quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 5 –

A ave presa, quando voa
de volta ao seu velho ninho...
Canta feliz e perdoa,
por ser poeta e passarinho!
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Ao palhaço velho e manco
no picadeiro é preciso,
disfarçar um riso franco,
por trás de um triste sorriso!
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Aos pés, da Virgem Maria,
enquanto a cega rezava...
Rezava, e nem percebia
que a Virgem também chorava!
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Canarinho, nossos cantos
têm semelhanças demais...
Fazes preces de teus prantos
e eu, orações dos meus ais!
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Como modelar meu sonho
que fala de amor e paz,
se bem cedinho, é risonho
e, ao por do sol, se desfaz?...
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Das juras que nós fizemos
o que resta se resume,
em falsas juras sem remos,
nos mares do teu ciúme!
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De joelhos, mantendo a calma,
sinto na velha abadia
que, o sino também tem alma,
quando bate ao fim do dia!
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Deus põe o ventre do amor,
até na planta que gera.
Por isso, a roseira em flor,
eclode na primavera!
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Do fogo antigo apagado
na silhueta de um fogão,
quantas cinzas do passado
sobre as cinzas do meu chão!
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Não reclames do teu pranto
nem de alguma hipocrisia,
que há uma gota, em cada canto,
na aridez de cada dia!
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Não sei por que me receias,
se estou com outras mulheres;
se a mim, dizes que me odeias
e aos outros, que tu me queres!
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No silêncio, em que medito,
nas horas de solidão,
penso na luz do infinito
e esqueço a luz da razão!
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O melhor conselho, filho,
busca na voz do mais velho,
que tem sempre o intenso brilho
da luz do santo evangelho!
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Ó, velho mar, tu traduzes,
de qualquer ponto ao teu cais...
A dor de incontáveis cruzes,
nos disfarces de teus ais!
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Para o teu sonho indiscreto
e, o meu sonho, inconsequente,
peço ao Sublime Arquiteto
que inverta os sonhos da gente!
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Passa a procissão na rua.
No meio da multidão...
A solidão continua,
sendo a mesma solidão!...
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Por mais pedinte que seja,
e insista com tanto ardor;
mesmo assim, não se apedreja
quem mendiga o pão do amor!
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Quando a noite, de surpresa,
apaga a luz do luar;
a luz da paz fica acesa
nas luzes do teu olhar!
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Quanto mais ando sozinho,
mais em ti, penso e medito;
como quem traça um caminho
no caminho do infinito!
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Quem contempla o mar, nem sabe
que, essa voz que não se cansa;
pede aos céus, que não se acabe
a voz de nossa esperança!
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Quem espalha flor a esmo,
sem fazer mal a ninguém,
deixa das mãos de si mesmo,
perfume nas mãos de alguém!
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Se o velho mar, não declina,
reclama da vida dura.
É sempre a mesma rotina,
dentro da mesma clausura!
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Sou ave presa e canora,
que embarga a voz na garganta,
fingindo a paz quando chora
chorando a dor quando canta!
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Toda tarde escuto vozes,
depois que, o sol diz adeus!...
Já são das dores atrozes
do outono dos dias meus!
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Velha beata, de joelhos,
em silêncio e, à meia luz,
decifra santos conselhos
que há no silêncio da cruz!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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