sábado, 27 de maio de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXV

A jangada flutuando,
ao longe, nos dá sinais,
de um lenço branco acenando
a lenços brancos no cais!
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À noite, que descalabro!...
O meu cansaço, era tanto,
que as velas do candelabro
choravam gotas de pranto!
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Ao ver meus netos me olhando,
bem cedo, ao romper do dia...
Percebo a aurora, acenando
para o outono da poesia!
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A saudade - é a ressonância,
daquela canção dolente,
que a mãe, cantava na infância,
curando as dores da gente!
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A saudade me convém,
e às vezes, também conforta,
quando sinto as mãos de alguém
na maçaneta da porta!
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Cada trova, é uma criança,
que me mostra passo a passo,
quantos versos de esperança
ponho nas trovas que faço!
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Depois da chuva caída,
leio em seus pés pelo chão,
digitais de nova vida
dando vida ao meu sertão!
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Esse teu jeito, menina,
com inocências divinais,
lembra-me uma flor divina
dos jardins angelicais!
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Há tanta gente sem lume,
feito a flor bem machucada,
mas, que mantém seu perfume
do início ao fim da jornada!
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Longe de ti, que ansiedade!...
Essa dor, que sinto a esmo,
se de ti, não for saudade,
é saudade de mim mesmo!
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Meus pais, naquela pobreza
de uma vida campesina,
deram-nos, toda a riqueza
de uma paz, quase divina!
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Na aridez dos tempos secos,
a humanidade tatua
a cor da fome nos becos
e a mendicância na rua!
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Não tenho luzes no olhar,
mas, meu viver, compartilho,
para que a luz do meu lar,
brilhe no olhar do meu filho!
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O outono, com seus percalços,
impõe-nos manchas e rugas;
discreto, põe passos falsos,
nos passos de nossas fugas!
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O Sol, não faz por maldade;
mas, pinta no fim do dia,
o entardecer, de saudade,
com cores de nostalgia!
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O Sol, se põe sem estresse,
esquece o peso da idade;
não sei por que, não se esquece
de encher o céu, de saudade!
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O teu olhar na moldura,
mãe!... Contemplo todo dia!
É a chama acesa, mais pura,
da luz do amor que me guia!
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Parte o jangadeiro ao canto
da voz, dos sonhos imensos;
ao longe, um lenço de pranto,
molha no cais, outros lenços!
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Por mais que o mundo desminta,
não há um gesto mais lindo,
que o da criança faminta,
num berço pobre, sorrindo!
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Quem ama a boa leitura,
acende a luz da razão,
e põe nas mãos da ventura,
uma luz em cada mão!
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Quem ama com destemor,
põe mais açúcar no afeto;
qualquer migalha de amor
enche um lar, do piso ao teto!
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Se a minha trova é singela,
a humildade, me retrata,
que a trova pode ser bela,
sem ouro, troféu nem prata!
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Se acaso, alguém te magoa,
não te sintas pois, magoado;
em silêncio, quem perdoa,
recebe o perdão dobrado!
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Sê fiel aos bons conselhos,
não te orgulhes da maldade;
vi muito orgulho de joelhos
aos pés do altar da humildade!
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Sempre escuto dos mais velhos,
conselhos bons, todo dia;
são breviários e evangelhos
da sábia luz que nos guia!
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Toda tarde, na ternura,
da voz de um sino plangente,
há sinais da partitura
da vida de muita gente!

Fonte:
Enviado pelo trovador.
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.

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