sábado, 20 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 61 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Com a filha "naquele estado",
o pagode interrompeu:
“- Confessa ou morre ... tô armado!”
Os três confessam: "Fui eu".
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Chuva e saudade

Cai a chuva... é triste o dia...
A manhã é cinzenta e baça...
E eu mudo vejo a chuva fria,
A correr de leve na vidraça...

E a chuva cai... cai e não passa...
Nem sequer a chuva estia...
Para que um pouco se desfaça,
A saudade de quem eu tanto queria!...

Qual essa vidraça, está meu rosto...
E meus olhos não querem desanuviar...
É por demais sofrido o meu desgosto...

Aumenta a chuva e com ela a minha dor...
Soluço qual criança perdida, sem cessar,
Na incerteza de ao menos rever-te amor!...
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Aldravia de Ponte Nova/MG

MARISA GODOY

Abelha
morta:
menos
mel
no
pote
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Soneto de Curitiba/PR

EMÍLIO DE MENESES
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
Curitiba/PR, 1816– 1918), Rio de Janeiro/RJ

Um Homúnculo

Tão pequenino e trêfego parece,
Com seu passinho petulante e vivo,
A quem o olha, assim, com interesse,
Que é a quinta-essência do diminutivo.

Figura de leiloeiro de quermesse,
Meloso e parecendo inofensivo,
Tem de despeitos a mais farta messe,
E do orgulho é o humílimo cativo.

Não há talento que ele não degrade,
Não há ciência e saber que ele, à porfia,
Não ache aquém da sua majestade.

Dele um colega, há tempos, me dizia:
É o Hachette* ilustrado da vaidade,
É o Larousse da megalomania!
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* Hachette = Originalmente, a Hachette era uma livraria e casa editorial fundada por Louis Hachette em 1826
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Trova Premiada  em  Araras/SP, 1993

DARLY O. BARROS 
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Passando a vida em revista
descubro, ao fim dos meus dias,
ter sido o NADA a conquista
que eu trago nas mãos vazias...
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Poema de Curitiba/PR

EMILIANO PERNETA
(Emiliano David Perneta)
1866 – 1921

Para Um Coração

Um dia, vi-te, assim, bailando,
E a uma pergunta, que te fiz,
Tu respondeste : "Eu amo, e quando,
E quando eu amo, eu sou feliz!"

Por uma noite perfumada,
Cantaste, sobre o teu balcão.
E eu disse, ouvindo a áurea balada :
- Ah! Que feliz é o coração!

Quanta felicidade, quanta,
Não há ninguém feliz assim :
Um dia baila e noutro canta,
Como se fosse um arlequim...

Eu disse .. Mas agora vejo,
Nesse silêncio tumular,
Que estás sofrendo, e o teu desejo
Já não é mais o de bailar...

Nem de bailar, e nem, de certo
De nada mais, de nada mais...
Que fazes, pois, triste deserto,
Que fazes pois, que não te vais?

Mas, choras, creio, choras? Onde?
Se viu chorar um Lucifer?
Pobre diabo, vamos, esconde
Essas fraquezas de mulher...
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Trova Popular

A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.
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Soneto do Rio Grande do Sul

MÁRIO QUINTANA
(Mário de Miranda Quintana)
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS

O Auto-retrato

No retrato que me faço
— traço a traço —
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
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Trova de São Fidélis/SP

A.M.A. SARDENBERG
(Antonio Manoel Abreu Sardenberg)

A vida segue de arrasto,
do sonho nada me resta…
E o que sentia tão vasto,
vejo agora que não presta.
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Poema do Paraná

HELENA KOLODY
Cruz Machado/PR, 1912 — 2004, Curitiba/PR

Alegria de Viver

Amo a vida. 
Fascina-me o mistério de existir. 
Quero viver a magia 
de cada instante, 
embriagar-me de alegria. 

