfazeja
visão de um doce porvir
- algo bom que se deseja
que pode vir ou não vir.
GERALDO PIMENTA DE MORAES
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870
Alvorada dos meus dias
teus olhos - luzes pagãs
acendem com poesias
o céu de minhas manhãs...
GILVAN CARNEIRO DA SILVA
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871
No cais da vida, a distância,
eu vislumbrei, na verdade,
a acenar-me a doce infância,
com o lenço azul da saudade!
GISELDA MEDEIROS
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872
Se o coração de quem ama
fosse capaz de compor,
o eletrocardiograma
seria um hino de amor!
JAIME PINA DA SILVEIRA
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873
Escrava do teu olhar
quis fugir... mas que surpresa!
Tentando me libertar,
cada vez fico mais presa.
JANSKE NIEMANN SCHLENKER
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874
A minha Mãe natureza,
que nada deixa faltar,
me faz saber, com certeza
que vale a pena sonhar…
JAQUELINE MACHADO
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875
O murmúrio deste rio
plangente, triste a passar,
às vezes eu desconfio:
É pra meu sono embalar.
JOÃO ALFREDO P. DE LIMA NETO
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876
O verbo "amar” conjugado,
tem dois tempos, assegurado:
a saudade - que é o passado,
a esperança - que é o futuro...
JORGE MURAD
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877
Minha fonte de alegria,
meu amor, minha paixão...
Tu és, ó doce poesia,
da minha vida a razão!
JOTA DE JESUS
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878
Se as águas banham meu rosto,
refletindo o meu cansaço,
entrego a Deus meu desgosto
e ganho D'Ele, um abraço.
KARLA CRISTIANE BITENCOURT
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879
Nesta rua, onde moro,
passa a vida em liberdade;
mas não passa quem adoro
nem, de mim, passa a saudade.
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
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880
Em parte da minha essência
já nem sei mais quem sou eu…
quando choro pela ausência
de um sonho que já morreu!
LUCÉLIA SANTOS
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881
Na saudade intransigente,
o coração se revolta;
a estrada diz: – Segue em frente;
o coração pede: - Volta!
LUIZ POETA
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882
Eu tenho razão de sobra
ao chorar o amor perdido.
Minha face sempre mostra
um vazio refletido.
LUIZA NELMA FILLUS
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883
Ele cai... não retrocede!...
Continua... até sozinho...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho…
LUIZ OTÁVIO
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884
Busquei tanto a liberdade,
e hoje, no Bar da Ilusão,
me embriago de saudade
na taça da solidão!…
MARIA DE LOURDES OUVERNEY
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885
Na caminhada da vida,
nos momentos mais festeiros,
nessa dureza da lida,
os livros são companheiros.
MARIA LUIZA WALENDOWSKY
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886
“Sem uma “prova de amor”
sumo de vez e te esqueço!”
-“Pois some logo: - É um favor,
porque esse truque ... eu conheço!!!“
MARIA MADALENA FERREIRA
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887
Bandolim, meu amigão,
sai de dentro do baú,
vem tocar uma canção
pra gente de Tambaú!
MÁRIO BELTRAME
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888
De esperas fiz meu passado…
E compondo a vida assim,
tornei-me um barco ancorado
no cais do porto de mim…
MARISA OLIVAES
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889
Eu peço ao Deus da bondade:
– Não me tire a fantasia,
pois viver só realidade
é impossível, noite e dial
NILSA ALVES DE MELO
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890
O meu palácio encantado
onde o ano todo é Natal,
é um quadradinho, alugado,
chamado caixa-postal.
NILTON MANOEL TEIXEIRA 
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891
Se quiser ser campeão,
nesta guerrilha de amor,
leve a paz no coração
e da luz, todo o esplendor!
OLGA MARIA DIAS FERREIRA
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892
Faço versos e no entanto
aquele amor, que é loucura,
só deixa meu peito em pranto,
ao sentir que me tortura!
SARAH RODRIGUES
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893
Todo bem, toda alegria,
que neste mundo se alcança,
são juros de economia
guardado pela Esperança.
SEVERINO UCHOA
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894
Amar; dar educação.
Amor com sabedoria
enriquece o coração
e enche a vida de alegria,
SÔNIA REGINA ROCHA RODRIGUES
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895
Era um sonho, tão bonito!
Nas estrelas se escondeu.
Quis voltar lá do infinito,
mas na volta, se perdeu.
SÔNIA SOBREIRA
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896
Teu retrato até rasguei
para fugir à verdade...
"Sem lembranças"... eu pensei,
mas ninguém rasga a saudade.
THEREZA COSTA VAL
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897
Garota que, muitas vezes,
com jantares se tapeia,
vai, durante nove meses,
“chorar... de barriga cheia!”
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
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898
No tédio de minha vida
de emoções vazia e nua,
só me torna comovida
a Esperança de ser tua...
VERA MILWARD DE CARVALHO
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899
Contadora de meus casos
dos bons tempos que vivi!…
Saudade não marca prazos
para me ver por aqui.
WAGNER MARQUES LOPES
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900
Mistério que nos sustenta,
quando a vida fere e cansa…
- Quanto maior a tormenta,
maior também a esperança.
ZALKIND PIATIGORSKY 
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Beatrix Potter (O conto da torta e da forma de pernil)

