sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Francisco José Pessoa (Rua do Ouvidor – Retrato do Nosso Dia-a-Dia)


Transeuntes, tais verdadeiras formigas operárias nos seus ir e vir, com os olhos abaixados para o chão presente e o pensamento elevado para o céu futuro, chocam-se de quando em vez como num cumprimento forçado de quem navega numa artéria tão nervosa como és.

Vitrine natural de urna sociedade, temperas no teu leito o vistoso executivo engravatado, com o gasguito camelô que não poupa cordas vocais, para mostrar seus produtos de preços mais baixos, cujas vendas são o sustento seu e da família.

Via testemunha do viver cotidiano do nosso citadino, se algum dia fosses fechada, morreria um caminho vivo da nossa população andante, pois, és canal de comunicação de quem vai e de quem vem à procura da sobrevivência.

Verdadeira ponte do trabalhar e do ficar em casa, portas mil te fazem fronteira natural dando acesso ás lojas de variedades múltiplas que te enfeitam ou enfeiam, com suas fachadas caleidoscópicas.

Nasces numa praça, morres em outra, logradouro alegre onde conversas são perdidas e os sonhos de uma melhoria de vida são comentados, enquanto não sai o resultado do jogo do bicho.

Artéria ebulitiva da minha cidade, raia por onde correm homens a buscar o incerto, rica em cenários inesquecíveis como o observador ansioso da esquina da praça, que espera passar o vento amigo rodeando saias de moçoilas distraídas.

Nobre rua pobre, és fonte de vida para uns, passatempo para outros, albergando o homem que trabalha aos gritos, o aposentado que observa e sussurra, o descuidista pronto para dar o golpe, fazendo-te viva, ó imponente meretriz alameda da minha cidade.

Fonte:
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Livro enviado pelo autor.

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