sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Contos do Folclore Brasileiro (A Formiguinha)


 Diz que era um dia que era uma formiguinha, foi comer pela manhã. Quando ela estava comendo, a neve pegou o pé. Ela disse:

 — Neve, tu é tão valente
 Que o meu pé prende?

 A neve disse:

 — Mais valente é o sol
 Que me derrete

 Ela foi à procura do sol:

 — Ó, sol, tu é tão valente
 Que derrete a neve
 Que o meu pé prende?

 O sol disse:

 — Mais valente é a parede
 Que me encobre

 Ela foi para a parede:

 — Ô, parede, tu é tão valente
 Que encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve o meu pé prende?

 A parede disse:

 — Mais valente é o rato
 Que me rói

 Ela foi à procura do rato:

 — Ô, rato, tu é tão valente
 Que rói a parede
 A parede encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve o meu pé prende?

 O rato disse:

 — Mais valente é o gato
 Que me come

 A formiguinha disse:

 — Ô gato, tu é tão valente
 Que come o rato
 O rato rói a parede
 A parede encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 Ele disse:

 — Mais valente é a cobra
 Que me morde

 — Ô, cobra, tu é tão valente
 Que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o pau
 Que me mata

 — Ô, pau, tu é tão valente
 Que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o fogo
 Que me queima

 — Ô, fogo, tu é tão valente
 Que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 A neve que o meu pé prende

 — Mais valente é a água
 Que me apaga

 — Ô, água, tu é tão valente
 Que apaga o fogo
 O fogo queima o pau
 O pau que mata a cobra
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 A neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o boi
 Que me bebe

 — Ô, boi, tu é tão valente
 Que bebe a água
 A água apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o homem
 Que me mata

 — Ô, homem, tu é tão valente
 Que mata o boi
 O boi que bebe a água
 A água que apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é Deus
 Que me criou

 — Ô, Deus, vós é tão valente
 Que mata o homem
 O homem que mata o boi
 O boi que bebe a água
 A água que apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 Ele disse:

 — Ô xente!... que desaforo você vir aqui...

 Aí Deus pegou, deu um cocorote — pá! — na cabeça da formiguinha... se retorceu toda, quando caiu em baixo... esses formigueiros todos que têm pelo mundo foi gerado dessa formiguinha. 

Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

Nenhum comentário: