quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 84 =


Trova de Curitiba/PR

JANSKE NIEMANN

Sejamos gratos pelo ar
que respiramos de graça
ou iremos transformar
nosso planeta em fumaça!
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Poema Pernambucano

JOAQUIM CARDOSO
Joaquim Maria Moreira Cardozo
Recife, 1897-1978, Olinda

Chuva de caju

Como te chamas, pequena chuva inconstante e  breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos.
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
E em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Tereza ou Maria.
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Trova Hispânica de Barcelona/Espanha

ESTHER DE SANTANDER

Si no me puedes amar,
 ¡vete! salte de mi vida,
 y yo la quiero cerrar,
 que tu amor es una herida.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

CLÁUDIA DUTRA GALLO

Espectro de natal

O brilho das luzes já se faz presente.
Na praça o presépio, a grande aventura.
No ar um aroma de doce e candura.
Nos rostos os risos, os ares contentes.

Na chuva miúda promessas de paz.
Nas mãos as sacolas, muitos presentes.
As ruas bonitas tão cheias de gente
Rindo, apressadas, em busca de mais.

Jogado à sarjeta, num canto escuro,
Um ente sofrido encostado no muro
Estende ao mundo seu olho comprido.

Parece um fantasma assombrando a festa
Lembrando às pessoas ali manifestas:
-Não existe Natal para os esquecidos!
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Trova Premiada em Vila Velha/ES, 2018

LUZIA BRISOLLA FUIM 
São Paulo/SP

Ao romper os horizontes,
em seus muares cargueiros,
tropeiros teceram pontes
integrando os brasileiros!
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Poema de São Paulo/SP

IEDA ESTERGILDA DE ABREU

P de palavra e pedra

Palavras às vezes pesam como pedras
ferem a boca como pedra que se mastiga.
Agudas, acertam rápidas como pedras
dirigidas
esfriam como pedras frias na boca
ressentida
pensam e "pedram" como pedras no caminho.
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Trova Popular

Quem quiser ter vida longa
fuja sempre que puder
do médico, boticário,
melão, pepino e mulher.
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Soneto de Poços de Caldas/MG

LAÉRCIO BORSATO

A orquídea

NA ENTRADA da casa, a orquídea abriu
Seu vasto sorriso, lilás e amarelo.
O verde das folhas também aderiu,
Esbanjando um quadro, nobre e mui belo!

Da sacada eu contemplo de perfil
Essa obra que Deus, de modo singelo,
Mormente nos recantos de meu Brasil,
Faz da graça e da beleza, um forte elo!

Quem passar por ali, sentirá a candura
Dessa flor, que com delicadeza pura,
Indelével toca o coração humano...

Nesse meditar a minha alma cogita.
Meu ser acende, se rende e acredita:
Isso só é possível, com toque soberano!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Amizade... de verdade...
vem desse tipo de irmão
que sem consanguinidade,
doa mais que um coração.
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Poema de Santo André/SP

TARSO DE MELO

Seus cacos 

ao alcance do olho
estilhaços: um cão late
ao longe, talvez ao acaso

o que sobra da vida
entre um e outro passo

poça, o que fica da chuva

como uma flor — precisa
em seus disparos; a dor
como presença
nos detalhes; o corpo de
uma cor, seus claros

espaço que se abre
temporário
no agosto desse concreto
armado
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

"No fogão eu passo o dia",
disse ele antes de casar.
Só não disse pra Maria
que o tal "fogão"... era um bar!
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Soneto de Nova Iguaçu/RJ

JORGE CARDOZO

O Poeta e a Dor

Desabita de mim esta tristeza,
Que não cabe num corpo tanto mal.
Toda febre agora ficou fria.
Todo doce tornou-se agora sal.

Que se afaste de mim a taça escassa
Onde o vinho vinagre se tornou.
Uma dor verdadeira que não passa,
Mesmo o tempo passando; e passou.

Um poeta falou por toda a praça
(E virou do seu tempo professor)
A pergunta proposta pela esfinge:

Se ao poeta de fato nada atinge,
Ou se finge a dor completamente,
Como agir, se a dor deveras sente?
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Do futuro não se sabe;
- branco e preto, ou colorido?.
Por enquanto, só nos cabe
ao presente dar sentido.
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Spina de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

O som do silêncio 

Ouvindo meu silêncio,
liberto este momento
disfarçado em dilema,

em um aroma de alfazema. 
A vida devolve em sorrisos
a esperança, abre a algema
do meu silêncio, que enreda
linhas de um singelo poema.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Não tem preço, a amizade,
é o ditado popular.
E os amigos de verdade
são difíceis de encontrar.
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Soneto de Indaiatuba/SP

LUCAS MUNHOZ

O pássaro

Canto-te, saio da gaiola e vivo
Cantando a linda melodia e o canto,
Que voa, aninha e memoriza em pranto...
Com que precises do carinho ativo.

Quem ama o dono do balsão passivo,
É cuidadoso... É o coração do encanto!
Para abraçar e eternizar, portanto...
Se és amoroso, isso é bonito! Eu privo!

Solta a cadeia e ama o bichinho amado!
Um sentimento do maior cuidado!
Que o deixes livre, totalmente belo.

