domingo, 1 de julho de 2018

Caldeirão Poético 12


AS MINHAS QUATRO ESTAÇÕES 

Foi plena Primavera a minha infância 
vivida com carinhos de meus pais, 
sentindo sempre, em toda circunstância,
que o amor dos dois é o que valia mais!

Com a juventude tive incrível ânsia 
de tudo ver mui rápido demais; 
abrasador Verão, em discordância 
ao que hoje eu sei que não terei jamais!

E aquele Outono meu, de certa forma, 
foi de pacata vida cidadã: 
fiel marido e pai, dentro da norma.

E agora, neste Inverno em que convivo
com as dores próprias de minha alma anciã,
traço poesias como lenitivo!


VAIDADE, TUDO VAIDADE!

Vaidade, meu amor, tudo vaidade! 
Ouve: quando eu, um dia, for alguém, 
Tuas amigas ter-te-ão amizade, 
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm. 

Vaidade é o luxo, a gloria, a caridade, 
Tudo vaidade! E, se pensares bem, 
Verás, perdoa-me esta crueldade, 
Que é uma vaidade o amor de tua mãe... 

Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna 
E eu vi-me só no mar com minha escuna, 
E ninguém me valeu na tempestade! 

Hoje, já voltam com seu ar composto, 
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto... 
E isto em mim não será uma vaidade?


INTERROGAÇÃO

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, 
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; 
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar 
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo. 

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. 
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. 
Nem depois de acordar te procurei no leito 
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos. 

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo 
A tua cor sadia, o teu sorriso terno... 
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso 
Que me penetra bem, como este sol de Inverno. 

Passo contigo a tarde e sempre sem receio 
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. 
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio 
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca. 

Eu não sei se é amor. Será talvez começo... 
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, 
Que adoecia talvez de te saber doente.


CONSOLO

Ela partiu e me deixou tristonho,
Pelos desvelos que não mais eu tenho.
Mas reaparece na visão do sonho
Na intolerância de um rebelde cenho.

Em sendo assim, desvanecido eu ponho
Toda ternura que por ela empenho
Naquela cena do querer bisonho
E na esperança que jamais desdenho.

Amor assim a gente nunca esquece;
A vida sofre e o coração fenece
Amortecido pela injusta ausência.

Por isto eu choro e comovido penso:
Quem ama assim e com tamanho senso
Morre ditoso no sabor da ardência.


CAVADOR DO INFINITO

Com a lâmpada do Sonho desce aflito 
E sobe aos mundos mais imponderáveis, 
Vai abafando as queixas implacáveis, 
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito 
Sente, em redor, nos astros inefáveis. 
Cava nas fundas eras insondáveis 
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava 
mais o Infinito se transforma em lava 
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho. 
E como seu vulto pálido e tristonho 
Cava os abismos das eternas ânsias!


PROMESSA

Meu amor, desculpe a franqueza,
mas meu coração não consegue calar,
quero muito me envolver em tua beleza,
encanto e pureza, e nela me mesclar.

Contudo, tenho que te dizer,
que não possuo nenhuma riqueza,
meus livros, meu amor, meu viver,
é toda a minha fortaleza.

Entretanto podes estar certa,
que sou um eterno batalhador,
que possui uma mente desperta,
e que acredita um dia ser vencedor.

Não posso te prometer viagens ou joias,
mas posso derramar em ti, meu amor,
não enche barriga, não dá teto, as vezes paranoias,
mas se me amar, não conhecerás a palavra “dor”.

Dá-me apenas um, nem que seja um segundo
de esperança para contigo estar,
Que não existirá nenhuma força no mundo,
que me impedirá de te esperar, para finalmente te amar.


O VERBO NO INFINITO

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar 
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

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