sábado, 20 de novembro de 2021

Versejando 88

 

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) Sibipiruna, a bela

Na Rua Arthur Thomas, entre a Herval e a Piratininga, há uma velha sibipiruna, enorme e bela, que não cessa de crescer. Já está pareando com as janelas do nono andar. Além de tudo, gorda. Deve ter uns 70 anos. Nasceu no tempo em que a rua ainda se chamava Angustura – esse nome esquisito que assustava as crianças. Fica perto de onde moraram por uns bons anos diversos pioneiros ilustres, entre os quais o deputado Haroldo Leon Peres, o advogado Wilson Saenz Surita e o médico Etelvino de Oliveira.

Várias outras árvores, vizinhas dela, já tombaram, vítimas da idade, dos cupins ou de alguma ventania; aquela continua lá vivinha, verdinha, robusta, linda. Decerto suas raízes são de muito boa cepa. Só assim para sustentar tanto vigor.

Quando chega setembro-outubro, ela primavera, cobre-se toda de cachos amarelos e apronta um belíssimo espetáculo. Uma festa para os fotógrafos. Nos dias de chuva e vento ela derrama um montão de pétalas sobre o asfalto, formando um extenso tapete.

É uma árvore nativa da mata atlântica e dizem que pode chegar a 100 anos. Foi espalhada pelas ruas de Maringá no início da urbanização, provavelmente por arte e obra do Dr. Bianchini.

Quando mudaram o nome da rua para Arthur Thomas, a população ficou sabendo que o novo homenageado fora uma pessoa importante – havia sido um dos diretores da Companhia Melhoramentos. Mas da minha parte me deu na telha pesquisar também quem teria sido a tal de Angustura (ou Angostura). Não existia ainda o professor Google, então fui buscar a resposta nos alfarrábios. Fiquei sabendo que a tal de Angustura nem era gente; era o nome de uma fortaleza localizada em território paraguaio e que virara história por haver sido tomada pelas tropas brasileiras na guerra contra Solano Lopez.

A ideia dos diretores da Companhia até que foi bem bolada. Dar às ruas, avenidas e praças de cada zona da cidade nomes de personagens ou de episódios marcantes de cada período da história do Brasil: descobrimento, monarquia, república etc. Em maioria, nomes que de fato merecem ser eternizados, porém alguns nem tanto, como é o caso do Raposo Tavares, um fulano de pouca saudosa memória.

Mas o que eu queria falar mesmo era das nossas árvores. Graças, em grande parte, a elas, Maringá tornou-se uma das cidades mais bonitas e respiráveis do Brasil. São dezenas de diferentes espécies, entre as quais flamboyants, paus-ferro, figueiras, araçás, jacarandás, cabreúvas, cerejeiras, faveiros, guaritás, louros-pardos alecrins, canelinhas cheirosas, palmeiras... e os charmosíssimos ipês.

Que tenham todas vida longa e bela, como a portentosa sibipiruna da Arthur Thomas.

(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 07-10-2021)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Solange Colombara (O lugar onde nasci)

Sentada no banco da praça perto de casa, observo um pedacinho dessa imensa e linda cidade.

Pessoas passam apressadas, talvez atrasadas para um compromisso ou para o trabalho, enquanto outras passeiam tranquilamente com seus cachorros, ou sozinhas.

Há ainda os atletas. Uns correndo, outros caminhando, mas todo mundo se exercitando!

E eu ali, sentada com meu bloquinho, observando e anotando.

Em meio a tantos arranha-céus, vejo o quanto a cidade de São Paulo é contrastante. Edifícios e área verde se misturam. Pela manhã, maritacas barulhentas saem das árvores da praça para pousarem em janelas de apartamentos, acordando as pessoas.

Quanta diversidade, quantas culturas, hábitos e tradições há em um mesmo lugar.

Que coração enorme possui essa metrópole, agregando tantas pessoas diferentes e ao mesmo tempo todos iguais...

Uma coisa é certa: São Paulo é singular e eu não consigo me imaginar vivendo em outro lugar.

Fonte:
Solange Colombara. Dançando com as palavras. SP: Futurama, 2018.
Livro enviado pela autora.

Tiago (António José Barradas Barroso) Poemas Escolhidos 2

DEIXA-ME PARTIR

 
Deixa-me partir,
não procures seguir meus passos
como uma sombra errante.
O calor dos teus abraços,
ou o beijo provocante
que a longa espera
provocava,
já não consigo sentir.
 
Deixa-me partir,
sem lágrimas ou censuras,
que nem mesmo as tuas juras
renovam a primavera
que, então, brilhava
na nossa vida,
sempre a sorrir.
 
Deixa-me partir,
que nosso amor findou.
Por muito que custe admitir,
já não há cumplicidade
entre nós dois, em cada gesto,
de resto,
agora que tudo acabou,
apenas fica a saudade
desse existir.
 
Deixa-me partir,
não agarres a lapela
do meu casaco amarrotado,
como se eu fosse fugir.
Da janela,
podes fazer a tua despedida
com uns acenos finais,
que eu vou seguir a minha vida,
não volto mais.
 
Deixa-me partir…
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O MOTIVO
 
Se há dentro de nós um santuário
De tantas emoções que nos percorrem,
São esses sentimentos relicário
De que todos os poetas se socorrem.
 
À fantasia e ao sonho imaginário,
Dedico mil poemas que me ocorrem,
A uns dou vida, em forma de diário,
Outros vão passando e, assim, morrem.
 
Queres que te defina o belo, a vida,
O ar que me rodeia, a dor sentida,
A flor que brilha, o sonho que eu abraço!
 
