LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ
Quando chega o tempo
Chega um tempo em que a tristeza só se cura
Com a ternura que ainda habita um coração,
Porque a alma não suporta a amargura
Que perfura a pele dura da razão.
Chega um tempo em que só há uma solução:
Esquecer ou conviver com a dor sentida,
Porque a vida não carece da emoção
De sentir a solidão da própria vida.
Chega o tempo em que qualquer gota de pranto,
Já cansada de traçar o mesmo rumo,
se acomoda em qualquer riso e perde o prumo,
Todavia, basta apenas um encanto,
Que o sonho se esgueira devagar
E alegra a solidão do nosso olhar.
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Trova de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Não se sinta superior
por suas duras vitórias…
Quem lhe parece inferior
já teve dias de glórias.
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Indesejada
Tarde da noite,
alguém bateu
à minha porta
com vontade,
quase a ponto de derrubá-la
Ao abri-la,
Era a Saudade
do seu adeus...
E agora – me pergunto:
“como fico eu?!”
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Trova Premiada em Irati/PR, 2024
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG
O botão é um fofoqueiro
porque, na casa onde mora,
ele passa o dia inteiro
com a cabeça pra fora.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Batom de cereja
Aconchegam-se
À xícara branca
Os contornos
Dos nossos lábios -
Sobrepostos,
No gosto do meu batom
Cor e aroma de cereja,
Tonalizando, a saudade
Em mais um inesquecível
Fim de tarde impresso
Na suavidade da porcelana
Mesclada ao toque
Inesquecível do teu beijo...
Quando os relógios derretem
O Amor tem todo o tempo do mundo...
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Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
O Pássaro e a Rainha
Em um reino distante, a rainha tão bela,
tinha um pássaro mágico, de voz singela.
Mas um dia, o pássaro, triste, cantou,
“Estou preso em um feitiço, que me aprisionou.”
A rainha, decidida, partiu na procura,
De um sábio ancião, que a resposta se configura.
Após muitos desafios, encontrou o velho:
“Para libertá-lo, deve quebrar o espelho.”
A rainha, corajosa, enfrentou o temor,
e ao quebrar o espelho, trouxe a liberdade e amor.
O pássaro voou, com alegria e gratidão,
e a rainha sorriu, sentindo a emoção.
A coragem e o amor podem libertar,
os laços do medo, podemos quebrar.
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Trova Popular
Tu te queixas, eu me queixo...
Qual de nós tem razão?
Tu te queixas do meu zelo;
eu, da tua ingratidão.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Náufrago
Singrei diversas rotas solitário, errante,
Ao longe, eu percebi um elixir olente.
Imerso na magia desse fausto instante,
No mar dos teus encantos naufraguei, contente.
Tu foste desenhada com sem par requinte,
Sereia dos meus sonhos, da beleza és fonte.
Eu peço que concedas, se não for acinte,
Um beijo carinhoso aqui na minha fronte.
Não quero mais remar... Minh'alma vejo plena,
Carente de motivos... Tenho a ti, menina,
Domaste os furacões, vieste a mim serena,
Dos teus lábios formosos a doçura emana.
Tomara Deus que sejam minha eterna sina,
De todo o meu pensar, amor, és soberana.
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Trova Humorística de
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes/PR
- A fechadura enguiçou!
Grita o bêbado na rua;
quando um vizinho o alertou:
- Esta casa não é sua!...
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Poema de
ARY DOS SANTOS
Lisboa/Portugal, 1937 – 1984
Na Mesa do Santo Ofício
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.
Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.
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Trova de
BENEDITA SILVA DE AZEVEDO
Magé/RJ
Não pense que todo amigo,
pode ser um confidente,
às vezes fala contigo
e te entrega logo à frente.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Irmã do coração
Humilde, sorridente, prestimosa,
alegre, bem disposta, divertida;
no mais, profundamente religiosa,
foi sempre assim a nossa Aparecida.
Gostava de uma estória bem jocosa
e, muito, de anedota comedida;
mas, nunca (criatura respeitosa),
faltou pureza em toda a sua vida!
Deu sempre a todos nós sua existência,
sem interesse algum, por puro amor,
afeto que doava sem medir.
E quando Deus chamou-a, por clemência
deixou-nos por herança e ao meu dispor,
o exemplo da alegria de servir!
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Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Bondade!... Bem pouca gente
quer imitar as raízes,
que luta, secretamente,
fazendo as rosas felizes!
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Soneto de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
Mentiras
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito teu?
Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais,
O gelo do teu peito de granito…
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
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Trova Funerária Cigana
Ó minha irmã Felisberta,
se com a nossa mãe falares,
não contes meu sofrimentos,
pra não lhe dar mais pesares.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Reencontro (2)
Inalas cada manhã
tuas cores, pairas
em vias, laboratório
da ilusória poesia. O falatório
das maritacas colorem o dia.
O sino dobra quase vexatório,
sem euforia. Nas frias tardes,
teu riso doura vento aleatório.
