quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) 10


BARBUDOS E AFINS


Já fui Jesus, já fui John Lennon, Che Guevara...
E fui Leminski... Raul, Dührer... fui Benito,
todo barbudo como eu tem essa cara
dos que alcançam, sem querer, o infinito.

Nunca. fui mito, dos caminhos que escolhi,
alguns tão lindos e outros tristes ou perversos,
são a essência desse tempo em que eu vivi,
quando me li, vendo inocência nos meus versos.

Já fui Cabral e fui Gregório... fui Camões
sem olho cego... sou ilustre luso... leiro,
de barba em riste mas, nos olhos... emoções...
fui Dom Quixote... e nunca tive escudeiro...

Engels, Hemingway, Júlio Verne, Aiatolá ,
fui quatro Beatles, fui Machado... Juarez...
não sou freguês das lâminas de barbear...
Eric Clapton... e até monge japonês.

Abraham Lincoln, Marx, Bee Gees, fui todos eles
e mais alguns, na aparência ou na atitude,
filosofia, ideologia...herdei deles,
e agora velho, ainda esperam que eu mude.

A mesma barba, o cavanhaque e o bigode,
os mesmos óculos... de grau... e quem diria...
ainda faço rock'n roll, blues e pagode,
jazz, bossa nova, tango, samba e poesia.
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CONVITE

A dor convida o meu amor para brincar...
Ele é ingênuo e inocente e não diz não...
A brincadeira é dentro do meu coração,
Só que o amor só brinca mesmo é de sonhar.

A dor lhe mostra uma lágrima infeliz,
Chorando, diz que que o coração se acostumou
Com esse pranto, que o sonho renegou,
E a tristeza, ao mesmo pranto pediu Bis.

O amor hesita, mas a dor é insistente
E dramatiza de forma tão convincente,
Que ele sente uma lágrima cair,

Porém meu sonho toma a mão da alegria
E o meu amor transforma a dor em fantasia
E a poesia faz meu coração sorrir.
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CUPIDOS PASSIONAIS

Quando Cupido esvaziou a sua aljava,
Sem acertar bem dentro do teu coração,
Não era o teu mais doce amor que ele alvejava,
Ele flechava, sem querer, tua razão.

Teu raciocínio se esquiva... não se fere,
Ele prefere observar a trajetória
Desse projétil... estudando quem desfere
Os seus desejos, sem saber da tua história.

Casos de amor são como setas de Cupido
Que se desviam do destino original
E vão ferir quem se tornou tão distraído

Com a solidão, que é incapaz de perceber
Que um amor, quando se torna passional,
Jamais acerta o coração que ele quer ter.
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GENTE QUE SONHA

Tem gente que me amou e eu não amei...
Tem gente que eu amei e não me amou;
Tem gente que não sabe o que eu sei,
Tem gente que nem sabe quem eu sou.

Tem gente que partiu ou que ficou,
Tem gente que ficou... mas já partiu,
Tem gente que não viu o que olhou,
Tem gente que olhou o que nem viu.

Tem tanta gente vendo o que não vê,
Ou crendo no que pensa que não crê,
Que eu vou reconstruindo o que eu sonhar,

Meu pé sempre pisando o mesmo chão
Que faz do meu momento, um coração
Que pulsa na emoção do meu olhar.
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MUITO MAIS QUE UM PRISIONEIRO

O amor chega como um pássaro que canta;
O amor encanta com tanta espontaneidade
E com virtudes poderosas... e são tantas,
Que não há como ignorá-las, de verdade.

Alguns o prendem em gaiolas coloridas
E o exibem como um lírico troféu;
Aprisionam, entretanto, suas vidas,
Mas todo pássaro extasia-se com o céu.

Até que um dia, a porta aberta da gaiola
Mostra, lá fora, mais que um céu de passarinhos;
O amor, então, esquece a grade que o isola
E se consola com a ilusão de outros caminhos.

O amor é assim, pode voltar a qualquer hora;
Há alimento e solidão no cativeiro
Mas quando o sonho de voar fica lá fora,
Ele se sente muito mais que um prisioneiro.

Fonte:
Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros). Nuvens de Versos. Campo Mourão: Editado por José Feldman, 2020.

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