São momentos fugazes que a alma abriga,
Por isso, não me peças que eu te diga
A quem dedico os versos qu’inda faço.
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PÉTALAS SECAS
 
A rosa que tu me deste,
secou
sem saber que alguém a abandonou
sem um adeus de despedida,
sem uma palavra de amor.
 
Colhi as pétalas, já sem vida,
daquela formosa flor
que me ofereceste,
meti-as num livro, de que muito gosto,
que guardei no quarto, numa gaveta
onde ponho o que tenho de mais precioso.
 
Tenho lá uma moldura com o teu rosto
e um poema dum poeta
famoso
que fala também duma flor
em toda a sua forma, sempre pura,
como bálsamo ou como cura
 para doenças de amor.
 
Com carinho, folheio-o, por vezes,
e olho as pétalas murchas, descoloridas,
ilusões esmagadas numa folha,
que trazem um mundo de recordações
sem tino, a esmo, sem escolha,
mas que deixam aflorar
lágrimas de incontidas emoções
que logo se cobrem com um sorriso,
ou melhor, com um esgar,
de tristeza.
 
De ti, não espero mais flores,
nem sonho amores
dum coração que já foi jardim,
porque, agora, para mim,
quando chega o relembrar desse passado
de opereta,
subo ao meu quarto e, sossegado,
sento-me, por um momento,
ordeno o pensamento,
e… abro a gaveta.
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SUBLIME ADORAÇÃO
 
 Adoro a luz suave do seu meigo olhar
Quais estrelas perdidas no céu infindo,
Vagueando envoltas pelo luar, tão lindo,
Vindo meus olhos, serena e feliz, beijar.
 
Adoro, loucamente, o seu perfume etéreo,
Pedaço de si mesma que em meu corpo rola,
Quebrando, por encanto, o tom altivo e sério,
Mudado em sorrisos e dado como esmola.
 
Adoro a sua boca rubra, quente, dessas
Que a um santo faz gemer em sutil tremor,
Boca sensual que recorda mil promessas
Promessas de ventura, de prazer, de amor.
 
Adoro o seu cabelo flutuando ao vento,
Nas faces rosadas, ansioso, me quedo,
Que os lábios parece pedirem-me, a medo,
Um beijo fugaz em um súplice lamento.
 
Adoro o seu corpo de Vênus esculpida,
Ante o colo de garça, respiro bem fundo,
Os seios que espreitam a cobiça do mundo
São pomos maduros duma deusa atrevida.
 
Adoro ver, perplexo, seu perfil d´antanho,
Despi-la, com o olhar, é sublime tortura,
Mas adoro, ainda mais, pela fechadura,
Vê-la, soberba, entrar em copioso banho.

Mia Couto (Ofélia e a eternidade)

Quem amamos nasce antes de haver o tempo. Passou o tempo e Ofélia era ainda a única mulher no mundo. Eu a via passar na rua, afastava os cortinados e o universo ganhava súbita explicação. Ela parava no passeio, sentindo que estava sendo contemplada. Meus olhos a tornavam sagrada. E não havia palavra.

Passou o tempo mas a cintura dela se conservava menininha, convidando as mãos a circunavegarem seu corpo.

—Você é linda, Ofélia.

Mas ela! Não eram essas as palavras que mexiam em sua alma.

—Diga que sou eterna — pedia.

Eu não era capaz de cumprir aquele pedido. Algum senão me desviava a voz. E nunca repeti tão solicitadas palavras.

Afinal, o destino nos separou. Único culpado dessa pequena morte: o tempo, esse animal que defeca memórias. Eu fui para a cidade, ela permaneceu onde sempre existira. No último momento, afastei a cortina e a vi sob a árvore. Saí para me despedir:

—Está apanhando sombra?

—Estou sendo sombra, eu.

Ela se entregava a enigmas, frases desfeitas. Anunciei:

—Vou para o litoral.

—Vai ver o mar?

—Certamente.

Antes de eu desaparecer ela me pediu outra vez. Não queria eu proclamar sua eternidade? Abanei a cabeça. Dessa vez até aceitei um esforço. Mas, debaldemente. Aquelas palavras me pareciam uma heresia, coisa demasiado excessiva. Eternidade é assunto divino. Mais sagrado que a morte.

Saí por anos. Foi mais a ausência que o afastamento. Regressei à pequena vila para a reencontrar. Ofélia já reeditara sua existência. Tivera seis filhos. Dois que já não constavam, vencidos por um correr das águas. Dizem. Naquelas mortes de seus meninos ela morrera também. Ela fora com eles. Para esse inominável lá.

—De lá já voltei ninguém — disse ela, pedindo desculpas de sua tristeza quando nos reencontramos.

Atacada de incorrigível melancolia. Agora, ela se tinha toda convertido em sombra. E nenhuma luz lhe dava alento. O luto em seus olhos me avisou: os cortinados de meu quarto se fechariam sobre todas as ruas onde ela passasse.

Sugeri-lhe que tivessemos encontro. Breve, sem consequência. Marcamos na traseira dos Correios. Cheguei-me e não soube que palavras escolher. O momento pedia-me um idioma que não há. Eu me faltava. Ela me olhou como se eu fosse quem tivesse demorado. Como se eu fosse culpado.

—Vou lhe contar uma história—disse eu apenas para quebrar o silêncio.

Ela reagiu prontamente:

—Nunca, mas nunca me conte histórias.

Era tanta a veemência que eu me atrapalhei com o sem querer da minha ofensa.

—Odeio histórias! — rematou ela.

Deixou uma pausa, esperando em pose e apelo. Aguardava, quem sabe, que eu perguntasse porquê. Como eu me mantivesse mudo, ela somou:

— História é contra a eternidade.

