segunda-feira, 22 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 63 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Diz “Não” à sogra e à cunhada.
- é astuto e não cai na rede –
“Família, aqui, só a Sagrada
e pregada na parede!”
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Poema de Maringá/PR

JOSÉ FELDMAN

Tempo de magia
(Dedicado a Luciano Pavarotti – In Memoriam)

Não há ninguém na velha rua suja!

Havia magia no ar
Entre as árvores quentes e sussurantes

Em um rio de sons
Através do espelho
A magia da música
Ilumina o caminho
Projetando nossas imagens
No espaço e no tempo,
A música tocando nossa alma...
A música do espírito.

Beber sonhos
Nos córregos,
Andar sobre o arco-íris
Como os duendes!

Está na hora
De abrir asas e voar
Viajar para algum lugar
Distante, bem longe
Levado pelo vento
Numa estrela cadente
Como uma borboleta
Solta no alto -
Espírito errante!
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Aldravia do do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

Saudade
bandoleira
sem
ontem
hoje
amanhã
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Soneto de Petrópolis/RJ

RAUL DE LEONI
(1895– 1926)

Legenda dos Dias

O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas… e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada…

As horas morrem sobre as horas… Nada!
E ao Poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não veio hoje, virá na outra jornada…”

Ontem, hoje, amanhã, depois, e assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera…

E a Vida passa… efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia… 
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Trova Premiada  em Curitiba/PR, 2010

FRANCISCO JOSÉ PESSOA 
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Meus cabelos cor de prata,
que o luar pintou em mim,
são marcas de serenata
nas madrugadas sem fim.
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Poema de de Funchal/Ilha da Madeira/Portugal

HERBERTO HELDER

Se Houvesse Degraus na Terra...

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
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Trova Popular

Aqui tens meu coração
e a chave para o abrir;
não tenho mais que te dar
nem tu o que me pedir!
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Soneto de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA

Gravatas italianas evocam amor

Beleza nata, digna de uma tela
o nu impecável traz valor ardente!
Bem escondido, o corpo da donzela
vem na gravata e encanta a toda gente.

Atrai o sonho ao ver figura bela,
agita o mar que explode em cada mente...
Como se fosse a escuna vejo nela
perigo à vista! Sou mulher carente!

Vejo o naufrágio deste puro amor
que enfim proíbe dar um simples beijo,
que o vento leva e faz cair a flor.

Por um momento, juro que pensei
ter encontrado a paz que tanto almejo...
sei que sonhei... agora já acordei.
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Trova de Angra dos Reis/RJ

JESSÉ NASCIMENTO

Sinto uma grande alegria 
e o alvo sempre persigo: 
conquistar a cada dia 
um novo e leal amigo.
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Poema de Brasília/DF

PEDRO CÉSAR BATISTA

Candeeiro do tempo

Olhos cerrados não veem a manhã
Sustentam-se na escuridão do medo e do passado
Bocas enganam ouvidos
Alegram fantasmas que submergem em mentes
Bailam em cantos iludidos com o brilho das luzes
Voos arrastam almas em frágeis desejos supérfluos
Ouvidos se animam ao tilintar de 30 moedas
Falam em suas crenças
Cantam desilusões e dores
Nada creem no amor e em Iris brilhantes
Acham que todos os olhares são cinzentos
Todos os abraços falsos
A manhã se suicida com medo do dia
Prefere a escuridão da solidão do poder
Desiste de receber a luz das flores e dos pássaros
O dia se vai
Nem noite vem
Deixa-se inebriar no tempo de dor
Onde estou que ainda sonho
Preciso acordar e voar ao infinito
Retirar as folhas que abafam meu canto
Pássaros não alimentam mais sonhos
A dor de quem não sonha
Passos sobrevoa oceanos
Desejam ser brilho nessa escuridão
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Trova Humorística de São Paulo/SP

SÉRGIO FERREIRA 

Confuso, o dono do empório
não anda bom da veneta:
na orelha um supositório,
mas nem sinal da caneta!
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Soneto do do Ceará

FRANCISCA CLOTILDE
Tauá/CE (1862 – 1935) Aracati/CE

Mariposa

Incauta mariposa em torno à luz
Viceja pela chama fascinada,
Até que enfim examine, crestada
Cai em meio do fogo que a seduz.

