Era uma manhã ensolarada na cidade, e o senhor Astolfo, um avô de 71 anos com uma energia surpreendente para a idade, estava a caminho do mercado com sua neta, Clara, já na fase aborrecente. Eles sempre se divertiam juntos, e aquela manhã não seria diferente. Astolfo estava vestido com sua clássica camisa listrada e um chapéu florido que sua ex-esposa lhe havia dado, enquanto Clara usava fones de ouvido, imersa em seu mundo musical.
Assim que o ônibus chegou, eles entraram e se acomodaram em um banco perto da janela. Astolfo começou a contar histórias sobre quando ele era jovem, enquanto Clara revirava os olhos, mas com um sorriso no rosto.
— Você sabe, Clara, na minha época, ônibus era muito mais divertido! — começou Astolfo.
— Claro, vovô! E você também caminhava 10 quilômetros na chuva, né? — brincou Clara.
— Não! Eu ia de ônibus! — Astolfo respondeu, rindo.
Depois de algumas paradas, o ônibus chegou a um ponto onde Astolfo decidiu que era hora de descer. Ele olhou pela janela e viu uma loja de ferramentas que lhe chamou a atenção.
— Vou descer aqui! — pensou e se levantou rapidamente. Mas, na empolgação, esqueceu de avisar a neta.
Ao descer do ônibus, Astolfo mal percebeu que Clara ainda estava sentada e, quando ele pisou na calçada, o ônibus começou a se afastar.
— Clara! — gritou ele, percebendo que ela não tinha vindo junto. O ônibus começou a acelerar, e a expressão de Astolfo mudou de surpresa para pânico. Começou a correr atrás do ônibus.
— Vovô! Volta! — gritou Clara, agora percebendo que ele havia descido sem aviso.
Ela pulou de seu assento e se aproximou da janela, olhando para ele com os olhos arregalados.
Os passageiros do ônibus, vendo a cena que se desenrolava, começaram a rir e a incentivar Astolfo.
— Vai, seu moço! Corre! — gritou uma senhora de cabelo grisalho, batendo palmas.
— Mais rápido, campeão! — gritou um jovem com um boné de lado.
Um passageiro distraído, sem estar ciente do ocorrido:
– Deixa de ser muquirana, rapaz, tá querendo economizar no ônibus? Corre atrás do táxi que economiza mais!
Astolfo estava determinado. Com o chapéu quase caindo, ele começou a correr com todas as suas forças. O ônibus, por sua vez, parecia estar em um filme de ação, com motoristas e passageiros assistindo à cena como se fosse um espetáculo.
— Clara! — ele gritava, enquanto as pernas pareciam não responder à sua vontade de correr mais rápido. — Espera!
Clara, do outro lado, gritava:
— Vovô, vem mais rápido! O ônibus não vai esperar!
O motorista, vendo a cena no retrovisor, decidiu dar uma freada para que Astolfo pudesse alcançá-los. O ônibus parou abruptamente, e a situação se transformou em um verdadeiro espetáculo.
Astolfo, aliviado por ter conseguido alcançar o ônibus, fez um esforço final e se lançou em direção à porta. Mas, em vez de conseguir entrar, ele acabou batendo na traseira do ônibus com "cara de tacho", quase escorregando. A cena foi tão cômica que todos os passageiros explodiram em risadas.
— Olha a cara do vovô! — Clara não conseguiu conter a risada, enquanto Astolfo se endireitava, ruborizado, mas também rindo da própria situação.
— Ah, que susto! — ele disse, tentando recuperar a compostura. — Eu pensei que você iria embora!
— E eu pensei que você estava se preparando para a São Silvestre! — respondeu Clara, ainda rindo.
O motorista, com um sorriso, abriu a porta para Astolfo entrar e disse:
— Vamos lá, seu moço. Suba logo antes que eu mude de ideia!
Astolfo, agora mais calmo, entrou no ônibus, e os passageiros continuaram a rir e a aplaudir.
— Isso foi uma corrida épica! — gritou o jovem do boné.
Astolfo se sentou ao lado de Clara, que ainda estava se recuperando da risada.
— Nunca mais vou descer sem avisar você, Clara! — ele disse, respirando fundo.
— Eu espero que sim, vovô! Assim você não vira o “Super Vovô” das corridas de ônibus! — ela brincou.
E assim, enquanto o ônibus seguia seu caminho, Astolfo e Clara continuaram a rir, prometendo que, na próxima vez, ele definitivamente avisaria antes de descer. Aquele dia se tornaria uma das memórias mais engraçadas da relação entre avô e neta.
Fontes:
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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