segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 149 =


Trova de
RELVA DO EGYPTO RESENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

No jogo da sedução,
não nos importa o depois.
– Na sequência da emoção,
conta é o presente: nós dois!
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Soneto de
CARMO VASCONCELLOS
Lisboa/Portugal

Meu primeiro amor

Ah!  Meu primeiro amor, quanta cegueira,
tornou, depois de ti, meu rumo incerto…
Outros banais amores,  só canseira  
trouxeram ao meu peito a descoberto.

Fugazes devaneios, inconsistentes,
fogos-fátuos, inábeis pra aquecer
minhas veias, ora gélidas, dormentes,
ausente o teu calor que as fez ferver.

Neles sempre busquei tua ideal imagem,
sequestrada no tempo pla voragem
que me arrastou por ventos de ilusão…

Guarda este meu poema onde estiveres
pra que lembres, amor, sempre que o leres,
que cativo é de ti meu coração!
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Trova de
VANDA ALVES DA SILVA
Curitiba/PR

O valor da roça encerra
o beijo do sol ardente
que, fertilizando a terra,
sacia a fome da gente.
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Liberdade

À pequenina flor pedem passagem
as liras das libertas redondilhas
que fazem amplidões das suas ilhas
e os versos se esvoaçam na miragem.

E quantos que desejam maravilhas
largando as mãos que prendem a coragem
nas ilusões que agitam mas não agem,
levando os sonhos às tribos das trilhas...

Desejam ares nos mares sem costas,
os abandonos das peias supostas,
para os grilhões dos fugazes delírios.

Neste meu mundo deveras pequeno
ao horizonte dos olhos aceno
voo nas asas das vestes dos lírios!
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Trova Premiada de
SÔNIA REGINA ROCHA RODRIGUES
Santos/SP

Chegas assim que anoitece
a sussurrar de mansinho,
como quem diz  uma prece,
uma trova com carinho.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

Adormecida

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."
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Trova Popular

Com pena pego na pena,
com pena quero escrever;
caiu-me a pena no chão       
com pena de te não ver.
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Soneto Inglês de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Indomável paixão

O coração, teu belo rastro, anjo, conserva
Essa lembrança tão gostosa, me inebria.
Fazer amor rompendo rédeas, sem reserva
É meu desejo recorrente, há nostalgia´.

Olhares sôfregos, nas mãos inquietude
Blandiciosa a me tomar completamente,
Entre sussurros e arrepios, plenitude,
Paixão indômita exalada... Como é quente!

Na pele, eflúvio de delírio, olores nobres,
Satisfação no riso largo é estampada,
Envergo o manto do prazer com que me cobres,
Verto langor nos braços teus, oh, minha amada!

Preso em teu laço, vejo a vida ter mais cor,
Dia após dia, sorvo em sonho esse sabor.
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Trova de
CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
São Luís/MA (1863 – 1946) Rio de Janeiro/RJ

Qualquer frase acerba e dura
que ela me atira, eu sorrio;
pois encerra tal doçura,
que parece um elogio!
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Céu nublado

A chuva infindável caiu,
e molhou
a minha alma
quando você partiu...
e eu fiquei aqui, abandonado...

Por assim, “nos depois” em que 
penso em você, as horas param
o tempo estanca, e tudo me leva
a acreditar, e a perceber,
que a vida cruel me sufoca até morrer
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Trova de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

E fica triste a paisagem, 
se a rede não mais balança. 
É que alguém fez a “viagem” 
e agora a rede descansa.
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Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Igualdade

Indiferente ao credo à própria raça,
O ser humano nasce, modo igual.
A sua formação conceptual,
É dádiva de Deus, divina graça!

Não traz no nascimento uma mordaça.
Um sórdido ferrete, ou um sinal!
É apenas um ser, e tal e qual,
Igual a qualquer ser que nos enlaça!

O seu direito à vida, ao mundo, enfim!
Ao colo maternal, ao frenesim,
É ganho mal acaba de nascer!

E toda a dignidade adquirida,
Só deverá um dia ser perdida…
No dia em que seu corpo fenecer!
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN (1951 – 2013) Natal/RN

Deus a nada nos obriga,
são livres os passos meus;
porque Deus jamais castiga,
se castigasse... Meu Deus!!!
= = = = = = 

Soneto de 
HUMBERTO RODRIGUES NETO
São Paulo/SP

Teatro da vida

Assim como acontece no teatro,
a vida também guarda a mesma média,
pois mescla ao riso da alegria nédia
os dissabores de um momento atro.

Da vida somos, pois, o anfiteatro
de co-partícipes de uma comédia,
ou dos distúrbios de uma vil tragédia
que às vezes nos atinge a três por quatro.

Mas o destino, em condição expressa,
execra aquele ator que age à pressa,
toldando o brilho das encenações.

Não transige com falhas ou senões,
pois Deus, que é o próprio Diretor da peça
não quer saber de artistas canastrões!
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Tristonha morada, guarda
de meu bem sua figura,
que os meus suspiros rodeiam
sua triste sepultura.
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Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

As Ondas do Mar 

Refluxo dançante flui
na calmaria agitada,
reflete leves miragens

em um oásis com imagens
reais. A voz gentil, maviosa,
embala o balé de folhagens
na noite quente. Na melodia 
chuvosa é luz em tatuagens. 
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Trova de 
ABÍLIO DE ALVARENGA LESSA FILHO
Belo Horizonte/MG

Tu não falaste. O piano
é que me conta os segredos
que te traem, por engano,
pelas pontas de teus dedos…
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Saudade

Saudade é o amor que fica e nos conforta
depois que a gente perde, com pesar,
o nosso ser amado e não suporta
a ausência triste que nos quer matar!

E para mim é a luz que entra na porta
e não permite o escuro me cegar;
mas se o amargor me vem, é ela que o exorta,
e põe consolo amigo em seu lugar!

Assim, acho até bom sentir saudade
e a deixo me envolver bem à vontade,
só para amenizar alguma dor...

Pois o seu gosto é meio adocicado
e nunca me deixou nem agitado...
Saudade para mim é afim do amor!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Anoitece. Bela e nua, 
começa a rosa a orvalhar-se... 
– Um raiozinho de lua 
virá com ela deitar-se.
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Gabinete de
OTACÍLIO BATISTA
São José do Egito/PE (1923 – 2003)

     O povo deseja ouvir
     Um Gabinete bonito;
     Poeta, só acredito
     Se você não me mentir.
     Trate de se prevenir
     Para poder cantar bem
     Eu comprei um cartão
     Para viajar no trem:
     Sem cartão ninguém vai,
     Sem cartão ninguém vem!
     Vai e vem, vem e vai,
     Vem e vai, vai e vem.
     Quem não tem o que eu tenho,
     Morre danado e não tem!
     Quem estiver com inveja,
     Se esforce e faça também ...
     Cavalo bom é ginete;
     Quem não canta Gabinete,
     Não é cantor pra ninguém!
= = = = = = 

Aldravia de
MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA
Ipatinga/MG

chuva
cai
música
embala
sono
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Divina peça

És todas as lembranças de alegrias,
És todos os sorrisos que sorri,
És todos os ocasos dos meus dias,
És todos os carinhos que acolhi.

És todo esse mistério que vivi,
És luz, escuridão, és harmonias,
És fel que pela vida assim sorvi,
Buquê das minhas taças tão vazias...

És doce salvação que me condena,
A aurora que precede o triste ocaso,
Perdão que hoje me obriga a cumprir pena,

Botão que não vingou neste meu vaso,
O pano que desceu na última cena,
Da peça que encenamos ao acaso…
= = = = = = 

Trova de
LARISSA LORETTI
Rio de Janeiro/RJ

É tão presente o passado 
em que te amei, de verdade, 
que não aceito o recado 
escrito pela saudade. 
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Mar em redor

Meus ouvidos estão como as conchas sonoras:
música perdida no meu pensamento,
na espuma da vida, na areia das horas...

Esqueceste a sombra no vento.
Por isso, ficaste e partiste,
e há finos deltas de felicidade
abrindo os braços num oceano triste.

Soltei meus anéis nos aléns da saudade.
Entre algas e peixes vou flutuando a noite inteira.
Almas de todos os afogados
chamam para diversos lados
esta singular companheira.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Ó musa, se eu te perdi
por caminhos tão dispersos,
junto os pedaços de ti
espalhados nos meus versos!
= = = = = = 

Hino de 
Crato/CE

Flor da terra do sol
Ó berço esplêndido
Dos guerreiros da "Tribo Cariri"
Sou teu filho e ao teu calor
Cresci, amei, sonhei, vivi

Ao sopé da serra, entre canaviais
Quem já te viu, ó não te esquece mais!

Para te exaltar, ó flor do Brasil
Hei de te cantar, meu Crato gentil
Ó coração do Ceará
Comigo a nação te cantará!

No teu céu lindo brilha estrela fúlgida
Que há cem anos norteia o teu porvir
Crato amado, idolatrado
Teu destino hás de seguir

Grande e forte como nosso verde mar
Bendita sejas, ó terra de Alencar!
= = = = = = 

Trova de
DÁGUIMA VERÔNICA
Santa Juliana/MG

Tuas cartas eu rasguei,
recortei em mil pedaços,
cada bilhete eu colei
desenhando os teus abraços.
= = = = = = 

Soneto de 
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Ouro Preto/MG, 1870 – 1921, Mariana/MG

Soneto da morte

Entre pilares podres e pilastras
fendidas, te revi subitamente;
eras a mesma sombra em que te alastras,
feita carícias de uma face ausente.

Eras, e me afligias. Tormentosa,
vi-te crescer nos muros desabados.
Cruel, cruel; contudo, mais saudosa,
mais sensível que os céus e os descampados.

Bolor, pátina espessa, calmaria,
vi-te a sofrer no fundo da cidade
como um grande soluço percutindo

sobre os olhos, as mãos e a boca fria.
E de repente um grito de saudade.
Depois a chuva, sem cessar, caindo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Por mais que o orgulho insista
peço a Deus a quem me entrego
que nas horas da conquista
eu saiba despir meu ego.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
NINGUÉM CHORA POR MIM 
(bolero, 1961) 

Mas se um dia eu tiver que chorar 
Ninguém chora por mim 

Hoje a notícia correu 
Vieram logo me dizer 
Mas a verdade é que eu 
Já estava farto de saber. 

Um comentário é fatal 
A um grande amor que chega ao fim 
E quem sou eu afinal 
Para mudar coisas assim. 

Os meus problemas são meus 
Deixem comigo a solução 
Os meus fracassos a Deus 
É que eu revelo quantos são. 

Um conselho é tão fácil de dar 
Qualquer um cita exemplos no fim 
Mas se um dia eu tiver que chorar 
Ninguém chora por mim.
= = = = = = = = = = = = = 

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