domingo, 8 de maio de 2011

Almada Negreiros (Mãe!)

Pintura em Acrílico por Rogério Silva
Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

Fonte:
O Lobo Leitor

Eugénio de Andrade (Mãe!)

Pintura de Kolongi
No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? –

Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 209)


Uma Trova Nacional
Alinhar ao centro
Que nome você daria
à imagem da mãe que chora
ao pé da cama vazia
de um filho que foi embora?...
–RENATO ALVES/RJ–

Uma Trova Potiguar

Nas transparências infindas,
em que o amor transforma tudo,
a mãe via frases lindas
nos gestos do filho mudo!...
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

1990 - São Paulo/SP
Tema: RIMA - M/H

Mãe – palavra que aproxima
criador e criatura;
tão singular que só rima
com a palavra... ternura!
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

...E Suas Trovas Ficaram

Se Deus atendesse um dia
minha prece ingênua e doce,
quem fosse Mãe não morria,
por mais velhinha que fosse.
–ARCHIMINO LAPAGESSE/SC–

Simplesmente Poesia

Inda guardo as batidas do pilão,
com mamãe, de manhã, pilando arroz,
eu mais novo, mais forte e mais disposto,
no rojão, eu na frente, ela depois;
nunca vou me esquecer desta contenda,
o pilão do passado virou lenda,
mas não sai da memória de nós dois!
–PROF. GARCIA/RN–

Estrofe do Dia

Seu gesto nos embeleza
tem um coração coeso,
ganha do filho o desprezo
mas ao filho não despreza;
é divina quando reza
é santa sem ter andor,
inocente como a flor
e linda quando engravida;
toda mãe é parecida
com a mãe do salvador.
–JOMACI DANTAS/PB–

Soneto do Dia

–Diniz Vitorino/PB–
M A M Ã E.

Desça ao túmulo mamãe, e fique inerte!
Na frieza das cinzas sepulcrais.
Durma o sono dos justos, só desperte,
nos espaços das almas imortais.

Este pranto de dor que a gente verte,
eu lhe juro, mamãe, não verter mais.
Para que seu espírito se liberte,
nas alcovas dos céus descanse em paz.

Viva ao lado de Deus, mas pelo menos,
me permita fazer alguns acenos,
implorando os conselhos da senhora.

Dê-me a bênção, e em sonhos me visite,
para que esta saudade sem limite,
não devore-me também, antes da hora.

Fonte:
Textos enviados por Ademar Macedo

Mãe em Trovas

Pintura de William-Adolphe Bouguereau
Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
- Mãe é assim, dengosa e pura,
a nossa e a do passarinho...
A. A. DE ASSIS – MARINGÁ /PR

Depois que, mãe tu partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
ADELMAR TAVARES – RECIFE/PE

Minha Mãe, minha velhinha,
Deus te abençoe, e acompanhe,
porque uma Mãe neste mundo,
quanto mais velha, mais Mãe.
ADELMAR TAVARES – RECIFE/PE

Pelo bem que me fizeste;
sem nunca exigires nada:
pela luz que tu me deste,
minha mãe - muito obrigado!
AGMAR MURGEL DUTRA

Minha mãe, tu que me acalmas,
e que meus males espantas,
és a mais pura das almas,
és a mais santa das santas!
ALMEIDA FARIA

Mãe, por mais que eu me concentre
na importância do que faço,
não esqueço que o teu ventre
foi o meu primeiro espaço.
ALMERINDA LIPORAGE – RIO DE JANEIRO/RJ

Oh, minha mãe, com denodo,
numa existência sem brilho,
trocaste o futuro todo
pelo futuro do filho!
ALVES COSTA

Minha mãe sempre ao meu lado,
é amiga na dor, no riso;
não reclama do seu fado,
finge sempre um paraíso...
AMARILLYS SCHLOENBACK

Mãe, retrato de ternura,
de pura abnegação,
é a mais doce criatura
a quem Deus deu coração.
AMILTON MONTEIRO – S. JOSÉ DOS CAMPOS/SP

Amor de mãe é semente
que germina em qualquer chão,
é feito só de ternura,
é feito só de perdão.
ANFRÍSIO LIMA – ES

Mãe de José, de Maria,
de Antonio, Pedro, de João ...
O nome próprio varia ...
Só não muda o coração.
ANÍBAL VITRAL MONTEIRO – SP

Mãe que traz uma criança
nas entranhas do seu ser,
carrega a própria esperança
no filho que vai nascer.
ANIS MURAD – RJ

Ó mãe que tudo perdoas,
corrige teus pequeninos!
- Às vezes, de intenções boas
nascem ladrões e assassinos...
APARÍCIO FERNANDES – ACARI/RN

Vejo-te, mãe, todo dia
que a tarde cai pra morrer
e que a voz da Ave-Maria
vem minha alma enternecer...
ARCHIMIMO LAPAGESSE – FLORIANÓPOLIS/SC

Se Deus escutasse um dia
minha prece ingênua e doce,
quem fosse mãe não morria,
por mais velhinha que fosse!
ARCHIMIMO LAPAGESSE – FLORIANÓPOLIS/SC

Tão velhinha, tão velhinha
partiste deste degredo;
e eu te pergunto, mãezinha,
se ainda não era cedo!
ARCHIMIMO LAPAGESSE – FLORIANÓPOLIS/SC

Mãe não rima certamente...
Mas vejo, lembrando a minha,
que há muitas rimas, se a gente
quiser chamá-la mãezinha!
ARCHIMIMO LAPAGESSE – FLORIANÓPOLIS/SC

Mãe feliz! É tão novinho,
e teu seio já reclama!
Dois corações tens agora:
um que pulsa, outro que mama...
BATISTA NUNES – RIO DE JANEIRO/RJ

Só as mães, ao filho enfermo,
embalam numa canção,
tendo o sorriso nos lábios
e um punhal no coração.
BATISTA NUNES – RIO DE JANEIRO/RJ

Mãe olhando o teu retrato
meus olhos fitos nos teus,
penso que estás ao meu lado
por uma graça de Deus!
BATISTA NUNES – RIO DE JANEIRO/RJ

Tesouro que, dividido,
vai crescendo, vai subindo,
- è amor de Mãe, repartido
pelos filhos que vêm vindo!
BATISTA NUNES – RIO DE JANEIRO/RJ

Mãe não precisa de rima.
Nome de tal esplendor,
diz tudo, para que exprima,
sozinho, um poema de amor!
BAPTISTA NUNES – RIO DE JANEIRO/RJ

Eu vi minha mãe rezando
aos pés da virgem Maria:
- Era uma santa escutando
o que outra santa dizia.
BARRETO COUTINHO – LIMOEIRO/PE

Mãe – presente do Senhor,
que a humanidade conduz
num barco cheio de amor,
singrando mares de luz!
BENEDITO CAMARGO MADEIRA – POUSO ALEGRE/MG

Minha mãe... é um paraíso!
Quando meus filhos afaga...
tem sempre o mesmo sorriso
que jamais o tempo apaga!
BENEDITO CAMARGO MADEIRA – POUSO ALEGRE/MG

Mãe do Amor! Mãe de Jesus
e dos filhos de ninguém!
Tem pena da minha cruz,
que sou teu filho também!
BENEDITO LOPES

Devo tudo quanto sou
e a vida me concedeu
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Ele me deu!
CARLOS GUIMARÃES

Minha mãe, que eu louvo tanto,
e que tanto fez por mim,
não pôde fazer-me santo,
porque o barro era ruim.
CARLOS GUIMARÃES

A Mãe, por ser indulgente,
tudo em seu coração cabe.
A mãe é aquilo que a gente
quer definir mas não sabe.
CLARINDO B. ARAÚJO – NATAL/RN

Mãe não é só quem procria.
nos diz velho ditado.
Ser mãe é também quem cria
com amor um filho adotado.
CLAUDYRA DIAS DA ROCHA – FORTALEZA/CE

Minha mãe! Quanta saudade
de quem deixou-me, na Terra,
lições de total bondade
e de paz em plena guerra...
CLEVANE PESSOA – BELO HORIZONTE/MG

É minha mãe quem me inspira
as rimas do coração:
de seu Amor, sonora lira
eu tiro qualquer canção...
CLEVANE PESSOA – BELO HORIZONTE/MG

Mãe viva, mãe que partiu...
Todas merecem louvores;
seu amor sempre floriu
na rima dos trovadores.
CONCEIÇÃO A. C. DE ASSIS – MG

Mãe! criatura querida,
santa heroina sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
DÉCIO VALENTE – SÃO PAULO/SP

Minha mãe tão delicada,
toda feita de carinho,
continua madrugada
no ocaso do meu caminho!
DELCY CANALLES – PORTO ALEGRE/RS

Era uma santa em verdade,
mais santa que outra qualquer,
a mulher, hoje, saudade,
que foi mais mãe que mulher!
DELCY CANALLES – PORTO ALEGRE/RS

Amor de mãe é tão grande,
tão profundo na expressão,
tão sincero, tão sublime,
que não tem definição!
DELMAR BARRÃO

Se "Mãe" não tem com que rime,
não desistas, trovador...
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo "Amor"!
DOROTHY JANSSON MORETTI

Ouve mãe: já não contenho
esta saudade insofrida ...
Deste-me a vida que tenho
e eu não posso dar-te a vida.
DURVAL MENDONÇA

O que eu mais tenho vontade
No “Dia das Mães” que aí vem,,
É de matar a saudade
Da minha mãe que não vem.
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Minha mãe, como eu querida
Sentir em mim emoções
Ao te ver voltando à vida
Entre os Anjos Guardiões.
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Lembro tanto o teu carinho,
Teu sorriso e teu olhar,
Que a busco no meu caminho,
Para a poder abraçar.
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