Mas ele volta, eis a alegria amável
E muito fofa, em reviver notável,
É bom sorrir alegremente a vê-lo.
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Trova Premiada em São Paulo/SP, 2003

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA 
Bauru/SP

Quando disseres “Adeus”,
para que a dor diminua,
além dos pertences teus
leva minha alma, que é tua!...
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Poema de Cândido Mota/SP

VERA LÚCIA DE OLIVEIRA

Andorinhas

Estou de bem com o mundo até
um tanque de guerra se cansa
da guerra até um pássaro para
para
repousar

e depois o céu hoje é de um
azul que faz mal aos olhos
agudo que a gente fica ali
barriga pro ar
admirando as andorinhas
    que volteiam
matutando no que pensam lá no alto
no que
sabem
se sabem que estou de bem com o mundo
que volteiam lá em cima também para mim
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Trova de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG

Nascemos com o passaporte
sem visto para a partida…
Mas só de pensar na morte,
sinto saudade da vida!
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Pantun de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Pantun da vida circense

TROVA TEMA:
No picadeiro da vida
às vezes somos palhaços:
com atitude fingida
maquiamos os fracassos.
Hélio Pedro 
Natal/RN

PANTUN:
Às vezes somos palhaços:
E nesse circo sem pano,
maquiamos os fracassos
ante a incerteza e o engano.

E nesse circo sem pano,
com tanta banalidade,
ante a incerteza e o engano,
as marcas vis da maldade.

Com tanta banalidade,
vê-se em qualquer direção,
as marcas vis da maldade
moldando as marcas no chão.

Vê-se em qualquer direção,
a maldade desmedida,
moldando as marcas no chão
no picadeiro da vida.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...
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Hino de Pedro Leopoldo/MG

Pedro Leopoldo ditosa,
"progressista do sertão"
Cidade boa e formosa
de teus filhos és rincão!

Entre matas já frondosas
e colinas bem garbosas
margeando a ferrovia,
tu nasceste mui gentil,
tendo, a porta, a rodovia
mais bonita do Brasil!

Tua origem é singela,
A história nos revela,
grandes vultos de coragem
transformaram a ribeira
numa indústria: tecelagem
com a bela cachoeira!

Pedro Leopoldo ditosa,
"progressista do sertão"
Cidade boa e formosa
de teus filhos és rincão!

Veneramos com carinho
o artista "Aleijadinho"
escultor do belo altar
lá na Quinta, Sumidoro;
onde foram explorar
bandeirantes minas d'ouro!

Com as lindas cachoeiras
e a riqueza das pedreiras
tens progresso e muita vida
e belezas naturais,
cada vez mais conhecida
vais ficando nas "Gerais"! (bis) 
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Trova de Alverca do Ribatejo/Portugal

ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO 

Com tanta austeridade,
que..., ainda está pra vir,
vai crescer a ansiedade,
nesse tempo do porvir...
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

PAULO HENRIQUES BRITTO

II

As coisas que te cercam, até onde
alcança tua vista, tão passivas
em sua opacidade, que te impedem
de enxergar o (inexistente) horizonte,
que justamente por não serem vivas
se prestam para tudo, e nunca pedem

nem mesmo uma migalha de atenção,
essas coisas que você usa e esquece
assim que larga na primeira mesa —
pois bem: elas vão ficar. Você, não.
Tudo que pensa passa. Permanece
a alvenaria do mundo, o que pesa.

O mais é enchimento, e se consome.
As tais formas eternas, as ideias,
e a mente que as inventa, acabam em pó,
e delas ficam, quando muito, os nomes.
Muita louça ainda resta de Pompeia,
mas lábios que a tocaram, nem um só.

As testemunhas cegas da existência,
sempre a te olhar sem que você se importe,
vão assistir sem compaixão nem ânsia,
com a mais absoluta indiferença,
quando chegar a hora, a tua morte.
(Não que isso tenha a mínima importância.)
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Trova de Magé/RJ

MARIA MADALENA FERREIRA

Quem planta em terras fecundas
colhe bons frutos! - E mais:
- cria raízes profundas,
à prova de vendavais!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

Os tavões* e as abelhas

Na produção se reconhece o artífice.

Alguns favos de mel não tinham dono:
Logo a si os chamaram os tavões;
As abelhas, opondo-se, levaram
O pleito a certa vespa. Era difícil
De tirar deste caso as conclusões.

Depondo, as testemunhas declararam
Que alados animais, um tanto longos,
Zumbindo, escuros, tais como as abelhas,
Rondando os favos por ali andaram.
Mas, ah! que nos tavões estes sinais
São os mesmos — tais quais.

Não sabendo que opor a estas razões,
A vespa quis mais luz e decidira
Tirar, segunda vez, inquirições.
Ouviu um formigueiro;
Mas o caso, ainda assim, que era intricado,
Ficara no tinteiro.

Uma abelha ladina exclama então:
«A que vem para aqui, fazem favor,
Todo este arrazoado?
Há seis meses que o pleito está pendente.
E nós como a princípio, exatamente.
Com a tardança o mal ganha bolor.

Decida-se o juiz;
Já nos levou a pele como bem quis.
Nós agora sem réplicas nem tréplicas,
Sem contraditas mais, nem mais farragem,
Mãos à obra, e munidas de coragem,
De par com os tavões a trabalhar,
Deste mimoso suco a ver quem sabe
Tão primorosas celas fabricar.»

Recusando os tavões, claro se via
Que o seu estreito engenho não podia
Tal arte exercitar.
Julgando a vespa, então, à parte contra
O mel foi dar.

Provera a Deus que todos os processos
Se julgassem assim. Ah! quem seguira
O método dos turcos neste ponto —
O bom senso de código servira!
Não se fora o melhor gasto nas custas:
Não fôramos sugados, arrasados,
Com delongas constantes:
Afinal o juiz faz-se com a ostra,
E atira com a casca aos litigantes!
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* Tavões = mutucas, moscões.
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contatos/ colaborações: gralha1954@gmail.com

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