Acenei com a cabeça. Perdera os filhos, não perdera aquela viciada ideia.

— Sou eterna, não lembra?

Depois ela me segurou na mão e me perguntou:

— Me trouxe um mar?

— Sim.

Mentira. Eu só podia mentir perante o pedido. Ela ficou, imóvel, esperando.

Esperava? Que mar lhe havia eu de dar, se nenhum me coubera, nem grão de areia, nem concha, nem búzio. E, no entanto, ela estava frente a mim como se aquele momento resumisse toda nossa existência. Fiquei tão desarmado que uma lágrima aflorou em meus olhos. Depois aconteceu, sem decisão pensada. Aquilo me saiu, à parte de minha vontade. De repente, quase imperceptíveis, as palavras me afluíram:

—Você é eterna, Ofélia.

Ela levantou o rosto e me enfrentou como se me descobrisse em primeira vez. Se aproximou e me beijou. Estendeu os dedos e recolheu esse esboço de água em meus olhos. Depois, com voz sumida:

—Obrigada por este mar.

Desde aquele momento, nunca mais voltaram a morrer seus dois filhos falecidos. Que eu diria: meus dois filhos de lá. Porque sou Ofélia, eu mesmo que desfolho esta estória. Sim, sou a mulher a quem, certa vez, na ponta dos dedos, foi oferecido o mar.

O resto é a minha eternidade contra a história. Pois nunca existiu homem nenhum que me tivesse amado e empreendesse, alguma vez, viagem alguma para além deste lugar.

Fonte:
Mia Couto. Na berma de nenhuma estrada e outros contos. Publicado em 2001.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 17: Lilinha Fernandes

 

Milton Sebastião Souza (O amor em sintonia)

Os italianos não gostam muito de famílias pequenas. Mas aquele casal só teve um filho. E este filho, ainda criança, começou a trabalhar com os pais na lavoura. Fazia de tudo um pouco: ajudava na capina, cuidava do parreiral, colhia uva, ajudava a fazer o vinho e estava sempre ao lado dos pais. Assim foi crescendo. E, aos poucos, aprendeu a gostar de música, como o pai: ficava horas e horas, nos finais de semana, admirando o som que saia da pequena gaitinha que o pai tocava. Muitas vezes ele, a mãe e o pai formavam um coral improvisado, cantando antigas músicas.

Ninguém soube como, mas o rapaz, treinando sozinho no seu quarto, aprendeu a tocar o velho violino que herdara do avô. Foi uma surpresa para os pais quando ele apareceu tocando o instrumento. Passou a acompanhar o pai. Os dois começaram a ser chamados para as festinhas da igreja e para aniversários dos amigos. Gostavam de tocar juntos e sempre recebiam muitos elogios. O amor familiar estava em perfeita sintonia. Mas o destino tem a mania de misturar sofrimento com felicidade...

A felicidade dos três foi interrompida tragicamente. Num tarde de verão, quando pai e filho trabalhavam no parreiral, uma cobra venenosa saiu do meio das pedras e picou o rapaz. O susto foi grande. Mataram o bicho, tentaram alguns remédios caseiros, mas uma febre muito alta mostrou que o caso era sério. A demora na procura de recursos piorou a situação. O rapaz teve poucas horas de vida depois que chegou num hospital. E a tristeza tomou conta daquele lar depois da partida do seu mais jovem morador...

Tudo mudou depois do falecimento do rapaz. O casal continuou trabalhando, cultivando a terra, colhendo uvas e fabricando e vendendo os seus vinhos. Mas um silêncio chocante tomou conta de todas as horas. Dias e noites escorrendo lentamente. Parecia que até os passarinhos haviam deixado de cantar naquela pequena propriedade...

Somente o tempo, mesmo passando devagar, faz o milagre de estancar o sangue que brota das almas e dos corações feridos. Cinco longos anos transcorreram em meio ao silêncio provocado pelo luto. E foi exatamente a mãe, depois de sonhar várias noites com o filho, que resolveu reagir. Estava se aproximando o dia em que completariam 30 anos de casados. E ela, em segredo, quando o esposo ia para a roça, atendeu o pedido que o filho lhe fizera em sonho. E aprendeu a tocar o violino que ele deixara. Naquela noite, um jantar especial esperou o esposo, pois ela dissera que já era hora de deixar a tristeza de lado e pensar um pouco mais neles dois.

Quase tudo o que o marido gostava de comer estava sobre a mesa. Ele sentou. Ela disse que tinha uma surpresa. Foi até o quarto e retornou tocando no violino aquela música que ele mais gostava. O italiano, rude e calejado pelo trabalho e os tantos anos de vida, deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Depois de abraçar a mulher, foi até o quarto e buscou a sua velha gaitinha, que estava empoeirada pela falta de uso. E o casal tocou junto todas aquelas músicas antigas que tanto gostavam. Choraram algumas vezes, relembrando do filho. Mas tiveram a noite mais feliz das suas vidas. Hoje eles continuam, com a mesma simplicidade e alegria, tocando gratuitamente nas festinhas da igreja e dos amigos. Já estão quase festejando 50 anos de casados. Mas o amor que existe entre os dois continua cada vez mais alegre e mais jovem…

Fernando Pessoa (Caravela da Poesia) XXXIII

Em outro mundo, onde a vontade é lei,
Livremente escolhi aquela vida
Com que primeiro neste mundo entrei.
Livre, a ela fiquei preso e eu a paguei
Com o preço das vidas subsequentes
De que ela é a causa, o deus; e esses entes,
Por ser quem fui, serão o que serei.

Por que pesa em meu corpo e minha mente
Esta miséria de sofrer ? Não foi
Minha a culpa e a razão do que me dói.

