segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Cecy Barbosa Campos (A Visita)


Na obscuridade da tarde que caía, o céu ficava mais alto e as pessoas ficavam menores. Aquela casa me oprimia. Suas janelas me contemplavam com olhos vazios e baços, como alguém que não espera mais nada da vida.

As paredes, pele desbotada de ancião, mostravam as marcas do tempo. E eu, ali, imóvel e querendo fugir, com os pés agarrados ao solo e olhar fixo, na angústia sufocante de quem não pode reagir.

Pressentia que algo terrível estava para acontecer. Quando consegui mover-me, uma força misteriosa impeliu-me, não para longe da casa, mas para dentro do jardim, e meus passos me levaram à entrada lateral.

Entrei na casa. Um amplo salão, vestido com tapetes estilo persa e cortinas pesadas, num tom vinho, tornava-se mais escuro do que se poderia esperar naquele horário.

Olhei para o grande relógio que se encontrava de pé num dos cantos da saía e confirmei que ainda não haviam soado as seis badaladas da tarde.

Observei o local atentamente. Havia poeira sobre os móveis e a casa não parecia habitada. Entretanto, a porta não estava trancada, embora, nela houvesse ferrolhos que possibilitavam a segurança necessária para evitar a presença de intrusos.

Tive a sensação de que alguém me esperava e que providenciara para que a minha entrada tivesse sido facilitada. Procurando ser racional, pensei que isto não seria possível, já que nem eu mesma imaginara fazer tal visita.

De repente, notei uma escada ao fundo do salão. De dois lances, a escada levou-me a um pequeno "hall" que se abria para outros aposentos, provavelmente os quartos. Um aroma de rosas perfumava o ambiente, e fui inundada por uma sensação de bem estar que superou a tensão inicial.

Tranquilamente, continuei a minha investigação. Abrindo as portas, encontrei um banheiro, onde verifiquei que sabonetes novos exalavam um cheiro agradável, e me encantei com belas toalhas, que pareciam nunca terem sido usadas.

Duas portas conduziam a quartos decorados com cortinas leves e colchas coloridas, que pareciam destinadas a jovens. Ao abrir a terceira porta, senti uma presença ao meu lado. Não conseguia torcer a maçaneta. Fiquei ansiosa. Haveria alguém segurando a minha mão?

Apesar de uma breve hesitação, novamente fui movida por um estranho impulso que me fazia seguir em frente. Insisti e consegui abrir a porta. Deparei com um quarto de casal onde a cama estava coberta de flores, rosas brancas. Uma suave melodia ecoava em meus ouvidos. Um estranho torpor invadiu o meu ser e, conduzida por um toque invisível, cheguei até à janela aberta, meio escondida pelas cortinas que balançavam levemente.

Ouvi, de forma indistinta, exclamações de transeuntes assustados com aquele corpo caído no jardim. Eu não pude e talvez nem soubesse explicar o que acontecera.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.

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