DEPOIS...
Tão profundamente triste
fiquei depois daquele beijo
que já não era desejo e sim hábito
de todos os nossos encontros
era verão e eu não sabia
que certas coisas não tem fim
passei noites em claro procurando entender
o que enfim não se explica
chamam vida e é assim
MEA CULPA
Não é tua alma o lírio imaculado,
Que à luz de uns olhos puros se levanta,
Pois não fulgura em teu olhar a santa
Chama, que brilha isenta do pecado.
Se o teu seio palpita apaixonado,
Se a voz do amor nos teus suspiros canta,
Não me ilude o queixume, que à garganta,
Quebras, para me ver mais desgraçado!
Eu bem sei quem tu és... Mas, que loucura
Arrasta-me a teus pés como um cativo!
Mostra-me o inferno a aberta sepultura:
E abraçado contigo, ó pecadora!
Eu desço-o tão feliz como se fora
Um justo ao claro céu subindo vivo.
NO EXÍLIO
Longe da terra pátria!... Os longos dias
Do exílio amargam, mas não há no mundo
Desgraçado tão grande que, no fundo,
Não encontre um prazer nas agonias.
Que o céu alheio aclara-me jucundo,
Se os teus olhos de mim já não desvias,
Se o calor do teu peito a cinzas frias
A saudade reduz em que me afundo!
Ouvir-te o coração apaixonado
Chegar-te aos lábios num prazer tamanho,
Compensa a dor ao mais desesperado.
Bendita a sorte que me uniu contigo:
Mostrou-me a Pátria um coração estranho,
Deste-me, estranha, um coração amigo!
VOLTAS
Mui formosa não vos acho,
Mui feira também não sois;
Dos dons estais entre os dois,
Nem por cima, nem por baixo.
Tendes, sim, muito despacho,
Mas não que as outras demais,
Porque sois todas iguais,
Dizer-vos que, só, mentis,
Seria injustiça tanta
Que, só mentira a garganta,
Mais que as mentiras que ouvis.
Também não sois mais feliz,
Nem mais infeliz que as mais,
Porque sois todas iguais,
Promessas não vos falecem,
Não vos falecem negaças,
Dão-vos perdão vossas graças,
Vossos pecados as crescem.
Se penas vos acontecem,
Mais que as outras não penais,
Porque sois todas iguais.
De amar-vos não me arrependo,
Bem que nunca amado houvera;
Nem vos quero mais sincera,
Tão fementida vos tendo;
Mal éreis, assim não sendo,
Pois não éreis como as mais,
Já que sois todas iguais.
VILANCETE
Sois como as demais mulheres,
Nem menos sois, nem sois mais,
Porque sois todas iguais.
XXIII
Não, nunca saibas a verdade inteira
De minha vida triste e aventurosa,
Porque mais vale uma ilusão fagueira
Que uma realidade dolorosa.
Pensa de mim aquilo que não queira
A mais negra alma sobre si; ditosa
Ou indiferente, ou de qualquer maneira,
No meu estado desgraçado goza.
Faze de mim um péssimo conceito,
Esquece que eu existo e que meu peito
Pelo teu peito pulsa apaixonado.
Antes me odeies, com dó profundo
Digas um'hora: porque veio ao mundo
Quem havia de ser tão desgraçado!
XLI
Sonho que vou contigo ao reino augusto,
À encantada região da eterna glória,
E ante as ardentes vibrações da história,
Trêmulo, os passos triunfantes susto.
Não sei que clarins de ouro de vitória
Estalam no ar, enchendo-nos de susto,
E eu próprio vejo sobre um sol meu busto,
Enquanto os deuses louvam-me a memória.
O teu amor me conduziu a tanto;
Chego à maior de todas as alturas,
Vencendo os mais intérminos caminhos.
Desperto - e os olhos enchem-se de pranto:
Vejo, em vez de venturas, desventuras,
Em vez de louros, vejo só espinhos.
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