Não tenho hoje memória, neste sonho
Que sou de mim, de quanto quis ser eu.
Nada de nada surge do medonho
Abismo de quem sou em Deus, do meu
Ser anterior a mim, a me dizer
 
Quem sou, esse que fui quando no céu,
Ou o que chamam céu, pude querer.

Sou entre mim e mim o intervalo  _
Eu, o que uso esta forma definida
De onde para outra ulterior resvalo,
Em outro mundo.
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Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.

Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer ?
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Em torno ao candeeiro desolado
Cujo petróleo me alumia a vida,
Paira uma borboleta, por mandado
Da sua inconsistência indefinida.
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Enfia a agulha,
E ergue do colo
A costura enrugada.
Escuta: volto a folha
Com desconsolo.
Não ouviste nada.

Os meus poemas, este
E os outros que tenho _
São só a brincar.
Tu nunca os leste,
E nem mesmo estranho
Que ouças sem pensar.

Mas dá-me um certo agrado
Sentir que te os leio
E que ouves sem saber.
Faz um certo quadro.
Dá-me um certo enleio...
E ler é esquecer.
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Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.

Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a  brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.
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E ou jazigo haja
Ou sótão com pó.
Bebé foi-se embora.
Minha alma está só.
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E, ó vento vago
Das solidões,
Minha alma é um lago
De indecisões.

Ergue-a em ondas
De iras ou de ais,
Vento que rondas
Os pinheirais!
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Epitáfio Desconhecido
 
Quanto mais alma ande no amplo informe,
A ti, seu lar anterior, do fundo
Da emoção regressa, ó Cristo, e dorme
Nos braços cujo amor é o fim do mundo.

Fonte:
Fernando Pessoa. Poesias Inéditas (1930 – 1935).

I Concurso de Cartrovas da UBT Caxias do Sul/RS (Classificação Final)


Com satisfação registramos abaixo, nominata dos laureados no I Concurso de Cartrovas promovido pela UBT Caxias do Sul, RS, sob o tema: Dante Alighieri nos 700 anos da sua morte.

Âmbito estadual:
 
Ilda Maria Brasil
Porto Alegre - RS

Âmbito nacional:

1º - Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes - PR

2º - Caterina Balsano Gaioski
Irati - PR

3º - Maria Lúcia Spadarotto Neves
Itaperuna - RJ

4º - Luisa Maria Garabazza Andrade
Bom Despacho - MG

5º - Elisabete Rabello Machado Brandão
São Paulo - SP


A premiação ocorrerá, conforme o regulamento.
Um forte abraço!
 
Luiz Damo
Presidente UBT Seção Caxias do Sul (2021/2022)

Estante de Livros (Histórias Completas do Padre Brown, de G. K. Chesterton)


Padre Brown é um sacerdote católico romano fictício e detetive amador que aparece em 53 contos publicados entre 1910 e 1936, escritos pelo romancista inglês G. K. Chesterton. O Padre Brown resolve mistérios e crimes usando sua intuição e profunda compreensão da natureza humana. Chesterton vagamente baseou-o no Rev. Mons. John O'Connor (1870-1952), um pároco em Bradford, que esteve envolvido na conversão de Chesterton ao catolicismo em 1922.

Chesterton descreve o Padre Brown como um padre católico romano curto e atarracado, com roupas disformes, um grande guarda-chuva e uma intrigante percepção do mal humano. Em "A Cabeça de César" ele é "ex-padre de Cobhole em Essex, e agora trabalha em Londres". Ele faz sua primeira aparição na história "A Cruz Azul", publicada em 1910, e continua aparecendo ao longo de cinquenta contos em cinco volumes, com mais duas histórias descobertas e publicadas postumamente, muitas vezes auxiliadas na resolução de crimes pelo reformado criminoso M. Hercule Flambeau .

O Padre Brown também aparece em uma terceira matéria - totalizando cinquenta e três - que não aparece nos cinco volumes publicados na vida de Chesterton, "O Caso Donnington", que tem uma história curiosa. Na edição de outubro de 1914 de uma revista obscura, The Premier, Sir Max Pemberton publicou a primeira parte da história, depois convidou vários escritores de histórias de detetives, incluindo Chesterton, para usar seus talentos para solucionar o mistério do assassinato descrito. A solução de Chesterton e Padre Brown foi seguida na edição de novembro. A história foi reimpressa pela primeira vez no Chesterton Review (Inverno), 1981.

Ao contrário do mais conhecido detetive fictício Sherlock Holmes, os métodos do Padre Brown tendem a ser mais intuitivos do que dedutivos. Ele explica seu método em "O Segredo do Padre Brown": "Você vê, eu mesmo os tinha assassinado.... Eu planejara cada um dos crimes com muito cuidado. Eu tinha pensado exatamente como uma coisa daquelas poderia ser feita, e em que estilo ou estado de espírito um homem poderia realmente fazer isso. E quando eu tinha certeza de que me sentia exatamente como o assassino, é claro que eu sabia quem ele era.”

As habilidades de Brown também são consideravelmente moldadas por sua experiência como padre e confessor. Em "A Cruz Azul", quando perguntado por Flambeau, que tem se disfarçado de padre, como ele sabia de todos os tipos de "horrores" criminosos, o Padre Brown responde: "Nunca lhe ocorreu um homem que faz quase nada? Mas ouvir os pecados reais dos homens não é susceptível de ser totalmente inconsciente do mal humano?" Ele também declara como ele sabia que Flambeau não era realmente um padre: "Você atacou a razão. É uma teologia ruim.