Era uma vez uma gatinha chamada Ribby, que convidou uma cachorrinha chamado Duquesa, para o chá.

"Venha em boa hora, minha querida duquesa", dizia a carta de Ribby, "e nós teremos algo muito bom. Estou assando em uma forma de torta - um prato de torta com borda rosa. Você nunca provou nada tão bom! E você deve comer tudo! Vou comer muffins, minha querida duquesa!" escreveu Ribby.

Duquesa leu a carta e escreveu uma resposta: - "Eu irei com muito prazer às quatro e quinze minutos. Mas é muito estranho. Eu estava para convidá-la para vir aqui, para jantar, minha querida Ribby, para comer algo mais delicioso.

"Eu irei muito pontualmente, cara Ribby", escreveu a Duquesa; e então no final, ela acrescentou: "Espero que não seja rato!"

E então ela pensou que não parecia muito educado; então ela apagou "não é rato" e mudou para "Espero que fique bem" e ela entregou sua carta ao carteiro.

Mas ela pensou muito sobre a torta de Ribby e leu a carta de Ribby repetidamente.

"Estou com muito medo de que seja rato!" disse Duquesa para ela mesma - "Eu realmente não podia, não podia comer torta de rato. E eu terei comê-lo, porque é uma festa. E minha torta ia ser vitela e presunto. Um prato de torta rosa e branco! E o meu também; assim como a louça de Ribby; ambos foram comprados na casa de Tabitha Twitchit.

A Duquesa entrou em sua despensa e tirou a torta de uma prateleira e olhou nisso.

"Está tudo pronto para colocar no forno. Que adorável crosta de torta; e eu coloquei em uma pequena assadeira de estanho para segurar a crosta; e eu fiz um buraco no meio com um garfo para soltar o vapor - Oh, eu gostaria de poder comer minha própria torta, em vez de uma torta feita de rato!"

Duquesa considerou, considerou e leu a carta de Ribby novamente:

"Um prato de torta rosa e branco - e você comerá tudo. ' Você' significa eu - então Ribby não vai nem provar a torta sozinha? Um prato rosa e branco de torta ! Ribby com certeza sairá para comprar os muffins.... Oh, o que é uma boa ideia! Por que eu não deveria me apressar e colocar minha torta no forno de Ribby quando ela não está lá?"

A Duquesa ficou bastante encantada com sua própria inteligência!

Ribby, entretanto, recebeu a resposta da Duquesa, e assim que ela tinha certeza de que a cachorrinha poderia vir - ela colocou sua torta no forno. Havia dois fornos, um acima do outro; alguns outros botões e as alças eram apenas ornamentais e não se destinavam a abrir. Ribby colocou a torta no forno inferior; a porta estava muito rígida.