As mães merecem bem mais
Do que ter um dia somente...
Mães são pra sempre imortais!
Mãe és o máximo expoente!
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Mãe que sorri em meio à dor
Para seu filho querido...
É um sinônimo de AMOR,
Por mais que tenha sofrido...
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Mãe cujo olhar é sem brilho,
É a que passou pela dor
De um dia perder seu filho...
Não vê mais luz, só negror.
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Minha mãe que era bondosa,
Trazia em si uma energia
Cheia de luz, poderosa,
Plena de amor e harmonia.
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Ó mãe, que felicidade!
Eras só luz, coração!
Deixaste-nos a bondade
Que tinhas no coração...
EIRE - JACARAÍPE, SERRA – ES

Toda luz na diretriz
deste meu viver austero
é um bilhetinho que diz:
- " Mamãe, querida, eu te quero"!!
ELISABETH SOUZA CRUZ – NOVA FRIBURGO/RJ

A mãe tem tal primazia,
tanto poder, tanta luz,
que pede à Virgem Maria
quem precisa de Jesus ...
ELTON CARVALHO – SÃO PAULO/SP

Mãe! quisera eu me deitar
junto à parede, aos teus pés.
adormecer e sonhar,
sentindo os teus cafunés.
FRANCISCO GARCIA – CAICÓ/RN

Mãe preta, o que me consome,
é nunca esquecer teus traços,
quando morrendo de fome,
matava a fome em teus braços!
FRANCISCO GARCIA – CAICÓ/RN

Sob a luz de um lampião,
se apagando e se acendendo,
meu Deus, que triste emoção,
eu vi minha mãe morrendo.
FRANCISCO GARCIA – CAICÓ/RN

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
p'ra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
GISLAINE CANALLES – BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC

Minha mãe, que orava aqui,
é nos céus que reza agora;
foi no meu sonho que a vi
aos pés de Nossa Senhora!
HARLEY CLOVIS STOCCHERO – ALMIRANTE TAMANDARÉ/PR

A mãe é essência divina
que todo amor nela encerra;
é luz que a estrada ilumina
para os filhos nessa terra.
HORÁCIO FERREIRA PORTELLA – PIRAQUARA/PR

Não há nada mais sublime
do que o santo amor de mãe
e Deus só deixa que eu rime
o nome mãe com mamãe.
HORÁCIO FERREIRA PORTELLA – PIRAQUARA/PR

O amor de mãe é o mais puro,
sincero e cheio de graça.
É luz que brilha no escuro.
É vinho em dourada taça.
HORÁCIO FERREIRA PORTELLA – PIRAQUARA/PR

Oh, minha mãe, em meus cantos,
num grato e eterno estribilho,
bendigo a Deus, que, entre tantos,
me escolheu para teu filho!
J. G. DE ARAÚJO JORGE – TARAUACÁ/ACRE

Surpreendente maravilha
a que agora me acontece:
minha mãe é minha filha
à medida que envelhece!
JESY BARBOSA – CAMPOS/RJ

Minha mãe verteu mais pranto
que a mãe de Nosso Senhor.
A Virgem chorou um Santo;
minha mãe - um pecador!
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO – RIO DE JANEIRO/RJ

A mãe das outras crianças
com minha mãe se parece ;
oferta ao filho as bonanças
e oculta o mal que padece.
JOSÉ VALERIANO SOBRINHO

Amor de mãe quem tiver
Deve guardá-lo no peito:
não há amor de mulher
que seja amor tão perfeito.
JÚLIO BRANDÃO

A Mãe, somente, perdoa
o mal que um filholhe faça,
embora o coração doa
dá-lhe um sorriso e o abraça!...
LACY JOSÉ RAYMUNDI – GARIBALDI/RS

Eu não vi quadro mais lindo,
nem em Londres ou Paris
que uma criança sorrindo
no colo da mãe feliz!
LACY JOSÉ RAYMUNDI – GARIBALDI/RS

Mãe, que te posso dizer
que ninguém já tenha dito?...
...Tu fazes por merecer
isso tudo ao infinito!...
LACY JOSÉ RAYMUNDI – GARIBALDI/RS

Ninguém, em nenhum momento,
neste mundo conquistou
mais direito a um monumento
que a Mãe, que um filho gerou!
LACY JOSÉ RAYMUNDI – GARIBALDI/RS

O amor, no mundo, se exprime
pelo da Mãe, forte e vivo:
mas penso que é mais sublime
quando por filho adotivo!
LACY JOSÉ RAYMUNDI – GARIBALDI/RS

Desejei fogo atear
ao mundo por onde trilho
vendo uma cega indagar
como era o rosto do filho.
LILINHA FERNANDES – RIO DE JANEIRO/RJ

Pra quem é mãe não existe
bem de mais funda raiz,
que o de viver sempre triste,
mas ver seu filho feliz.
LILINHA FERNANDES – RIO DE JANEIRO/RJ

Sofres no céu, Mãe querida,
sentindo, ao ver minha sorte,
que me pudeste dar vida
e não me podes dar morte!
LILINHA FERNANDES – RIO DE JANEIRO/RJ

Na tua fronte bendita
dei um beijo, mãe querida!
foi a trova mais bonita
que já fiz em minha vida.
LILINHA FERNANDES – RIO DE JANEIRO/RJ

“Quem tiver filhos pequenos
por força há de cantar:
quantas vezes as mães cantam
com vontade de chorar.”
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Para mãe, não há uma rima,
no idioma português,
pois ser mãe é obra prima,
- foi assim que Deus a fez.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Debruçada sobre o berço
do seu querido filhinho
busca a mãe, com o seu terço,
indicar-lhe um bom caminho.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Mãe é palavra sublime,
e foi sábio o português
não criou outra que rime
com ela nem uma vez.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Na renúncia à própria vida
pra gerar os filhos seus,
uma mãe tem, garantida,
outra vida junto a Deus.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Por seguir a vida afora
sem haver nenhum tropeço,
agradece à mãe, agora,
o filho por seu começo.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Qual o filho mais querido,
aquele que a mãe mais gosta?
Se existe algum preferido?
Nem ela sabe a resposta!...
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – CURITIBA/PR

Dizes que és pobre ... E eu, coitado,
inveja tenho de ti ...
- Tens tua mãe a teu lado,
e a minha - eu nem conheci!
LUIZ OTÁVIO – RIO DE JANEIRO/RJ

Tendo ao seio o meu menino,
tudo em volta é luz, é brilho.
Nem sei mesmo onde eu termino
e onde começa o meu filho!
MAGDALENA LÉA BARBOSA CORREIA – RIO DE JANEIRO/RJ

As mães são divinas plantas
que deram flores, sementes...
Para Deus são todas santas,
com milagres diferentes ...
MARIA NASCIMENTO – CORURIPE/AL

Mamãe, tua idade avança
e eu, triste, não me consolo,
porque sou sempre a criança
que precisa do teu colo!
MARIA NASCIMENTO – CORURIPE/AL

Grande símbolo de afeto,
toda mãe, por nos dar vida,
faz do amor seu predileto
gesto que ninguém olvida.
NEI GARCEZ – CURITIBA/PR

No embalo suave e silente
de teu ventre já aquecido
recebi maior presente
só por ter de ti nascido.
NEI GARCEZ – CURITIBA/PR

Apesar de mim distante,
lembro de ti, mãe querida;
porque foste a mais brilhante
estrela da minha vida!
NEMÉSIO SIMAS – RAUL SOARES/MG NS

És a avó do nosso neto.
És a mãe do nosso filho.
Esposa do meu afeto.
És mulher, estrela e brilho...
NEMÉSIO SIMAS – RAUL SOARES/MG NS

Guarda no olhar a doçura
com que me embalou um dia.
Mãe lembra sempre a figura
e a ternura de Maria.
NILCI GUIMARÃES – RIO DE JANEIRO/RJ

Das dores que o tempo aguça
a mais triste, eu desconfio,
ser a da mãe que soluça
junto de um berço vazio...
NILO APARECIDO PINTO

Os olhos de minha mãe,
de pranto os vi sempre baços:
Chorando por meus triunfos,
chorando por meus fracassos.
NILO APARECIDO PINTO

Título algum de nobreza,
ou nome ilustre qualquer,
tem o valor, a grandeza
do de mãe, dado à mulher!
ORLANDO BRITO – SÃO LUIZ/MA

Mãe, com divina bondade,
inteligência e com brilho,
faz tudo que ao filho agrade,
sem nada exigir do filho.
ORLANDO WOCZIKOSKY – CURITIBA/PR

Às vezes a mãe da gente
não é a melhor assessora,
para o aluno inteligente,
mãe também é a professora.
ORLANDO WOCZIKOSKY – CURITIBA/PR

Em paz o mundo estaria,
se governassem a Terra
apenas mães que algum dia
perderam filhos na guerra!
OSMAR GODINHO - PR

Como de um eixo central,
desde a manhã à noitinha,
a vida toda de um lar
gira em torno da mãezinha.
PEDRO COLTRO – RIBEIRÃO PRETO/SP

Como de um eixo central,
desde a manhã à noitinha,
a vida toda de um lar
gira em torno da mãezinha.
PEDRO COLTRO – RIBEIRÃO PRETO/SP

Minha Mãe – frase sagrada
da mais sublime expressão,
para ser perpetuada
no fundo do coração.
PEDRO PAULO DE LEMOS – RJ

À minha mãe que voou,
nas asas de um querubim,
pedindo hoje aqui estou
que do céu vele por mim.
SARA FURQUIM – RIO BRANCO DO SUL/PR

