sábado, 19 de novembro de 2022

Caldeirão Poético LVI


Carlos Gildemar Pontes

Cajazeiras/PB

NA LUZ DA TUA IMAGEM


Quando em pensamento vivo
uma confusão ao certo,
se sou do teu sol cativo
ou do teu luar deserto.

Fez-se um desejo infinito
que até ao mar revolta,
mesmo velejando aflito
todo coração se solta.

Em toda vontade canto
mesmo que me choque a alma
se do amor sou oriundo,

vou te alentar com o manto
para embalar a calma
do meu sonho mais profundo.
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Manoel Virgílio
Rio de Janeiro/RJ

NADA


Difícil, nesta vida, o fazer nada!
O nada é um vazio; não se acaba.
Um nada que, sem cores, transparente,
é nulo e faz vazia a vida da gente.

Difícil programar não fazer nada!
Calar e não pensar, é dura saga.
Não sonhar, não querer, não desejar,
no nada se acabar; nada criar.

Viver sem nada ter, sem nada crer!
Sem crer a nossa vida já é nada,
um nada que, sem fé, em nada brada.

Negar a criatura, o próprio ser;
negar o criador, por vezes cada,
será negar razão, ao próprio nada!
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Nilze Costa e Silva
Natal/RN

NAVEGANDO

A Nave de Prata por trás da vidraça
Amanhece palavras, entardece ternura
Conduz seus versos com tanta candura
Anoitece nuvem no céu que se esgarça.

A Nave de Rubi por trás das canções
Procura caminhos por navegar
Singrando poemas em pleno mar
Transforma seus versos em orações.

O terno poeta, agora distante
Navega em nós pelo pensamento
E pela lembrança sempre constante

Deixando mais belo seu sonho lídimo
Foi poetar lá no firmamento
O imenso poeta Horácio Dídimo
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Paulo Roberto Coelho Ximenes
Fortaleza/CE

MAGIA NO MUNDAÚ

À noitinha, na praia, a lua brilhou
leiteando os contornos alquebrados
até a salsugem se quedou ao prateado
uma gaivota ia passando... E voltou.

Um artista se enamorou do violão
o coqueiro chamou o vento pra dançar
o sol nem tinha mais hora pra chegar,
a caipirinha empederniu a ilusão.

Do nada... uma sereia enfeitiçada!
Seu tênue rasto na areia se moldou
(no blues o devaneio se propaga).

A poesia no Mundaú se alastrou.
O poeta assistiu a tudo. Disse nada.
Mesmo assim, a lua brilhou!
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Vicente Vieira
Fortaleza/CE

LOUCO POETA

Sabemos que todo poeta é louco
Mas que nem todo louco é poeta
O primeiro se nota pouco a pouco
O segundo só estando bem alerta.

Como o poeta busca a fuga do real
E o louco dela sempre se locupleta
Não sei se para o bem ou para o mal
A semelhança dos dois: quase completa.

Há no entanto uma certa desavença
Pois o poeta incorpora sempre o belo
E o louco não adota nenhuma crença

É bem possível então notar a diferença
Ao tentar se estabelecer um paralelo:
A sensibilidade do poeta é sempre intensa.

Fonte:
Luciano Dídimo (org.). 100 sonetos de 100 poetas. Fortaleza/CE: Expressão Gráfica e Ed., 2019.

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