"O forno superior assa muito rápido", disse Ribby para si mesma. "É uma torta do rato mais delicado e macio picado com bacon. Mas eu tirei todos os ossos; porque a Duquesa quase se engasgou com uma espinha de peixe da última vez que dei uma festa. Ela come um pouco rápido - em grandes bocados. Mas é uma cachorrinha muito gentil e elegante; infinitamente companhia superior à prima Tabitha Twitchit."

Ribby colocou um pouco de carvão e varreu a lareira. Então ela saiu com uma lata para o poço, para que a água encha a chaleira.

Então ela começou a arrumar a sala, pois era a sala de estar bem como a cozinha. Sacudiu os tapetes na porta da frente e colocou-os em linha reta; o tapete da lareira era uma pele de coelho. Tirou o pó do relógio e os enfeites na lareira, e poliu e esfregou as mesas e cadeiras.

Em seguida, estendeu uma toalha de mesa branca muito limpa e pôs o melhor jogo de chá de porcelana, que ela tirou de um armário de parede perto do lareira. As xícaras de chá eram brancas com um padrão de rosas cor de rosa; e os pratos de jantar eram brancos e azuis.

Ribby se prepara para sua convidada.

Quando Ribby colocou a mesa, ela pegou um jarro e um prato azul e branco, e desceu no campo para a fazenda, para buscar leite e manteiga.

Quando ela voltou, ela espiou no forno de fundo; a torta parecia muito confortável.

Ribby colocou o xale e o gorro e saiu novamente com uma cesta, para a loja da aldeia para comprar um pacote de chá, meio quilo de açúcar em caroço e um pote de marmelada.

E ao mesmo tempo, a Duquesa saiu de sua casa, no outra extremidade da aldeia.

Ribby encontrou Duquesa no meio da rua, também carregando uma cesta, coberto com um pano. Eles apenas se curvaram um à outra; não falaram, porque iam fazer uma festa.

Assim que a Duquesa virou a esquina fora de vista - ela simplesmente correu! Direto para a casa de Ribby!

Ribby entrou na loja e comprou o que ela precisava, e saiu, depois de uma fofoca agradável com a prima Tabitha Twitchit.

A prima Tabitha foi desdenhosa depois na conversa:

"Uma cachorrinha de fato! Como se não houvesse gatas em Sawrey! E uma torta para o chá da tarde! Que ideia!" disse a prima Tabitha Twitchit.

Ribby foi até a loja de Timothy Baker e comprou os muffins. Então ela foi para casa.

Parecia haver uma espécie de barulho de briga na passagem traseira, quando ela estava entrando pela porta da frente.

"Espero que não seja aquela torta: as colheres estão trancadas, no entanto." disse Ribby.

Mas não havia ninguém lá. Ribby abriu a porta inferior do forno com alguma dificuldade, e virou a torta. Começou a haver um prazeroso cheiro de rato assado!

Duquesa, entretanto, havia saído pela porta dos fundos.

"É uma coisa muito estranha que a torta de Ribby não estivesse no forno quando eu coloquei a minha! E não consigo encontrá-la em lugar nenhum; Eu olhei por todo o lado da casa. Coloquei minha torta em um forno bem quente no alto. Eu não poderia girar qualquer uma das outras alças; Acho que são todas falsas", disse Duquesa, "mas eu gostaria de ter removido a torta feita de rato! Eu não consigo pensar no que ela fez com isso. Eu ouvi Ribby chegando e eu tinha sair correndo pela porta dos fundos!"

Duquesa foi para casa e escovou seu lindo casaco preto; e então ela colheu um buquê de flores em seu jardim como presente para Ribby; e passou o tempo até o relógio bater quatro horas.

Ribby - tendo se assegurado por meio de uma pesquisa cuidadosa de que realmente não havia ninguém se escondendo no armário ou na despensa - subiu as escadas para trocar de vestido.

Ela vestiu um vestido de seda lilás para a festa e um avental de musselina bordada e uma tiara.

"É muito estranho", disse Ribby, "eu não acho que deixei essa gaveta puxada para fora. Alguém está experimentando minhas luvas?"

Ela desceu as escadas novamente, fez o chá e colocou o bule no fogão. Espiou novamente no forno de fundo, a torta havia se tornado um lindo marrom, e estava muito quente.

