quarta-feira, 17 de julho de 2024

Recordando Velhas Canções (Gente humilde)


Compositores: Chico Buarque / Garoto / Vinícius de Moraes

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
E aí me dá uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar

São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar
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A Melancolia e a Beleza na Simplicidade 
A música 'Gente Humilde', interpretada por Chico Buarque, é uma obra que reflete sobre a simplicidade e as dificuldades da vida nas áreas mais humildes da cidade. A letra expressa um sentimento de empatia e melancolia do eu lírico em relação às pessoas que vivem em condições modestas, mas que carregam uma dignidade e uma força admiráveis.

O início da canção revela uma reflexão introspectiva, onde o eu lírico se sente emocionalmente tocado ao pensar em sua 'gente', ou seja, nas pessoas simples e trabalhadoras que representam suas raízes ou sua comunidade. Há um aperto no peito, uma emoção que surge espontaneamente, indicando uma conexão profunda e uma preocupação genuína com o bem-estar dessas pessoas.

À medida que a música avança, o eu lírico descreve cenas do cotidiano suburbano, com suas casas simples e a vida que se desenrola na calçada. A inveja mencionada não é de natureza material, mas sim de um espírito de comunidade e de seguir em frente apesar das adversidades. A tristeza e a beleza se entrelaçam na descrição das flores 'tristes e baldias' e na alegria que parece não ter um lugar para se apoiar. A música culmina em um apelo emocionado a Deus, mesmo para aquele que não é crente, revelando a profundidade do sentimento de solidariedade para com a 'gente humilde'.

“Gente Humilde” teria surgido durante uma visita de Garoto a um subúrbio carioca. De repente, ao observar aquelas pessoas e suas casas modestas, ele resolveu homenageá-las numa canção. Tempos depois, a gravaria num acetato para o professor mineiro Valter Souto, registro que asseguraria a sobrevivência da composição, mantida inédita em disco comercial.

Finalmente, quase quinze anos após a morte de Garoto, Baden Powell mostrou-a a Vinícius de Moraes que, apaixonando-se pelo tema, deu-lhe uma letra em parceria com Chico Buarque. Aliás, uma letra primorosa que, segundo o próprio Chico, é quase toda de Vinicius: “São casas simples, com cadeiras na calçada / e na fachada escrito em cima que é um lar / pela varanda, flores tristes e baldias / como a alegria que não tem onde encostar...”

Muito antes, porém, houve uma outra letra (“Em um subúrbio afastado da cidade / Vive João e a mulher com quem casou / tem um casebre onde a felicidade / bateu à porta, foi entrando e lá ficou...”) de um poeta mineiro, que preferiu se manter no anonimato. Com esta letra, “Gente Humilde” foi cantada em programas da Rádio Nacional por Zezé Gonzaga e o coral Os Cantores do Céu, em arranjo de Badeco, do conjunto Os Cariocas (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Fontes:

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