domingo, 8 de novembro de 2020

Professor Garcia (Sonetos Avulsos) IV


ENTARDECER

Morre a tarde!... E, na dor do Sol poente,
há uma nesga de luz e nostalgia,
separando, de forma displicente,
os encantos e a dor do fim do dia!

Ante o drama sem volta e tão dolente,
ouço, ao longe, uma voz que me assedia;
é a de um sino que tange, lentamente,
os suspiros finais da Ave Maria!

Nesse instante, eu me sinto até covarde;
me envergonho ante a dor do fim da tarde,
mas encaro de frente e olhos abertos...

E à distância, no olhar da eterna luz,
eu percebo dois braços numa cruz,
rodeados de luz entre os libertos!
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MISTÉRIOS DA NOITE

Quando o vento da noite, a noite corta,
entre os trapos, me escondo e me agasalho;
sopro a luz da candeia, ao pé da porta,
sem saber como fico, me atrapalho.

De repente, uma voz me desconforta;
e eu percebo, num canto do assoalho,
que essa voz irritante e quase morta,
sai da boca sem som de um espantalho.

Eu me assusto e, no sonho, eu me levanto,
ponho fachos de luz em cada canto,
que só fazem crescer meus pesadelos...

E entre os braços da noite ensandecida,
do meu sonho, desperto para a vida
dando paz e sossego aos meus cabelos!
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QUEM NÃO SONHA NÃO VIVE

Peço a Deus, nessa nova caminhada,
que o meu sonho não seja prematuro:
Querer pingos de luz na minha estrada,
muitas gotas de amor, no meu futuro.

E amanhã, ao romper de outra alvorada,
ver a luz de um porvir, santo e seguro,
sentir paz na mais terna madrugada
e os encantos de tudo que procuro.

Querer raios solares me beijando,
e o sossego das nuvens passeando
em meus sonhos febris, angelicais...

Despertar todo dia, entre os arranjos,
escutando os clarins da voz dos anjos
pelo sopro das brisas matinais!
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TRIBUTO AO MEU VIOLÃO

Meu violão teu silêncio me tortura;
já nem sei por que tu não cantas mais...
Minha voz já não tem a compostura
que já fez, de nós dois, irmãos iguais.

Meus cabelos nevaram de ternura,
nossas vozes, não são tão desiguais;
sê fiel ao passado de bravura
que, entre nós, disfarçava nossos ais.

Quantas vezes cantamos de mãos dadas,
entre os véus das dengosas madrugadas,
despertando dos sonhos, nossas fãs...

E eu contigo, cantando em cada esquina,
protegendo das gotas de neblina
essas cordas, grisalhas, campeãs!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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