Ela se sentou diante do fogo para esperar pela cachorrinha. "Estou feliz por ter usado o forno de baixo", disse Ribby, "o de cima certamente teria ficado muito quente. Eu me pergunto por que a porta do armário estava aberta?  Houve realmente alguém na casa?"

Muito pontualmente às quatro horas, Duquesa começou a ir para a festa. Ela correu tão rápido pela aldeia que chegou cedo demais e teve que esperar um pouco na viela que leva à casa de Ribby.

“Eu me pergunto se Ribby já tirou minha torta do forno.” disse Duquesa, “e o que pode ter acontecido com a outra torta feita de rato?”

Às quatro e quinze em ponto, houve um pequeno toc-toc muito gentil. “A Sra. Ribby está em casa?” Duquesa perguntou na varanda.

“Entre! E como vai, minha querida Duquesa?” gritou Ribby. “Está bem?”

“Muito bem, obrigado, e como vai, minha querida Ribby?” disse a Duquesa. “Eu trouxe algumas flores para você; que cheiro delicioso de torta!”

“Oh, que lindas flores! Sim, é rato e bacon!”

“Não fale sobre comida, minha cara Ribby”, disse Duquesa; “que lindo pano de chá branco!… Já está virado? Ainda está no forno?”

“Acho que precisa de mais cinco minutos”, disse Ribby. “Só mais um pouco; vou servir o chá, enquanto esperamos. Aceita açúcar, minha querida Duquesa?”

“Ah, sim, por favor! Minha cara Ribby, posso cheirar um torrão de açúcar?”

“Com prazer, minha querida Duquesa; com que beleza você implora! Oh, com que doçura e beleza!”

Duquesa sentou-se com o açúcar no nariz e cheirou.

“Como cheira bem essa torta! Eu adoro vitela e presunto… quero dizer, rato e bacon…”

Ela derrubou o açúcar confusa e teve que ir caçar debaixo da mesa de chá, então não viu qual forno Ribby abriu para pegar a torta.

Ribby colocou a torta sobre a mesa; havia um cheiro muito saboroso.

Duquesa saiu de debaixo da toalha mastigando açúcar e sentou-se numa cadeira.

“Primeiro vou cortar a torta para você; vou comer muffin e marmelada”, disse Ribby.

“Você realmente prefere muffin? Cuidado com a panela!”

“Oh, não se preocupe com isso!” disse Ribby.

“Posso lhe passar a marmelada?” disse Duquesa apressadamente.

A torta provou ser extremamente saborosa e os muffins leves e quentes. Eles desapareceram rapidamente, especialmente a torta!

“Eu acho” (pensou a Duquesa para si mesma) – “Eu acho que seria mais sensato se eu me servisse de torta; embora Ribby não parecesse notar nada quando ela estava cortando. Não me lembrava de tê-lo picado tão bem; suponho que este seja um forno mais rápido do que o meu.

“Quão rápido a Duquesa está comendo!” pensou Ribby consigo mesma, enquanto passava manteiga em seu quinto muffin.

O prato de torta estava esvaziando rapidamente! Duquesa já havia comido quatro porções e estava se atrapalhando com a colher. “Um pouco mais de bacon, minha querida duquesa?” disse Ribby.

“Obrigado, minha cara Ribby; eu só estava procurando a forma.”

“A forma? Qual, minha querida Duquesa?”

“A forma que segurava a massa da torta”, disse Duquesa, corando sob o casaco preto.

“Oh, eu não coloquei uma, minha querida duquesa”, disse Ribby; “Não acho que seja necessário em tortas de rato.”

Duquesa se atrapalhou com a colher.

“Não consigo encontrar!” ela disse ansiosamente.

“Não tem forma alguma”, disse Ribby, parecendo perplexa.

“Sim, de fato, minha cara Ribby; para onde pode ter ido?” disse a Duquesa.

“Certamente não há, minha querida Duquesa. Eu desaprovo artigos de lata em pudins e tortas. É muito indesejável – (especialmente quando as pessoas engolem em pedaços!)” ela acrescentou em voz baixa.

Duquesa parecia muito alarmada e continuou a escavar o interior da assadeira.

