“A saudade é um momento único que não nos deixa voltar ao tempo em que a saudade, como um todo, não ia além de uma palavra vazia, que nada dizia à saudade que hoje nos atormenta a alma.” (Tompson de Panasco, morador de rua)
(Para a “Teusa”)
TENHO SAUDADE DAS BRIGAS, dos desencontros, das bobeiras e das suas ceninhas de ciúmes. Tenho saudade dos seus abraços, dos seus olhares de meiguice e benevolência. Saudade das palavras que não dissemos um ao outro e das coisas simples e corriqueiras que deixamos de fazer. Na verdade, eu não tinha tempo para me dedicar a você... talvez, por isso, tenha saudade do tempo em que você me ligava perguntando onde eu estava e a que horas chegaria do serviço. Saudade da mesa posta todos os dias, na hora do café, do almoço e do jantar.
Saudade do seu esmero em fazer o melhor e dar o que havia de mais saudável em você. Apesar disso... eu não tinha tempo para me dedicar a seus mimos... e agora, repare, agora tenho saudade do amor que você nutria por mim, do “morzinho” dito às amigas, quando perguntavam por seu “namorido...” Saudades iguais das suas preocupações com as minhas roupas no roupeiro... lembro perfeitamente de cada detalhe, dos desvelos, dos resguardos, bem como da sua aplicação em cada dia fazer o melhor e me agraciar com o perfeito que emanava de dentro de seu interior.
Mas, ainda assim, apesar disso tudo, eu não tinha tempo para me dedicar a você... tudo seguia nos trilhos, guardado com a fascinação do apuro diligente e ímpar. Tudo tão limpinho e asseado... cada coisa no seu devido lugar. Lembro-me das meias, das cuecas e dos lenços dobrados e passados com um prazer que brotava de dentro de você de forma tão cristalina e pura como água de nascente. Que saudade! E eu, cego, não tinha tempo para me dedicar a você... idêntica saudade da sua casa simples, que você batia o pé e dizia “nossa casa,” onde eu recebia uma felicidade perene, e desfrutava de uma paz acolhedora e, por conta disso, me sentia como se fosse senhor de tudo, tipo um rei diante de seu castelo.
Mas meu tempo se fazia demasiadamente escasso e você... você sempre ficava em segundo plano... saudade das suas roupas simples, dos seus vestidinhos do tempo “do ronca,” saudade seu cabelo cortado curtinho, do par de brincos que nunca saia das suas orelhas... saudade das suas preocupações com a higiene dos cômodos da casa, tudo assim numa sincronia esmerada... saudade dos seus cuidados com o papagaio, com a comida e a água do coelho. E nem assim eu parava para dar um pouco de atenção a sua atenção... meu corpo estava ao seu lado, mas a minha mente... voava por devaneios inconstantes. Tenho saudade, igualmente, da sua simplicidade...
Não somente dela, saudade do tempo em que dormíamos abraçados, de conchinha. Saudade do seu ronco, da sua implicância com o rádio alto e o tempo demasiado que eu passava sentado na frente do computador. Que bobo fui... tenho saudade, grande saudade, acredite... saudade do seu perfil de mulher batalhadora, trabalhadora, que não deixava faltar o pão de cada dia. Saudade das suas ausências logo cedo nas manhãs de sábado, quando você se levantava em silêncio e ia para a feira com o carrinho de compras.
Saudade de ir com você, de mãos dadas, cortar aquelas folhas perto da quadra do “Campo do Motivo” para levar para o restaurante onde você dava um duro desgraçado todo domingo, chovesse ou fizesse sol... saudade do seu cansaço... saudade da visão da perna que fazia você mancar em decorrência de seu ex-marido ter lhe espancado com severa brutalidade. Neófito, eu procurava por alguma coisa impossível e isso me fazia não enxergar a ternura da luz pulsante que estava bem ali ao meu lado... saudade da saudade que ficou quando você me mandou embora, alegando que um “antigo alguém com quem namorara reaparecera de repente.”
Saudade de quando me levou até o portão e eu entrei no carro e você ficou me olhando, olhos compridos, silenciosos, como se interiormente, num repente intempestivo me pedisse perdão ou silenciosamente implorasse para que eu não partisse... saudade, imagine... saudade até de quando brigava com você e você queria se aconchegar ao meu lado e eu a empurrava e virava para o lado oposto da cama. Saudade do amor que não fizemos, dos carinhos que não permutamos, das lágrimas que não enxuguei quando lhe pegava chorando pelos cantos.
Saudade do seu sorriso, saudade do seu rosto, da sua voz, do calor do seu corpo... saudades enfim, de não poder mais voltar e lhe dar um abraço, um beijo nos olhos e esperar pelo seu “tchau,” quando virava a esquina... quando também me dirigia para o escritório. Hoje, agora, carrego minhas dores todas juntas no mesmo lado do peito despedaçado. Essas saudades se avolumaram. Pior, me perseguem como sombras fantasmagóricas. E eu então me questiono terrivelmente, me indago até a exaustão: em que parte, em que ponto, em que momento da minha estrada incerta EU REALMENTE PERDI VOCÊ??!!
É quase madrugada,
não consegui dormir,
cabeça preocupada,
vontade de fugir.
Olhando no espelho
fica estampada
a solidão em mim
Depois de tanto tempo,
vivendo lado a lado,
não posso aceitar
que está tudo acabado,
não dá pra acreditar
que o desamor chegou,
agora é o fim...
Meu Deus! Ela reclama
de falta de atenção
e diz não ter espaço
no meu coração,
e tudo o que ela faz
pra mim não tem valor.
Só penso no Senhor...
Meu Deus! Ela não sabe
que a minha intenção
é ver a nossa vida
mudar de direção,
não sabe que é por ela
que eu peço todo dia
as bênçãos do Senhor...
Meu Deus! Vem dar um jeito
nesta amargura,
e tira do meu peito
a dor que não tem cura,
faz ela entender
que a história desse amor
não pode terminar assim...
O que o Senhor uniu,
ninguém vai separar,
é ela que eu amo
e sempre vou amar.
Escute esta oração,
estende as suas mãos
e salva ela pra mim.
Fonte: Texto enviado pelo autor
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