domingo, 21 de fevereiro de 2021

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 6 –


Envoltos em brancos véus,
meus velhos sonhos plebeus,
pedem mais justiça aos céus
contra injustos fariseus!
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É tarde, as horas se vão;
mesmo insone, eu tento ainda,
abraçar-me à solidão
da noite que nunca finda!
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Fui rever nossas mãos presas,
por votos celestiais;
no altar, vi juras acesas
em dois velhos castiçais!
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Mesmo apesar da distância,
vivo a paz da meninice,
nos raios de sol da infância,
no pôr do sol da velhice!
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Mesmo sem ouro em meu ninho;
em meu rancho tudo brilha.
Deus fez de luz e carinho
os olhos de cada filha!
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No jardim da flor mundana,
nasce uma divina flor;
é, essa linda flor humana,
filha das sobras do amor!
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No silêncio em que medita,
o olhar triste do ancião,
mede a distância infinita
entre a infância e a solidão!
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Num silêncio que desgosta,
dentro da noite e sem sono
o monge busca a resposta
para o seu próprio abandono!
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O pôr do sol é bem-vindo;
mas mesmo que a idade cresça...
Vou meu ocaso iludindo
sem que a velhice padeça.
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O que fere e te maltrata,
redobra essa dor imensa;
é a dor da presença ingrata
desta tua indiferença!
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O teu olhar me insinua.
No outono da vida é aquele,
onde o amor se perpetua
e me faz escravo dele!
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O velhinho, em meio a trama,
do tempo em que passa em vão...
Na solidão, nem reclama
das horas de solidão!
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Peço sempre sem temor,
por ser do amor, tão fiel,
que o fiel do nosso amor
seja o da lua de mel!
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Pernas bambas, passo manco,
lá vai o velho andarilho...
Eis a foto, em preto e branco,
do manco de olhar sem brilho!
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Pintor nenhum, com certeza,
há de ter tinta nem cor,
que pinte a cor e a beleza
que a planta pinta na flor!
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Por fingir que te mereço,
ao longe, escuto o gemido
do tempo, cobrando o preço
pelo meu tempo perdido!
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Por mais que esse amor perdure,
diz-me a voz dos olhos teus:
Não há remédio que cure
a cicatriz de um adeus!
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Por te esperar, tanto em vão,
de tanto por ti sonhar;
minha velha solidão
desistiu de te esperar!
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Quando a noite, enfim, me acalma,
e o seu silêncio me alcança;
põe nas trevas de minha alma
gotas de luz de esperança!
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Quando esse orgulho indecente
junta-se às mãos da ganância,
enforca os sonhos da gente
nas garras da intolerância!
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Quem canta espantando a dor
e esquece as queixas e as penas;
põe mais essências de amor
na dor das mágoas pequenas!
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Sábio, que em silêncio zela,
pela humildade que o guia;
diz que o silêncio revela
os dons da sabedoria!
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Se a noite de alma inquieta,
traça os rumos de quem sonha;
os sonhos desse poeta,
não há noite que os componha!
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Tempo, por que me castigas?
Tu pões a cada sol posto,
novas rugas inimigas
marcando o passo em meu rosto!
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Todos nós temos nos braços,
as marcas de alguns dilemas;
dentre tantos, falsos laços
presos a falsas algemas!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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