Carinhos de filhos, quero!
Fazem bem ao coração:
São frutos do amor sincero;
São frutos da gratidão!
SELMA PATTI SPINELLI – SÃO PAULO/SP

Quem quiser ver a Esperança
olhe uma noiva no altar,
fite os olhos de uma criança,
repare uma mãe rezar!
SEVERINO UCHOA – ARACAJÚ/SE

Mamãe, eras diferente
das outras Mães, para mim.
De ti sinto bem presente
esta saudade sem fim.
SINÉSIO CABRAL – FORTALEZA/CE

Amor.... assim eu defino:
Mamãe tão velha... e eu, marmanjo,
tratado igual a um menino:
-Veste o agasalho, meu anjo!...
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - CURITIBA/PR

Caso a sobremesa fosse
escassa, mamãe dizia:
- Tomem! Não gosto de doce!
... e docemente sorria.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - CURITIBA/PR

Duas mulheres, dois dotes
ao destino que as conduz:
Uma - a mãe de Iscariotes,
a outra - mãe de Jesus.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - CURITIBA/PR

Se sendo mãe, a mulher
diviniza os seus anseios,
mais nobre ainda é quem quer
ser mãe de filhos alheios.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - CURITIBA/PR

Rosto negro, alma de neve,
ternura de risos francos,
o Brasil muito de deve,
mãe - preta dos filhos brancos.
VASCO DE CASTRO LIMA – LAVRINHAS/SP

Eu rememoro a saudade
de minha mãe, as carícias:
serena necessidade
de seu carinho e delícias...
VIDAL IDONY STOCKLER – CURITIBA/PR

Lembro da mãe a ternura,
inda criança em seus braços;
hoje vivo a desventura,
sem calorosos abraços.
VIDAL IDONY STOCKLER – CURITIBA/PR

Mãe! A doçura querida,
serena amabilidade,
legou-nos a própria vida
a paz e a felicidade!
VIDAL IDONY STOCKLER – CURITIBA/PR

Ser mãe, é ser o que encerra
tudo que é nobre e bendito :
- é ter a alma na terra
e o coração no infinito ...
VIRGÍLIO G. ASSUMPÇÃO

Almejo trilhas sem fim,
ornamentadas de rosas!...
Mãe, vais à frente de mim,
cultivando as mais formosas!
WAGNER MARQUES LOPES – PEDRO LEOPOLDO/MG

Transcendo o sonho e refaço
minhas rotas do passado,
para ter de novo o abraço
do ventre em que fui gerado.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ - CURITIBA/PR

Mãe é puro sentimento
que se mistura à razão.
Mãe é tudo num momento,
e... muito mais: coração.
ZENI DE BARROS LANA – ITAVERAVA/MG

Mamãe é um sono desperto,
é uma estrela que reluz,
é oásis num deserto,
é bondade, é paz, é luz.
ZENI DE BARROS LANA – ITAVERAVA/MG

Num mundo de tantas flores,
a mãe vive seu encanto,
mas vivendo tantas dores,
também verte amargo pranto.
ZENI DE BARROS LANA – ITAVERAVA/MG

Fonte:
Nilton Manoel

Geraldo Maia Santos (Mãe)


Ainda bem que mãe é só uma, já pensou ter que aguentar a perda de um monte delas? Perder uma só nunca termina, pior seria uma sucessão de perdas intermináveis. Quem pode esquecer a maciez do colo, os sonhos sem fim que a mãe alimenta? Podia faltar tudo em casa, menos mãe. Mãe faz parte da cesta básica de Deus, não falta nunca, mesmo quando esvazia, ainda fica cada pedaço, átomo, partícula, pó de mãe impregnado em cada dobrinha da alma.

Mãe não polui, é autosustentável e sem limite. Mãe é a coisa mais reciclável que existe. Mãe vira tudo, pai, namorada, gerente, dona, filho, financista, psicóloga, médica, vó (mãe dupla), parteira (toda mãe é estepe de outra), mundo (o mundo só existe porque tem mãe nele para torná-lo viável), mãe só tem utilidades e não há desperdício de mãe, cada uma tem múltiplas funções, únicas e exclusivas, criadas a cada instante para satisfazer as necessidades de cada filho.

Da minha mãe sei que sua oficina estava sempre em atividade para nutrir de vida nosso canteiro de passos. Lembro que nunca se cansava e a noite emendava no dia logo mal dormia por força de sua mágica. Era o tipo de mãe que não só acredita como torna realidade os sonhos mais fantásticos e sem pé nem cabeça. Ela resolvia todos com sua imensa ternura e paciência. Coisas por demais necessárias no trato com toda mãe, principalmente com aquelas que voltaram a ser crianças preparando o coração para ficar no lugar do nosso.

Mãe é algo que de tão óbvio fica impossível explicar. Mãe é para sentir. Por isso quando parte o nosso coração vai junto e a gente só sobrevive porque o dela fica no lugar. É. Pode verificar se o seu coração aí não é o de sua mãe. Vai, olha, ouve como bate, não é o mesmo que você ouviu quando estava dentro dela? Presta atenção, pôxa, vê como é igual...

Porque só assim a mãe admite morrer, porque sabe que seu coração vai ficar cuidando de sua cria. Dando vida para ela. Afinal essa é única tarefa que nenhuma mãe precisa aprender na escola. Todas já nascem capacitadas para dar à vida um ser pelo qual vai se dedicar o tempo todo. E a dar a vida por ele.

Ninguém ensina essas coisas para a mãe, mas ela sabe que quando for necessário não vacila um segundo na hora de dar a vida por suas crias. Mas nenhuma mãe consegue admitir dar de bom grado a vida de um filho ou filha. Mais fácil dar a própria vida. Porque uma cria para qualquer mãe é mais que a própria vida. Mesmo que nenhuma saiba disso.

Fontes:
Texto enviado por Poetas del Mundo
Imagem = Galega Encarnada

Mãe em Versos

Pintura de Salvador Dali
VICÊNCIA JAGUARIBE Mãe Miriam
(Laura)

Mãe, da vida saíste sutil
Como nela entraste.
Sem estardalhaço
Como por ela passaste.
Sem grandes e vistosas
Atitudes que te dessem
Um lugar no pavilhão
Dos mártires ou dos heróis.
O teu fazer foi miúdo
Como os grãos de areia
E sutil como a folha que cai
Para dar lugar a outra chegante.

(Ninguém a ti atribuiu
O vestido que velou
A nudez da mulher
O lençol que agasalhou
O velho paralítico
As moedas que compraram
O remédio de quem morria
E o leite de quem nascia.)

Por esse teu deslizar pela vida,
Mãe, eu te saúdo com o respeito
Com que o anjo Gabriel, um dia,
Saudou uma outra Mãe,
Também Miriam,
Em uma outra época
Em um outro lugar.

Por esse teu resvalar por nossas vidas,
Mãe, eu me curvo à tua lembrança,
Como um dia,
Num tempo muito distante,
Isabel curvou-se a uma outra
Mãe, a uma outra Miriam,
Mãe Miriam.

JULIO CEZAR BRIDON DE SOUZA
Minha 1ª Palavra

Abro o livro da minha vida e lá,
bem na primeira página, encontro
gravada em ouro, minha primeira palavra:
“mamãe”!

Um arrepio passou-me no corpo inteiro
Porque aquilo,lá bem atrás,
Deve ter soado, para minha mãe,
Como um címbalo ao repicar dos sinos.

Não pude conter uma pequena lágrima
Que teimava em cair molhando-me o rosto
Que,perplexo revivi, como se lembrasse,
Aquele milagroso momento.

Mamãe!
Existe algo mais belo do que isso
Que toca fundo a alma do ser humano
Que dependeu dela,durante todo
Um enorme tempo?

Creio que não!
Creio que a paz que traz
A lembrança de nossa querida mamãe
Perpetua,para sempre,aquela que nos deu vida.

Por tudo isso, mamãe
E por tantas outras coisas que plantaste dentro de mim
Te amo mais do que nunca
Como se fosses a única a me tornares
Um ser humano muito feliz.

MARIA DOS ANJOS
Para Ti Mamãe


Para ti mamãe querida,
Que enche de alegria a minha vida,
Com histórias e contos da infância,
De adulta volto a ser criança,
Vislumbrando os momentos de carinho,
De afeto recebido de ti,
Quem me dera nunca ter crescido,
Para sempre em teu colo ficar,
E meu cabelos tu voltar a pentear,
Quantas vezes me recordo de ti,
A ralhar para eu comer,
Era um tempo de aproveitar,
Ser criança, agora jamais,
Mas o tempo passou com certeza,
Seus cabelinhos hoje branquinhos estão,
Sua pele um pouco enrugada,
Mas tu me lembras bem mais,
Das traquinagens do meu tempo de menina,
Perdão minha mãe, se por vezes te magoei,
Com palavras que te feriram o coração,
Hoje sei quantas vezes errei,
Quantas vezes me deixei levar,
Sem entender sua posição,
Hoje sei o quanto doía,
Pois hoje mãe também sou,
Mas tu que nunca reclamou,
Tu mamãe, sempre, sempre, me amou!

DELASNIEVE DASPET
Para mamãe.


Oh! Mamãe...
Com quanto carinho te escrevo.
Meu coração se encontra ferido de saudades.
Vinte cinco anos passados... tanto tempo, e, é tão forte tua presença.
És o fio preciso que interliga minhas lembranças.
Orientaste-me com paciência; tuas mãos ajudaram-me na caminhada.
Ainda ouço tuas palavras que assumem formas de pensamentos,
me chegam ternas, nas horas necessárias.
Retorno pelas trilhas de nossas caminhadas... não foi ontem, ainda é!
Mãe a saudade me toma e me embarga a voz... tremem minhas mãos...
Sou eu quem te chama.
Sou eu quem te busca pelos caminhos.
Sou eu – carta viva - que me entrego à saudade que me faz vibrar
Em tua sintonia.