A chama que dos olhos teus transluz
Tem minha alma em desejos torturada
E aii tento fugir mais abrasadas
Me sinto neste amor que cresce a flux.

Oh! Fecho os negros olhos sedutores,
Não me queimes nos férvidos ardores
De uma louca paixão voraz e forte

Receio que minha alma caia exausta
Neste abismo de luz como a pirausta*
Que buscam o prazer e encontra a morte.
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* Pirausta = inseto de quatro patas com asas transparentes. Vivia no fogo como uma salamandra e morria se afastasse do fogo.
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Trova de Rio Novo/MG

EUGÊNIA MARIA RODRIGUES
1946 – 2003

Não que eu seja pessimista
mas causa um certo desgosto
ir de conquista em conquista
traçando o nada em meu rosto!...
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Glosa de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Shopping Center de Trovas

 MOTE:
Se a inspiração me emitir
todo dia, ideias novas
brevemente irei abrir
um Shopping Center de Trovas!
Ademar Macedo
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

GLOSA:
Se a inspiração me emitir
o que eu mais gosto de ter,
eu vou, das musas, ouvir
sobre o que, devo escrever!

É bom ganhar de presente,
todo dia, ideias novas,
pois isso, faz bem à gente,
nos lançando a belas provas!

Não vou mesmo resistir...
Sendo assim, então garanto,
brevemente irei abrir
um novo e belo recanto!

Quero o seu consentimento:
Diga, amigo, se me aprovas!
Abrirei com sentimento,
um Shopping Center de Trovas!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN (1934 – 1996) Rio de Janeiro/RJ

Meditando sobre a morte,
digo aos crentes e aos ateus:
a bondade é o passaporte
que nos conduz para Deus.
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Soneto de Santos/SP

MARTINS FONTES
1884 – 1937

Soneto

Antes de conhecer-te, eu já te amava.
Porque sempre te amei a vida inteira:
Eras a irmã, a noiva, a companheira,
A alma gêmea da minha que eu sonhava.

Com o coração, à noite, ardendo em lava
Em meus versos vivias, de maneira
Que te contemplo a imagem verdadeira
E acho a mesma que outrora contemplava.

Amo-te. Sabes que me tens cativo.
Retribuis a afeição que em mim fulgura,
Transfigurada nos anseios da Arte.

Mas, se te quero assim, por que motivo
Tardaste tanto em vir, que hoje é loucura,
Mais que loucura, um crime desejar-te?
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Trova Premiada na Academia Brasileira de Trova/1991

JONAS RAMOS DA CUNHA
Natal/RN

Devemos nos espelhar
no mais singelo segredo
da teimosia do mar,
na conquista do rochedo.
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Poema de Curitiba/PR

ANDRÉ CARNEIRO
Atibaia/SP, 1922 – 2014, Curitiba/PR

As reticências

Anseio manobrar a língua
dos fatos sólidos
e a outra,
do sentimento abstrato,
explosiva no ódio até
a úmida ternura do beijo.
Palavras com cores diversas,
cinzas e vermelhos
marcando sangue na página.
Haverá um teclado
medindo a tensão de cada dedo,
a mágica apaga versos frouxos,
letras borboletas voam
e pregam mensagens
no teto dos amores fugidios.
Tenho só um dicionário roto,
dedos hesitantes e o
sorriso do humor necessário.
Meu diário é suposto,
foto desfocada da
vida em movimento.
Tento transmitir
apelo, medo, desejo,
nas palavras alinhadas,
tímidos soldados
antes da luta.
É raro saber o gosto alheio
pelo abstrato alimento.
Depois de algumas linhas,
o fim vale como vírgula
para o futuro ignoto
das reticências.
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Triverso do Rio de Janeiro/RJ

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
(1923 – 2012)

Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha.
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Setilha de Porto Alegre/RS

