Nos concursos literários, em geral, têm predominado a trova filosófica e, isto, às vezes, provoca comentários: “ fulano tem dificuldade em lirismo e humorismo, escuda-se na filosofia e consegue destaque às suas trovas”. Creio que o segredo está em produzir a trova dentro das “exigências” literárias e da regulamentação do certame. O estudo da história da trova, da movimentação literária pelo Brasil e países de língua portuguesa é importante; mais, ainda, ler, reler e refletir sobre os resultados finais dos concursos através dos textos premiados. A trova deve ter o tema proposto e a mensagem clara do concorrente ; ou seja, uma trova para competir precisa estar bem elaborada tanto na forma como no fundo. O trovador é o técnico da síntese. O fazer trovadoresco depende também do envolvimento que se tem no gênero. Carlos Guimarães, em 1988, no VIII Concurso Nacional Inter-Sedes, editou folheto, contendo Entrevista Simulada com Adelmar Tavares, onde temos a p.7, a resposta a pergunta: “E falando do gênero poético. Qual é o que mais lhe agrada:
A trova foi sempre, das formas de poesia, a que mais me tocou a sensibilidade, porque foi a poesia dos lavradores de meu velho engenho pernambucano, a poesia daquelas violas inesquecíveis que fizeram o engenho da minha meninice”.
“A trova quando é erudita demais não é propriamente trova... A trova não precisa ter erudição profunda porque perde assim o seu espírito, aquele espírito de que Luiz Otávio falava...
Os escritores do passado faziam questão de ser poetas e em meio da prosa deixavam versos para envolver o leitor. As Edições de Ouro,1.979, publicaram Aprenda a Fazer Versos – contendo um Dicionário de Rimas de autoria de Manoel Macedo. O índice tem na 1ª parte – como fazer versos: poesia e verso, gêneros poéticos e generalidades poéticas; na 2ª parte o Dicionário de Rimas. Neste livro uma frase de Machado de Assis.:”Uma coisa é citar versos, outra é crer neles”.
Não temos a data, mas colhida na seção humorística Garotas, da revista O Cruzeiro de autoria de A. Ladino, em 1974, o Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de Ribeirão Preto (SP), colocou em volta da Fonte Luminosa diversas trovas escritas em placas de lata, entre elas:
Garota, tua bondade,
tonteia qualquer parceiro
pedaço de tempestade,
no céu de rapaz solteiro.
Nessa ocasião, a têmpera humorística de Alcy Ribeiro Souto Maior, Rio de Janeiro ( RJ ) provocou polêmica, com um sócio do Clube da Velha Guarda, por causa desta trova premiada em 1º lugar nos XV Jogos Florais de Nova Friburgo- (RJ), 1974:
Ao velho diz o Brotinho:
“Quero fugir com você”
Indaga o pobre velhinho:
-“Fugir? Mas... Fugir pra quê?
A trova acabou retirada do local. A comissão nomeada pelo Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal, concluiu mais ou menos assim: - “ o que fica bem num livro, pode não ficar bem, num local público, como a Fonte Luminosa da praça XV de Novembro, marco zero da paulista São Sebastião do Ribeirão Preto.
Na mesma solenidade de premiação de Nova Friburgo,(RJ) Jacy Pacheco, Niterói ( RJ ) autor de trovas antológicas, obteve o quarto lugar com esta trova em pleno lançamento da palavra paquera em nossos dicionários:
Pobre do velho que abusa
em paquera com mulher:
sofre quando ela o recusa
e sofre mais se ela quer.
No encanto do humorismo, outras trovas, em exposição, na praça XV, tiveram a visita de alunos de várias escolas, sob a orientação de professores de Língua Portuguesa. Nessas ocasiões, contavam com a presença de trovadores da municipalidade. A trova a seguir corria solta entre os estudantes .
Meu filho, por acaso,
és filho do Zé-Cereja?
Acaso, não, vim no prazo ,
e meu pai casou na igreja.José Lucas Filho
Relendo a revista O Cruzeiro de 1952, encontramos:
Com seus dotes estonteantes
e atitudes majestosas,
as garotas fascinantes,
são sempre as mais perigosas.
Na edição (6 de agosto de 1955,ano XXVII, nº 43, p.62-63, desenho de Alceu Pena e texto de A. Ladino) destacamos duas quadrinhas da seção humorística Garotas . Ei-las:
Garota, que os olhos turvas,
teu lindo destino alinhas,
nas linhas de tuas curvas
nas curvas das tuas linhas.
Desde as eras mais remotas
Que este conceito é profundo;
Está nas mãos das garotas
todo o destino do mundo.
