quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Asas da Poesia * 112 *


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Um dia
o meu
silêncio
vai
te faltar
tanto
que com
espanto
tardiamente
me 
entenderás.
= = = = = = 

Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Manhã menina

MOTE:
Madrugada... e a luz da aurora,
banindo a noite que finda,
conquista o tempo que mora
no dia que dorme ainda.
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

GLOSA:
Madrugada... e a luz da aurora,
colorida, cintilante,
tingindo o céu nessa hora
torna tudo alucinante!

A linda policromia
banindo a noite que finda,
canta um hino de alegria
com uma harmonia infinda.

O pranto que a noite chora
sabendo que vai morrer,
conquista o tempo que mora
no dia que vai nascer!

A manhã chega graciosa
feito uma menina linda,
se espreguiçando formosa
no dia que dorme ainda.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Flores de nanquim

A ternura de tuas mãos
Dispersa meus véus -
Em suaves movimentos
O pincel desliza,
Acariciando minha pele,
Faz-me sorrir
E, risca, docemente,
Com a fluidez do nanquim
Flores de cerejeira
Em meu corpo e alma -
A essência de teu olhar
Aquece minha nudez
Sou toda tua -
Atemporal tela...
= = = = = = 

Quadra Popular

Não me tentes com fortuna
para contigo casar:
eu prefiro mais que tenha
coração para me dar...
= = = = = = 

Soneto de
FERNANDO ANTONIO BELINO
Sete Lagoas/MG

As grandes águas

As Cataratas, ditas simplesmente,
Foz do Iguaçu, recanto de beleza!
Aqui, teve capricho a natureza,
Moldando este espetáculo imponente!

Fica agitado o coração da gente,
Ao divisar o encanto e a sutileza
Da fauna e flora, unidas à grandeza,
Destas águas, em queda permanente.

Rica dádiva entregue à Humanidade,
Que exige imenso amor, boa vontade.
No zelo de tão belo monumento.

As Cataratas do Iguaçu serão
Eternizadas, feito um deus-trovão
Na voz dos Céus, a ressoar ao vento!

(3° lugar no Concurso Literário-2023, pela Academia Literária do Oeste do Paraná)
= = = = = = 

Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

(Trova de agradecimento para o Feldman, pela divulgação dos versos no blog)

Meu irmão adocicado* 
quero me fazer presente, 
pra agradecer o pingado 
de versos que cai na gente.

*Obs: Adocicado, porque ambos temos diabetes.
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

O Beija-Flor
 
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.
 
Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, nessa manhã tão fria!
 
Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...
 
Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!
= = = = = = 

Poetrix de
PATRÍCIA ESSINGER
Guaíba/RS

tato

o toque beija:
dedos,
insinuação de lábios.
= = = = = = 

Poema de
ARSENY TARKOVSKY
Kirovohrad/Ucrânia (1907 – 1989)

Pela noite

Pela noite concedias-me o favor,
Abriam-se as portas do altar
E a nossa nudez iluminava o escuro
À medida que genufletia. E ao acordar
Eu diria “abençoada sejas!”
Sabendo como pretensiosa era a bênção:
Dormias, os lilases tombavam da mesa
Para tocar-te as pálpebras num universo de azul,
E tu recebias esse sinal sobre as pálpebras
Imóveis, e imóvel estava a tua mão quente. 
= = = = = = 

Poema de 
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Não Sei Quantas Almas Tenho 

Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é, 

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou. 

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que só que não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti. 
Releio e digo: "Fui eu ?" 
Deus sabe, porque o escreveu.
= = = = = = 

Hino de 
Alagoinha do Piauí/PI

A alvorada do teu amanhecer
Naquele promissor nove de abril
Prenunciava, nosso renascer
Debaixo desse céu cor de anil.

Terra querida, és nossa vida
Terra de sonhos de valores mil
Alagoinha do Piauí, do Piauí, Brasil.

O vento liberdade perfumando
Espalhando a fragrância da bonança
Os elos da corrente se quebrando
O povo a cantar hinos de esperança.

No folclore a beleza e tradição
Novenários, foguetes e bandeiras
Culto misto de fé e diversão
São Gonçalo, reisado e brincadeiras.

