quarta-feira, 20 de novembro de 2024

José Feldman (Um terminal rodoviário muito louco)

Era uma manhã ensolarada quando um grupo de estranhos se reuniu no terminal rodoviário da pequena cidade de Pensamento, interior do Paraná. O terminal, com seu cheiro de café requentado e a música de um artista local tocando no fundo, estava prestes a se transformar em um palco para uma série de eventos engraçados.

Primeiro, Dona Edna, uma senhora de cabelos grisalhos e óculos enormes, que sempre se sentava da mesma forma: com um mapa amassado na mão e uma expressão de quem estava prestes a conquistar o mundo. Ela estava em busca de sua neta, que supostamente iria chegar em um ônibus vindo da capital.

Ao lado dela, estava Tiago, um jovem estudante que, com seu fone de ouvido e olhar perdido, parecia estar no mundo da lua. Ele estava tão concentrado na música que não percebeu que seu ônibus tinha mudado de plataforma. Quando finalmente se deu conta, já era tarde demais.

Na outra extremidade do terminal, um homem de terno e gravata, que se apresentava como Dr. Fernando, estava tentando fazer uma ligação importante. Ele falava alto demais (quase aos berros), e sua conversa sobre "negócios internacionais" estava atraindo a atenção de todos ao redor. Mas era impossível não notar que, a cada palavra, ele gesticulava de tal forma que parecia estar tentando voar.

Enquanto isso, o ônibus de Dona Edna chegou, mas, para sua surpresa, não havia sinal de sua neta. Desesperada, ela começou a questionar todos ao redor, incluindo Tiago, que tentava se concentrar em sua música. 

“Você viu uma garota de cabelo cacheado, mais ou menos assim?” ela perguntava, fazendo gestos exagerados. 

Tiago, sem perceber, respondeu: “Desculpe, senhora, estou procurando por um ônibus.”

Nesse momento, Dona Edna decidiu que ele deveria ser um "detetive" e começou a dar instruções absurdas sobre como encontrar sua neta. 

Tiago, confuso, apenas concordou e saiu em busca de informações que não existiam.

Enquanto isso, o Dr. Fernando, tentando se fazer notar, decidiu que era hora de fazer uma apresentação. Ele subiu em uma das cadeiras e começou a falar sobre sua "brilhante carreira" e como estava prestes a fechar um grande negócio. 

O terminal, que estava calmo, agora estava uma balbúrdia. As pessoas aplaudiam de forma sarcástica, e Tiago, ao ouvir o barulho, se aproximou, perguntando se havia um show.

“É claro! Você não sabia? É o show do Dr. Fernando, o empresário que voa alto!” alguém gritou, e todos começaram a rir.

Finalmente, a neta de Dona Edna apareceu correndo, com uma mochila gigante e um sorriso no rosto. 

Ela avistou a avó e, enquanto corria, esbarrou em Tiago, que estava tão perdido em seus pensamentos que quase caiu. 

“Desculpe!” ela exclamou, mas Tiago, em vez de se irritar, respondeu: “Não se preocupe, eu sou apenas um detetive à procura de uma missão.”

Dona Edna, ao ver sua neta, deu um grito de alegria e começou a dançar como se tivesse ganhado na loteria. 

“Minha neta! Finalmente! Agora podemos ir embora!” Ela abraçou a menina, que estava um pouco confusa, mas feliz.

Enquanto isso, Dr. Fernando, percebendo que sua apresentação não estava indo como planejado, decidiu descer da cadeira. Ele tropeçou, e em um momento digno de um filme de comédia, caiu de cara no chão. Todos riram, e até mesmo o homem mais sério do terminal não conseguiu conter o riso.

Tiago, agora em um espírito de camaradagem, se aproximou de Dr. Fernando e disse: 

“Se você precisar de um detetive para seus negócios, eu posso ajudar!” 

O empresário riu e, fora de si, convidou todos para um café na lanchonete do terminal.

Dona Edna, sua neta, Tiago e até mesmo Dr. Fernando acabaram se sentando juntos, compartilhando histórias e risadas. 

O terminal rodoviário, que parecia um lugar comum, havia se transformado em um espaço de amizade e absurdos, onde pessoas de diferentes lugares se uniram através de uma série de imprevistos e risadas.

E assim, entre uma xícara de café e outro, o terminal se tornou um lugar de memórias, onde cada um saiu com uma história para contar — e uma nova amizade para cultivar. Afinal, às vezes, as melhores aventuras começam nos lugares mais inesperados.

Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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