terça-feira, 21 de maio de 2024

Recordando Velhas Canções (Roda Viva)


Compositor: Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
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A Inexorável Passagem do Tempo em 'Roda Viva'
A canção 'Roda Viva', composta por Chico Buarque, é uma reflexão poética sobre a passagem do tempo e a efemeridade da vida. A letra utiliza a metáfora da 'roda-viva' para representar o ciclo incessante de mudanças e a forma como o tempo arrasta consigo pessoas, sonhos e realizações, muitas vezes contra a nossa vontade.

No primeiro verso, o sentimento de estagnação contrasta com o crescimento do mundo, sugerindo uma desorientação diante da rapidez das transformações sociais e pessoais. A 'voz ativa' que o eu lírico deseja ter em seu destino é constantemente desafiada pela 'roda-viva', que simboliza o destino e a força do tempo que tudo leva. A repetição do refrão 'Roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião' enfatiza a ideia de movimento contínuo e incontrolável.

A música também aborda a resistência e a luta contra as adversidades ('A gente vai contra a corrente'), mas reconhece a inevitabilidade de ceder em algum momento ('Na volta do barco é que sente'). A 'roda-viva' não poupa nem mesmo as tradições culturais, como a serenata e a roda de samba, que são levadas pelo tempo. A saudade se torna 'cativa' no peito, mas mesmo ela é carregada pela roda-viva. A canção, portanto, é um lamento pela perda e uma meditação sobre a impermanência da vida.

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