quinta-feira, 4 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 52 =


Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ
Otávio Venturelli

Levou susto o "Seu" Gracindo
ao ver, da mulher Tereza,
a dentadura sorrindo
num copo d'água na mesa...
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Poema de Recife/PE
Amanda Mirella Simplício da Silva

Amores clareados

Calam os passos clareados
Pelo sol já desvendados
Proibido amor a vento.
Pele e corpo se conhecem
Mente e alma se padecem
Vai o amor, fica o lamento.

E os teus olhos clareados
Raros olhos revoltados
De fulgor e de tormento.
Sentem o fogo rotineiro
E com ele passageiro
Proibido amor a vento.

Clareada é tua chama
Que renasce e te proclama
Meio a tanto sofrimento.
Foge à luz a vil navalha
Com seu corte, incendiária.
Que retalha esse momento.

Alma clara, clareada.
Sombra sã que faz-se amada
Na certeza do contento.
Esperança em olhos claros
Para ti já não mais raros
Proibido amor a vento.
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Aldravia de Belo Horizonte/MG
Ângela Togeiro

Poeta
dorme
verso
e
acorda
poema
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Poema de Joaçaba/SC
Miguel Russowsky
(Miguel Kopstein Russowsky)
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

Promessas

Estava eu só Passou... Sorriu... Olhei-a...
Estremeceu. Estremeci. Sucede
que o imprevisível manda e a gente cede.
No céu azul brilhava a lua cheia.

Depois... as consequências... — Quem as mede
se a razão, sem razão, já titubeia?
E o mar acariciando o ardil, na areia:
"O vinho é bom sorver antes que azede!"

Vai-se o verão. Agora é frio e neva.
Palavras sem valor, o vento as leva.
As juras antecedem as desditas.

Um instante de amor — eternidade!
Dois instantes de amor — fidelidade'
... Nem todas as mentiras foram ditas.
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Trova Premiada de Santos/SP 
Maryland Faillace

Terminada a criação,
Deus olhou a terra nova
e ao homem deu permissão
de eterniza-la na trova!
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Poema de São Luís/MA
Antônio Fernando Sodré Júnior

Declaração

Declaro para todos os fins que te amo
absoluta e incontrolavelmente
pois o Amor, sempre menino
de toda razão é livre...

Confesso, contudo, não quis te amar
não quis unir meu sorriso ao teu
prender no toque das mãos nuas
o tempo que paira lento
no ar quando te vejo...

Não quis a dor da ausência
o peso das lágrimas tristes
a corroer a superfície do desejo
dessa ardente vontade
de te querer mais que tudo...

Perdoe-me a ironia dos primeiros versos
é que cada lembrança traz a memória tua
viva em todos meus pensamentos...

Amo-te no instante das coisas infinitas
daquelas que têm moldura de nuvem
que se desfazem e voltam
à mesma forma de antes
etéreas e intocáveis...
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Quadra Popular

Ter amor é muito bom
quando há correspondência;
mas amar sem ser amado
faz perder a paciência.
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Soneto de de Baía de Mogunça/MA
Raimundo Correia
(Raimundo da Mota Azevedo Correia)
1859 – 1911, Paris/França

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
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Trova de Natal/RN
Joamir Medeiros

O imortal desaparece
desta vida transitória,
mas seu verso permanece
nas letras vivas da história!
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Poema de Castanhal/PA
Edilene de Sousa Araújo

Ponto celeste

Você é
Meu porto seguro,
Meu grito de terra à vista,
Resgate nas horas imprevistas
Minha nau de chegada
Nunca de partida.
Você é
Meu alicerce de concreto,
Meu caminho sempre reto
Meu oásis no deserto.
Você é
Meu sim,
Meu não,
Meu Leste-Oeste,
Meu norte-sul,
Meu ponto celeste.
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Haicai de São Paulo
Guilherme de Almeida
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Hora de Ter Saudade

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
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Setilha do Rio Grande do Sul
Gislaine Canales
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Sem ser cristãos ou ateus, -
somos iguais, na verdade;
em nosso mágico mundo
vivemos em liberdade,
com versos, por companhia,
cheios de paz e alegria,
que nos dão felicidade!
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Trova de Maranguape/CE
Moreira Lopes