“Minha tia-avó Squintina (avó da prima Tabitha Twitchit) – morreu de um dedal em um pudim de ameixa de Natal. Nunca coloquei nenhum artigo de metal em meus pudins ou tortas.”

Duquesa pareceu horrorizada e ergueu o prato de torta.

“Tenho apenas quatro forminhas de suporte, e estão todas no armário.”

Duquesa soltou um uivo.

“Vou morrer! Vou morrer! Engoli uma forminha! Oh, minha querida Ribby, estou me sentindo tão mal!”

“É impossível, minha querida duquesa, não havia uma forminha.”

Duquesa gemia, choramingava e se balançava.

“Oh, eu me sinto tão mal, eu engoli uma forma!”

“Não havia nada na torta”, disse Ribby severamente.

“Sim, minha querida Ribby, tenho certeza de que engoli!”

“Deixe-me apoiá-la com um travesseiro, minha querida Duquesa; onde você acha que sente isso?”

“Oh, eu me sinto tão mal, minha querida Ribby; eu engoli uma grande lata com uma borda afiada e recortada!”

“Devo chamar o médico? Vou trancar as colheres!”

“Ah, sim, sim! Chame o Dr. Maggotty, minha cara Ribby: ele certamente entenderá.”

Ribby acomodou Duquesa em uma poltrona diante do fogo, saiu e correu para a aldeia para procurar o médico.

Ela o encontrou na ferraria.

Ele estava ocupado enfiando pregos enferrujados em um frasco de tinta que conseguira no correio.

“Pernil? Ha! Ha!” disse ele, com a cabeça de lado.

Ribby explicou que sua convidada havia engolido uma forma feito de lata cortada.

“Lata de espinafre? Ha! Ha!” disse ele, e acompanhou-a com entusiasmo.

Ele pulou tão rápido que Ribby teve que correr. Foi o mais notável. Toda a aldeia podia ver que Ribby estava chamando o médico.

“Eu sabia que elas iriam comer demais!” disse a prima Tabitha Twitchit.

Mas enquanto Ribby estava caçando o médico - uma coisa curiosa tinha acontecido com a Duquesa, que havia sido deixada sozinha, sentada diante do fogo, suspirando e gemendo e sentindo-se muito infeliz.

"Como eu poderia ter engolido isso? Uma coisa tão grande como uma panela!"

Ela se levantou e foi até a mesa, e mexeu dentro da forma de torta novamente com uma colher.

"Não; não há nada, e ninguém comeu torta exceto eu, então devo ter engolido!

Ela se sentou novamente e olhou tristemente para a grade. O fogo crepitava e dançava.

A Duquesa abriu a porta do forno superior; saiu um rico sabor fumegante de vitela e presunto, e havia uma torta fina marrom - e através de um buraco no topo da crosta da torta havia um vislumbre de uma pequena panela de lata!

A Duquesa respirou fundo.

"Então eu devo ter comido rato... Não é à toa que me sinto mal.... Mas talvez eu me sentisse pior se realmente tivesse engolido uma panela! Duquesa refletiu: "Que coisa muito estranha de se explicar para Ribby! Acho que vou colocar minha torta no quintal e não dizer nada sobre isso. Quando eu for para casa, vou correr e levá-lo embora. Ela colocou do lado de fora da porta dos fundos, e sentou-se novamente perto do fogo, e fechou o olho; quando Ribby chegou com o médico, ela parecia estar dormindo profundamente.

"Estou me sentindo muito melhor", disse Duquesa, acordando com um salto.

"Estou realmente feliz em ouvir isso! Ele trouxe uma pílula para você, minha querida Duquesa!"

"Acho que me sentiria muito bem se ele apenas sentisse meu pulso", disse Duquesa, afastando-se, que se aproximou com algo em seu bico.

"É apenas uma pílula de pão, é muito melhor você tomá-la; beba um pouco de leite, minha querida Duquesa!"

"Pernil? Pernil?" disse o médico, enquanto a Duquesa tossia e engasgava.

"Não diga isso de novo!" disse Ribby, perdendo a paciência - "Aqui, pegue este pão e geleia, e saia para o quintal!

