Era uma manhã nebulosa na pequena cidade de Valverde, e o banco central, com suas paredes de vidro reluzente, parecia um oásis de tranquilidade. Mas, para Carlos, um ladrãozinho de origem humilde, aquele era o dia perfeito para mudar de vida. Com um plano mal elaborado na cabeça e um nervosismo palpável, ele se dirigiu ao banco, acreditando que seria fácil.
— Hoje é o dia! — sussurrou Carlos para si mesmo, enquanto segurava a arma que havia pegado emprestada de seu primo, um verdadeiro entusiasta do crime.
Ao entrar no banco, ele respirou fundo e, com uma voz trêmula, anunciou:
— Isso é um assalto! Todo mundo parado!
Os clientes e funcionários olharam assustados, mas nada poderia prepará-los para o caos que estava prestes a acontecer.
Carlos, em sua ânsia, puxou a arma com tanta força que ela escapuliu de suas mãos e caiu, acertando exatamente o seu pé.
— Ai! — gritou Carlos, pulando de dor. — Que droga!
Os clientes começaram a sussurrar, alguns rindo nervosamente da cena. Ele se agachou para pegar a arma, mas o movimento causou uma nova desventura. Ao se levantar, havia um saco de dinheiro em cima do balcão. Com um golpe de sorte, ele conseguiu agarrá-lo, mas o saco se arrebentou, espalhando notas por todo o chão.
— Não! — exclamou ele, tentando coletar as notas, mas no meio do desespero, tropeçou em um maço de dinheiro e caiu de nariz no balcão.
— Ouch! — gemeu, enquanto o impacto da queda lhe quebrava o nariz. O sangue começou a escorrer, e ele se levantou com dificuldade, a cabeça rodando.
E, como se o universo quisesse garantir que sua má sorte continuasse, Carlos, ainda atordoado, acertou a cabeça na quina do balcão. Um galo enorme surgiu na sua testa, e ele ficou meio desacordado, cambaleando.
Os gritos de “socorro” e “é um assalto!” ecoavam, mas os que chegavam não sabiam se Carlos era o ladrão ou a vítima. Quando a polícia chegou, encontrou Carlos, em um estado deplorável, com o nariz sangrando e o galo na cabeça.
— O que aconteceu aqui? — perguntou um dos policiais, olhando para o espetáculo tragicômico à sua frente.
— Ele... ele tentou assaltar o banco! — disse uma funcionária, ainda tentando conter o riso.
— Tentou? — questionou o policial, claramente divertido. — Parece que você é a verdadeira vítima aqui, amigo!
Carlos, ainda meio tonto, tentou explicar:
— Eu só queria... pegar um pouco de dinheiro... — e, ao levantar o braço para gesticular, acertou um soco no próprio queixo.
— Ai! — gritou ele, agora com uma dor adicional.
Os policiais mal conseguiam conter as risadas ao testemunhar a sequência de desastres. Um deles comentou:
— Você sabe que isso é uma tentativa de assalto, certo?
— Claro que sei... — murmurou Carlos, com lágrimas nos olhos, não apenas pela dor, mas pela humilhação. — Meu horóscopo disse que eu não devia sair de casa hoje...
Os policiais trocaram olhares cúmplices, rindo ainda mais.
— Você lê horóscopos? — perguntou um deles, tentando conter a risada.
— Não, mas talvez eu devesse começar... — respondeu Carlos, enquanto era algemado, chorando de dor e frustração.
Assim, ele saiu do banco, algemado e com a cabeça baixa, murmurando para si mesmo:
— Se ao menos eu acreditasse em horóscopos...
A cena se tornou uma lembrança engraçada para os funcionários do banco e os policiais, que, ao contar a história, sempre terminavam com uma gargalhada ao lembrar do ladrão mais azarado que Valverde já conhecera.
Carlos, por sua vez, aprendeu da maneira mais difícil que, às vezes, é melhor deixar o crime para os filmes. E que, definitivamente, um dia de azar é melhor ser passado de pijama em casa.
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Fontes:
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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