Que importa a nuvem no horizonte, 
chuva de amanhã? 
Hoje o sol inunda o meu dia.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

SELMA PATTI SPINELLI

Foi galantear, o Pérsio,
e o otário se deu mal:
"Tu és de fechar o comércio!”
E a morena era fiscal!
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Soneto de Taubaté/SP

LUIZ ANTONIO CARDOSO

Solidão
  
Propensos a quereres semelhantes,
tendo a poesia inata em nossas mentes,
tínhamos o infinito... e como amantes
seríamos estrelas reluzentes.
 
Mas eis que seus desejos, tão arfantes,
fizeram dos meus sonhos, tão descrentes,
migalhas de lembranças arquejantes,
fenecendo em processos deprimentes.
 
Recusaste o poeta que há em mim,
e todos os meus versos, que sem fim,
esculpiram o amor que eu quis te dar...
 
e decretaste enfim, a solidão,
para me acompanhar à imensidão...
onde hei de eternamente te esperar!
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCILIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
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Glosa Gauchesca

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Não Sei...

MOTE:
Não sei escrever bonito,
pois me falta inspiração,
mas o que aqui está escrito
eu sinto em meu coração!
Sofia Irene Canalles
Pedro Osório/RS, 1911 – 2004, Porto Alegre/RS

GLOSA:
Não sei escrever bonito,
mas sei amar e sentir
a beleza do infinito,
simplesmente em ir e vir!

Às vezes, eu não escrevo,
pois me falta inspiração,
outras vezes, eu me atrevo
e escrevo com emoção!

Meu verso não é erudito,
possui grande singeleza,
mas o que aqui está escrito,
sai-me da alma, com certeza!

Eu sou feliz escrevendo,
e não é mera ilusão,
ver a alegria nascendo...
eu sinto em meu coração!
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Trova de Fortaleza/CE

HAROLDO LYRA

Confirma-se o sofrimento
do pobre homem, coitado!...
pois desde o seu casamento
que ele vive acorrentado.
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Soneto de Nova Friburgo/RJ

SÉRGIO BERNARDO

Êxodo

Ir-me de mim, mas ir com desapego
de tudo quanto sou ou tenha sido
-- eu, que imagem me fiz de um mito grego,
no espelho de outros olhos refletido.

Partir... Mas quando? Se ainda agora chego
de algum lugar onde vaguei perdido,
trazendo, para meu desassossego,
a inconsciência total de haver partido.

Ir louco, a deflorar os horizontes,
o espírito andarilho, a carne errante,
na fome, as árvores; na sede, as fontes.

Venha junto o que igual absurdo enfrente,
de partir para longe a cada instante
e ficar em si mesmo eternamente.
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Trova Premiada  em Ribeirão Preto/SP, 2014

MERCEDES LISBOA SUTILO 
(Santos/SP)

A gandula bem nutrida,
Causava enorme furor:
- dava bola pra torcida
E pra cada jogador! 
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Poema dos Estados Unidos

LAURA RIDING
 Nova Iorque/Nova York ,1901 – 1991, Sebastian/Flórida

Uma Gentileza

Estar viva é estar curiosa. 
 Quando perder interesse pelas coisas 
 E não estiver mais atenta, álacre 
 Por fatos, acabo este minguado inquérito. 
 A morte é a condição do supremo tédio. 

Vou deixar que me desintegre 
 E aí, por saber da paz que a morte traz, 
 Seria bom seguir convencendo o destino 
 A ser mais generoso, estender, também, 
 O privilégio do tédio a todos vocês.
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Haicai de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Porque o dia é curto,
eu curto ao máximo o dia.
Vovô já o dizia.
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Setilha Potiguar

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Nós temos tanto calor
e poeira em nosso chão,
que recebemos em festa
toda chuva no sertão,
e eu sinto, nessa bonança,
uma chuva de esperança
lavando meu coração.
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Trova de Taubaté/SP

JUDITE DE OLIVEIRA 

Falamos muito de paz
mas, às vezes, esquecemos
que todo bem que ela traz
é todo o bem que fazemos.
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Hino de Guarapari/ES

Quer viver o sonho lindo
Que eu vivi?
Vá viver a maravilha
De Guarapari.

