sábado, 28 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 121 =


Trova de
ELSON SOUTO
Bandeirantes/PR

Meu medo não é morrer
por quem amo tanto assim.
Meu dilema é não saber
se esse alguém morre por mim.
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Poema de
XÊNIA ANTUNES
Rio de Janeiro/RJ

Que tenhas meu corpo
(Quando as mulherezinhas crescem...)

Se amanheço
Me prometo sobriedade
Um trabalho bem feito no corpo
Um jeito tal nos cabelos
Algum sabor de morango
E pouca velocidade

Se entardeço
Esqueço do antigo enredo
Me sonho em tramas febris
Reformulo o perfeito jeito
Acrescento um tal sabor
E muito mais velocidade

Se anoiteço
Me ofereço toda com jeito
Pro jeito ser desarrumado
O amor bem feito no corpo
O coração rebatendo
Com muito mais velocidade

Se madrugo
Me acordo toda sem jeito
Feliz por um amor no meio
Enredada no gozo da alma
Um sorriso pra quem me vê
Por um instante mais calma.
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

É "Carcará" o apelido
do Zé, porque... come... e cisca...
Mas a mulher diz: "Duvido!
Aqui em casa nem... belisca..."
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Soneto de
ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS, 1972 – 2007, Rosário do Sul/RS

O Fantasma dos Sonetos

Permanecer viva em meu escrito...
Eis a esperança que ainda guardo,
E sendo isso o derradeiro Mito
Que me mantém acesa, com que ardo.

Um soneto mais, que insensatez!
Não posso parar, devo ir em frente.
Acabar é dar o sim ao pretendente
Que hospedado espera a sua vez.

Toda a minha vida entretecida,
Concentrada afinal em tipos pretos
A me fazer mais íntegra e assumida!

Já mal existo fora de um poema,
E sou mais e mais nestes tercetos,
Eu, fantasma vivo, que ainda teima...
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Trova  Premiada em Irati/PR, 2023
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA 
São Paulo / SP

Chão de pedras, sem guarida,
na agreste visão do estio,
na invernada espalha a vida
no leito firme do rio...
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Poema de 
CLÁUDIO SCHUSTER
Pelotas/RS

Cena

cheguei ao bar
sentei ao balcão
e pedi uma dose de batom vermelho
puro
sem gelo

nacional ou estrangeiro?

dei de ombros
já havia bebido tantos vestidos pretos
naquela madrugada
por outros bares
que nem sentiria mais
o gosto de um bom batom vermelho

era o que eu achava
até perceber que a temperatura
subiu logo aos 40 graus
assim que o garçom colocou
o termômetro no copo

meus caninos cresceram
pela primeira vez
em séculos
e eu bebi aquela página
vermelha
num gole só
com todos me olhando
num inglês com rotação alterada
pelo tempo

de repente
tudo ficou em silêncio
e todos tiveram que ouvir
aqueles beijos
descendo
rubros
pelo meu pescoço
pelo meu peito

ninguém respirava
qualquer outra cor
e o batom
vermelho
desceu ainda mais
me lambendo
e sugando
por dentro
enquanto eu cravava os dentes
no copo
sem notar
que todos saíam
em câmera lenta
deixando seus vestidos de noiva
seus pijamas
e dentaduras
nos copos
sobre as mesas
trêmulas
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Trova Popular

Quem disser que a vida acaba,
digo-lhe eu que nunca amou;
quem deixou ficar saudades
nunca a vida abandonou.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

Soneto a Fernando Pessoa - In Memoriam 

Pra Fernando Pessoa este soneto,
em que pretendo ter a liberdade,
de ofertar-lhe com toda lealdade,
no que me empenho e então me comprometo,

os versos que nasceram da ansiedade,
como quem pinta um quadro em branco e preto,
finalizando o último quarteto
com o pincel da dor e da saudade...

´´Cartas de amor ridículas´´, talvez...
mas eu as escrevi sem o saber,
outrora quando tinha solidão...

