Quintilha de
CAILIN DRAGOMIR
Timișoara, Romênia
Timișoara, Romênia
Sonho
Na quietude da noite,
as estrelas sussurram,
os sonhos dançam leves,
enquanto o coração murmura
as esperanças que perduram.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Catorze versos
Ah, se compor sonetos não tivesse
tão complicadas regras a seguir,
não sairia agora dessa messe,
deixando outras missões para o porvir!
Porém, comigo, às vezes acontece
de me insurgir demais contra o exigir...
Não vou correr atrás de uma benesse,
dar meu suor sem nada conseguir...
Já que não posso, assim, bem sonetear,
eu me distraio com catorze versos,
mas sem, sequer, seu nome mencionar.
Meu coração não mais fica tristonho,
nem aborreço ilustres controversos;
e posso acalentar, enfim, meu sonho!
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP
Meu verso
Meu verso vem do Nordeste,
vem do roçado, vem do Sertão,
vem das veredas lá do agreste,
vem das cacimbas e dos grotões.
Meu verso vem dos garimpos,
das catras dos garimpeiros,
da coragem dos vaqueiros
vestidos no seu gibão,
vem do sereno da noite
do perfume do Sertão.
Meu verso simples, sem medo,
vem do sítio, do rochedo,
vem do povo do Sertão,
que com a luz do arrebol
trabalha de sol a sol
para ganhar o seu pão.
Vem da Serra do Carranca
onde a beleza não manca,
e a onça faz sentinela.
Da Serra da Mangabeira
onde a Lua vem brejeira
tecer a renda mais bela.
Meu verso vem da goiaba,
do puçá e da mangaba,
da seriguela e do mamão.
Da pinha e da acerola,
da atemóia e graviola
plantadas no roçadão.
Nasceu na bela Umbaúba,
Boa Vista, Bela Sombra,
na Lagoa de Prudente,
na Chiquita e no Vanique,
onde há muito xique-xique
e o sol parece mais quente.
Brejões, Lagoa do Barro,
Santo Antonio, Traçadal,
Olho D´Água, Rio Verde,
Baixa dos Marques, Coxim,
Ibipetum, depois Pintada,
onde passa a velha estrada,
Zequinha e Lamarca morreram.
Sodrelândia, Deus me Livre,
Pé de Serra, Poço da Areia,
Riacho das Telhas também.
Poço do Cavalo, Matinha,
Mata do Evaristo e Veríssimo,
Olhodaguinha e Ipupiara.
Meu verso nasceu no mato,
não tem brilho, nem ornato,
vem do Morro do Mocó,
da Serra do Sincorá,
vem do morro do Araçá,
nasceu pobre e vive só…
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Poetrix de
ELIANA MORA
Rio de Janeiro/RJ
sentimento clandestino
Tu, em viagens ao mundo,
Eu, ali, sempre escondida,
nos porões do teu navio.
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
Esquecimento
Tu te esqueceste que esqueci de te esquecer
Mas me lembrei de relembrar tua partida
E o esquecimento na lembrança tem poder
De relembrar que possuíste minha vida.
E por lembrar-te não consigo compreender
Por que não posso me esquecer desta ferida
Que o esquecimento da lembrança vem trazer
Me relembrando que jazias esquecida.
E vou lembrando e te esquecendo enquanto sigo
Revigorando o esquecimento da lembrança
Enquanto lembro como era estar contigo.
Até que um dia eu me lembrei de ter-te aqui
E fui eu mesmo me esquecendo nesta dança
E me lembrando de esquecer que te esqueci…
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Hino de
Cruzeiro do Sul/AC
No regaço da Selva assombrosa
onde outrora espumava o Tapi
Uma Bela Cidade Ruidosa
Vimos hoje fagueira surgir.
Para o seio da Mata orvalhada
as aragens correndo lá vão
E no cimo da Selva ondulada
Thaumaturgo Azevedo dirão.
Pasma o índio bravio confundido
Empolgando uma flecha nos ares
Ao ouvir que é tão repetido
Vosso nome nos nossos palmares.
O lampejo do sol do progresso
D’ouro ufano este alcantil
Contemplado será no universo
Novo estado no chão do Brasil.
E do trono dos seus esplendores
Sobre nuvens bordados de azul
Deus semeia cascata de flores
E abençoa o Cruzeiro do Sul.
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Soneto de
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 – 1920, São Paulo/SP
Musa impassível
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó conserva o mesmo orgulho e diante
De um morto o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra*,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos!
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* crebra = frequente
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Trova Funerária Cigana
Sou triste como a caveira
no cemitério rolando,
que vai com o correr do tempo
em negro pó se tornando.
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Fugaz
Em meu sonho
vi você passeando
pelos caminhos
do meu coração.
Nossos olhos,
num repente,
se cruzaram
em louca contemplação.
Pensei comigo:
“Ela vai voltar”
e todo “meu eu” se engalanou...
por um instante apenas... que triste decepção!
Havia, ao lado, um outro recipiente
Igualmente com flores enfeitando
Pequenas almas em animada festa
Numa alegria pra lá de incandescente.
O meu desespero... chorou...
Derramou lágrimas da mais pura felicidade
Esse momento, confesso, eu amei.
Mas, para meu espanto, em seguida, acordei!
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Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
A Fada do Rio
No vale encantado, onde o rio dançava,
vivia uma fada, cuja luz brilhava.
Ela cuidava das águas, com amor e carinho,
protetora dos peixes, do sapo e do passarinho.
Mas um dia, a poluição ameaçou,
e a fada, aflita, um plano traçou:
Reuniu as crianças, com corações valentes,
“Vamos limpar o rio, seremos persistentes!”
Com mãos unidas, e sorrisos brilhantes,
transformaram o rio, em águas vibrantes.
A fada sorriu, seu coração agradeceu,
o rio reviveu, e a magia renasceu.
Juntos, podemos curar a natureza ferida,
o amor e a ação trazem vida à vida.
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Quadra Popular
Quem tiver filhos pequenos
por força há de cantar:
quantas vezes as mães cantam
com vontade de chorar.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Versos dolentes
Voragem tenebrosa que me abraça
Suplico a ti meu breve livramento
Dos tragos espinhosos dessa taça
Já farto quero o fim do sofrimento
Navalha do amargor que me traspassa
E vive a propagar abatimento
A lâmina que inflige tal desgraça
Retires deste peito... Eis meu lamento
Em frias madrugadas, vago aos prantos
Momentos a lembrar, tantos e tantos
Estampa-se em minh'alma uma ferida
Cingido pel'angústia sem remédio
Sou vítima indefesa desse assédio
Amor, como a saudade é dolorida...
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Calmaria
Plantio de sonhos
saúdam em cores
seus ares gentis,
até as estrelas sorriem sutis.
Em arranha-céus paira o eco
seco, pêndulo de uma matiz.
As brandas nuvens são elos
poéticos de novas eras viris.
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Uma maior solidão
Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.
Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar,
A cegar, a escurecer.
Jazo-me sem nexo, ou fim...
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim
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