Era uma manhã ensolarada em um bairro tranquilo, onde a rotina dos moradores seguia em um compasso sereno. No entanto, na entrada de uma casa localizada em uma ladeira, um grupo de homens estava prestes a transformar essa tranquilidade em um espetáculo cômico. Eles eram os instaladores da nova porta de correr, e a expectativa era alta — uma porta de correr sempre traz um toque de modernidade!
Com a fita métrica em mãos e a serra elétrica zumbindo, os homens estavam concentrados na tarefa. Entre eles estava o chefe, um tipo bem-humorado chamado João, que sempre fazia piadas para aliviar a tensão. “Se essa porta fosse mais rápida, eu a contrataria para correr na maratona!” disse ele, rindo.
Após algumas tentativas e erros, a porta estava finalmente instalada, mas os homens, em um momento de distração e descoordenação, esqueceram de fixá-la corretamente. E, como se a própria porta tivesse vida, ela decidiu que era hora de uma aventura.
De repente, a porta escapuliu de suas garras e, com um estrondo, começou a deslizar ladeira abaixo.
“Ei! Volta aqui!” gritou Carlos, o ajudante mais jovem, enquanto seus colegas se entreolhavam em estado de choque.
A porta, agora em plena fuga, derrubou uma lata de lixo, espalhando garrafas e restos de comida por toda a calçada.
As pessoas que passavam, inicialmente perplexas, começaram a reagir. Uns corriam para se afastar da porta descontrolada, enquanto outros paravam para rir da cena inusitada. Uma senhora, com um gato no colo, soltou uma gargalhada tão alta que fez o animal pular e sair correndo.
Carlos e seus colegas, em uma corrida frenética, tentavam alcançar a porta.
“Parece que a porta tem mais energia que a gente!” gritou Pedro, um dos instaladores que já estava sem fôlego.
A porta continuava sua corrida, desgovernada, e a cada metro que descia, deixava um rastro de destruição. Bicicletas foram derrubadas, e um ciclista que vinha descendo a ladeira teve que se desviar, quase caindo ao chão.
“Isso é um verdadeiro filme de ação!” exclamou um morador que assistia a tudo de sua varanda, enquanto outros começavam a filmar a cena com seus celulares.
Em meio à confusão, um dos homens, o robusto Roberto, decidiu que seria o herói do dia. Ele viu a porta se aproximando e, em um impulso, lançou-se na direção dela como um jogador de futebol, tentando agarrá-la. Mas a porta, indiferente aos seus esforços heroicos, continuou deslizando. Roberto ficou agarrado na borda, sendo arrastado ladeira abaixo como um brinquedo de criança.
“Me solta! Me solta!” ele gritava, enquanto a porta ignorava seu apelo, correndo mais rápido do que ele. O grupo de instaladores, agora em uma verdadeira missão de resgate, corria atrás deles, com gritos de desespero.
Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, a porta encontrou um obstáculo: uma árvore robusta. Com um baque surdo, ela colidiu contra o tronco e parou abruptamente. Roberto, aliviado, se desvencilhou da porta, caindo no chão com um suspiro de alívio e uma expressão que misturava cansaço e incredulidade.
Os homens se reuniram ao redor da porta, agora paralisada, e começaram a rir descontroladamente.
“Acho que ela estava apenas procurando uma nova casa!” comentou Carlos, enquanto todos riam para aliviar a tensão.
Aquela manhã, que havia começado como um simples dia de trabalho, se transformou em uma memória inesquecível para todos os presentes. E, claro, a ladeira nunca mais seria vista da mesma forma. Para os moradores, a porta de correr que havia fugido se tornaria uma lenda local — a história da porta que decidiu dar uma volta.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais e oficina de trovas. Morou 40 anos na capital de São Paulo, onde nasceu, ao casar-se mudou para Curitiba/PR, radicando-se em Maringá/PR, cidade onde sua esposa é professora da UEM. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, etc. Possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em crônicas, contos, poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações:
Publicados: “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”.
Em andamento: “Pérgola de textos”, "Chafariz de Trovas", “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas), “Asas da poesia”, "Reescrevendo o mundo: Vozes femininas e a construção de novas narrativas".
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Nenhum comentário:
Postar um comentário