DELCY CANALLES
Pedro Osório/RS, 1931 – ??? Porto Alegre/RS

Chega setembro e os odores
perfumam nossas estradas!
A Primavera sorrindo
embeleza as madrugadas,
e há flores pelos caminhos,
e há convites de carinhos
em noites enluaradas!
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Trova de Magé/RJ

MARIA MADALENA FERREIRA

Se não tens muito, não faças
pouco do pouco que é teu,
que... esses “pouquinhos” são graças
que a vida te concedeu!
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Hino de Sorocaba/SP

I

Saudamos-te, querida Sorocaba,
Com muito júbilo e acendrado amor;
desde a selva selvagem, o índio e a taba,
teus feitos cantaremos teu valor.

Às fraldas norte da Paranapiacaba,
tu te elevas Rainha d'esplendor,
e ao pé do morro d'Ouro, o Araçoiaba,
és pioneira paulista do interior.

Ó' Sorocaba, cantamos triunfantes,
bravos, heróis, cantamos teus pioneiros;
Cidade, és filha e mãe de bandeirantes,
com muito orgulho, a "Terra dos Tropeiros".

Tu és, ó Sorocaba, uma das molas
deste grande São Paulo glorioso,
cidade do Trabalho e das Escolas,
dos Liberais de brio belicoso.

Com teus arranha-céus, ao alto evolas
todo o ideal de um povo laborioso,
e o potencial fabril que hoje controlas
é o signo de um Brasil mais poderoso.

II

Tu, Sorocaba, marchas, "pari-passu"
com tuas irmãs, ao lado das primeiras,
Marchas tu com São Paulo no compasso,
Já desde os áureos tempos das bandeiras.

Foste terra de peões, campeões do laço;
Com suas tropas, com suas famosas feiras;
hoje és comércio, indústria, torres de aço,
Tudo é teu sangue, nas veias brasileiras.

Ó' Sorocaba, cantamos triunfantes,
bravos heróis, cantamos teus pioneiros;
Cidade, és filha e mãe de bandeirantes,
com muito orgulho, a "Terra dos Tropeiros".

Pela alvorada, a orquestra dos apitos,
O operário marcha ao seu mister fabril
e os homens da palavra e dos escritos,
da ciências, em teu progresso atuantes mil;

às escolas a colher frutos benditos,
a juventude marcha varonil,
O Saber e Labor marcham contritos,
em prece a Deus, pela Pátria - Brasil.
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Sorocaba: Um Hino de Orgulho e História
O 'Hino de Sorocaba - SP' é uma celebração vibrante e emotiva da cidade de Sorocaba, localizada no interior do estado de São Paulo. A letra exalta a história rica e o desenvolvimento da cidade, desde os tempos dos indígenas e das tabas até sua ascensão como um importante centro urbano e industrial. A referência à 'selva selvagem' e ao 'índio e a taba' remete às origens pré-coloniais da região, enquanto a menção à Paranapiacaba e ao morro de Araçoiaba destaca a geografia local e a importância histórica desses locais.

O hino também presta homenagem aos bandeirantes, figuras históricas que desempenharam um papel crucial na expansão territorial do Brasil. Sorocaba é descrita como 'filha e mãe de bandeirantes', sublinhando seu papel central na história paulista e brasileira. A cidade é celebrada como a 'Terra dos Tropeiros', um título que remete à sua importância no comércio e no transporte de mercadorias durante o período colonial. A letra também destaca o desenvolvimento industrial e educacional de Sorocaba, com menções aos 'arranha-céus' e ao 'potencial fabril', simbolizando o progresso e a modernidade.