Hoje as relembro e tenho a sensatez,
de havê-las enviado por prazer,
nos momentos de sonho e sensação…
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Trova de
JOSÉ MARCOS ALBERGATE
Bandeirantes/PR

Na leveza dos acenos,
sorrisos... mãos estendidas,
moram os gestos pequenos
que mudam as nossas vidas.
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Poema de
ANA WILINSKI
Santo André/SP

A janela

Hoje a minha janela
Já não é mais aquela,
Minha fonte de contato
É o cheiro do mato.
O luar, refletido nos teus olhos azuis,
Foi substituído pelo verde das folhas de bananeira
Ao invés do brilho dos teus olhos,
Vejo folhas molhadas.
No lugar da tua voz,
Ouço o cair da chuva
Todo o embalo, neste momento,
São as folhas ao vento.
Folhas de mamona
E todo o carinho, o tato,
Vieram... do próprio vento.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu... não tem fogo!!!
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Soneto de 
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Ouro Preto/MG, 1870 – 1921, Mariana/MG

Soneto dos quarent'anos

Não me ficou da vida mágoa alguma
de que possa lembrar aos quarent'anos
senão esses cansados desenganos
que o mar que trouxe leva como espuma.

Foram-se os anos, mas que são os anos?
Chama que em sombra esfaz-se, apenas bruma.
As horas que eu vivi, de uma em uma,
deixaram sonhos e deixaram danos.

Muita morte passou n'alma ferida:
meu pai e meus irmãos, mortos amados.
Mas pela minha vida passou vida,

passou amor também, passou carinho.
E pelos dias claros ou magoados
não fui feliz e nem sofri sozinho.
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Trova do Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Não digo não: “minha” Trova
quando faço um verso novo:
– não é minha e nem é nova
quando cai na alma do povo…
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Poema de
CHRIS HERRMANN
Rio de Janeiro/RJ

Corrimão

Ouço passos
subindo degraus.
Aproximam-se.
Cerro os olhos
e tu vens sorrindo.
Fala comigo!
Tomo distância
e não entendo.
Continuas vindo.
Vejo apenas
um corrimão
de sons e cheiros
a entorpecerem
tuas mãos,
como taças de vinho
sobre a mesa,
à espera do pão.
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Trova Funerária Cigana

De tanta terra enfeitada,
a terra que menos brilha
é a porção que hoje cobre
os restos de minha filha!
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Soneto de 
EMILIANO PERNETA 
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR

Vencidos

Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland?... E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço...
Hão de os grandes rolar dos palácios infetos!
E glória à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!
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Trova hispânica de
KATHIA SARINA MIRANDA
Pedregal/Panamá

Vehemente y soñador
expreso con gallardía,
aquellos versos de amor
que escribo en la poesía.
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Poema de 
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM

O Poeta

É aquele que ama um pouco mais,
E nunca ama por amar
E sonha um pouco mais, voa um pouco mais alto
E um pouco mais longe...
Chega onde poucos conseguem chegar

Entra nos labirintos da mente
Conhece o passado e presente
Deduz o futuro com tanta exatidão
Que parece viver um passo a frente

Nele existe um pouco mais de emoção
Um pouco mais de atenção
Um pouco mais de alegria
E um pouco mais de solidão

Um pouco mais de sinceridade
Coisa pouca dentro de muita gente
Um pouco mais da louca igualdade
Que o faz assim, tão diferente

Ele tem um pouco mais de quase tudo
Guardado dentro da mente
De tudo faz um poema, revela tudo que sente

Assim é o poeta
Ama sem ser amado; espera sem ser esperado
E muitas vezes, morre abandonado

Por vezes, só depois da morte
Tem seus poemas lembrados...
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Astronauta, não destrua 
meu direito de sonhar... 
Deite e role sobre a Lua, 
porém me deixe o luar! 
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Soneto de
RITA MOUTINHO
Rio de Janeiro/RJ

Soneto do superar e do optar

Passados muitos anos fundeada
nesse charco funesto, a solidão,
fui beijada por príncipe e elevada
do raso ao riso de uma afloração.