ERON FREITAS
Mãe Solitária


Para você, mãe solteira,
que perdeu, solitária, seu querido,
deixando-lhe a lembrança de um filho...
ergue bem alto a bandeira
de ser mãe, e ter sofrido,
sem sair jamais do trilho!

Que Deus te guarde e te cure
das mazelas desta vida,
que enfrentou... e venceu!
Na mão de Deus te segure,
com a pessoinha nascida,
que o destino te deu !
-x-
As mães solteiras são sempre esquecidas,
criticadas, às vezes, por convenções sociais!
Mas... vos saúdo, queridas!
Sem distinção, já estão absolvidas
no tribunal das heroínas imortais!

GLEIDSTON CÉSAR RODRIGUES
Mãe!


Cheiro suave que perfuma nosso
Horizonte aonde quer que estejamos.
Luz que ilumina nossos caminhos,
Afugentando a solidão.

Ama e perdoa sempre com doçura
Acolhendo no seio familiar todos
Aqueles que sejam desabrigados.

Apascenta os seus, mas também os
Que não o são, sempre com o amor e
Carinho. No seu lar, sobre a mesa,
Alimenta todos quantos nela se sentar.

Suas súplicas chegam á Deus de forma
Singela, com cheiro suave, fazendo com
Que Deus inclina seus ouvidos e com
Urgência acolhe seus pedidos.

Seus braços abraçam o filho perfeito,
E estendidos alcançam também o filho
Pródigo. Nas suas lágrimas, está a sua
Fortaleza, através desta rocha, o mundo
Se redimi das suas más acções.

Paz, amor, união, graciosidade são as matérias
Que te representam, sua presença é feita de pequenos
Milhares de afectos que se espalham pelo solo que
Te recebe.

Á você mulher, avó, mãe, tia, irmã, filha,
Cunhada, ou simplesmente menina-mulher
Aqui deixo a minha eterna gratidão.

Fontes:
Texto enviado por Vicência Jaguaribe
Poesias enviadas por Delasnieve Daspet (Poetas del Mundo)

sábado, 7 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 208)


Uma Trova Nacional

A menina, de repente,
coloca a mãe no sufoco:
- Se é de leite este meu dente,
eu quero um dente de coco!...
–MARILÚCIA REZENDE/SP–

Uma Trova Potiguar

Esta mania disforme
tem o velho Antônio Lira:
só não mente quando dorme
mas quando sonha é mentira!
– JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN -

Uma Trova Premiada

2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema: CINQUENTONA - M/E

O leito ficou quebrado
pela dupla pesadona:
um cinquentão assanhado
nos braços da cinquentona.
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Jóias desaparecidas
não se encontram nunca mais,
mas as mulheres perdidas
a gente encontra demais...
JORGE MURAD/RJ -

Simplesmente Poesia

Sem querer, meu coração
Mergulhou numa cilada;
Beijo de mulher casada
Tem gosto de confusão.
É um crime sem perdão
Cobiçar a dama alheia
Mas parece uma sereia
Essa tal de Carmelita;
Casar com mulher bonita
É plantar feijão de meia.
– HÉLIO CRISANTO/RN -

Estrofe do Dia

Sou chefe até do meu chefe
sou o grito que calou
se você pensa quem sou
me beije e eu lhe dou tabefe.
No carteado sou blefe
dentre as cobras sou a naja,
quer me ver doido? Reaja...
Mais brabo que urso panda,
no meu lar sou eu quem manda
quando a patroa viaja!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Soneto do Dia

–GLAUCO MATTOSO/SP–
Soneto Barbarizado

Já se disse: sete é conta de mentira e lenda.
Também dizem que de azar o treze é cifra certa.
Isso explica a redondilha como porta aberta
no cantar dos repentistas, na feroz contenda,

à bazófia descarada, onde é melhor a emenda
que o soneto decassílabo, no qual se enxerta
entre termos eruditos a falácia esperta,
lei de todo bom poeta que seu peixe venda.

Outrossim, também se explica por que nunca é visto
um soneto alexandrino, mas de pé quebrado:
este, a cuja tentação do treze não resisto.

Vou chamá-lo "aleijadinho", pois, em vez de errado,
tem caráter de obra-prima, pelo menos nisto:
– completar catorze versos sem ficar quadrado!

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Moacyr Scliar (Contra a Pirataria)


Dupla assalta joalheria e escolhe marcas de relógio para levar. Um dos ladrões abordou uma vendedora de uma joalheria que inspecionava a vitrine; o assaltante levantou sua blusa, mostrando uma arma à vendedora. Dentro da loja, outras vendedoras foram rendidas e obrigadas a recolher relógios das marcas Breitling, Omega e Mont Blanc da vitrine.
Folha Online, 18 de outubro de 2005


Os dois assaltantes, um alto e robusto, outro baixo e magrinho, eram experientes e organizados. Sabiam exatamente as marcas de relógio que queriam; coisa fina, nada de despertadores baratos. Examinavam cada relógio que era trazido da vitrine pelas vendedoras, antes de colocá-los numa valise. Lá pelas tantas surgiu um problema. Olhando um caríssimo relógio Breitling, o alto e robusto, que aparentemente era o chefe, teve uma súbita suspeição:

- Acho que este aqui é falso.

Mostrou ao colega, que ficou em dúvida: podia ser falso ou não. Na dúvida chamaram a vendedora-chefe. Que ficou indignada:

- Falso, em nossa relojoaria? A loja mais famosa da cidade? Uma loja que está há 30 anos no ramo, que tem clientes famosos? Ora, façam-me o favor, amigos. Assalto, sim; ofensa, não. Levem tudo, mas nos respeitem.

Os assaltantes não se deixaram impressionar pela retórica. Afinal, como disse o baixinho, a pirataria campeava. Se CDs eram pirateados, por que não relógios, mercadoria mais valiosa e cobiçada? Queriam provas de que o Breitling era verdadeiro. A vendedora-chefe pediu licença, foi até o escritório e voltou com um documento escrito em inglês. - O que é isto, perguntou o alto.

- É um certificado de autenticidade. Acompanha o relógio.

Os dois miraram o papel com desconfiança. Não sabiam inglês; além disso, quem lhes garantia que o certificado de autenticidade era autêntico, e não uma falsificação? Resolveram convocar o dono da relojoaria para esclarecer a questão. A vendedora-chefe resistiu o quanto pôde, mas, com um revólver encostado no crânio, não teve outro jeito: ligou para o dono, que aliás morava ali perto, pediu que viesse para atender "dois clientes muito importantes".

Vinte minutos depois o homem chegava, esbaforido. Apesar da visível perturbação das vendedoras, não desconfiou de nada, mesmo porque os assaltantes, bem vestidos, e com as armas agora ocultas, pareciam mesmo clientes, e clientes muito cordiais.

- Eu tenho este relógio Breitling -disse o alto- que estou pretendendo trocar. Queria sua valiosa opinião: é falso ou verdadeiro?

Para o dono da loja, um veterano no ramo, bastou um olhar: é falso, proclamou. E aí mostrou o relógio que tinha no pulso:

- Este, sim, é verdadeiro.

Escusado dizer que os assaltantes levaram o Breitling verdadeiro. E o fizeram com absoluta tranqüilidade. Deve-se confiar na palavra de quem entende do assunto.

Fonte:
Escritores do Sul

Rio Grande do Sul Trovadoresco


Às vezes muita coragem
não traduz bem valentia;
é qual fogo na palhagem
que termina em covardia.
ARLETE SACRAMENTO (Porto Alegre)

Um golezinho somente,
do teu licor de ternura,
para minha alma que sente
tanta sede de ventura!
DELCY RODRIGUES CANALLES (Porto Alegre)

Nesta taça de licor
transbordando de ternura,
brindaremos nosso amor,
nossos sonhos de ventura.
DORALICE GOMES DA ROSA (Porto Alegre)

Não existe mulher feia,
está posto no ditado:
qualquer mulher é sereia
ao homem embriagado...
EVANDRO PÉRSICO (Garibaldi)

É tão nojenta a franguinha,
tão cheia de blablablá,
que se um dia for galinha,
nem raposa a comerá...
FLÁVIO ROBERTO STEFANI (Porto Alegre)

A esperança, nesta vida,
É tudo que nos conduz,
Pela estrada florescida
De sonhos de amor e luz !...
IALMAR PIO SCHNEIDER (Porto Alegre)

Ali moram quatro viúvas
outrora cheias de graças,
mas, daquelas quatro “uvas”
hoje restam quatro “passas...”
LACY JOSÉ RAYMUNDI (Garibaldi)

O frango, metido a galo,
criou tanta confusão,
que acabou sendo "regalo"
da panela de pressão.
LUIZ MACHADO STÁBILE (Porto Alegre)

Praia!... Sol! Manhã risonha!
O ar vai ficando quente.
Ah! biquíni sem vergonha!
Não hã cristão que te agüente!
LYDIA LAUER (Caxias do Sul)

Sina triste o frango tem,
de ser morto, pendurado,
e ouvir quando diz alguém:
- ele é fresco ou congelado?!
MANOEL MARTIM BATISTA (Guaíba)

Quantas vezes, nesta vida,
sufocando o coração,
buscamos n'alma dorida
coragem de dizer “não”.
MARIA BRASIL DE LEÃO (Porto Alegre)

Teu beijo, estranho licor,
pelo qual vivo sedento,
reduz a sede de amor
mas tonteia o pensamento.
MILTON SEBASTIÃO SOUZA (Porto Alegre)

Quero o torpor, a leveza,
que o licor me propicia,
para acalmar a tristeza
da minha vida vazia.
WILMA MELLO CAVALHEIRO (Porto Alegre)

Fonte:
Trovas enviadas por Nuhtara Dahab
Colaboração de Ialmar Pio Schneider

Anderson Moço (Projetos Didáticos) Parte 2


3 Todo projeto precisa ser interdisciplinar?

Não. Um projeto focado em apenas uma área tem grande valor, já que permite um mergulho mais profundo no conteúdo trabalhado. Embora, às vezes, pareça que objetivos de disciplinas diferentes estejam coordenados numa mesma proposta, muitas vezes só os relacionados a uma delas estão sendo desenvolvidos. Num cenário ainda pior - e também comum -, não são trabalhados de forma correta os conteúdos de nenhuma das áreas.

