quarta-feira, 23 de abril de 2025

José Feldman (Um Homem e sua Luz)

Era uma vez, em uma cidade tranquila, um homem chamado Leônidas. Desde jovem, tinha uma grande paixão por aprender. Ele adorava ler e estudar, sonhando em um dia se formar em uma grande universidade. No entanto, a vida não foi fácil para ele. Quando chegou a hora de entrar na faculdade, as dificuldades financeiras o obrigaram a abandonar seus estudos, deixando-o desolado.

Apesar das frustrações, nunca deixou de apoiar sua amiga Clara, por quem nutria um amor silencioso. Clara era brilhante e ambiciosa, e ele sempre a incentivou em seus estudos, ajudando-a a se preparar para exames e oferecendo palavras de encorajamento. Ela se formou, e mesmo depois, continuou seus estudos, chegando ao pós-doutorado.

Um dia, Clara, já uma acadêmica respeitada, ia para um encontro com seus amigos formados. Com entusiasmo, Leônidas falou que ele poderia ir junto.

Clara, sem perceber a dor que estava causando, disse: "Leo, eu não posso te levar. Meus amigos são todos formados, e você... bem, você não tem uma faculdade. Não seria apropriado."

Aquelas palavras feriram-no profundamente. Ele se sentiu pequeno e desolado. "Eu sempre a apoiei", pensou ele, "e agora sou desvalorizado por não ter um diploma." A sensação de impotência tomou conta dele, e ele se afastou, angustiado.

Em sua casa, se sentou em uma velha cadeira, cercado por livros que sempre foram seus companheiros. Ele se dedicou a estudar por conta própria, criou até um blog, mas a angústia e a frustração o acompanhavam. Mesmo com todo o conhecimento que adquiria, a desvalorização de Clara o deixava triste e solitário.

Os dias se transformaram em semanas, e ele se isolou ainda mais. A única companhia que lhe restava era sua fiel cachorra, Bela. A cadela o seguia por toda parte, sempre lhe dando amor e apoio incondicional. Ele se sentia grato por isso, mas a solidão o consumia.

Clara, por sua vez, continuou sua vida acadêmica, cercada por amigos formados. Nunca conseguiu aceitar o fato de que Leônidas não tinha um diploma, e isso criou um abismo entre eles. Ele, mesmo com suas conquistas pessoais, viveu angustiado, sentindo-se invisível e desvalorizado.

A cada dia, ele se sentava com Bela, lendo em voz alta, como se estivesse ensinando sua melhor amiga. A cadela ouvia atentamente, como se entendesse cada palavra. Ele percebeu que, mesmo sem reconhecimento, a paixão pelo aprendizado ainda ardia dentro dele.

Com o passar do tempo, decidiu que, mesmo sozinho, continuaria a buscar o conhecimento e a compartilhar o que aprendeu com Bela. Ele percebeu que a verdadeira valorização vinha de dentro, e que, embora Clara não reconhecesse seu valor, ele ainda tinha a capacidade de se erguer e encontrar alegria nas pequenas coisas.

Moral da História
A desvalorização e a angústia podem nos isolar, mas o verdadeiro valor do conhecimento não depende da aprovação dos outros. Mesmo em solidão, cultivar a paixão pelo aprendizado e o amor verdadeiro, como a de uma amiga leal, mesmo que seja uma cadela, pode nos trazer paz e satisfação.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada com Microsoft Bing  

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