Soneto premiado em Venda Nova do Imigrante/ES, 2024
GERALDO TROMBIN
Americana/SP
COLECIONAMENTO DE INSIGNIFICÂNCIAS
Coleciono pousos de borboletas
e, também, os voos dos passarinhos;
dos insetos, os rasantes, piruetas;
dos pés de vento, os seus redemoinhos;
e, dos jabutis, os seus passos lentos.
Além do doce sabor das amoras,
coleciono, ainda, os uivos dos ventos
e o despertar pacato das auroras.
Coleciono o desabrochar do hibisco;
o gotejar suave do chuvisco;
os brotos que enchem de graça a avenida.
Coleciono essas insignificâncias
– pra muitos, coleções de irrelevâncias –
que, pra mim, dão significado à vida!
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Poema premiado em Venda Nova do Imigrante/ES, 2024
JACIMAR BERTI BOTI
Colatina/ES
RESIDÊNCIA DO POETA
Moro na esquina da rua
Lá no bloco da esperança
Onde o vento faz a curva
Nos olhos da linda criança
De dia sou amigo do sol
O vento brincando na rua
Versejando nas minhas poesias
De noite, sou namorado da lua
Beijando a boca da noite
No silêncio da madrugada
O amanhecer no meu abraço
Com o canto da passarada
Viajo nas asas do vento
Junto ao olhar da saudade
A lua como companheira
Conduzindo-me a felicidade
Escrevo na boca da noite
Talvez, no romper da aurora
O tempo passa, não perdoa
Aqui, nosso futuro é agora.
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Soneto de Lisboa/Portugal
CARMO VASCONCELLOS
(Maria do Carmo Figueiredo de Vasconcellos)
MOINHOS DE VENTO
Ainda não esqueci em tantos anos
As setas aguçadas de ciúme
Partindo de teus olhos arcos-lume
Feitas dardos ferinos e insanos
Em mim ainda sangram incrustadas
Palavras tuas tão incoerentes
Chagas minhas antigas mas latentes
Que de vez só na tumba são saradas
De culpas inventadas me vesti
Fiz delas a couraça e resisti
Cedendo a quixotescos desalinhos
Minha espada... A palavra de Cervantes
No punho… Vês gigantes? São gigantes
No gume… Vês moinhos? São moinhos
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Trova de Campo Mourão/PR
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Poema de Coimbra/Portugal
CAMILO PESSANHA
(Camilo de Almeida Pessanha)
Coimbra, 1867 — 1926, Macau/China
INTERROGAÇÃO
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno…
Mas sinto me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo…
Eu não sei que mudança a minha alma pressente…
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
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Trova Humorística Premiada em Nossa Sra. Aparecida/SE, 2024
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Soneto de Viçosa/Portugal
FLORBELA ESPANCA
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos/Portugal
ALMA PERDIDA
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, alma doente
De alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!
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Trova Premiada em Nossa Sra. Aparecida/SE, 2024
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Spina de Maceió/AL
ISABEL PERNAMBUCO
LUA…
Banhando a noite,
bela lua cheia...
Infinda de beleza
Tão linda lua, traz-me você.
Ela é dos namorados... enamorados
Basta admirá-la, foge a tristeza.
Suas fases, as tenho também
Segue sempre brilhando, só boniteza.
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Poema de Paranavaí/PR
DINAIR LEITE
ENCANTAMENTO
Minha mãe de branco eu vi,
sentada em belo jardim,
onde havia beija-flores,
araras e um juriti.
Não tinha ar de madona,
nem era fluída, etérea.
Era real e tão bela;
do jardim ela era a dona.
Não valsava, nem cantava,
quedava-se pensativa;
com suas mãos ajeitava
linda guirlanda florida.
Minha mãe era poesia
feita de branco e de flores,
de sons azuis, de tons claros
de luz, de brilhos, de dia.
De raios ensolarados,
iluminando os cabelos;
de corpo esbelto marcado,
pelo vestido vermelho,
seu ar suave, inocente.
Minha mãe tece a coroa
com seus dedinhos gentis,
alinhando as florezinhas
tão leves e tão sutis.
A sua pele é tão alva
que ao vestido se incorpora;
seus gestos são tão suaves
recendendo à malva, aurora.
Os seus cabelos sedosos,
– cascatas de caracóis –
junto dos seios resvalam,
entremeadas de sóis.
Brilhos e luzes agitam
os cachos negros, macios,
que bailam ao som do vento
buscando cor, movimento.
Minha mãe urde a grinalda
pelas mãos e pelo olhar –
indica o seu coração,
de uma beleza, sem par!
Minha mãe é tão bonita...
Pequena, leve e catita!
Parece um sonho encantando,
em seu jardim-paraíso.
Ela tece a uma coroa
e, coroada, ela está,
de luz, de sons tão azuis,
de pássaros e borboletas,
de pingos d`água, garoa.
Minha mãe termina a obra,
feita com tanto primor...
Oferta a mim a coroa,
entrelaçada de amor.
Minha mãe, mamãe, mãezinha,
Sua luz em mim reluz.
Batizada de Tereza,
viveu, por obra do amor,
Terezinha de Jesus.
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Soneto de Belo Horizonte/MG
SÍLVIA ARAÚJO MOTTA
A FOLHA CAÍDA
Aquela “Folha” quis mostrar caída
que era o momento certo para amar...
Quem sabe até, por ser também sofrida
quis dar a chance para a luz brilhar.
A folha seca pela dor vencida,
envelhecida veio às mãos, lembrar:
-Terceira idade pode ser querida
para envolver quem quer beijar, sonhar.
Beijos nas mãos selou adeus, que a lua
pode antever, por sua vez, soluços,
da alma, que também foi quase sua.
Fim da viagem, folha foi ao chão...
Quanta saudade! Sento e me debruço!
Computador já pode ver lição.
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Um Poema de Santo Antônio do Monte/MG
CARLOS LÚCIO GONTIJO
APASSARADO
Não quero conforto de mar
Ser porto de espera não quero
Nem pacífico nem mar morto
Absorto, voo na paisagem
Sou viagem, corro atrás
Ainda que seja fugaz o sonho
Eu me ponho a procurar ...
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