Que médico peculiar!

"Pernil e Espinafre! ha ha ha!" gritou o Dr. Maggotty triunfantemente do lado de fora da porta dos fundos.

"Estou me sentindo muito melhor, cara Ribby", disse Duquesa. "Você não acha que é melhor eu ir para casa antes que escureça?"

"Talvez seja sábio, minha querida Duquesa. Eu vou te emprestar um bom xale quente, e você deve pegar meu braço.

"Eu não iria incomodá-la por nada. Eu me sinto maravilhosamente melhor com a pílula do Dr. Maggotty.

"Na verdade, é muito admirável, se o curou de uma panela! Eu ligarei logo após o café da manhã para perguntar como você dormiu."

Ribby e Duquesa se despediram afetuosamente, e Duquesa começou a ir para sua casa. No meio do caminho, ela parou e olhou para trás; Ribby tinha ido embora e fechou a porta. A duquesa escorregou pela cerca e correu para os fundos da casa de Ribby e espiou para o quintal.

No telhado do chiqueiro estavam sentados o Dr. Maggotty e três gralhas. As gralhas estavam comendo crosta de torta e O doutor estava bebendo molho de uma panela.

"Pernil, ha, ha!" ele gritou quando viu o narizinho preto da Duquesa espiando pela esquina.

A Duquesa correu para casa sentindo-se extraordinariamente boba!

Quando Ribby saiu para pegar um balde cheio de água para lavar as coisas do chá, ela encontrou um prato de torta rosa e branco esmagado no meio do quintal. A panela estava sob a bomba, onde o Dr. Maggotty o deixou atenciosamente.

Ribby olhou com espanto - "Você já viu algo assim! então lá realmente era uma panela?... Mas minhas panelas estão todas no armário da cozinha. Bem, eu nunca fiz... 

Da próxima vez que eu quiser dar um festa - vou convidar a prima Tabitha Twitchit! 
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Biografia da autora na Wikipedia, em https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatrix_Potter

Fontes:
Beatrix Potter (escritora e ilustradora). O conto foi publicado originalmente em 1905 como “The Tale of the Pie and the Patty Pan”. Disponível em Domínio Público, no Projeto Gutemberg.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

sexta-feira, 14 de março de 2025

Adega de Versos 135: Gustavo Adonias Aguiar Bastos

 

Renato Frata (Assim se deu)

Comprou para si máscaras rosas. Para Alberto, azuis, e o amaria com elas pela primeira vez nesse pandêmico 2020, transformado em ano-horror de tantas mortes e festival de sandices macabras da TV buscando audiência!

Por isso, apertou os passos a despeito da chuvarada sobre as costas. Já não eram os passos de shopping, demorados diante das vitrines, mas os de chuva com travessias às gordas e potentes enxurradas a molharem os pés, além de se incomodar com os pingos vazados da velha sombrinha. Mas todo esse esforço valeria. Alberto havia falado que chegaria na quinta, e já era terça...

- Ops! já era terça, ou ainda era terça? perguntas bobas que a saudade inventa de inventar na cabeça da gente... – e seguiu com esses pensamentos que a levavam a ora se preocupar com a ausência do amado, ora se incandescer de desejo pela proximidade do dia em que viria... por isso, se sujeitou a sair com o tempo ruim apenas para comprar as ditas máscaras, possibilitando que o namoro acontecesse.

Sem elas, diziam, a Covid faria estrago... Melhor cuidar!

Tateando paredes e cuidando com a chuva, chegou, empurrou o portão, subiu os degraus, meteu a chave na fechadura, torceu, empurrou e entrou. O barulho da água no telhado e a escorrer pela calha abafou o seu estardalhaço de chegada. Aí deixou a sombrinha pingar, a capa no espaldar e a sacola de compras sobre a mesa. Aproveitou para se olhar no espelho já meio embaçado, sorriu, secou o pingo na testa respirando aliviada: - bastava um tico para Alberto chegar.

