sábado, 2 de janeiro de 2021

Olivaldo Júnior (Crônica de um Ano Realmente Novo)


Não, não sei como é que foi que tudo isso começou. Só sei que, mesmo que não pareça, ainda estamos em plena pandemia, e a alegria tem sido conquistada a cada dia, a cada hora, a cada instante, como se Monalisa de um simples sorriso sem graça tivesse que sorrir e até rir do que é trágico. Mágico, talvez fosse assim que quiséssemos que um ano realmente novo começasse. Um ano em que fôssemos realmente mais irmãos e tivéssemos aprendido “algo”.

Muito tem-se falado em esperança e em folhas, flores e frutos novos no jardim. Há de se acreditar nisso, há de se acreditar que, sim, valeu a pena ter passado por tudo que temos passado e, ainda assim, tocar em frente pois muitos já não podem mais fazer o mesmo. De novo, já nos basta o vírus, dirão alguns. E, talvez, estejam mesmo certos. Talvez fosse melhor cantar aquela música de outro jeito: “Adeus, Ano Novo / Feliz, Ano Velho!”, se nos fosse adiantar.

A vida, em verdade, parece feita de dificuldades. Atravessá-las parece ser a sina do ser humano. Humanos, damo-nos virtualmente as mãos, ora contentes, ora nem tanto. E, mesmo sabendo do perigo, enchemos os barzinhos, ficamos em casa, isolamo-nos, festejamos, numa dupla realidade que se instalou desde que vimos tudo virar de cabeça para baixo e voltar, num giro de 360 graus, sem direito à escolha. Estamos na dança, brinquemos de roda e... de viver.

Tudo promete mudar. E a esperança é mesmo a última que morre. “Alegria era o que faltava em mim”, diz um samba antigo e muito lindo. Lindo. Belo. Incrível. Talvez seja isso o que buscamos todos. A beleza em nós, a beleza em outros, a beleza em todos, quando ainda há tanto de feio e de triste no mundo. “Mas vamos fechar os olhos / E pensar numa noutra coisa”, diria Quintana, do Céu dos Poetas, caso pudesse. Só se pedisse a um passarinho para cantar.

O homem atrás do bigode / é sério, simples e forte. / Quase não conversa. / Tem poucos, raros amigos / o homem atrás dos óculos e do bigode.”, diria Drummond. Não, não abandono Drummond. Não, não sou Drummond, nem queria ser ele. Queria ser eu. Ah, se eu fosse eu!... Se eu fosse eu, talvez fosse um filho melhor para meus pais, e um irmão melhor para meu irmão, e um amigo melhor para meus amigos, para quem realmente gostasse de mim, no ano novo.

Mogi Guaçu, São Paulo, 31 de dezembro de 2020.

Fonte:
texto enviado pelo autor.

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