A segunda parte do hino reforça a ideia de progresso contínuo e de marcha conjunta com outras cidades paulistas. A referência às 'famosas feiras' e ao 'comércio, indústria, torres de aço' ilustra a transformação de Sorocaba em um polo econômico dinâmico. A letra também celebra o trabalho e o saber, com imagens do operário e dos homens da ciência e da palavra contribuindo para o progresso da cidade. A juventude é vista como herdeira desse legado, marchando com vigor e determinação. O hino conclui com uma prece a Deus pela pátria, reforçando o sentimento de patriotismo e devoção à cidade e ao Brasil.
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Poetrix de Minas Gerais

JUDITH DE SOUZA

matinal

busco a poesia, de teimosia,
pintando quadros negros
com luzes de Monet
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Soneto de São Paulo/SP

MÁRCIA SANCHEZ LUZ

Sonho Alado

Ele fugia a cada passo dado
por mim em direção ao seu encontro;
quando por vezes eu lhe dava os ombros,
voltava a me chamar para o seu lado.

Ele dizia estar apaixonado,
eu respondia assim, logo de pronto,
que parecia mais um reencontro
de duas vidas, de um sonhar alado.

Logo passamos a nos convencer
que o que deixamos era pra ficar
entre nós dois, como um selado pacto

de confidências sobre o abstrato,
eterno e transcendente renascer
de corações e flores a brilhar.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A saudade é a companhia 
mais doce que Deus nos deu. 
Sem ela, o que restaria 
aos velhinhos como eu?... 
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O lobo e o cão

Não tinha um lobo mais que a pele e o osso.
Sinal é que, de orelha arrebitada,
Bem vigilante andava a canzoada.
Encontra o lobo um dogue forte, grosso,
Nutrido, luzidio, uma beleza!
Que distraído abandonara a estrada.
Sorri-lhe a nédia presa.

Saltar-lhe logo ali, fazê-la em postas
O seu desejo fora. Dura empresa!
A luta era infalível! Voltar costas
Não usam perros quando são valentes,
E, mais, os brutos! dão às vezes cabo
Do fero contendor! Diabo! diabo!
Então aquele, com aqueles dentes!

Humilde o lobo, pois, encolhe a cauda;
Chega-se ao cão; abaixa-lhe a cabeça;
Puxa conversa; diz que folga em vê-lo,
Que deixe que ele admire, que ele aplauda
Topá-lo assim... e com tão bom cabelo!...
E rijo! e gordo! Um frade! uma abadessa!
«Esplêndido senhor, — o cão responde —
De vós depende o ter igual gordura.
Fugi dos bosques, onde
Por teima da desgraça,
De fome e frio só achais fartura,
Vós, senhor lobo, e a vossa pífia raça.
Dias e dias sem comerem nada!
E lá por festas raras, esquecidas,
Um petisquinho conquistado, à espada,
Tragado às escondidas!
Aí é certa a morte!
Furtai-vos a seus braços!
Segui... segui meus passos;
Tereis outro destino e melhor sorte.
— Mas como? volve o lobo.
Fazer então que devo? — Bagatela:
Nem morte de homem, nem de igreja roubo;
Simplesmente estas coisas: não dar trégua
À santa gente rota, mendicante,
Bordão numa das mãos, noutra a tigela,
Que vem ainda a distância duma légua
E já tresanda a essência de tratante.
Lamber as mãos ao dono; ser submisso...
Dar coca — é o termo próprio — ao dono e a todo
Quanto bicho careta houver em casa.
Salário apanhareis que vos apraza:
Ossos das aves, rodas de chouriço,
Restos vindos da mesa, e tudo a rodo!
Até uns tagatés em cima disso!»

Tendo prestado ao cão atento ouvido,
O lobo, coitadinho!
Com perspectiva tal enternecido,
Não tugiu nem mugiu, mas fez beicinho!
Iam caminho já do povoado,
Quando o lobo notou que no pescoço
O cão era pelado!
«Que tens aí? — pergunta em alvoroço.
— Nada, que eu saiba. — Nada?! — Frioleira!
— Mas afinal o que é? — Ora!... a coleira.
Com que à noite me prendem junto à porta...
— Prender-te?! — o lobo exclama. Não sais fora,
Não corres livre pela terra inteira
Quando te dá na gana, e a toda a hora?
— Nem sempre. Isso que importa?
— Tanto importa, que toda a trincadeira
Com que me acenas, um tesouro embora,
Por tal preço não quero!» O lobo finda,
Põe-se logo na perna, e corre ainda!
(tradução: Francisco Palha)

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