sábado, 2 de janeiro de 2021

A. A. de Assis (Maluf, o Pioneirão)


No princípio era assim: na colina o Maringá Velho, na planície o Maringá Novo. No meio havia um bom pedaço da floresta original, por onde passava uma trilha que ligava os dois povoados. Deu-se, porém, que um dia um funcionário do Maluf se perdeu na travessia e precisou-se de um dia inteiro de busca para reachar o moço.

Foi nessa ocasião que o megapioneiro Maluf entrou nervoso no escritório da Companhia Melhoramentos, dirigiu-se ao Dr. Hermann Morais de Barros e desabafou: “Não vim aqui pra morar no mato”. Imediatamente o Dr. Hermann deu ordem para que se transformasse a trilha numa avenidona, unindo finalmente os dois Maringás. Na época ainda não tínhamos prefeito.

Alfredo Moysés Maluf nasceu em 1900, na Síria; veio para o Brasil com menos de um ano de idade e viveu suas primeiras décadas em Piracicaba. Entrou na história de Maringá no mesmo ano em que a cidade oficialmente entrou no mapa – 1947.

Aqui comprou um terreno bem na divisa entre o Maringá Velho e o Novo e ali montou o famoso Posto Santo Antônio, distribuidor da Esso. O posto passou logo a ser um ponto de referência. Onde fica isso ou aquilo? Respondiam: Fica perto do Maluf, pra cá do Maluf, em frente ao Maluf... A própria praça, de nome José Bonifácio, na boca do povo passou a ser conhecida como “Redondo do Maluf”. Um marco geográfico e um marco histórico.

A cidade toda era uma aventura naqueles primeiros anos. Motoristas vindos de todo o Brasil chegavam no Maluf e paravam. Em épocas de chuvas ninguém podia ir para a frente nem para trás. Por isso, ao lado do posto, além da oficina e da loja de peças, havia um restaurante e um dormitório. Para distrair os primeiros moradores da cidade e os caminhoneiros em trânsito, Maluf comprou um projetor e exibia filmes todas as noites. Sempre de graça, mas os espectadores precisavam trazer cadeiras de casa.

O Maringá Velho, habitado desde 1942, já era uma vila movimentada, centralizando o desbravamento da região vizinha. No Maringá Novo, apenas montes de tocos deixados pela derrubada, ensaios de ruas e avenidas e umas poucas casinhas de madeira. Maluf entre os dois Maringás participando intensamente de tudo o que acontecia na jovem comunidade. Enquanto isso a sua empresa continuava crescendo. Nos anos 1953 e 1954 ele se classificou em primeiro lugar na revenda de gasolina da Esso em todo o Brasil.

Trabalhando de dia e de noite para dar conta de tanto que fazer, assim mesmo ele achava tempo para ajudar a cidade, no que sempre contou com o firme apoio de uma das pessoas mais queridas que Maringá conheceu – sua simpaticíssima esposa Dona Tita.

Alfredo Moysés Maluf foi um dos que mais trabalharam para que Maringá se emancipasse de Mandaguari. Carregou muita madeira para a construção da primeira catedral. Foi um dos fundadores do Rotary Clube, da Associação Comercial e Industrial e do Lar dos Velhinhos. Um homem intimamente ligado às raízes de tudo o que aqui existe. Saudade enorme dele.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 03 -12-2020)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Um comentário:

Ronnaldo de Andrade disse...

A. A de Assis junto com a gentil e querida Carolina Ramos são partes da história viva da trova no Brasil!