Desfez os pacotes, separou as máscaras ajeitando-as pelas cores. Não via a hora de, estando mascarada, amá-lo com a paixão ditando ordens, e cantou sussurrando;

- É o amor... que mexe com minha cabeça e me deixa assim, que faz eu pensar em você e esquecer de mim, que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver...

Ensaiou uns passos de dança e pensou: - Alberto, ah! Meu Berto... amor da minha vida... se eu pudesse, sabe o que mudaria em você? Somente o seu CEP. Para o meu! Em definitivo...

Nesse instante, como coisa pensada, um barulho vindo dos cômodos a alertou, deixando-a preocupada.

O que seria? Quem seria?

Ao se virar para conferir, a surpresa: era Alberto que tendo chegado minutos antes da chuva, entrara e, com a casa vazia, se deixou descansar da viagem e agora, com ela ali a mexer e a cantarolar, aproveitara para se aproximar, o que a fez apenas abrir os braços, tempo mais que suficiente para abraçá-lo e se derreter no seu abraço, a amolecer-se nos seus beijos, a suspirar nos seus suspiros, para rapidamente se despindo por inteira, suar nos seus suores, tremer nos seus tremores e a gemer nos seus regalos, tão bom e tão suave se mantinha. Tal qual havia imaginado e vivido mais de uma vez em pensamento.

Ali na sala, sobre a mesa, sem qualquer falso pudor, com as roupas jogadas aos pés, alcançaram rapidamente o ápice sem se lembrarem da maldita Covid. 

As máscaras? Bem, elas, as azuis e rosas, se espalharam pelo chão pelo reboliço dos corpos sedentos de amor, porque ele, esse tal amor, o mais sublime dos sentimentos quando explode elimina, nem que seja por instante, qualquer ameaça de contágio. O perigo, naquele momento, seria se preocuparem com as malditas que impedem a respiração.

E a vida? Bem, a vida seguiu... e segue bem quando há amor a ser compartilhado, tanto na presença como na ausência, assistido sempre pela constância.

O Alberto que o diga…
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RENATO BENVINDO FRATA, trovador e escritor, nasceu em Bauru/SP, em 1946, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Além de atuar com contador até 1998, laborou como professor da rede pública na cadeira de História, de 1968 a 1970, atuou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranavaí, (hoje Unespar), atualmente aposentado. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da paranaense Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.

Fontes:
Renato Benvindo Frata. Crepúsculos outonais: contos e crônicas.  Editora EGPACK Embalagens, 2024. Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 226


Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

MOINHOS DE VENTO

As invasões letais de ervas daninhas,
nossos rosais repletos de falenas;
saúvas temporãs cortando as vinhas...
não trazem tempos bons, eras serenas...

Poeta cônscio, em tantas entrelinhas,
versei, sem a influência dos mecenas,
e tantas vezes vi que são só minhas
as frases que aos demais são “cantilenas”.

Não quero mais falar dos caules tortos,
dos joios infestados nos trigais,
que a ação da “sarracênia” é covardia...

Melhor, talvez, que fossem todos mortos,
mas... vidas são premissas capitais...
E eu sempre fui contrário à eugenia!
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Trova de
BELMIRO BRAGA
Vargem Grande/MG, 1872 – 1937, Juiz de Fora/MG

A mulher, além de terna,
faz tudo com perfeição,
que até nos passando a perna,
tem a nossa gratidão...
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Poema de
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Santo Antônio do Monte/MG

FALSA RETIDÃO

Tudo o que quis ser e não fui
Hoje se dilui sobre o que sou
Em meu passo o mar do destino flui
No que não sou o pedaço do que sou está
Esquecimento faz parte da lembrança
Esperança com a desesperança convive
A vida vive em meio a muita morte
O mais forte nem sempre é valente
Pode não ser contente a pessoa feliz 
Há muita presença cheia de ausência
Muita ausência que presença marca
Refletindo a fiel luz da transparência
Que reflete o ser humano em solidão
Pois que sob o pano solerte da multidão
Todos aparentam viver em retidão
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Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Onde a sombra cobre e embaça
o sol que anima e clareia,
eu quisera ser quem passa
e reacende a luz alheia.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

SÓ SE CHORA POR QUEM PARTE
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas", p. 20)
 
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.

Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.

De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.

Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

O sol, cumprida a rotina,
cerra o painel em que atua,
some por trás da colina
e abre o portão para a lua.
= = = = = = 

Poema de
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

LUÍZA

Luíza, nome que soa como poesia,
Mulher de fé, sorriso que irradia,
Com batom suave, enfeita o dia,
Mãe, esposa, amiga, harmonia.

Tão terna e carinhosa no gesto,
Generosa alma, sempre manifesto,
Disponível ao amor, tão desmedida,
Tu és o melhor livro que já li na vida.

Avó que conta histórias com doçura,
Bisavó, um pilar de ternura,
Destemida, enfrenta cada jornada,
Com a força que só o amor embala.

Luíza, és essência, és beleza,
Um coração que vibra com pureza,
Tua luz é eterna, não se desfaz,
Um poema vivo, escrito na paz.
= = = = = = 

Trova do 
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Ninguém é pedra polida,
se não mudar de conduta;
pois, a pedreira da vida
é feita de pedra bruta!
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

INSPIRAÇÃO

Busquei a inspiração a duras penas
para escrever, com fé, este soneto,
e quero que as palavras mais amenas
sejam a Paz e o Amor, como dueto.

Que vou dizer das provações terrenas,
se o ninho é construído com graveto?
– Será melhor curar dores pequenas
e confirmar aquilo que prometo.

Mas teimo em encontrar a inspiração
que se escondeu e foge com razão,
deixando amargurado este poeta…

Clamo de novo e então ela aparece
trazendo junto aos peito farta messe
e agora, sim, a noite está completa!
= = = = = = = = =  

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Eu formulo esta sentença
como um libelo à tolice:
antes cego de nascença
do que cego de burrice!
= = = = = = = = =  

Sextilha de
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Ilusões, esta vida tantas deu
que eu bebi desta luz de tantas cores,
muitas delas, já mortas encontrei,
outras vivas, com brilhos multicores...
Ilusões, as mais lindas transformei
nas certezas totais dos meus amores…
= = = = = = = = =  

Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Na paisagem poluída,
o poeta, buscando um norte,
pinta um sol de amor e vida
no rosto escuro da morte!
= = = = = = = = =  

Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

SONETO CLASSE MÉDIA, BAIXA

Quando eu me aposentar… Irei morar em Vênus!…
(O I.P.T.U. de lá, é menor que o da lua.
Há descontos de lei sem qualquer falcatrua
e sem taxas de lixo embutida em terrenos).

Aposentadoria é crime?…(Mais ou menos…
se for por doença não é, mas a verdade crua,
é que os espertalhões desfilam pela rua
cheios de “ME APOSENTEI”) — Que salários obscenos!

Quando eu me aposentar…(Se eu puder, o pijama,
o radinho de pilha, o travesseiro, a cama,
nenhum deles terá um minuto de folga).

Quando eu me aposentar… Urras e Vivas! Bingo!
Os dias de semana, o sábado… o domingo…
serão todos iguais. É isto que me empolga!
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Trova de
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS

Na profissão do pintor,
calcada com o coração,
ele pinta um sol de amor
em meio à  poluição!
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Cantiga Infantil de Roda
SERENO DA MEIA-NOITE 

É uma roda de crianças, com uma no centro. Cantam as da roda:

Sereno da meia-noite }
Sereno da madrugada } bis

Eu caio, eu caio }
Eu caio. sereno, eu caio } bis

Responde a menina do centro:

Das filhas de minha mãe }
Sou eu a mais estimada } bis

Eu não m'importo, }
Que da amiguinha, }
Eu seja a mais desprezada } bis
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Quanto a teteia abre o pico,
turva-se o tempo, meu bem;
quem tem sua dor, que gema,
que eu não sou pai de ninguém.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Ecoam cantigas na memória...
À sombra da árvore
Brincam de roda as targets.
Crianças traquinas...
Em movimento, mesclam-se as cores
Entre os raios do sol.
Tontos com tanta beleza
Os olhos sorriem satisfeitos
Pois brincando de roda foi o jeito
Que encontrei pra segurar as tuas mãos.
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