Sozinha, coitada.
Nunca estava acompanhada.
Pega-pega, sozinha não tinha.
Queimada, sozinha não dava.
Então, ela sentava a pensar.
Mas estava tão sozinha que nem pensamento vinha.
Se Sozinha assim estava,
mais sozinha ia ficar,
Porque o S da Sozinha resolveu se mandar.
Mal Ozinha se deu conta, o O aproveitou o embalo e saiu rolando.
Desolada, sentia-se uma zinha qualquer.
"Ô, Zinha", disse o Z.
E zapt, fugiu ligeiro, deixando Inha para trás.
"Inha, Inha, inhaaaá!"
Desandava a chorar.
Chorava, chorava até a lágrima secar.
E agora, o que fazer?
Olhou para um lado.
Olhou para o outro.
Para lá, para cá.
Até que seu pé se animou. Levantou a Inha e se pôs a sambar.
Ali de cima, os olhos de Inha observavam o seu pé,
que sacudia e sacudia.
E sacudindo contagiou o joelho,
que remexeu a coxa e fez o bumbum rebolar.
Do bumbum para a barriga foi um estalo.
Os ombros, que não são bobos, entraram logo no embalo.
Quando Inha percebeu, do pescoço para baixo estava um grande alvoroço.
Só faltava a cabeça. Então a boca disse: "Entre na dança." Êba! Vamos lá!
A alegria era tanta que atraiu muita gente. E todos os pés ali presentes convenceram seus donos a participar.
Inha estava contente, mas tão contente, que nem se lembrava mais do tempo em que tinha um S, um h e um Z,
que a deixavam Sozinha.
Deles queria distância. Mas não entendam mal. O S para um samba,
o O num oi e o Z para um ziriguidum seriam sempre bem-vindos.
Fonte:
Revista Nova Escola
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sábado, 29 de dezembro de 2012
Adriana Abujamra Aith (Sozinha)
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