Um bom projeto é aquele que indica intenções claras de ensino e permite novas aprendizagens relacionadas a todas as disciplinas envolvidas. "Não é raro a turma apenas utilizar conhecimentos que já possui", explica Maria Alice Junqueira, professora de Pedagogia do Instituto de Educação Superior Vera Cruz, em São Paulo, e assessora de redes públicas e escolas particulares. Veja o exemplo de um projeto de Ciências que tem como objetivo ensinar procedimentos de pesquisa. Se os alunos tiverem de produzir um relatório e já forem experientes na escrita desse gênero, não é possível dizer que ele envolve a disciplina de Língua Portuguesa - afinal, eles só estão colocando em jogo o que sabem. Isso vai efetivamente ocorrer se a tarefa for produzir um artigo científico e esse tipo de texto for novo para todos.

A ideia de que projetos didáticos precisam ser interdisciplinares pode estar relacionada a uma confusão entre essa estratégia, os projetos institucionais e os temas geradores. Os projetos institucionais são ações que envolvem toda a escola em torno de um mesmo objetivo - por exemplo, produzir um jornal ou uma campanha. Nesse caso, cada professor precisa pensar em atividades relacionadas a ele para desenvolver com sua turma. Não há necessariamente um produto final ou um propósito social para o trabalho. Já quando é definido um tema gerador, como meio ambiente, cabe ao professor escolher quais serão os conteúdos a enfocar e os objetivos a alcançar. O problema, nesse caso, é organizar as atividades em cima de um tema considerado envolvente pelos alunos, em vez de fazer um planejamento baseado nas reais necessidades de aprendizagem deles.

4 É melhor criar um projeto ou aplicar um já testado?

Para um profissional que tem pouca experiência com esse tipo de trabalho, é melhor utilizar um bom modelo, com todas as etapas definidas e os objetivos previamente pensados e aprovados. Não há demérito nisso. Nas melhores escolas, é comum replicar boas práticas. "Um projeto nunca vai ser uma receita fechada, que o professor simplesmente lê e desenvolve em classe com a turma. É preciso adaptar as atividades levando em consideração as características dos alunos e a realidade local", ressalta Clélia Cortez, coordenadora pedagógica do Colégio Vera Cruz, em São Paulo. Um trabalho sobre animais, por exemplo, fica muito mais interessante se focar as espécies encontradas na região.

Mesmo quando há um exemplo a seguir, é preciso analisar se as questões colocadas pelo autor estão de acordo com o nível de conhecimento do grupo, se os materiais sugeridos são adequados e estão disponíveis e se as etapas são suficientes para a realização de todas as atividades. "Ao longo do trabalho, adaptações são necessárias para o cumprimento dos objetivos. "São esses cuidados que garantem os traços de autoria no desenvolvimento da proposta", completa Clélia. Já um professor acostumado a trabalhar dessa forma pode criar os próprios projetos e organizá-los num banco, a ser utilizado com variações de tema, conteúdo e série. Isso não significa, no entanto, que uma estratégia de sucesso deva ser repetida ano após ano. Mesmo que o currículo seja o mesmo, os alunos são diferentes e isso exige mudanças.

5 Quando optar por um projeto?

Alguns conteúdos curriculares permitem (e às vezes pedem) um trabalho aprofundado e que inclua as práticas sociais relacionadas a ele. Confira abaixo alguns blocos de conteúdo de cada disciplina mais adequados a essa modalidade.

Pré-escola
Conteúdos
Natureza e sociedade, linguagem oral e comunicação e exploração e linguagem plástica

Por que é adequado
- Aproxima as crianças de práticas sociais, como a busca por informações e a apresentação delas
- Traz um novo propósito para a leitura em aula: ler para estudar e para saber mais sobre um tema

Erros mais comuns
- Planejar projetos curtos (de uma semana) porque envolvem os pequenos
- Focar o acabamento do produto final, descaracterizando a produção das crianças.

Língua portuguesa
Conteúdos
Sistema alfabético de escrita, comunicação oral, comportamentos escritores e leitores

Por que é adequado
- Fornece um contexto favorável de leitura e escrita aos que não estão alfabetizados
- Articula o conhecimento sobre o sistema de escrita aos conteúdos relacionados à linguagem
- Favorece a união dos propósitos didáticos aos sociais, já que a turma sabe para quem, por que e o que escrever

Erros mais comuns
- Desperdiçar a oportunidade de refletir sobre o sistema alfabético
- Planejar as mesmas atividades para alunos alfabéticos e não alfabéticos
- Trabalhar sempre com os mesmos propósitos de leitura, escrita e oralidade
- Focar o trabalho no produto final

Matemática
Conteúdos
Leitura, escrita, comparação e ordenação de escrita numérica

Por que é adequado
- Traz os números nos contextos cotidianos, o que nos anos iniciais dá mais sentido às atividades, apesar de não ser imprescindível

Erros mais comuns
- Simular mercadinhos e não propor a reflexão sobre as operações utilizadas
- Dar mais atenção ao produto final, deixando em segundo plano o conteúdo que se quer ensinar

Ciências
Conteúdos
Procedimentos e atitudes científicas

Por que é adequado
- Mostra à turma a importância de buscar soluções, interpretar dados, observar e registrar descobertas
- Promove a divulgação dos conhecimentos produzidos pelos alunos para destinatários reais

Erros mais comuns
- Passar meses pesquisando um tema
- Não propor a reflexão sobre a importância dos procedimentos realizados
- Deixar de orientar a pesquisa

História
Conteúdos
Procedimentos de pesquisa e História oral e local

Por que é adequado
- Cria situações significativas de pesquisa, semelhantes às vividas por historiadores
- Garante que os alunos leiam e escrevam sobre o tema para um destinatário real, o que é essencial para preservar as características sociais da linguagem nessa área

Erros mais comuns
- Aceitar a simples cópia de informações
- Não ajudar na interpretação dos textos
- Ignorar as relações entre o passado e o presente
- Adaptar textos ou apenas usar aqueles considerados de fácil leitura

Geografia
Conteúdos
Geografia física e Geografia cultural

Por que é adequado
- Evita a fragmentação do saber geográfico
- Permite articular os diferentes campos de estudo da área, como o relevo relacionado a estudos de caso na cidade e no campo

Erros mais comuns
- Pedir apenas textos descritivos
- Não desenvolver a cartografia temática
- Deixar de lado o trabalho investigativo
- Não relacionar a paisagem à cultura

Educação Física
Conteúdos
Práticas da cultura corporal e conhecimentos sobre o corpo

Por que é adequado
- Possibilita o estudo das manifestações corporais, unindo as questões sociais, físicas, culturais e econômicas envolvidas nessas práticas
- Ajuda a mudar a concepção das aulas, colocando as práticas corporais como parte de um processo maior de aprendizagem

Erros mais comuns
- Deixar de sistematizar os conhecimentos adquiridos durante o trabalho
- Não pedir que os alunos produzam materiais escritos e de apoio à pesquisa
- Supervalorizar as aulas práticas e dar menos atenção às questões teóricas

Língua estrangeira
Conteúdos
Comportamentos leitores e escritores

Por que é adequado
- Coloca os alunos em situações sociais de uso do idioma, como a ida ao cinema
- Possibilita à turma entrar em contato com outros falantes, além de textos, vídeos e jogos interativos

Erros mais comuns
- Planejar sem adequar os desafio à experiência anterior de cada estudante
- Usar materiais não adequados às características da turma

Arte
Conteúdos
Produção e reflexão sobre Arte

Por que é adequado
- Cria situações significativas de pesquisa, semelhantes às vividas por historiadores
- Garante que os alunos leiam e escrevam sobre o tema para um destinatário real, o que é essencial para preservar as características sociais da linguagem nessa área

Erros mais comuns
- Pedir que os alunos sempre façam releituras e não icentivar que criem
- Organizar o produto final sem a participação dos estudantes
- Não incluir o trabalho de todos no produto final

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXVIII – O Doutor Botelho


Havia um carpinteiro muito pobre, que morava num casebre de tábua. Certa vez apareceu por lá um macaco pedindo agasalho. O carpinteiro respondeu que sua casinha era muito pequena, mas estava às ordens. O macaco ficou morando com o homem.

Um dia o macaco entrou em casa com os bolsos cheios de moedas de ouro e prata.

— Onde arranjou isso, macaco? — perguntou o homem, de olhos arregalados.

— Foi o rei que me deu — disse o macaco. — Fui visitá-lo em seu nome, com um presente, e o rei me deu tudo isto.

— E que presente levou ao rei, macaco?

— Veadinhos. Assobiei na floresta; vieram cem veadinhos que levei ao rei. Qualquer dia vou levar-lhe outro presente.