Vida nova e uma filha em mim gestada,
reedifiquei tão logo um coração
de uma cor rubra, mas aquarelada,
que convive com os tons pastéis da opção.

Pincelo de zarcão estas correntes
que me ata, mas não fere a liberdade,
grilhão/guarita da destemperança.

Para fechar comportas das torrentes
que te amedrontam a emotividade,
como eu, também te atrelas na aliança.
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

O mar, raivoso, se alteia,
como todos, quer a altura,
mas, é nos braços da areia
que encontra a paz que procura.
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Hino de 
Campo Grande/MS

I
Campo Grande que outrora um deserto,
Transformou-se em cidade primor,
É de joias escrínio aberto,
É uma gema de fino lavor!

II
(Estribilho)
A cidade onde todos vivemos,
Aprendamos fiéis defender!
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.

III
Quanta luz, quanto gozo sem par!
Nos legou nosso amado País!
Oh! que terra ditosa é meu lar!
Campo Grande é feliz, é feliz!

IV
(Estribilho)
A cidade onde todos vivemos,
Aprendamos fiéis defender!
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.

V
Mato Grosso do Sul, Campo Grande,
E Brasil, eis a tríade sagrada,
Em louvá-los minh'alma se expande
Morrerei pela Pátria adorada.

VI
(Estribilho)
A cidade onde todos vivemos,
Aprendamos fiéis defender!
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.
Nosso afeto a ela sagremos
E felizes assim iremos ser.
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Trova Humorística de 
GLICE SALES ALCÂNTARA
Maranguape/CE

Quando o noivo ao pai pediu
a mão da filha Mazé
o papagaio sorriu
- “A mim só pedem o pé!”
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Poema de 
CONDORCET ARANHA
São Gonçalo/RJ

A ponta do telhado

Sentado no sofá, ao canto do escritório,
Vejo:
Olhando na janela, a ponta do telhado,
O céu escurecido e um poste iluminado.
Momentos são de angústia, tal qual rezas de velório,
Ideias que divagam, nas vagas da incerteza,
Enquanto, o coração, mergulha na tristeza.

Lembranças que se achegam, ferem e abomináveis,
Sem serem convidadas, invadem e se acomodam,
Persistem, noite à dentro, parecem intermináveis,
Com fatos já passados, que nada representam.
Recordações da infância, também da juventude,
Sangram-me, são punhais, me talham, a alma rasgam.

Sentado no sofá, ao canto do escritório,
Vejo:
A ponta do telhado, que abrupto termina,
O céu escurecido, convite a ver mais nada,
Um poste iluminado, às custas de energia,
A mesma que me falta, pra luz de um novo dia.
Assim, recordações, agora, valem nada,
Não posso ser mais jovem, tão pouco ser criança,
Serei, talvez, quem sabe, um dia, outra lembrança.
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Trova premiada em Irati/PR – 2023
MÔNICA MONNERAT 
Santos / SP

Sempre que se faz preciso,
sou firme como uma rocha,
mas não seguro o sorriso
ante a flor que desabrocha.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O gato e a raposa

Uma vez a raposa conversando
Com o gato, se esteve ali gabando
De ter artes e gírias bom recheio;
Enfim que delas tinha um saco cheio.

O gato lhe dizia: «Para tudo
Vós tendes cachimônia*: eu sou mui rudo:
Tendes um saco cheio; eu por desgraça
Nunca pude aprender mais que uma traça.

Nesta prática estavam divertidos;
E quando muitos cães foram sentidos,
Já os tinham no meio: em tal trabalho
O gato saltou logo em um carvalho,
E pôs-se lá de cima a ver a festa,
Que foi para a raposa bem funesta.
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* cachimônia = juízo

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