As histórias normalmente contêm uma explicação racional de quem foi o assassino e como Brown trabalhou. Ele sempre enfatiza a racionalidade ; Algumas histórias, como "O Milagre da Lua Crescente", "O Oráculo do Cão", "A Explosão do Livro" e "A Adaga com Asas", zombam de personagens inicialmente céticos que se convencem de uma explicação sobrenatural para alguma ocorrência estranha, mas o Padre Brown vê facilmente a explicação perfeitamente comum e natural. De fato, ele parece representar um ideal de um clérigo devoto mas consideravelmente educado e "civilizado". Isso pode ser atribuído à influência do pensamento católico romano sobre Chesterton. O Padre Brown é caracteristicamente humilde e costuma ser bastante quieto, exceto dizer algo profundo. Embora ele tenda a lidar com crimes com uma abordagem firme e realista, ele acredita no sobrenatural como a maior razão de todas.

Muitas das histórias posteriores do Padre Brown foram produzidas por razões financeiras e em grande velocidade, e Chesterton escreveu em 1920 que "acho justo confessar que escrevi algumas das piores histórias de mistério do mundo".

O Padre Brown era um veículo para transmitir a visão de mundo de Chesterton e, de todos os seus personagens, talvez seja o mais próximo do ponto de vista de Chesterton, ou pelo menos o efeito de seu ponto de vista. O Padre Brown resolve seus crimes através de um processo estrito de raciocínio mais preocupado com verdades espirituais e filosóficas do que com detalhes científicos, fazendo dele um contrapeso quase igual ao de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle, cujas histórias Chesterton leu. No entanto, a série do Padre Brown começou antes da própria conversão de Chesterton ao catolicismo romano.

Em suas cartas da prisão, o teórico italiano Antonio Gramsci fez esta declaração partidária de sua preferência: “Padre Brown é um católico que zomba dos processos de pensamento mecânico dos protestantes e o livro é basicamente uma apologia da Igreja Romana contra a Igreja Anglicana. Sherlock Holmes é o detetive "protestante" que encontra o fim da meada criminosa começando do lado de fora, confiando na ciência, no método experimental, na indução. Padre Brown é o padre católico que, através das refinadas experiências psicológicas oferecidas pela confissão e pela atividade persistente da casuística moral dos pais, embora não negligencie a ciência e a experimentação, mas confiando especialmente na dedução e introspecção, derrota totalmente Sherlock Holmes, faz com que ele pareça como um garotinho pretensioso, mostra sua mesquinhez e mesquinhez. Além disso, Chesterton é um grande artista; em Chesterton, há uma lacuna estilística entre o conteúdo, o enredo da história de detetive e a forma e, portanto, uma sutil ironia em relação ao assunto tratado, o que torna essas histórias tão deliciosas.

No romance italiano “O destino de Padre Brown” de Paolo Gulisano, o detetive padre é eleito papa depois de Pio XI com o nome pontifício de Inocêncio XIV.

Filme
Walter Connolly estrelou como o personagem-título do filme de 1934, Padre Brown, Detetive, baseado em "A Cruz Azul". O filme de 1954, Padre Brown (lançado nos EUA como “O Detetive”), apresentava Alec Guinness como o Padre Brown.

Há duas adaptações alemãs das histórias de Chesterton, “A ovelha negra”, 1960 e “Ele não pode parar de fazer isso”, 1962). Nestes filmes, Brown é um padre irlandês. O ator mais tarde apareceu em “Operação São Pedro” (também estrelado por Edward G. Robinson, 1967) como Cardeal Brown, mas o filme não é baseado em qualquer história de Chesterton.

Rádio
Em 1974, para comemorar o centenário do nascimento de Chesterton, cinco histórias do Padre Brown foram transmitidas pela BBC Radio 4, estrelando Leslie French como Padre Brown e Willie Rushton como Chesterton. Esta Radio produziu uma série de histórias do Padre Brown de 1984 a 1986, estrelando Andrew Sachs como o Padre Brown.

Uma série de 16 histórias de Chesterton foi produzida pelo Colonial Radio Theatre em Boston, Massachusetts. Todos os roteiros foram escritos pelo dramaturgo de rádio britânico MJ Elliott.

Televisão
Josef Meinrad interpretou o Padre Brown em uma série de TV austríaca (1966-72), que seguiu os enredos de Chesterton bem de perto.

Em 1974, Kenneth More estrelou em uma série de TV de 13 episódios, cada um adaptado de um dos contos de Chesterton. A Eles foram lançados em DVD no Reino Unido em 2003 pela Acorn Media UK, e nos Estados Unidos quatro anos depois pela Acorn Media.

Um filme norte americano feito para a televisão, Santuário do Medo (1979), estreou Barnard Hughes como um americanizado, modernizado Padre Brown, em Manhattan, New York City. O filme pretendia ser o piloto de uma série, mas a reação crítica e do público era desfavorável, em grande parte devido às mudanças feitas no personagem e à conspiração mundana do thriller .

Uma minissérie de televisão italiana em seis episódios, "Os Contos de Padre Brown”, foi produzido e transmitido pela TV nacional RAI entre dezembro 1970 e fevereiro de 1971 a um grande público (um episódio atingiu o pico de 12 milhões de espectadores).

Em 2012, a BBC encomendou a série de dez episódios Padre Brown, cujas filmagens foram feitas nos arredores de Cotswolds no verão de 2012. A série foi ao ar na BBC One, a partir de janeiro de 2013, de segunda a sexta-feira, durante um período de duas semanas à tarde. A época e a localização foram transferidas para os Cotswolds do início dos anos 50 e usaram adaptações e histórias originais. A série já conta com 8 temporadas, totalizando 90 episódios, e é exibida na televisão aberta brasileira desde 2018 pela TV Cultura.