Um recanto que os poetas
E os violões
Não conseguem descrever
Nas mais lindas canções.

Pelas suas noites claras,
A lua serena
Vem brindar os namorados
Na areia morena.

Ninguém poderá sonhar
Nem viver o que eu vivi
Longe desta maravilha
Que se chama Guarapari.
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A Maravilha de Guarapari: Um Hino de Encantamento e Nostalgia
O 'Hino de Guarapari' é uma celebração poética da cidade de Guarapari, localizada no estado do Espírito Santo, Brasil. A letra da música exalta a beleza natural e a atmosfera encantadora da cidade, convidando o ouvinte a vivenciar a mesma experiência mágica que o narrador teve. A música começa com um convite direto: 'Quer viver o sonho lindo que eu vivi? Vá viver a maravilha de Guarapari.' Esse verso inicial já estabelece um tom de admiração e nostalgia, sugerindo que a cidade possui uma qualidade quase onírica.

A segunda estrofe destaca a dificuldade de capturar a essência de Guarapari em palavras ou música, afirmando que nem os poetas nem os violões conseguem descrever a cidade em suas 'mais lindas canções.' Isso sugere que Guarapari é um lugar que deve ser experimentado pessoalmente para ser verdadeiramente apreciado. A cidade é apresentada como um recanto de beleza indescritível, um lugar que transcende a arte e a poesia.

A terceira estrofe pinta uma imagem romântica das noites em Guarapari, onde a lua serena ilumina a areia morena, criando um cenário perfeito para os namorados. Essa imagem reforça a ideia de que Guarapari é um lugar de sonhos e romance, um refúgio para aqueles que buscam beleza e tranquilidade. A música termina com uma declaração enfática de que ninguém pode sonhar ou viver plenamente longe de Guarapari, solidificando a cidade como um lugar de importância emocional e espiritual para o narrador. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/1788214/significado.html 
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Poetrix do Rio de Janeiro

DOUGLAS SIVIOTTI

passageira

a vida se vai
na espera ansiosa
do ponto de ônibus
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Soneto de de São Luís/MA

ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

A Trova

A trova é uma janela para o Sonho
que eu abro quando estou triste e sozinho.
A trova faz o mundo mais risonho,
com ela eu sou feliz no meu caminho.

Tudo cabe na trova: ora o medonho
tombar de um raio, ora o burburinho
do vento, ora um violão meigo e tristonho,
clamor de oceano, sons de passarinho.

Gosto da trova desde aquela data
em que andava a caçar tiés na mata,
armando uma arapuca e pondo alpiste.

Pois hoje, na arapuca de uma trova,
tento prender alguma idéia nova
para ouvi-la cantar, quando estou triste.
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Trova de Campo Largo/PR

ÁUREO BAIKA

Eu curto todo momento
e não perco um só segundo.
Num minuto em pensamento
posso estar em outro mundo!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A galinha que punha ovos de ouro

Um homem tinha
Uma galinha,
Que Juno bela
Por desenfado
Tinha fadado:

Vivia ela
Dentro dum covo,
E punha um ovo
De ouro luzente
Em cada um dia,
Que valeria
Seguramente
Dobrão e meio;

Mas o patrão
Um dia cheio
De ímpia ambição,
Foi-se à galinha
E degolou-a.

Examinou-a;
Porque supunha
Que em si continha
Rico tesouro,
Visto que punha
Os ovos de ouro;

Mas nada achou!
E por avaro
Se despojou
Do rico amparo
Que nela tinha.

Outra galinha
Jamais topou
Com tal condão;
E assim pagou
Sua ambição.
(tradução: Curvo Semedo)

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