Depois que romperam, todos os dias o telefone tocou exatamente à meia-noite.
Ela sabia quem era. Conhecia a respiração ofegante. Ficava a escutá-lo por infindáveis minutos, somente para a consciência permitir-lhe dormir em seguida. O motivo ela nem sabia mais qual fora. Ciúme doentio, agressões verbais, humilhações públicas. Talvez, a culpa fosse do destino, como lhe dizia a cartomante.
Morar no interior seria a última tentativa. Precisava se livrar da obsessão dele. Não desse certo, já havia se decidido a resolver a situação, ingerindo pastilhas de veneno para ratos.
Foi de madrugada para não ser vista. Quando entrou na estrada, viu pelo retrovisor que um carro se aproximava, ao mesmo tempo em que o celular tocava insistentemente, mostrando o nome dele no visor. Descontrolada, entrou num posto de gasolina a procura de ajuda. Saiu do carro aos gritos e foi acudida pelos frentistas que não conseguiam entender o que ela balbuciava.
Esclareceram que nunca haviam visto o carro que a perseguia, quando a polícia chegou. No celular, não havia registros de chamadas há treze dias. E treze foi o número de pílulas que ela ingeriu sem que ninguém percebesse enquanto abriam o porta-malas, para nele encontrar um corpo esfaqueado em estado de decomposição.
Fonte:
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51b.html
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