Preservando a cultura desta gente
A arte vem ostentada na bandeira
Ficará o legado eternamente
Aos filhos dessa terra hospitaleira.

Teus filhos são gigantes, são guerreiros
A tirar da mãe terra o seu sustento
Terra boa do feijão dos cajueiros
Que não nega aos teus filhos o alimento.

O seu lema é crescer junto ao seu povo
Seu povo forte, simples, altaneiro
Na luta firme por um mundo novo
Um mundo igualitário e sobranceiro.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada das Fábulas de Monteiro Lobato 
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Fábula do Lobo e da Ovelha 

No campo, o lobo faminto vagava, 
A ovelha, inocente, pastava e sonhava. 
“Querida ovelha, venha aqui dançar, 
Uma festa linda vou te dar!” 

Mas a ovelha desconfiou da intenção, 
E com astúcia, escapou da armadilha em questão. 
Aprendeu que nem tudo é bondade, 
E a desconfiança é uma proteção à verdade.
= = = = = = = = =  

Poetrix de
GOULART GOMES
Salvador/BA

Menina de Rua

o homem dormia, em seu ninho
e o coração dela
esmolando um carinho
= = = = = = = = =  

Pantum da
ANGELA BRETAS
Flórida/Estados Unidos

O sabiá que sabia tanto...

O sabiá que sabia tanto,
sabia que encantava sim,
seu canto, som de encanto,
soava como harpas dos querubins.

Sabia que encantava sim,
seu som de pássaro liberto
soava como harpas dos querubins
em manhãs de sonos despertos.

Seu som de pássaro liberto
ecoava nas matas distantes
em manhãs de sonos despertos,
melodias em formas tocantes.

Ecoava nas matas distantes
a música que adocicava a alma.
Melodias em formas tocantes
chamadas de paz e calma.

A música que adocicava a alma
tornava o pássaro alvo cativo.
Chamadas de paz e calma
atraía o inimigo.

Tornava o pássaro alvo cativo
cobiça em forma de canto.
Atraía o inimigo
enfeitiçado por seu encanto.

Cobiça em forma de canto
sufocou o sabiá, coitado.
Enfeitiçado por seu encanto
deixou-se prender, morreu calado.

Sufocou o sabiá coitado,
armadilha do destino calou o canto.
Deixou-se prender, morreu calado
o sabiá que sabia tanto…
= = = = = = = = =  

Soneto de
MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ

Inscrição

    Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
    Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
    O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
    Dançava descuidosa, e hoje não dança mais...

    Quem não a viu é bem provável que não veja
    Outro conjunto igual de partes naturais.
    Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
    E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.

    A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
    Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
    À terra, sobre a qual tão de leve pesava...

    Eram as suas mãos mais lindas sem anéis...
    Tinha os olhos azuis... Era loura e dançava...
    Seu destino foi curto e bom... — Não a choreis.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
CIMAR PINHEIRO
Dores do Rio Preto/ES

saudade
estrada
comprida
distância
desencontros
esperança
= = = = = = = = =  

Poema de
JAIME VIEIRA
Maringá/PR

Quem me dera

este azul do céu
ainda me envolve,
este sol tecendo
a tarde me comove.

outra noite lá fora,
quem me dera
devolver estrelas
à escuridão do agora!
= = = = = = = = =  

Dobradinha Poética de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Resgate

Sem te esquecer, este amor,
num desvario sem fim,
quer atrair teu calor
para bem junto de mim…

Ah! Deste amor quero espalhar mil rastros
reverdecidos, por todo este chão…
Irrefreável, tendo em mira os astros,
voarei confiante em pertinaz paixão!

Ah! Neste amor implantarei meus lastros,
ladeá-lo-ei com vigas da emoção;
da justa posse empilharei cadastros
onde discorro, dele, a apropriação…

Com perspicácia em mim prosseguirá,
a sua luz, no espaço espargirá,
no meu transcurso à celestial morada…

Habilidoso, irá juntando aos passos
ode infinita, que atrairá teus braços:
– tua serei… a eterna namorada!…
= = = = = = = = =

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