Parede/Portugal
A JANELA DO MEU QUARTO
Abro, no quarto, a janela,
de manhã, de madrugada,
tenho uma vista tão bela,
tão serena, tão singela,
que a alma fica enamorada.
O sol desponta, defronte,
em luzinha tão travessa,
que até o verde do monte
brilha mais, no horizonte
deste dia que começa.
E a brisa surge, teimosa,
num breve correr, risonho,
beija a erva, abraça a rosa,
sopra a folhinha, ansiosa,
vem carregada de sonho.
Já há pombos arrulhando,
são dois, à volta, no chão,
ele, a beleza mostrando,
ela, vaidosa, acenando
ora num sim, ora não.
Lancei, por todo o lugar,
umas quantas vitualhas
que os pardais, a saltitar,
buscam fazer um manjar
daquelas poucas migalhas.
E o gato, cheio de cobiça,
perante tanto alvoroço,
pensa, com certa preguiça,
que, nesta calma mortiça,
já tem, à frente, o almoço.
As folhas das oliveiras
no quintal, à minha frente,
viram-se ao sol, faceiras,
abrem-se de mil maneiras,
sorriem pra toda a gente.
Longos minutos me quedo
sem pensar na despedida
porque há uma flor sem medo
que desvenda o seu segredo,
despertando para a vida.
Ergue-se como um farol
na linda cor que irradia
e, por isso, a aquece o sol
quando escuta o rouxinol
lançar trinos de alegria.
Então, fica-me, dessa hora,
olhos erguidos aos céus,
a certeza de que, agora,
ao ver uma nova aurora,
eu digo obrigado a Deus.
Depois desta comunhão
é, com saudade, que parto,
rezo uma última oração
e fecho, com lentidão,
a janela do meu quarto.
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