A CIDADE DAS CHUVAS
Na cidade das chuvas
Ela decidiu ganhar as ruas
Em um ledo dia de sol
Aquela jubiloso dia de sol
Ela toda radiante
Vestiu o que de melhor tinha
Seu sorriso perolado
Em um diáfano vestido floral
Na cidade das chuvas
Justamente naquele dia de sol
Ela ganhou as ruas dissolutas
E foi se reunir
Com o que melhor existe
Na vastidão cósmica sem fim
Foi se encontrar consigo mesma
A NEGRA AURORA AUSTRAL
Toque-me!
Como se eu fosse de aço.
Toque-me
Como se tu fosses de vidro!
Toque-me
Como se eu não fosse nada.
Toque-me
Como se tu soubesses de tudo!
Toque-me
Como se eu fosse um poema
Inacabado sem poesia
Toque-me
Como se não houvesse amanhã
Toque-me
Antes que o mundo acabe
AS LUZES DA RIBALTA
De tudo que eu sou
E de tudo
Que eu sou capaz
De ser
Que as cósmicas
Luzes da ribalta
Façam-me brilhar
Mais e mais
Para além das múltiplas
Inexistências reinantes
De tudo que eu posso ser
E do muito que eu sou
Capaz de ser
Que as milenares
Luzes da ribalta
Façam-me trespassar
A realidade fluída
Em que vivo
CANDURA (ELOGIO A LIBERDADE)
Naqueles turbulentos dias
De abissais confusões inexatas
Ela decidiu quebrar
Os milenares grilhões
Naquele entardecer sem fim
Tempo de dores infindas
Ela se rebelou por completo
Naquele anoitecer sem fim
A manopla deixou de sufocá-la
Aquela negra alma sofrega
Mergulhada em infindáveis dores
Naquela alvorada
Ela simplesmente sorriu para a vida
EPIFANIA ABSTRATA
Para o jornalista Luiz Gonzaga Mattos
O palco é o habitat
Dos artistas
Ah as luzes
As luzes da ribalta
A ciclorama
Os aplausos
Os gritos
Os vivas efusivos
E a saudação curvilínea
Dos artistas ao público
Que pede estridente
Um bis
Ao ver descerrar a cortina
Eu?
Eu fico na porta de entrada
Uniformizado estático
À espera por tudo que não vem
O palco é o habitat natural
De todos os artistas
O microfone
Os alto-falantes
E voz estridente
Que retumba para o além
Da infinitude cósmica
Eu?
Eu esqueço o texto
Eu?
Eu destoa de tudo
E de todos
Com a voz embargada
Olhando para a público sentado
Que espera e espera
Por aquilo que não vem
E que nunca virá
Eu?
Sou eu tentando ser maior
Que a censura cibernética
Facebookiana
E não consigo
Eu?
Eu admiro extasiado
A artista no palco
A minha vaporosa negra musa
Distante de tudo
E de todos
Eu?
Eu tomo a pena
E o mata-borrão
A hialina folha em branco
Eu?
Tento compor um poema
Com poesia abstrata
E não consigo
Eu?
Eu martelo o teclado
Com fúria titânica
Tento compor uma prosa simbolista
E não consigo
Eu?
Tento me exilar
Na arte absoluta
E não consigo
Eu?
Tento esquecer de mim mesmo
Mas não consigo
GAIA ( MAIS PROFUNDA QUE O MAR)
Queria fazer amor perdidamente
Tendo o astros-mortos
Como testemunhas
E com as bênçãos de Gaia
Não! Não queria viver enclausurado
Em um níveo mundo
De sonhos vagos
Presa ad aeternum
Em contemplações quiméricas furtivas
Queria arder em chamas
Entregar-se por inteiro
Na mais profundas das fossas abissais
Qualquer coisa que faça quase sentido
Olho para o mar
Na minha frente
E desejo perdidamente
Que qualquer coisa
Nesta vida
Faça quase sentido
Olho para o mar
E desejo desesperadamente
Que eu possa
Tirar o meu traje de civilizado
De usar somente as roupas
Que Deus me deu
E caminhar celestialmente
Pelas hialinas areias
Da praia
Olho para o mar revolto
Sinto o álgido vento
Revoltar-me o cabelo
E desejar
Que qualquer coisa faça
Realmente sentido
Na minha vida
Olho para imensidão azul
Para o céu sem nuvens
Na esperança vil
Que qualquer coisa faça
Quase sentido
Nesta vida apoplética
Fonte:
Poemas enviados pelo poeta
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