Audiolivros
A Ignatius Press publicou a versão em áudio do livro “A Inocência do Padre Brown” em 2008. O livro apresenta introduções para cada história escrita. O livro foi um vencedor do 2009 Foreword Audio Book Awards.

Coleções
A maioria das coleções que pretendem ser “Padre Brown completo” reimprime as cinco compilações, mas omite uma ou mais das histórias não coletadas. A Edição 2012 da Penguin Classics é o único verdadeiramente completo, incluindo 'O caso Donnington', 'O Vampiro da Aldeia' e 'A Máscara de Midas'.

 Chesterton também fez 19 ilustrações das histórias de Sherlock Holmes, depois foi publicado e impresso pela primeira vez em 2003.

Fonte:
Wikipedia

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Adega de Versos 57: Thalma Tavares

 

Sammis Reachers (A velhota matreira)

Na linha 49 rodam muitos veículos. Por vezes chegam ao ponto final dois ou três, ao mesmo tempo.

Por motivos diversos, foi proibida a mudança de passageiros do carro de trás para o da frente. Tal fato gerou muita reclamação da parte dos passageiros, que preferiam adiantar-se no carro da frente a ter que aguardar a vez daquele em que já estavam poder sair.

Num belo dia chega o cordial e prestativo motorista Cleber ao ponto, tendo um carro já estacionado à sua frente. Ao estacionar e preparar-se para descer e levar a ficha (guia) ao despachante, para a marcação do horário, uma senhora idosa, bem franzina, lhe pergunta:

– Posso passar para o carro da frente, meu filho?

– Não, senhora, infelizmente não pode mais.

– Mas eu estou com pressa!

– Mas não pode mais, minha senhora, é ordem do dono.

– Mas o que eu vou ficar fazendo aqui dentro?

Cleber, homem tranquilo, mas já se estressando, disse:

– Olha, minha senhora, a senhora pode fazer o que quiser.

Disse isso e desceu do veículo, junto com o cobrador, deixando apenas a porta dianteira (embarque) aberta, para caso algum passageiro quisesse ir logo subindo.

Cerca de dois minutos depois, enquanto conversava com o despachante no ponto final, Cleber sentiu um toque em suas costas. Era a velhinha.

– Meu filho, como é? Esse ônibus sai ou não sai?

– Mas, minha senhora, a porta de desembarque estava fechada! Como a senhora conseguiu descer?

– Ué, meu filho, eu passei por baixo da roleta! Tá pensando que eu sou quadrada???

Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Luiz Damo (Trovas do Sul) XIX

A escrita tem seu papel,
outro igual tem a leitura,
ambas formam um anel
nas mãos da literatura.
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A morte, pra muitos, é
fruto da fraqueza humana,
porém vista à luz da fé,
mera transição mundana.
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A planta que não dá fruta
não merece ser tratada,
se não mudar a conduta
deve ao fogo ser levada.
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A vida pra ser mais bela
depende do nosso olhar,
nunca esperemos só dela
o que cabe a nós mudar.
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Belas flores admiramos,
plantá-las nem tanto assim,
mormente quando passamos
pela frente de um jardim.
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Deixar o mundo melhor
deve ser nossa missão,
mesmo que seja o suor
a maior demonstração.
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Fim da vida não tem rumo,
pode chegar de surpresa,
num momento inoportuno
causando dor e tristeza.
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Gestos de fraternidade
nunca nos faltem na vida
e os de solidariedade
tragam paz, luz e guarida.
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Mais que sonhar loucamente,
numa busca enlouquecida,
é vivermos plenamente
cada momento da vida.
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Mil pequenas pinceladas,
surgem quadros imortais,
pinturas "imaculadas"
nos saguões e Catedrais.
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Na canoa sobre o rio
o canoísta desliza
e o seu maior desafio
é remar na hora precisa.
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No almoço tem alimento,
misto de quentes e frios,
dando vigor e o sustento
pra enfrentar os desafios.
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No casulo das vaidades
às vezes nos escondemos,
para fugir das "verdades"
à mesquinhez recorremos.
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No prédio tem um furinho
causado pela omissão,
posso ser o tijolinho
que completa a construção.
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Nunca teve tempestade
que após, faltasse a bonança,
nem maior felicidade
que deixar o bem de herança.
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O carrossel da alegria
passa pela nossa frente,
transbordando de magia
e alegrando tanta gente.
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Onde há leitura, por certo,
crescerá o conhecimento
e o leitor fica mais perto
do seu desenvolvimento.
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Quando a dor invade a rua
faz o mundo estremecer,
não tem sol, nem mesmo a lua,
que possa nos aquecer.
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Passarinho traz no bico
pro filhote a refeição,
como faz o tico-tico
no seu ninho rente o chão.
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Por mais fascinante e bela
a mensagem recebida,
nada tem maior daquela
que pra nós se chama "vida".
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Pra vencer toda a batalha
que acirrada se mostrar,
veremos que quem trabalha
não teme o sonho frustrar.
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São tantos os labirintos
que o mundo nos oferece,
cabe a nós pelos instintos
ver qual menor nos parece.
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Se dentro do peito tem
um coração tão sedento,
fora, pode estar também,
seu dono no isolamento.
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Se do amor alguém desperta
sendo um sentimento raro,
torna-se uma porta aberta
para obter e dar amparo.
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Sobre as ondas do egoísmo
navega a devassidão,
fazendo do pessimismo
fanal da navegação.
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Tem muita gente que faz
somente uma refeição,
falta o pão que força traz
para se tornar ação.
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Todo o estabelecimento
que sala de espera tenha,
demonstra que o atendimento
se faz através de 'senha'.
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Todo serviço enobrece
quando feito com moral,
é uma semente que cresce
sobre o campo laboral,

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Minha Estante de Livros (A Filha do Reverendo, de George Orwell)


A filha do Reverendo é um romance baseado em experiências pessoais de Orwell como morador de rua na Londres dos anos 30, e também de uma moça sem memória: Dorothy Hare, filha única de um pastor autoritário e egoísta. Com suspense e surpresas, a obra, publicada pela primeira em 1935, retrata a realidade eterna da miséria.