Alcy esteve em Ribeirão Preto quando, glosando o tema Pátria, recebeu o troféu e a certificação da municipalidade pelo primeiro lugar, em âmbito nacional/internacional, dos II Jogos Florais de Ribeirão Preto,1976.
Pátria, perdão, só agora,
só depois que te deixei,
caminhando mundo a fora,
dentro de mim te encontrei...
Neste evento, o poeta Nilton da Costa Teixeira, mereceu o primeiro lugar em âmbito municipal com a seguinte trova:
Neste abraço em que te aperto
com a beatitude de um monge,
sinto meu amor tão perto,
minha esperança tão longe!
O trovador conseguiu na síntese de quatro versos glosar o tema abraço e realçar o significado da palavra beatitude: gozo de alma dos que se absorvem em contemplações místicas. (FERREIRA,2001,p.93)
No ano seguinte, 1977, era lançado o I Concurso de Jogos Florais para o Estudante de Ribeirão Preto”. Entre os 30 classificados, o primeiro lugar coube a Sérgio Bianchi Campos, do Colégio Marista, com esta trova sob o tema “Fraternidade:
Fraternidade é sofrer
por todos os semelhantes.
É amar, e assim quase ser
Jesus, por breves instantes!”
Na sessão solene de premiação, realizada no salão nobre da Sociedade Legião Brasileira de Civismo e Cultura, o poeta Ciro Armando Catta Preta, proferiu belíssima oração, saudando os estudantes laureados: (...) “ O poeta que se preza, deve estudar a fundo a língua, pois sem o idioma, seu meio de comunicação, não poderá jamais gravar, por meio de palavras, a beleza, a poesia, que somente os poetas têm o dom de captar”.
Os Jogos Florais Estudantis acontecem, anualmente, apoiados na lei 360/78 que, introduz a Trova como atividade curricular dos estabelecimentos de ensino do município. No mesmo ano, ocorre a oficialização dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, pela lei 3404/78. Outras leis garantem o movimento da poesia na cidade: Dia Municipal do Trovador (18 de Julho), Dia Municipal da Poesia ( 3 de maio) e Dia Municipal da Literatura de Cordel. (12 de março). As datas homenageiam o natalício dos poetas Luiz Otávio, Nilton da Costa Teixeira e Rodolfo Coelho Cavalcante.
As trovas deixaram de circundar a fonte da praça XV, depois da reforma de regressão para tombamento Histórico, mas existe o Recanto do Trovador (lei 3217/76), na área cultural do município.
Neste capitulo conhecemos a força e o encanto da trova através séculos. Verificamos a conceituação antiga e moderna sentindo a força de sua mensagem, recordando textos de antigos livros, revistas e almanaques e os gêneros comumente explorados. Os concursos escolares, as trovas na praça, as datas significativas e a confraternização dos Jogos Florais. Neste próximo capítulo, falaremos sobre a estrutura poética da trova.
Continua…
Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.
A trova foi sempre, das formas de poesia, a que mais me tocou a sensibilidade, porque foi a poesia dos lavradores de meu velho engenho pernambucano, a poesia daquelas violas inesquecíveis que fizeram o engenho da minha meninice”.
“A trova quando é erudita demais não é propriamente trova... A trova não precisa ter erudição profunda porque perde assim o seu espírito, aquele espírito de que Luiz Otávio falava...
Os escritores do passado faziam questão de ser poetas e em meio da prosa deixavam versos para envolver o leitor. As Edições de Ouro,1.979, publicaram Aprenda a Fazer Versos – contendo um Dicionário de Rimas de autoria de Manoel Macedo. O índice tem na 1ª parte – como fazer versos: poesia e verso, gêneros poéticos e generalidades poéticas; na 2ª parte o Dicionário de Rimas. Neste livro uma frase de Machado de Assis.:”Uma coisa é citar versos, outra é crer neles”.
Não temos a data, mas colhida na seção humorística Garotas, da revista O Cruzeiro de autoria de A. Ladino, em 1974, o Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de Ribeirão Preto (SP), colocou em volta da Fonte Luminosa diversas trovas escritas em placas de lata, entre elas:
Garota, tua bondade,
tonteia qualquer parceiro
pedaço de tempestade,
no céu de rapaz solteiro.
Nessa ocasião, a têmpera humorística de Alcy Ribeiro Souto Maior, Rio de Janeiro ( RJ ) provocou polêmica, com um sócio do Clube da Velha Guarda, por causa desta trova premiada em 1º lugar nos XV Jogos Florais de Nova Friburgo- (RJ), 1974:
Ao velho diz o Brotinho:
“Quero fugir com você”
Indaga o pobre velhinho:
-“Fugir? Mas... Fugir pra quê?
A trova acabou retirada do local. A comissão nomeada pelo Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal, concluiu mais ou menos assim: - “ o que fica bem num livro, pode não ficar bem, num local público, como a Fonte Luminosa da praça XV de Novembro, marco zero da paulista São Sebastião do Ribeirão Preto.
Na mesma solenidade de premiação de Nova Friburgo,(RJ) Jacy Pacheco, Niterói ( RJ ) autor de trovas antológicas, obteve o quarto lugar com esta trova em pleno lançamento da palavra paquera em nossos dicionários:
Pobre do velho que abusa
em paquera com mulher:
sofre quando ela o recusa
e sofre mais se ela quer.
No encanto do humorismo, outras trovas, em exposição, na praça XV, tiveram a visita de alunos de várias escolas, sob a orientação de professores de Língua Portuguesa. Nessas ocasiões, contavam com a presença de trovadores da municipalidade. A trova a seguir corria solta entre os estudantes .
Meu filho, por acaso,
és filho do Zé-Cereja?
Acaso, não, vim no prazo ,
e meu pai casou na igreja.José Lucas Filho
Relendo a revista O Cruzeiro de 1952, encontramos:
Com seus dotes estonteantes
e atitudes majestosas,
as garotas fascinantes,
são sempre as mais perigosas.
Na edição (6 de agosto de 1955,ano XXVII, nº 43, p.62-63, desenho de Alceu Pena e texto de A. Ladino) destacamos duas quadrinhas da seção humorística Garotas . Ei-las:
Garota, que os olhos turvas,
teu lindo destino alinhas,
nas linhas de tuas curvas
nas curvas das tuas linhas.
Desde as eras mais remotas
Que este conceito é profundo;
Está nas mãos das garotas
todo o destino do mundo.
Alcy esteve em Ribeirão Preto quando, glosando o tema Pátria, recebeu o troféu e a certificação da municipalidade pelo primeiro lugar, em âmbito nacional/internacional, dos II Jogos Florais de Ribeirão Preto,1976.
Pátria, perdão, só agora,
só depois que te deixei,
caminhando mundo a fora,
dentro de mim te encontrei...
Neste evento, o poeta Nilton da Costa Teixeira, mereceu o primeiro lugar em âmbito municipal com a seguinte trova:
Neste abraço em que te aperto
com a beatitude de um monge,
sinto meu amor tão perto,
minha esperança tão longe!
O trovador conseguiu na síntese de quatro versos glosar o tema abraço e realçar o significado da palavra beatitude: gozo de alma dos que se absorvem em contemplações místicas. (FERREIRA,2001,p.93)
No ano seguinte, 1977, era lançado o I Concurso de Jogos Florais para o Estudante de Ribeirão Preto”. Entre os 30 classificados, o primeiro lugar coube a Sérgio Bianchi Campos, do Colégio Marista, com esta trova sob o tema “Fraternidade:
Fraternidade é sofrer
por todos os semelhantes.
É amar, e assim quase ser
Jesus, por breves instantes!”
Na sessão solene de premiação, realizada no salão nobre da Sociedade Legião Brasileira de Civismo e Cultura, o poeta Ciro Armando Catta Preta, proferiu belíssima oração, saudando os estudantes laureados: (...) “ O poeta que se preza, deve estudar a fundo a língua, pois sem o idioma, seu meio de comunicação, não poderá jamais gravar, por meio de palavras, a beleza, a poesia, que somente os poetas têm o dom de captar”.
Os Jogos Florais Estudantis acontecem, anualmente, apoiados na lei 360/78 que, introduz a Trova como atividade curricular dos estabelecimentos de ensino do município. No mesmo ano, ocorre a oficialização dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, pela lei 3404/78. Outras leis garantem o movimento da poesia na cidade: Dia Municipal do Trovador (18 de Julho), Dia Municipal da Poesia ( 3 de maio) e Dia Municipal da Literatura de Cordel. (12 de março). As datas homenageiam o natalício dos poetas Luiz Otávio, Nilton da Costa Teixeira e Rodolfo Coelho Cavalcante.
As trovas deixaram de circundar a fonte da praça XV, depois da reforma de regressão para tombamento Histórico, mas existe o Recanto do Trovador (lei 3217/76), na área cultural do município.
Neste capitulo conhecemos a força e o encanto da trova através séculos. Verificamos a conceituação antiga e moderna sentindo a força de sua mensagem, recordando textos de antigos livros, revistas e almanaques e os gêneros comumente explorados. Os concursos escolares, as trovas na praça, as datas significativas e a confraternização dos Jogos Florais. Neste próximo capítulo, falaremos sobre a estrutura poética da trova.
Continua…
Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.
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