Um dia eu te dizia: – se roubada
Me fores, vem buscar-me – e tu não crias
Que eu pudesse abraçar-te inanimada,
Beijar teus olhos, tuas mãos já frias.
Mas eu não te amaria, se inconstante
Te pudesse esquecer na sepultura;
Desbotou-se o frescor de teu semblante,
Mas inda adoro tua imagem pura.
Apagou-se em teus lábios o ar da vida,
Mas um sopro imortal veio animar-te;
E tu inda és formosa, inda és querida
Ao que na terra começou a amar-te.
Não me deixes em mísero abandono;
Escuta ao longe, escuta a minha prece:
Quando uma noite a viração do outono
Gemer em nossas rochas, aparece!
E se a lua brilhar, se de passagem
Me estenderes a mão d'etérea alvura,
Eu surgirei por ver a tua imagem,
Por ouvir tua voz serena e pura.
Depois, anjo celeste, no meu seio
Repousa a fronte, aperta-me em teus braços;
Deixa que eu te acompanhe sem receio,
Desta existência desatando os laços.
Sobre a aurora do pólo arrebatados
Vamos, no seio d'imortais venturas,
Em nuvens d'ouro e púrpura embalados,
Cantar, sonhar, dormir nessas alturas.
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
Me fores, vem buscar-me – e tu não crias
Que eu pudesse abraçar-te inanimada,
Beijar teus olhos, tuas mãos já frias.
Mas eu não te amaria, se inconstante
Te pudesse esquecer na sepultura;
Desbotou-se o frescor de teu semblante,
Mas inda adoro tua imagem pura.
Apagou-se em teus lábios o ar da vida,
Mas um sopro imortal veio animar-te;
E tu inda és formosa, inda és querida
Ao que na terra começou a amar-te.
Não me deixes em mísero abandono;
Escuta ao longe, escuta a minha prece:
Quando uma noite a viração do outono
Gemer em nossas rochas, aparece!
E se a lua brilhar, se de passagem
Me estenderes a mão d'etérea alvura,
Eu surgirei por ver a tua imagem,
Por ouvir tua voz serena e pura.
Depois, anjo celeste, no meu seio
Repousa a fronte, aperta-me em teus braços;
Deixa que eu te acompanhe sem receio,
Desta existência desatando os laços.
Sobre a aurora do pólo arrebatados
Vamos, no seio d'imortais venturas,
Em nuvens d'ouro e púrpura embalados,
Cantar, sonhar, dormir nessas alturas.
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
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