Dorothy Hare, a filha do reverendo, tem todas as razões do mundo para se rebelar contra a repressão paterna e social. Mas, porque nunca ousaria fazê-lo, devotada que é ao pai, uma providencial amnésia lhe mostra o sabor amargo da liberdade. A opressão da mulher. A opressão patriarcalista, social, afetiva, sexual… Não é um livro sobre a opressão, mas sobre a dor da opressão, de suportar os dissabores e infortúnios da vida, em uma época, que a moral determinava quem se podia ser, predestinada a ser. Dorothy enfrenta seus próprios medos numa sociedade hipócrita, cruel e atemporal. Parece uma história que se passa na década de 30 inglesa, mas está mais próxima que imaginamos, a roupagem da opressão feminina hoje é outra, mas é tão intensa quanto a nossa Dorothy experimenta. George Orwell pontual, profundo, cônscio da dor.

A Dorothy (personagem principal) é espetacular, você vai olhar para ela com um pouquinho de receio no começo da história, porém ela vai te conquistar durante o livro, será maravilhoso ter a companhia dela, e nos momentos onde não estiver a companhia da filha do reverendo, se sentirá sozinho no livro. Mas obviamente se tratando de George Orwell (autor dos livros “1984” e “A revolução dos bichos”) o livro trás reflexões sobre o capitalismo, a religião, as hipocrisias, o sistema de ensino de sua época e o sentido de nossa existência, esse livro trata da questão existencial.

Dorothy, como toda filha de reverendo, tem uma existência baseada no cristianismo, e essa é a sua zona de conforto, não suporta ter tudo o que acredita questionado, ela só quer manter-se em um estado de inércia mental e moral. Essa moral apática protagonista leva a questionar: Quantos de nós somos como ela? Eu sou assim? Quantas crianças criadas por socialistas, pastores, ferreiros, católicos, policiais, professores, empresários e todo tipo de gente vai manter por toda a vida uma fachada de hipocrisias, apenas por ser “cômodo” se manter com as ideias já preestabelecidas?

O ritmo pessimista de Orwell deixa atônito com tais pensamentos entrando em sua mente (principalmente na parte final do livro, que é a melhor), é uma experiência muito particular acompanhar o texto com tantas reflexões entrando em sua mente a cada palavra. E dessas reflexões percebe-se que mantemos várias fachadas falsas, coisas que não se acredita, mas tem-se medo de dizer o que realmente se pensa, afinal é mais fácil continuar como se está. Então a conclusão é que se somos apenas uma Dorothy, você é uma Dorothy também?

Fontes
– Análise por Pedro Henrique, na Amazon
Editora Pé da Letra
Anarquista

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Varal de Trovas n. 534

 

Humberto de Campos (O Sovina)

Funcionário modesto, ganhando apenas setecentos mil réis por mês, o operoso oficial de Fazenda Emiliano Praxedes não podia, ou não queria, dar à mulher, jamais, um vestido de passeio, mesmo de baixo preço. Casado há um ano, a esposa ignorava em absoluto as suas despesas, a cifra dos seus orçamentos, sabendo, entretanto, que os dispêndios eram grandes, fortes, elevados, porque ele nunca entrava em casa com dinheiro.

Cansada de esperar pela generosidade espontânea do esposo, D. Lídia chegou-se um dia para ele e, agradando-o, amimando-o, acariciando-o, pediu, passando-lhe a mão pelos cabelos:

- Praxedes, quando é que tu me dás um vestido novo? Tu nunca me deste nada...

Apanhado de surpresa, o funcionário prometeu:

- Breve. Isso depende apenas de ti. Dá-me um filhinho, um anjo para o nosso lar, que eu te darei um vestido! Está combinado?

- Está combinado! - concordou a moça, batendo palmas de contente.

No fim de nove meses, dado o beijo no seu primeiro pimpolho, que piscava no leito os olhinhos desconfiados, partia Emiliano Praxedes para a rua, de onde voltava horas depois com um embrulho, que entregou à esposa.

- Pronto! – exclamou – O prometido é devido!

D. Lídia abriu, risonha, o pacote, e empalideceu, mais do que estava: era um vestido de chita azul, grosseira, ordinaríssima, que não havia custado, talvez, mais de seiscentos réis o metro!

Desapontada embora com a sovinice do marido, a pobre senhora não se revoltou, não protestou, não disse nada. Calcou o seu ressentimento no fundo da alma, escondeu a sua mágoa no coração e, sem que o esposo lhe tivesse feito outra promessa, deu-lhe ao fim de mais um ano, um outro filho. Terminado o período de resguardo, tomou um bonde para a cidade e, à tarde, ao entrar em casa, vinha arrebatadora: vestido de seda, chapéu de plumas, sapato de cetim, pele de raposa, colar de pérolas, enfim, um deslumbramento!

- Que é isso, Lídia? Que escândalo é esse? - exclamou, boquiaberto, pondo-se de pé o Praxedes, que já se achava em casa, à mesa de jantar.

E madame, desafiadora:

- Você pensa, então, que todos são miseráveis como você?

E entrou na alcova, tirando as luvas.

