segunda-feira, 6 de junho de 2022

Estante de Livros (Os Filhos do Capitão Grant, de Júlio Verne)

O livro Os Filhos do Capitão Grant (em francês Les Enfants du capitaine Grant), é um romance geográfico escrito por Júlio Verne entre os anos de 1866 e 1868 A obra é dividida em três partes ( América do Sul, Austrália e Oceano Pacífico ).

Enredo

A história começa quando o aristocrata escocês lord Edward Glenarvan descobre, durante uma viagem de recreio no seu iate privado Duncan uma garrafa dentro de um tubarão-martelo Essa garrafa continha um pedido de socorro em três línguas (francês, inglês e alemão) mas a mensagem achava-se quase apagada pela ação da água. A primeira interpretação do documento coloca Harry Grant, capitão do navio Britannia e mais dois marinheiros no papel de náufragos, num naufrágio ocorrido dois anos antes, em 1862, e que se encontravam na Patagônia na terra de índios. Perante esta situação, Lord Glenarvan, demonstra ser um homem de bom coração e, ainda por cima, tratando-se de um escocês, decide ir a Londres procurar autoridades que o auxiliassem em possíveis buscas ao capitão.

Enquanto Glenarvan faz essa viagem a Londres, os filhos de Harry Grant, Mary e Robert Grant, de dezesseis e doze anos respectivamente, vão a Malcom-Castle (Residência dos Glenarvan) à procura de informações sobre o seu pai, mas, na falta deste falam com a sua esposa, lady Helena Glenarvan.

O lorde, não obtendo ajuda do governo britânico, decide ele mesmo fazer as buscas nos mares austrais, pelo paralelo 37º, pois conseguia-se saber a latitude a partir do documento mas não a longitude. E por essa razão atravessa toda a Patagônia sempre seguindo o paralelo desde o Pacífico ao Atlântico sem encontrar vestígios do capitão Grant e da sua tripulação.

Mas uma nova interpretação do documento desta vez pelo sábio e distraído Jacques Paganel, um consagrado geógrafo francês, que embarca no Duncan pensado entrar no Scotia, um navio a caminho da Índia, coloca o capitão Grant e os dois marinheiros, desta vez, na Austrália.

Análise, por Henrique Zimmermann

Talvez o maior sucesso de Júlio Verne seja a obra Vinte Mil Léguas Submarinas. Mas poucos sabem que “Léguas” é o segundo livro de uma trilogia que começa com Os Filhos do Capitão Grant e se encerra com A Ilha Misteriosa. Portanto, se deseja ler Vinte Mil Léguas, leia os três livros na ordem correta, isso ampliará a experiência.

A leitura do texto é bastante prazerosa. Apenas no início os personagens são um tanto superficiais e estereotipados. Mas à medida que a história se desenrola eles gradativamente ganham um ar mais palatável e começamos a nos importar com eles. A história não é tão profunda quanto O Capitão Háteras, o livro anterior de Verne, mas nem por isso deixa a desejar.

Um ponto importante do enredo é que Verne trabalha a dualidade entre escoceses e ingleses. Mostra os escoceses querendo se desvencilhar de qualquer relação com seus irmãos do sul, numa ideia patriótica da Escócia que é bastante interessante. Contraditoriamente, em alguns trechos do livro o próprio narrador se refere a eles como “ingleses”, talvez por falta de atenção, talvez por julgar que, apesar do esforço dos escoceses, eles não seriam tão diferentes de seus vizinhos. De qualquer forma, os ingleses sempre tiveram o papel central de exploradores nos livros de Verne, mas em Os Filhos do Capitão Grant o autor inicia um ciclo de críticas a esta nação.

Enquanto os personagens atravessam o continente australiano Verne adianta-se em criticar e condenar a colonização inglesa, especialmente acusando os exploradores de dizimarem comunidades aborígenes, destruindo sua cultura e exterminando seus indivíduos. Isto é uma visão bastante avançada para um europeu do Século XIX. Foi necessária uma dose de coragem para Verne se colocar tão abertamente contra o extermínio de “selvagens”, algo que não provocaria protestos entre seus contemporâneos franceses. Posteriormente os crimes da colonização inglesa serão novamente debatidos nas duas sequências deste livro: Vinte Mil Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa.

Em sua viagem pela latitude de 37°, os personagens visitam a América do Sul, um continente que infelizmente foi menos explorado por Verne quando se olha o conjunto total de sua obra. Na trajetória, passamos pela Cordilheira dos Andes no Chile e pela Patagônia e os Pampas da Argentina. É neste local que o lobo guará, animal admirado no Brasil, faz sua participação marcante com um ataque memorável. A violência das alcateias desse animal são um perigo a ser superado pelos protagonistas.

De resto, o livro vale a pena pela bela descrição das paisagens por onde os personagens percorrem em sua busca e pelas releituras do pedido de socorro do Capitão Grant, um fator que adiciona uma boa dose de imprevisibilidade ao roteiro.


Fontes:
excerto de texto de Henrique Zimmermann, em Woo! Magazine
Wikipedia

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