segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Cecy Barbosa Campos (Cristais Poéticos) V


Clausura

Poemas sem voz
trancados nas gavetas,
Pedaços de mim,
aprisionados
em gritos
sufocados.
Cada poema
sem ar, trancafiado,
é o meu próprio
assassinato!
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Confusão

Meus caminhos confundidos
em múltiplas encruzilhadas
foram todos roubados ou perdidos.
Fico parada sem ter para onde ir
com rainhas lembranças requentadas
e saudades não sei de quê.
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Explicação

Procurando motivos
para explicar a vida
não entendo as justificativas.
Não acho explicações adequadas
aos sofrimentos e dissabores
que atingem os homens
em seu estágio terreno.
A caminhada é árdua.
Valerá a pena?
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Naufrágio

O meu navio
não encontra porto
e, jogado ao léu pela corrente,
vai se perdendo
no meio da intempérie.
Sem destino vagueia
e de encontro à rocha indiferente
acaba destroçado
até que, à deriva,
fica perdido no fundo do oceano.
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Silêncio

O silêncio, pleno de sentidos,
ressoa eloquente.
Protesto, acusação,
completam o diálogo
ou representam a omissão.
O silêncio é resposta, é resistência
ou será renúncia?
É desafio,
com múltiplos significados?
O silêncio imposto
pela sociedade,
pela subalternidade,
pela desigualdade,
deixa marcas,
traumatismos delirantes,
vivências constantes.
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Tempo

O olhar embaçado
pela névoa do tempo
oculta as tristezas
que se tornam menores,
pouco a pouco
amenizadas.
As alegrias também esmaecem
e transformam-se
em situações corriqueiras.
É a vida que se esvai,
gota a gota,
devagarinho.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Versos perplexos. Juiz de Fora/MG: Editar Editora Associada, 2019.
Livro enviado pela poetisa.

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