sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 210


Trova de
GABRIEL BICALHO
Mariana/MG

Sigo altaneiro, no embate,
e, se o flagelo me alcança,
sinto que a vida me bate,
mas, nunca perco a esperança!
= = = = = = = = =  

Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

Ars poética

Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rês na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.

Vou e volto lambendo o sal do fardo
língua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.

Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.

Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.
= = = = = = = = =  

Trova de
EDNA VALENTE FERRACINI 
São Paulo/SP

Como é bom café quentinho
com broinhas de fubá.
Fogão de lenha, um ranchinho
e a paz que a roça me dá!
= = = = = = 

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

A beirada do céu 
sobre a serra desceu
derramando estrelas
pelo caminho,
Que ao balançar do vento
cintilam de mansinho:
brancas, rosas e lilás.
A alma respira energizada! 
Dos anjos,
mensagens perfumadas
encharcam o coração 
de amor e muita paz.
= = = = = = = = =  

Trova de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Tendo um passado tristonho,
desde os tempos de criança,
mostro o meu rosto risonho,
movido pela esperança.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Prisioneiro em prisão de porta aberta
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 82)

Prisioneiro em prisão de porta aberta
Nas grades dos teus olhos cumpro a pena
A que este amor tão cego me condena
Mas que faz a minha alma tão liberta.

O mal de que te queixas é uma oferta
E eu dou-te a minha vida tão pequena
Em troca dos teus olhos de açucena
Onde a luz deste mundo se acoberta.

Mas impugno a sentença do juiz
E o que nos autos diz a acusação
E que num pobre réu me transformou

Pois nunca fui na vida tão feliz
E se aqui foi roubado um coração
É o meu!... e foste tu quem m’o roubou!
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Vanitas

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada
De gritos de triunfo e gritos de agonia.

Prende a ideia fugaz; doma a rima bravia,
Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada:
“Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te à luz do dia!

Cheia da minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da vida ao ádito profundo,
Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives!” E o Poeta
Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,
E cai – vaidade humana! – ao pé de um grão de areia...
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Eu, na vida, sou barqueiro 
dos meus sonhos sem destino: 
- sonho bom é o passageiro, 
sonho mau é o clandestino.
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Estrada afora

Ela passou por mim toda de preto,
Pela mão conduzindo uma criança...
E eu cuidei ver ali uma Esperança
E uma saudade em pálido dueto.

Pois, quando a perda de um sagrado afeto
De lastimar esta mulher não cansa,
Numa alegria descuidosa e mansa,
Passa a criança, o beija-flor inquieto.

Também na vida o gozo e a desventura
Caminham sempre unidos, de mãos dadas,
E o berço, às vezes, leva à sepultura...

No coração — um horto de martírios!
Brotam sem fim as ilusões douradas,
Como nas campanhas desabrocham lírios.
= = = = = = = = =  

Trova de
WALDEMAR PEQUENO 
Piraí/RJ, 1892 – 1988, Belo Horizonte/MG

Quem me dera, solitário,
habitar naquele morro,
apenas com meu canário,
meu cavalo e meu cachorro.
= = = = = = 

Haicai de
AFRÂNIO PEIXOTO
Lençóis BA, 1876 - Rio de Janeiro RJ, 1947

Comparação

Um aeroplano
Em busca de combustível...
Oh! é um mosquito.
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Poema de
ELINALDO VENCESLAU DA COSTA JUNIOR
Manaus/AM

Gelo em chamas

Por que meus olhos marejam
A cada vez que penso em ti?
E o mundo, preto em branco
Vai colhendo, num tom brando
As belas flores do jardim

Tens ideia do quanto isso é bom pra mim?

Me perguntas, ocasionalmente:
Mas o que foi que eu te fiz?
E eu não sei, verdadeiramente...
Só sei que tu me fazes feliz!

Por que teus beijos me marcam como cicatriz?

Em mente grito sem parar
E no teu carro, eu me calo
Pois só quero aproveitar
Ao teu lado, cada embalo

Seria isso ilusão ou início de paixão latente?

Quisera eu, sinceramente
Em grandes versos, te adorar
Só que me vêm estes singelos
Mas acredite, são tão sinceros
Quanto o ar que foge de mim...
Ao te olhar.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desce a lágrima insistente,
e há sempre alguém que a maldiz!
Mas a verdade é que a gente
chora até quando é feliz!...
= = = = = = 

Hino de 
BALSA NOVA/ PR

Tua gente sempre acolhedora,
Tem no peito a semente da amizade,
Tem nos olhos luz reveladora
De um povo feliz de verdade.

Balsa Nova cidade criança,
teu futuro é riqueza e bonança.

O teu gado e toda a plantação
Dos teus campos compõem novo desenho
E revelam nobre coração:
De paz, de esperança, de empenho.

Balsa Nova cidade criança,
teu futuro é riqueza e bonança.

O teu chão fecundo, abençoado
O Iguaçu e Papagaio vem banhar,
E tuas matas trazem bom recado:
"Progresso é da vida cuidar".

Balsa Nova cidade criança,
teu futuro é riqueza e bonança. 
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

O trem (abrindo o baú)

À beira da estrada férrea
Ficava nossa escolinha.
Bem alegre a garotada
Corria pra lá e vinha.

Com todo aquele barulho
eu acabava ansiosa.
Ficava sempre à espera
E às vezes até manhosa.

Barulho ensurdecedor
Com ranger de ferro e apito
 faísca  no corredor.

Da janela da salinha
Podia se ouvir o grito
Do doido que nele vinha.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
WALDIR NEVES
Rio de Janeiro/RJ (1924 – 2007)

A glória dos homens brilha
com fulgor de eternidade,
toda vez que uma Bastilha
tomba aos pés da Liberdade!
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
Eco
  
É suposto que cada frase desta lengalenga seja repetida por outra pessoa depois de uma a dizer.
 
 - Ó que eco que aqui há!
 - Que eco é?
- É o eco que cá há.
- O quê? Há cá eco?
- Há eco, há.
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Estudante, deixe os livros, 
e volte-se para mim; 
mais vale um dia de amores 
que dez  anos de latim.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Esquina

Fim de tarde,
Dilui-se tua imagem na esquina
Tento chamá-lo, mas minha voz se dispersa
Na chuva que começa...
Dilui-se tua imagem na esquina
E, em gotas d’água
A saudade  cintila. 
= = = = = = 

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