– E aí?
– Beleza?
- Beleza.
- Vamos tomar uma hoje?
- Hoje, não. Sem chance.
– O que houve?
– Aquela dor.
- Voltou?
– É.
- Você precisa ir a um médico, cara!
- Se continuar, eu vou.
– Tá doendo muito?
- Pra caramba. Exagerei ontem.
– Onde cê foi?
- Passei por quatro botecos.
- O que te arrebenta é que você mistura.
– Cê também, cara!
- É, mas dou um tempo. Você é todo dia.
- Tava pensando. Será que eu sou alcoólatra?
- Deixa de ser besta. Lógico que não.
- Mas todo dia eu tenho que tomar pelo menos uma.
- É normal. A gente fica cansado e nervoso e toma pra relaxar.
- Mas ontem eu não fiz nada. Não cansei e não fiquei nervoso. Quando me dei conta já tinha tomado uma meia dúzia de cervejas e outro tanto da branca.
- Cê tomou remédio?
– Tomei um pra dor de cabeça e outro pro estômago.
- E não melhorou?
- A cabeça tá mais leve, mas o estômago tá esquisito. Não comi nada ontem e tô sem fome hoje.
– Por que você não vai num médico?
– Tô com medo.
– Do que?
– Acho que ele vai encontrar alguma coisa.
– Ah, encontrar com certeza ele vai, mas bota fé que não é nada grave. No máximo uma gastrite.
– Acho que a gente tá exagerando na bebida.
– Também acho. Mas fala pra mim, tem coisa mais gostosa do que ficar numa mesa de bar?
- Mas precisa de bebida sempre?
- E tem jeito de ficar duas horas conversando tomando guaraná e suco de laranja?
- E vendo os caras das outras mesas dando aquelas goladas gostosas na cerveja?
- Falando nisso, vamos pedir uma? Uma só?
- Não, hoje eu tô fora.
- Pede uma cerveja preta. É fraquinha. Teu estômago nem vai sentir.
- Não.
- Então bebe uma jurubeba ou uma raiz amarga. É bom pro estômago.
- Não, pede uma cerveja pra você que eu vou tomar só um copo.
– Tá.
– Acho que esta gastrite pode ser também do cigarro.
-Também colabora. Bebida e cigarro com o estômago vazio não é mole.
- Quantos cigarros você fuma por dia?
- Um maço e meio. Por aí. Durante o dia eu regulo, mas no bar eu acendo até na bituca.
- Igual eu. Põe mais um pouquinho.
- Cê falou deste lance de alcoólatra. Será que a gente é?
- Pra falar a verdade, na bucha mesmo, acho que sim.
- Não tinha pensado nisso.
- Penso direto nisso, mais ainda quando acordo de ressaca. Sabe aquela hora que você encara o espelho e fica louco de arrependimento?
- E promete que não vai tomar mais nenhuma até o próximo milênio?
- É. E à tarde esquece do que falou. Põe mais um golinho.
– Tô ficando barrigudo.
– Barriga de chope.
- E você, além de barrigudo, tá com a cara inchada.
- Não tem nada a ver com a bebida. Meu pai é assim.
- Porque também é outro bêbado. Rá, rá, rá, rá, ... Vou pegar mais uma.
– Teu caso é mais grave. Você é baixinho. Não dá pra disfarçar.
- Vamos fazer um trato. A gente só toma na terça, quinta e sábado.
- Hoje é segunda. Então vamos ter que tomar amanhã.
- Não disse que vamos ser obrigados a tomar nestes três dias Podemos passar batidos.
- Tem que ter opinião. Pode pintar a maior festa do mundo que a gente não bebe. Certo?
- Certo, mas é bom acertar que no domingo é opcional. Imaginou passar um domingão a seco?
- E a sexta? Fim de expediente.
– O que é que tem?
- O que é que tem? Quando foi que você deixou de beber na sexta-feira?
– Acho que nem na Sexta-feira Santa.
- Sobra a segunda e a quarta.
- Certo. Mas tem uma coisa. E se jogo da seleção cair num destes dias?
- Mas aí pode. É um caso excepcional. Copa do Mundo é de quatro em quatro anos. Ver jogo da seleção sem tomar uma cervejinha nem pensar
– Concordo. Coloca mais um pouco aí no meu copo.
Fonte:
Antonio Roberto de Paula. Da minha janela. Maringá/PR: Gráfica Sthampa, 2003.
- Mas precisa de bebida sempre?
- E tem jeito de ficar duas horas conversando tomando guaraná e suco de laranja?
- E vendo os caras das outras mesas dando aquelas goladas gostosas na cerveja?
- Falando nisso, vamos pedir uma? Uma só?
- Não, hoje eu tô fora.
- Pede uma cerveja preta. É fraquinha. Teu estômago nem vai sentir.
- Não.
- Então bebe uma jurubeba ou uma raiz amarga. É bom pro estômago.
- Não, pede uma cerveja pra você que eu vou tomar só um copo.
– Tá.
– Acho que esta gastrite pode ser também do cigarro.
-Também colabora. Bebida e cigarro com o estômago vazio não é mole.
- Quantos cigarros você fuma por dia?
- Um maço e meio. Por aí. Durante o dia eu regulo, mas no bar eu acendo até na bituca.
- Igual eu. Põe mais um pouquinho.
- Cê falou deste lance de alcoólatra. Será que a gente é?
- Pra falar a verdade, na bucha mesmo, acho que sim.
- Não tinha pensado nisso.
- Penso direto nisso, mais ainda quando acordo de ressaca. Sabe aquela hora que você encara o espelho e fica louco de arrependimento?
- E promete que não vai tomar mais nenhuma até o próximo milênio?
- É. E à tarde esquece do que falou. Põe mais um golinho.
– Tô ficando barrigudo.
– Barriga de chope.
- E você, além de barrigudo, tá com a cara inchada.
- Não tem nada a ver com a bebida. Meu pai é assim.
- Porque também é outro bêbado. Rá, rá, rá, rá, ... Vou pegar mais uma.
– Teu caso é mais grave. Você é baixinho. Não dá pra disfarçar.
- Vamos fazer um trato. A gente só toma na terça, quinta e sábado.
- Hoje é segunda. Então vamos ter que tomar amanhã.
- Não disse que vamos ser obrigados a tomar nestes três dias Podemos passar batidos.
- Tem que ter opinião. Pode pintar a maior festa do mundo que a gente não bebe. Certo?
- Certo, mas é bom acertar que no domingo é opcional. Imaginou passar um domingão a seco?
- E a sexta? Fim de expediente.
– O que é que tem?
- O que é que tem? Quando foi que você deixou de beber na sexta-feira?
– Acho que nem na Sexta-feira Santa.
- Sobra a segunda e a quarta.
- Certo. Mas tem uma coisa. E se jogo da seleção cair num destes dias?
- Mas aí pode. É um caso excepcional. Copa do Mundo é de quatro em quatro anos. Ver jogo da seleção sem tomar uma cervejinha nem pensar
– Concordo. Coloca mais um pouco aí no meu copo.
Fonte:
Antonio Roberto de Paula. Da minha janela. Maringá/PR: Gráfica Sthampa, 2003.
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