Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos. Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminado.
Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedrinhas brilhantes.
Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.
O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?
Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma idéia brilhante.
Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar.
Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...
Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas cadentes, candentes em grandes porções e proporções.
E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...
"As pedras são farelos de estrelas", dezessete vezes pensaram e dezessete vozes exclamaram.
E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: "Essa terra tem parentesco com o céu."
E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: "De agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver."
Vinte vezes festejavam. Quando uma voz desfestejou: "Continuarei caminhando. Adeus. Já vou."
E este que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele...
Andava pela estrada, sozinho.
Fonte:
Revista Nova Escola
Nenhum comentário:
Postar um comentário