E assim foi. Na manhã seguinte o macaco chegou à beira do rio e pôs-se a assobiar. Vieram inúmeras garças, que ele convidou a irem com ele ao palácio do rei, numa procissão, duas a duas. O rei achou lindo aquilo e perguntou quem tinha tido a idéia.

— Foi o doutor Botelho, amigo do macaco da bota do jabotelho — respondeu o bichinho.

O rei agradeceu a lembrança e disse--lhe que fosse à Casa da Moeda receber dinheiro.

O macaco foi e encheu um alforje de moedas de ouro que levou ao homem.

Dias depois o macaco voltou à floresta e assobiou. Vieram inúmeros coelhos, que o macaco levou de presente ao rei, dizendo ser outro presente do doutor Botelho.

O rei, muito admirado, mostrou desejo de conhecer esse doutor tão rico. O macaco respondeu que o doutor Botelho era um homem muito acanhado que não visitava ninguém; mas que se o rei quisesse conhecer as suas riquezas, ele, macaco, as mostraria.

O rei montou a cavalo e saiu com o macaco na garupa. Passaram por muitas fazendas, e o macaco dizia sempre: "Isto aqui é do doutor Botelho." Afinal, cansado de ver as fazendas do doutor Botelho, o rei voltou ao palácio.

O macaco, então, disse ao rei que estava com vontade de falar uma coisa, mas sentia acanhamento.

— Fale — ordenou o rei — e o macaco disse que o doutor Botelho havia mandado pedir em casamento a filha de Sua Majestade.

Tratando-se dum homem tão rico, dono de tantas e tão lindas fazendas, o rei não teve dúvida em dar-lhe a filha em casamento.

— Diga ao doutor Botelho que sim, que lhe concedo a mão de minha filha — e você, macaco, vá à Casa da Moeda buscar mais ouro.

O macaco foi e encheu vários alforjes. Quando chegou à casa do carpinteiro com tudo aquilo, o pobre homem abriu a boca. E mais ainda quando soube que estava noivo da princesa, filha única dum grande rei.

— Mas, macaco, como posso eu, um pobre diabo, que vive neste casebre de tábuas, pensar em casar-me com a filha do rei? Você está louco?

O macaco, porém, sossegou-o.

— Não se incomode com coisa nenhuma; deixe tudo por minha conta.

No dia marcado para o casamento o macaco preparou para o doutor Botelho um lindo cavalo e o fez montar. O carpinteiro mal podia consigo.

— Estou que quase caio do cavalo, de tanto medo, macaco.

— Não seja bobo. Já disse que deixe tudo por minha conta.

E tanto o macaco fez que deu com o carpinteiro no palácio real, onde se efetuou o casamento. Tinham agora os noivos de seguir para a casa do doutor Botelho — e como era? O pobre carpinteiro suava frio. Mas o macaco o animou: "Não tenha medo de nada. Eu arranjo tudo."

E arranjou mesmo. Quando os noivos, acompanhados dos grandes fidalgos da corte, chegaram ao casebre, não viram lá casebre nenhum e sim um maravilhoso palácio, com grande criadagem de libre. Entraram. Estava arrumada a mesa dum banquete esplêndido, com quanto doce havia e um grande cacho de bananas no centro.

Ao ver as bananas o macaco esqueceu-se do seu papel e deu um pulo sobre a mesa. Aquilo de ser o escudeiro do célebre doutor Botelho era uma grande coisa — mas comer as bananas amarelinhas era melhor — e pôs-se a comer as bananas.
====================

— Essa história — disse Narizinho — é uma corrupção da velha história do Gato de Botas, que li nos Contos de Fadas do tal senhor Perrault. Mas como tia Nastácia contou está muito mais ingênua.

— Serve para mostrar como o povo adultera as histórias — disse dona Benta. — Neste caso do doutor Botelho vemos uma tradução popular do Gato de Botas.

— Mas tradução bem malfeitinha — disse Emília. — Tudo na história é daqui do Brasil, até o macaco e as bananas — com certeza banana-ouro, que é -a melhor — mas esse rei, que aparece sem mais nem menos, está idiota. Não há reis por aqui. Em todo caso serve. Que se há de esperar da nossa pobre gente roceira?

— E a tal resposta do macaco ao rei: "Foi o doutor Botelho, amigo do macaco da bota do jabotelho?" Que significa isso? Que bota é essa?

— Não significa coisa nenhuma — disse dona Benta. — Bobagem. O tal jabotelho, que não é nada, está ali apenas para rimar com Botelho.

— E a bota?

— Essa bota foi o único restinho que ficou das botas do Gato de Botas.

— Coitadinho do povo! — exclamou Emília. — Tão ingênuo...
–––––––––––––
Continua… XXIX – A Raposa e o Homem
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Sérgio Napp (Da Arte da Palavra ao Prazer da Leitura) Parte 3


É assim que se faz. Nada de magia, fórmulas milagrosas, inspiração divina, yoga, mentalização ou similar. Apenas, sensibilidade, imaginação e trabalho, muito trabalho.

A diferença entre uma pessoa dita normal e outra criativa é que esta possui, de forma pura e simples, percepção maiôs acurada, ou, conforme as palavras de Szent-Gyorgyi, essa pessoa possui a capacidade de ver o que todo mundo vê e pensar o que ninguém pensou.

Vamos ao processo. Primeiro, coloque-se que o ato criativo é individual. E, portanto, único. Depreende-se, então, a angústia de se estar frente ao computador, ou da clássica folha em branco, em busca da chamada inspiração, a qual deveria, obrigatoriamente, nos surgir a qualquer momento e proporcionar a nós, privilegiadas criaturas, a suficiente revelação que nos permitisse preencher páginas e páginas com um texto brilhante. Não é assim o desenrolar do citado processo.

Um gesto, uma palavra, uma frase, um olhar, o vento, e eis que se desarma a caixa preta interior (caixa que todos possuem, diga-se de passagem, mas que poucos, pouquíssimos têm a capacidade de desentranhar, dela, seus mistérios e segredos) e surge a idéia. É verão, com certeza, e o entusiasmo nos penetra poro a poro e perdemos o sono: gesta em nós a grande obra. Mas entre a idéia e o texto há um longo, longo inverno marcado por consultas, esboço de personagens, visualização de cenas, tentativas de diálogos, rascunhos. Ultrapassado esse tempo, armazenados até os olhos de emoções desencontradas e frágeis, eis que estamos prontos para o primeiro embate: dar corpo e forma à idéia. Não sem antes questionar: valerá a pena? Como a resposta jamais nos satisfará, seguimos, marinheiros perdidos num mar revolto em busca de um porto ao qual, talvez, nunca cheguemos. Finalmente o outono: o texto, em sua forma primeva, está pronto. Quase não acreditamos, mas ali está: no computador, datilografado, em folhas avulsas ou rabiscado num caderno. Eu disse pronto? Quanta ilusão! É tempo de reescrevê-lo uma, três, cinco vezes (mais consultas, corte de personagens ou diálogos, criação de outros personagens e diálogos, novos cortes, outros acréscimos) durante semanas, meses, anos, para, enfim, pensá-lo acabado. Tê-lo em mãos, aspirar seu hipotético perfume, murmurando, para que ninguém nos ouça, ah, meu filho..., que sensação! É quase um outro texto tal a diversidade em relação ao que iniciamos. Melhor ou pior? Não cabe julgar. Eu disse pronto? A primavera é uma estação de difícil acesso.

O texto, entenda-se, é matéria prima que não se revela de pronto. Urge lapidá-lo diuturnamente para que se obtenha, nele, o contorno esperado, a retransformação necessária. E, para tanto, indispensável se faz que nos armemos de paciência, dedicação, disciplina e suor. Ah, e também, por fundamental, de paixão.

Se de tudo resultar um livro, uma página ou frase que seja, agradeçamos e exultemos. Valeu o esforço.

Fonte: Artistas Gaúchos

Caixa Lança Editais de Patrocínio à Cultura para 2012


Serão patrocinados projetos culturais em teatro, dança, música, artes plásticas, artesanato e festivais

A Caixa Econômica Federal disponibiliza o conteúdo de três editais de apoio a projetos culturais para 2012, no sítio da CAIXA Cultural, www.caixa.gov.br/caixacultural. Serão publicados os editais para Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural; de Apoio ao Artesanato Brasileiro; e de Festivais de Teatro e Dança.

As inscrições para os projetos de todos os programas são feitas exclusivamente por meio de formulário eletrônico. Todas as informações necessárias para a inscrição estarão disponíveis no regulamento de cada programa, no sítio da CAIXA Cultural. Somente as inscrições preenchidas corretamente serão acatadas, não sendo aceitos projetos enviados pelos Correios ou por quaisquer outros meios.

As dúvidas relacionadas aos regulamentos deverão ser encaminhadas para a CAIXA, por meio da ferramenta Fale Conosco, disponibilizada no sítio de inscrições de projetos, e também através do número 0800-727-0241, de segunda a sábado, de 8h às 20h, a partir do dia 09 de maio. Os resultados de todos os editais serão divulgados até o dia 31 de outubro de 2011, no sítio da CAIXA Cultural.

O Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural selecionará projetos para a formação das pautas a serem realizadas no período de março de 2012 a fevereiro de 2013, nas unidades da CAIXA Cultural localizadas em Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O valor máximo de patrocínio por projeto será de R$ 300 mil. O período de inscrição irá de 09 de maio até 10 de junho de 2011.

Os projetos para ocupação dos espaços podem ser nas áreas de artes visuais (fotografia, escultura, pintura, gravura, desenho, instalação, objeto, vídeo-instalação, intervenção e novas tecnologias ou performances), artes cênicas (teatro, dança e performance de palco), música e cinema. Além destas modalidades, estão contempladas ainda palestras, encontros, cursos, workshops, oficinas e lançamento de livros.