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Trova de
ZENAIDE BRAGA MARÇAL
Fortaleza/CE
Trago no peito guardada,
entre as lembranças da vida,
a silhueta gravada
da tua imagem querida!
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Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)
Catador de papéis
Bandeirante de um tempo diferente,
Sem legenda, sem lei, sem evangelho,
Pelas selvas da vida vai, descrente,
O velho catador de papel velho.
Nele morreram todas as esperanças
E, tendo o jeito de papai-noel,
Desperta o riso alegre das crianças,
Levando às costas sonhos de papel.
Zombam de sua exótica figura,
Mas ele, indiferente à zombaria,
Faz do papel surrado que procura
O tesouro do pão de cada dia.
Nada o magoa, nada o desalenta
Nem vê que sua sombra na calçada
Vai-se tornando cada vez mais lenta…
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Certos tipos importantes
parecem Marte – um deserto:
vistos de longe, brilhantes;
cascalho apenas, de perto!...
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP
O amor II
Como a planta que nasce no quintal,
se bem cuidada cresce e fica linda.
Também o amor que nasce natural
pode crescer, viver, florir, ainda.
É preciso, porém, que o amor normal
seja cuidado com ternura infinda.
O verdadeiro amor não tem rival,
a beleza do corpo é que se finda.
Quando o amor se revela por inteiro,
o carinho renasce e vem primeiro
ornando a vida e sobrepondo a dor.
E juntos seguem pela vida afora
vivendo intensamente a nova aurora,
iluminados pela luz do amor.
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Poetrix de
RENEU BERNI
Goiânia/GO
Ângulos
guri solta pipa
quero-quero cuida o ninho
a rua ruge
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
Viver por amor
Esquece tua lúgubre procela
E faz tu próprio sempre o teu destino
Pintando na tua vida uma aquarela,
Retrato do teu sonho cristalino...
Restringe o dissabor, mantém o tino
E faz da vida doce passarela;
Afasta, se puderes o agrestino,
Corrige sempre o rumo da tua vela,
E deixa no abandono ou esquecida
A névoa que te fez tão infeliz.
Esforça-te a mostrar o teu valor,
E lembra-te que a vida só é vida
Se tu fores o teu próprio juiz
Vivendo o teu viver por puro amor…
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP
Não sobrou uma peninha!!!
E o galo "machão" despista:
- Saio pelado da rinha
quando é verão... sou nudista.
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Poema de
CHARLES BAUDELAIRE
Paris/França, 1821 – 1867
A alma do vinho
A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
"Homem, ó deserdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!
Bem sei quanto custa, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,
Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À goela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.
Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febrís?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:
Hei de acender-te o olhar da esposa embevecida;
A teu filho farei voltar a força e a cor
E serei para tão tenro atleta da vida
Como o óleo que os tendões enrija ao lutador.
Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno Semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!"
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Volta o filho… anos incertos!
E a mãe, que apenas sorria,
já tinha os braços abertos,
desde quando ele partiu!
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Hino de
Aperibé/RJ
Entre matas, entre serras, entre rios,
Despertando o progresso, a ferrovia,
Num esplêndido esmero desafio,
Denominava-se Chave do Faria.
À esquerda, ás margens do rio Paraíba,
E lindas serras Bolívia e Facões,
Mais próximo, á direita o rio Pomba,
Tranquilo mas rebelde nos verões.
A natureza com tuas riquezas,
O homem com bravura, força e fé,
Construíram com orgulho e pureza
A nossa amada terra Aperibé.
Onde índios viveram no passado,
Aperibé outrora Pito Aceso,
Território rico, fértil, disputado,
Libertado pelo teu povo coeso.
Povo de brio, forte, guerreiro,
Emancipando conquistou a liberdade,
Aperibé te amamos tu és
Sempre nossa adorada cidade.
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Trova de
CORNÉLIO PIRES
Tietê/SP, 1884 – 1958, São Paulo/SP
Ante a Lei de Causa e Efeito
que nos libera ou detém,
há muito bem que faz mal,
muito mal produz o bem.
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Soneto de
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 – 1920, São Paulo/SP
Os argonautas
Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;
Os astros e o luar — amigas sentinelas —
Lançam bênçãos de cima às largas caravelas
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.
Ei-los que vão buscar noutras paragens belas
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...
E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.
Novos céus querem ver, miríficas belezas,
Querem também possuir tesouros e riquezas
Como essas naus, que têm galhardetes e mastros...
Ateiam-lhes a febre essas minas supostas...
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mãos postas,
A áurea bênção dos céus e a proteção dos astros...
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Nossas almas parecidas,
nossos sonhos se irmanando,
eu e tu, vidas vividas,
tarde demais se encontrando.
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Recordando Velhas Canções
Castigo
(samba-canção, 1958)
A gente briga,
diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar
Um belo dia
a gente entende que ficou sozinha
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar
Você se lembra,
foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender
Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria esse ser que chora
Eu não teria perdido você
Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria essa mulher que chora
Eu não teria perdido você
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