O dia se arrastou calmo e sereno, era chegada a hora de se recolher, afagar os filhos, comer alguma coisinha e dormir.
Bentinho, já fadado do sol quente, mal conseguiu se manter de pé, na mesa de jantar, Carlota, sua esposa, lhe servira um prato de sopa quente com um pedacinho de pão caseiro, feito ali mesmo, por suas próprias mãos. Bentinho só conseguia pensar nos afazeres do dia seguinte, tirar leite, arar a terra, colocar comida para os bichos e, por fim, se deitar novamente.
Não pôde deixar de notar que tudo isso lhe prendia muito e quanto tempo se passou sem que ele pudesse colocar os pés na cidade, desprender-se do campo por, pelo menos, um minuto, era um filme que nunca passou por sua cabeça, o fardo de cuidar daquelas terras lhe era grande o bastante para lhe prender.
A sua face murchou, não conseguia mais comer.
Bentinho acabou se esquecendo dos prazeres da vida, a vida no campo não tinha nenhuma regalia, mas oferecia tudo, o pão de cada dia, e foi assim que ele sempre viveu por ela, nunca pôde se ausentar. Mas, no fundo de sua consciência, prometeu que ao romper da aurora, junto com a Carlota, a cidade aos seus filhos ia mostrar, quem sabe um descanso, de alegria e não de pranto, haveriam de passar.
A noite se arrastou lentamente, caiu um sereno fino e singelo por sobre a terra, o orvalho se formava nas folhas da velha roseira vermelha, os sapos faziam uma orquestra estridente, o cenário pastoril contribuía para o clima de despedida.
A noite se fez dia, Bentinho cuidou dos seus últimos afazeres, ateou a carroça no seu velho pangaré, era chegada a hora.
A velha charrete de madeira se arrastou lentamente na estrada, a poeira formava nuvens singelas, os olhos dos meninos lacrimejavam, fitavam o velho casebre de madeira que sumia no horizonte, era a primeira vez que zarpava.
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O autor é de Porto Velho/RO
(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)
Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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