O Programa CAIXA de Apoio ao Artesanato Brasileiro selecionará projetos a serem realizados ao longo de 2012 que visem ao desenvolvimento de comunidades artesãs e à valorização do artesanato tradicional e da cultura brasileira, contemplando várias etapas do processo produtivo. Em 2012, o valor máximo de patrocínio por projeto será R$ 50 mil. O período de inscrições irá de 16 de maio até 17 de junho de 2011.

O Programa CAIXA de Apoio a Festivais de Teatro e Dança selecionará projetos de festivais de teatro e dança que acontecerão em todo o território nacional, no período de janeiro a dezembro de 2012. O valor máximo de patrocínio por projeto será de R$ 200 mil. O período de inscrições irá de 16 de maio até 17 de junho de 2011.

Projetos Realizados

Em 2010, a CAIXA lançou os regulamentos para seleção de projetos que estão acontecendo desde o início de 2011, perfazendo um investimento total de R$ 33 milhões, com recursos próprios. No Programa CAIXA de Apoio a Festivais de Teatro e Dança, foram selecionados 54 projetos, representando um investimento total de quase R$ 3,7 milhões. No Programa CAIXA de Apoio ao Artesanato Brasileiro, 26 selecionados, num investimento de R$ 600 mil. O Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural soma mais de R$ 26 milhões em investimentos, destinados aos 330 projetos selecionados.

Esses números retratam o diálogo permanente que a CAIXA mantém com as raízes culturais brasileiras, fomentando a diversidade e patrocinando a realização de eventos em seus espaços.

SERVIÇO

Lançamento de Editais de Patrocínio à Cultura

Os editais estarão disponíveis no sítio da CAIXA Cultural, www.caixa.gov.br/caixacultural,
a partir de 05 de maio de 2011.

Assessoria de Imprensa
Caixa Econômica Federal
(61) 3206-9895 / (61) 3206-8543
www.caixa.gov.br

Fonte:
Colaboração de Neida Rocha

Nilto Maciel (O Escritor em Xeque)


Entrevista publicada, em 30/4/2011, na revista cultural eletrônica Diversos Afins (www.diversos-afins.blogspot.com), dirigida por Fabrício Brandão e Leila Andrade)

Para definir um bom prosador, são necessárias palavras que se proponham a extrapolar os limites meramente expositivos de qualquer cenário narrativo. Contentemo-nos, pois, numa análise que sabe ir além de um simples artifício de contar histórias. Numa acepção densamente significativa, um contista, mais do que apresentar situações e tramas, deve ser capaz de dissecar o âmago dos seres apresentados. A partir daí, ganha corpo vigoroso uma noção de interioridade que sabe ser ingrediente fundamental de uma proposta textual rica e consistente. E tal perspectiva encontra abrigo no modo de pensar e agir do escritor cearense Nilto Maciel. Detentor de uma trajetória que contempla incursões predominantes na seara da prosa, o autor, natural de Baturité, revela-se um alguém peculiarmente envolvido de modo especial no fazer literário, qual seja o de se apropriar de modo pungente dos elementos presentes em seu espaço íntimo de abstração para depois transformá-los em matéria viva vertida em palavras e outros tantos signos. Nesse processo, Nilto mergulha no universo de sua catarse pessoal, convivendo de frente com a necessidade primeira de isolar-se do mundo até que o produto de sua viagem ao centro de si mesmo seja expelido sob a forma de texto. Alguns de seus livros renderam-lhe premiações de destaque em concursos nacionais e regionais. Sua obra contempla, dentre outros, Itinerário (contos, 1974, Scortecci Editora), Tempos de Mula Preta (contos, 1981, Papel Virtual Editora), Punhalzinho Cravado de Ódio (contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará), A Última Noite de Helena (romance, 2003, Editora Komedi) e Carnavalha (romance, 2007, Bestiário). Durante o diálogo do escritor com a Diversos Afins, foi possível compreender certas razões capazes de justificar as imagens que cercam o engenhoso ofício da escrita. Em Nilto Maciel, temos o exemplo vivo e atinente de que escrever, acima de tudo, envolve um criterioso ritual de entrega humana, tudo compreendido num lapso que sabe a desvãos da alma.

A entrevista


DA - Muita gente acredita que a única função do conto é a de relatar uma história, aspecto que negligencia a capacidade de transcendência de um texto. Enquanto autor, como você percebe tal discussão?

NILTO MACIEL – É verdade: tanto leitores (é só ver na Internet o número de leitores de sítios de contos lineares, de formato tradicional) como escritores ainda veem na história com começo, meio e fim, enredo claro, narração e diálogo (os velhos travessões e verbos dicendi a torto e a direito), personagens bem delineados, etc, o único ou o verdadeiro modelo de conto. Não sei se se discute isso. Não conheço artigos ou ensaios que tratem desse assunto. Para mim, o conto pode ser elaborado a partir de um modelo. E os modelos são muitos: o de Tchekhov, o de Poe, o de Maupassant, o de Joyce, o de Cortázar. No Brasil temos novo modelo (não tão novo, vem de Rubem Fonseca), que é o conto que tem como assunto a violência urbana. Transposto para o cinema, virou febre. É um filme atrás de outro, com a mesma receita e os mesmos ingredientes: muita bala, muita matança, muito morro, muito bandido, muito policial, muito ódio. Na literatura significa cópia de reportagens. Por isso, os escritores dessas histórias não se preocupam com literariedade. Para eles, literatura é arte de escrever. Se assim é, nem precisa estudar, ler, pesquisar. O computador se encarrega de registrar a fala e corrigir o óbvio. Só isso. Basta ter coragem de expor as mazelas do homem e da sociedade. O resto que se dane.

DA – Subjetivamente falando, é possível conceber o contista como sendo um verdadeiro engenheiro de ilusões?

NILTO MACIEL – O contista, como o romancista, é, sim, um engenheiro de ilusões. Não apenas das ilusões contidas nos enredos, nas tramas. Mas das ilusões escondidas nas entrelinhas, atrás de véus, debaixo de panos ou papéis. Não a ilusão palpável da vida, do viver, mas a ilusão diáfana da poesia. Sim, sem poesia o conto não se faz arte; amolda-se ao método da reportagem, da informação, do jornalismo. Falo de aparência e exterioridade. Sem ambiguidade e interioridade não há arte, não há conto. Contar, apenas, é fácil. Compor um conto é outra história (desculpe o trocadilho).

DA - Talvez não seja tarefa fácil absorver os excessos contidos na pós-modernidade, algo que poderia até mesmo escamotear sentidos essenciais. Nesse aspecto, como o torvelinho de imagens de mundo movimenta seu processo criativo?

NILTO MACIEL – Tenho falado muito de memória. Não sei se estou certo, mas acredito que obra de arte nasce na memória. Sendo assim, pergunta-se: Como teria sido nos primórdios? Ora, a memória literária não vem apenas dos livros, das inscrições rupestres, dos papiros, dos palimpsestos. Há também a memória oral. Tenho certeza de que só escrevo o que vi, ouvi, li, senti. Nada invento. A criatividade não vem de geração espontânea. Por isso, é preciso ter tido infância. Dirão: todos tivemos infância. Sim, mas nem todos conseguem abrir o baú e dele retirar quinquilharias, pedacinhos de pano, pó invisível. E é preciso ter lido muito. Borges recomendava a leitura de apenas cem livros essenciais. Não se referia, porém, à memória. Porque a cartilha é tão essencial como um tratado de filosofia. A imagem no cinema, na televisão, no computador é apenas estopim para mostrar imagens apagadas, soterradas, esquecidas. Não sou teórico, sou apenas escritor. E escritor é aquele que não conseguiu ser cientista, pesquisador, inventor. O que não sabe explicar porque a aranha tece a teia. Alguns não se aceitam tão pequenos e escrevem ficção científica. Acham que são, sim, cientistas.

DA - Acredita que para um autor há limites na utilização dos recursos da memória afetiva?

NILTO MACIEL - Os limites existem, porque somos limitados. Se pudéssemos utilizar todos os recursos da memória afetiva, a obra de arte seria muito mais vertical. Escritores verticais são Dostoievski, Machado, Kafka, Virginia Woolf, Clarice Lispector. Outros, os que se esmeram na horizontalidade da fala e dos atos, são meros descritores de paisagens e narradores de movimentos sempre repetidos dos seres que povoam as paisagens. São apenas cronistas de seu tempo. Pois cronistas todos o são. Machado é o cronista vertical do Rio de Janeiro do século XIX.

DA - No romance Carnavalha, você explora com densidade traços que ajudam a mostrar um painel de nossa contraditória brasilidade. Como surgiu a ideia de construir uma narrativa que, mesclando elementos trágicos e cômicos, provoca-nos a todo instante?

NILTO MACIEL – Todo escritor acalenta o sonho de erigir uma obra monumental. Alguns não perdem tempo com acalantos e desde cedo iniciam a construção de suas pirâmides de Gizé. Faraós da palavra, chamam-se Cervantes, Dante, Shakespeare e outros. Eu bem que tentei, sonhei, fiz escavações. Não consegui, como a maioria. Carnavalha foi uma das últimas tentativas de levantar pequenas tumbas para meus pequeninos personagens, saídos do fundo da memória. Palma já existia e está em quase todas as minhas narrativas, principalmente as mais longas. Os seres que a habitaram são mortos sem tumbas. Carnavalha (carnaval em Palma) é também um pouco de tragédia, um pouco de comédia. Um pouco do Brasil, um pouco de mim.