Acalento tanto sonho
dos meus tempos de criança
que me conservo risonho
e repleto de esperança.
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Glosa de Fortaleza/CE
Nemésio Prata

Mote:
o meu verso tem o cheiro 
da poeira do sertão!
Manoel Dantas 
(Pau dos Ferros/RN)

Glosa:
A luta do sertanejo 
meu Deus, como ela é puxada; 
ao cabo da sua enxada 
passa o tempo no manejo 
da terra. Ao ver um lampejo 
põe em Deus sua esperança
que chova, com abastança, 
pra molhar o seu torrão; 
não passou de uma ilusão; 
está seco o seu regueiro, 
o meu verso tem o cheiro 
da poeira do sertão!
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Aldravia de Porto Alegre/RS
Eugênia Diana Silva de Camargo

borboleta
deixa
casulo
para
polinizar
vidas
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Soneto de São Paulo/SP
Filemon Francisco Martins

Noite e versos

Vai alta a noite. A madrugada é fria,
a insônia chega, fica e me namora.
Levanto-me à procura da poesia,
mas ela, impaciente, vai embora.

Percorro o céu do amor, da fantasia,
fico em vigília e vejo a luz da aurora:
- que paz a humanidade alcançaria,
se o amor reinasse pelo mundo afora.

Ouço distante, o farfalhar do vento,
e por que minha voz não tem alento,
- se o dia vai nascer como criança?

Surge, então, o cantar da passarada
e outros versos virão, na madrugada,
talvez mais coloridos de esperança.
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Trova Premiada de Tambaú/SP
Sebas Sundfeld
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

Vou lendo o livro da vida…
mas a página do fim,
uma voz compadecida
talvez a leia por mim!
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Poema de Lisboa/Portugal
Carmo Vasconcellos

Do pagador de promessas…

Tu nada me prometeste…
E eu nada te prometi!
De lembrar-me não esqueceste,
do binómio não esqueci.

Que tinhas pra prometer
se nada tens para dar?...
Rio que não pode correr
não se abalança pró mar!

Promessas fazes, jamais,
nas aventuras corridas,
mas ilusões magistrais
espalhas no ar – sugeridas.

Por que haveria de supor
que tal promessa existia?...
Se te conheço… És d’amor,
uma vasilha vazia.

E por que iria prometer-te
alguma coisa, também?...
Se pra além de não querer-te,
do passado lembro bem.

Não volta às curvas da rota
quem tem dois dedos de testa,
de contrário, vira idiota
na loucura manifesta.

Se nada me prometeste
e eu nada te prometi…
Tu sem mim, nada perdeste
e eu sem ti, nada perdi!

E levas a cruz às costas,
no resgate que carece
quem induz falsas apostas
e a sorte tem que merece!

Encerra-se a peça em glória,
sem ninguém a pedir meças
aos atores desta estória
“do pagador de promessas”!
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Triverso de Irati/PR
Marilena Budel 

Na velha floreira
pousa uma borboleta.
Mamãe faz tricô.
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Setilha Popular


Eu nada sei do que sei
Como já filosofado
Muito em tudo que pensei
Está certo, estava errado
No sofisma dos ateus
Não acredito em Deus
Mas posso “está” enganado.
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Trova de São Paulo/SP
Therezinha Dieguez Brisolla

Sem ódio... sem armamento...
sem heróis, que a guerra faz,
será, o mundo, um monumento
erguido em nome da PAZ!
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Hino de Joinville/SC

Tu és a glória dos teus fundadores,
És monumento aos teus colonizadores,
Oh! Joinville Cidade dos Príncipes,
Oh! Joinville Cidade das Flores.

Às margens do Rio Cachoeira,
Um dia o audaz pioneiro,
Plantou do trabalho a bandeira
E se deu, corpo e alma, ao torrão brasileiro.

Depois foram lutas e penas,
Mas nunca o herói fraquejou,
Com sangue, suor e com lágrimas
Do seu próprio corpo teu solo irrigou.

Tu és a glória dos teus fundadores,
És monumento aos teus colonizadores,
Oh! Joinville Cidade dos Príncipes,
Oh! Joinville Cidade das Flores.