DA - Mas será que é realmente importante construir uma obra monumental?

NILTO MACIEL – Na pergunta, dois adjetivos equivalentes. Ser importante é ser fundamental, básico, necessário. Acho que é nesse sentido a questão. Dizem alguns teóricos que tudo é importante, toda obra literária é necessária, mesmo a mais rudimentar, a mais medíocre. Porque é dela que surgirá a obra maior. Sem as novelas de cavalaria não existiria Dom Quixote. No entanto, vem mais uma pergunta: Não estariam os autores daquelas histórias também imbuídos da vontade de erigir castelos monumentais? João de Lobeira (ou quem quer que tenha sido o autor do Amadis de Gaula) certamente se sentia um criador de mundos. E o foi, em certo sentido. Quem sabe, um dia surgirá o Cervantes que irá recriar Palma e escrever um romance monumental.

DA - Ao mesmo tempo em que trouxeram facilidades, as mídias eletrônicas externaram também uma verdadeira obsessão de muitos autores em serem reconhecidos, lidos, comentados a qualquer custo. Essa dinâmica frenética não acaba criando um relativismo conceitual e estético um tanto perigoso no que tange às criações?

NILTO MACIEL – É muito natural a vontade (mesmo que obsessiva) de ser lido, comentado e reverenciado. Quem não quer? Até aqueles que se fazem reclusos em casa e se dizem avessos a entrevistas, “badalações”, festinhas literárias como lançamento de livro, feira, simpósio, seminário, etc, até esses, no fundo, querem mesmo é fama. Ocorre que quem vive em salões (bares, clubes sociais, academias, redações de jornais) termina se esquecendo de ler e escrever. Se já não é tão talentoso (usarei este adjetivo para não estender demais minha opinião), vivendo essa vida de cortesã ou cortesão, sua literatura será como a bolha que escapa do chope. Em alguns, essa neurose os torna até perigosos. São como aqueles loucos das piadas que se dizem Napoleão Bonaparte.

DA - Com o advento da internet, o seu fazer literário mudou bastante ou ainda preserva hábitos marcantes de outrora?

NILTO MACIEL – Sim, meu fazer literário mudou muito desde os anos 80, quando adquiri um computador doméstico. Quase nada restou do meu modo de ser leitor/escritor. Antigamente (parece que faz tanto tempo!), eu escrevia em folhas de papel e cadernos. Uma loucura. Sobre a mesa, tudo espalhado. Anotava ideias separadamente. Uma frase aqui, uma ideia ali, um nome de personagem acolá. Porque o pensamento é lépido demais. E temos apenas duas mãos (só uso a esquerda). Agora está melhor, porque digito com as duas. Mas a memória ainda é o baú principal. Costumo escrever quando me deito para dormir. Porque não me deito para repousar ou descansar. Isto é para cavalos, jumentos, cachorros, gatos, leões. Deito-me para pensar e, em seguida, dormir. Às vezes, não consigo dormir. Passo a noite a pensar (escrever mentalmente). Quando acordo, imagino que sonhei. Mas não foi sonho, foi elaboração mental consciente. Acordado, relembro tudo (ou quase tudo) o que imaginei (escrevi) e digito sob um título provisório: “Conto do homem que olhava formigas”. São dois tipos de anotações: o como será o conto (na primeira ou na terceira pessoa, dois ou três personagens, com ou sem diálogos, etc) e a própria história. Muitas vezes não consigo me libertar daquele conto e passo o dia a elaborá-lo. Em dias assim, não me alimento, não me banho, não atendo chamados, não saio de casa, não ligo televisão. Quando cuido, estou caído no meio da sala, morto de fome, sujo, completamente envolto na loucura, a delirar. Por isso, preciso viver só. Quando vivia com mulher e filhos, precisava me controlar, me policiar, ser normal. Agora posso assumir minha anormalidade, sem medo.

DA - E como andam as perspectivas atuais? Está trabalhando em alguma obra nova?

NILTO MACIEL – Quem escreve só deixa de escrever quando morre. Alguns continuam escrevendo até depois da morte (dizia Chico Xavier). Se algum médium puder copiar meus ditados, prometo ditar com paciência. Há um ano, mais ou menos, rabisco um romance. Está todo arquitetado, mas poderá se modificar. Como dizem, alguns personagens costumam crescer; outros, minguar. Voltei à primeira pessoa. Os leitores poderão até dizer: O narrador é o próprio autor. Não deixa de ser.

DA - Afinal, o que se busca com o ato de escrever?

NILTO MACIEL – Uns buscam fama, dinheiro, reconhecimento. Outros querem dizer: eis-me, existo, existi. E tudo passa, passará. A fama poderá resistir ao tempo, até depois da morte. Para quê? O dinheiro virará fumaça. Os escritores morrem, seus nomes viram verbete. Algumas obras ficaram e ficarão. Até quando? Depois a humanidade desaparecerá e a Terra será habitada apenas pelos “seres inferiores” que não leem e não lerão. Portanto, o que se busca não passa de pó. E, quando Deus der o sopro final, todo o pó voará pelos ares e se perderá na imensidão das galáxias. Na verdade, não acredito na existência de Deus. Se existe, existirá para sempre. Sem literatura, porém.

Fonte: Colaboração do autor em Artigo Pequena sabatina ao artista (Nilto Maciel e Fabrício Brandão), obtida em Literatura sem Fronteiras

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A. A. de Assis (Mãe Postiça)


Numa reunião de senhoras, foi solicitado que cada uma que se levantasse e fizesse a autoapresentação. Uma delas causou impacto, ao dizer que tinha 122 filhos.

Era uma freira vestida em roupas comuns. Explicou: "Dirijo um orfanato, sou mãe postiça de todas aquelas crianças, que não têm mais suas mães de verdade".

A mãe postiça (usemos o termo carinhosamente escolhido pela freirinha) exerce intensamente a função maternal, mesmo que jamais tenha gerado um filho. E no momento em que assume a responsabilidade de proteger e orientar uma criança ela se realiza, a ponto de nem sentir falta da maternidade biológica.

Estão nesse caso não apenas as religiosas que trabalham em orfanatos, mas também todas aquelas que, sem terem casado, ajudam a criar os irmãos menores e os sobrinhos.

Em quase todas as famílias existe uma dessas maravilhosas mães postiças. E quase todos tivemos uma irmã ou uma tia que completou o zelo que recebemos de nossa mãe. Eu tive minha Didinha, minhas filhas e netos têm a sua Deda, e é bastante provável que também você tenha tido e tenha ainda a sua.

Na maioria dos casos, a mãe postiça acaba sendo mais que mãe. Era vive para aqueles que se tornaram seus filhos pelo amor. Toda a sua preocupação é com eles. Chora por eles, sorri com eles, vive a vida deles.

É o mistério da maternidade espiritual. A mãe postiça se realiza amando filhos alheios, e com isso prova que ser mãe é muito mais do que simplesmente gerar uma vida.

Aquela freirinha não estava brincando ao dizer que tem 122 filhos. Ela vive para todas aquelas crianças. Dedica a cada uma delas o seu total amor. É mãe sim. E que mãe!

É mais que um beijo, é uma prece,
aquele beijo miudinho
com que a mãe afaga e aquece
os seus filhotes no ninho!

Fonte:
ASSIS, A. A. de. Vida, verso e prosa. Maringá: EDUEM, 2010.

Carolina Ramos (Mãe)

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 207)


Uma Trova Nacional

Hoje minha vida insiste
neste silêncio sem fim,
como se tudo que é triste
chorasse dentro de mim !
–REJANE COSTA/CE–

Uma Trova Potiguar

Foram tantas as carícias,
que uma verdade se encerra:
O meu "Jardim das Delícias",
eu vivi, aqui, na Terra!
–SÉRGIO AUGUSTO SEVERO/RN–

Uma Trova Premiada
2000 - Niterói/RJ

Tema: PARTILHA - M/E.


Pelo pão não-partilhado,
pela miséria voraz,
vai sendo, aos poucos, minado
todo o caminho da paz!...
–JOÃO FREIRE FILHO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

A saudade, em horas mortas,
sem ver que o tempo passou,
teima em abrir velhas portas
que há muito a vida fechou...
–WALDIR NEVES/RJ–

Simplesmente Poesia


–ZÉ REINALDO/AL–

Nas Asas da Poesia...


Eu quis conhecer o mundo,
mas não saí de onde estava.
Só em sonho viajava
meu coração vagabundo,
que não parou um segundo
na busca do seu roteiro.
E, mesmo sem ter dinheiro,
fiz a grande travessia:
nas asas da poesia
viajei o mundo inteiro.

Estrofe do Dia

Visitei um necrotério,
numa noite escurecida.
Vi que da morte pra vida
existe um certo mistério.
Depois fui ao cemitério,
vi a porta escancarada,
cruz inteira, cruz quebrada,
catacumba, velha e nova.
Tudo isso me dando a prova
de que o pecador é nada!

–JOSÉ VIEIRA DA SILVA/PB–


Soneto do Dia

–ERNANE GUSMÃO/BA–
Assim


Assim como me queres eu te quero,
Completamente, tim-tim por tim-tim;
Isto não é somente um bolero
Para dançarmos juntos, tu em mim.

Eu sei que tal distancia, mui sincero,
Complica esse querer, principio ao fim...
Mas sei também que num amor bem vero
Mesmo a distancia eu estou a fim.

Porque as nossas almas se encontraram
E os nossos corpos se distanciaram?
Não foi pra isso que aqui eu vim.

Desejo estreitar-te no meu peito,
Conduzir-te formosa ao meu leito
Do jeito que queremos, bem assim!…

Fonte:
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