E se hoje o bravo imigrante,
Que tua semente plantou,
Com a força e o vigor de um gigante
Nas mãos com que, em preces, ao céu suplicou,

Te visse radiosa e pujante,
Nascida na mata hostil,
A imagem da Pátria distante
Veria, grandiosa, exaltando o Brasil!
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O Tributo Lírico à História e Beleza de Joinville
O 'Hino de Joinville - SC' é uma composição que presta homenagem à cidade de Joinville, localizada no estado de Santa Catarina, Brasil. A letra do hino destaca a bravura e o esforço dos fundadores e colonizadores da cidade, que enfrentaram desafios e adversidades para estabelecer uma comunidade próspera e vibrante. A menção à 'glória dos teus fundadores' e ao 'monumento aos teus colonizadores' reflete o respeito e a gratidão pelas raízes históricas da cidade.

O hino também faz referência à localização geográfica de Joinville, 'às margens do Rio Cachoeira', e ao espírito empreendedor dos pioneiros que 'plantaram do trabalho a bandeira'. Essa expressão simboliza a dedicação ao trabalho e o compromisso com o desenvolvimento da região. A imagem do 'audaz pioneiro' que 'com sangue, suor e com lágrimas' irrigou o solo da cidade com seu próprio corpo é uma metáfora poderosa para o sacrifício e a determinação dos primeiros habitantes.

Por fim, o hino celebra a transformação de Joinville de uma 'mata hostil' para uma cidade 'radiosa e pujante', que mantém viva a 'imagem da Pátria distante', referindo-se às origens europeias de muitos de seus imigrantes. A cidade é exaltada como 'Cidade dos Príncipes' e 'Cidade das Flores', evidenciando sua nobreza e beleza natural. O hino é um retrato poético do orgulho e da identidade cultural de Joinville, reconhecendo seu papel na construção da nação brasileira. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/942787/ 
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Poetrix de Osório/RS
Suely Braga

O meio ambiente

   O planeta chora.
   Precisamos ser conscientes.
   Cuidemos dele agora.
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Soneto de Santos/SP
Carolina Ramos

Anseio

 Por mais que em convulsões o mundo trema,
 rumo ao caos que implacável nos atinge…
 Por mais, seja negado o suave lema,
 Paz e Amor, que de sangue hoje se tinge…

 Por mais que o desencanto fel esprema
 nas almas secas de quem já nem finge,
 creio, ainda, num Deus que é Luz suprema,
 e é Sol que aclara o Bem e o Mal restringe!

 Mesmo envolta nas sombras da amargura,
 mesmo que os dias sigam mais tristonhos
 e a vida, cada vez menos segura,

 fujo à incerteza que o momento traz
 e, sempre vivo, a incrementar meu sonho,
 eu guardo o anseio de encontrar a Paz!
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Trova Humorística de Maringá/PR
A. A. de Assis

“Amor não enche barriga”, 
porém surpresas virão: 
- Fez “amor” a rapariga... 
e olha só que barrigão! 
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Fábula em Versos da França
Jean de La Fontaine
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O homem e a sua imagem

Um homem singular nos fumos da vaidade,
Tinha-se para si na conta de gentil;
No espelho a que se vê sempre acha falsidade,
E vivia feliz nessa ilusão pueril.
Para o curar do achaque, a sorte, que é cruenta,
Aos olhos lhe apresenta
Por toda a parte os tais conselheiros das damas:
Espelhos nos salões, nas lojas, nas batotas,
Nos bolsos dos janotas,
Têm-nos criadas e amas.
O que lembra ao Narciso? Ele vai-se ocultar
Desesperado, então, num ignoto lugar
Sem de espelhos querer entrar noutra aventura.
Nesse local, porém, corria a linfa pura
De aprazível regato,
Que reflete fiel o grotesco retrato,
O qual julga ainda assim ser fantasia vã.
Tenta à pressa fugir por não ver essa imagem,
E da linda paragem
Partiu com certo afã.

Percebe-se o meu fito.
Aludo a toda a gente; o caso acha-se a esmo,
Cada qual o que é seu crê ser o mais bonito,
Nossa alma é este tal vaidoso de si mesmo.
Os espelhos sem conta eis as tolices do homem,
Dos defeitos nos dão legítima pintura;
E pela linfa pura
Das Máximas o livro é bem que todos tomem.

(tradução: Teófilo Braga)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com

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