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

Francisca Júlia (Cristais Poéticos) 6


D. ALDA
(Lied Moderno)

Hoje D. Alda madrugou. Às costas
Solta a opulenta cabeleira de ouro,
Nos lábios um sorriso de alegria,
Vai passear ao jardim; as flores, postas
Em longa fila, alegremente, em coro,
Saúdam-na: “Bom dia! ”
D. Alda segue.... Segue-a uma andorinha;
Com seus raios de luz o sol a banha;
E D. Alda caminha...
Uma porção de folhas a acompanha...

Caminha... Como um fulgido brilhante,
O seu olhar fulgura.
Mas – que cruel! – ao dar um passo adiante,
Enquanto a barra do roupão sofralda,
Pisa um cravo gentil de láctea alvura!

E este, sob os seus pés, inda murmura:
“Obrigado, D. Alda.”
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LAURA

Esta é a Laura, a riquíssima princesa
De negros olhos, elegante e bela,
A cujas plantas a áulica nobreza
Se roja, apenas a um sorriso dela.

Rosa de estranha e sensual fragrância,
Nascida em pobre e humílimo canteiro,
Em todos os certames da Elegância
Sempre conquista o galardão primeiro.

O seu esposo é um príncipe normando,
Louro e de face turgida e vermelha,
Em cujo olhar enérgico se espelha
A arrogância do orgulho e áspero mando.

Há tempos, Laura era a menina honesta,
Toda aos prazeres deste mundo alheia,
Que passava o viver nessa modesta
Vida tediosa e símplice de aldeia.

E quanta vez, à noite, a sós consigo,
Não fez correr as lágrimas no rosto,
Sem nunca achar em coração amigo
Que se doesse também com o seu desgosto!

Mas, um dia, a fortuna entrou-lhe à porta;
E, olhando derredor, vendo-a sozinha,
Com esse timbre de voz que a alma conforta,
“Laura, disse, levanta-te e caminha! ”

E conduziu-a, pela mão, ao grande
Mundo do luxo pródigo e faustoso,
Onde, farta e soberba, a alma se expande,
Cheia do tédio mórbido do gozo.

Hoje é a Laura, a riquíssima princesa
De negros olhos, elegante e bela,
A cujas plantas a áulica nobreza
Se roja, apenas a um sorriso dela.
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MUDEZ

Já rumores não há; não há; calou-se
Tudo. Um silêncio deleitoso e morno
Vai-se espalhando em torno
Às folhagens tranquilas do pomar.

Torna-se o vento cada vez mais doce...
Silêncio.... Ouve-se apenas o gemido
De um pequenino pássaro perdido
Que inda espaneja as suas asas no ar.

Ouve-me, amiga, este é o Silêncio, o grande
Silêncio, o rei das trevas e da calma,
Em que a nossa triste alma,
Penetrada de mágoas e de dor,
Se dilata, se expande,
E seus segredos íntimos mergulha...
Prolonga-se a mudez: nenhuma bulha;
Já se não ouve o mínimo rumor.

Esta é a mudez, esta é a mudez que fala
(Não aos ouvidos, não, porque os ouvidos
Não conseguem ouvir esses gemidos
Que ela derrama, à noite, sobre nós)
À alma de quem se embala
Numa saudade mística e tranquila ...
Nossa alma apenas é que pode ouvi-la,
E que consegue perceber-lhe a voz.

Escuta a queixa tácita e celeste
Que este silêncio fala a ti, tão triste...
E hás de lembrar o dia em que tu viste
Perto de ti, pela primeira vez,
Alguém a quem disseste
Uma frase de amor, de amor... ó louca!
E que, no entanto, só mostrou na boca
A mais brutal e irônica mudez!

Fonte:
Francisca Júlia da Silva. Mármores. Brasília: Senado Feder4al, 2020. Publicado originalmente em 1895.

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) 42 e 43


VOLTA À CASA PATERNA

Voltar à casa paterna depois de vinte anos de ausência é coisa comovedora, e Fábio tinha vontade de experimentar esta sensação. Infelizmente não chegaria a senti-la, pois seu destino era voltar à casa da família todos os dias, após o trabalho, e já tinha horror a essa obrigação.

Tirar férias de trinta dias para esquecer um pouco o ambiente doméstico e redescobri-lo como novidade não adiantava. Fábio encontrava de volta as mesmas paredes, o mesmo bule, o mesmo periquito. E não notava a sutil, incessante mudança das coisas, que se opera em todo organismo ou habitação.

Nesta rotina decorreram os vinte anos que ele imaginava serem o prazo ideal para a perfeita volta à casa paterna. Tudo continuava aparentemente na mesma, a seus olhos que não sabiam ver o invisível, pois tudo era profundamente dessemelhante do que fora, só que Fábio não reparava. O próprio periquito morrera, estava embalsamado.

Mudara o papel de parede, a louça fora substituída, o pai de Fábio também morrera, e a viúva casara outra vez. Voltando todos os dias à casa, ele não sentira a transformação. Foi preciso que o padrasto o convidasse a mudar de domicílio, para ele experimentar uma sensação profunda. A sensação de não voltar à casa paterna.
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UM LIVRO E SUA LIÇÃO

Poucos livros são como este livro. Aparentemente, igual a muitos. Mas se o abrires em qualquer página, encontrarás de cada vez um texto diferente.

Ouvi que na Ásia há um livro com a mesma propriedade, e que nos Estados Unidos existiu outro, comprado a um dervixe, mas que, pelo manuseio constante, não apresenta a singularidade: ficou um livro como os demais, unívoco.

O exemplar que possuo, não deixo que ninguém o consulte. Zelo por sua integridade, e só de longe em longe me animo a folheá-lo. E é sempre um assombro.

Não o comprei. Achei-o no porão de uma casa onde só havia trastes abandonados e teias de aranha. Ao descobrir sua inacreditável raridade, fiquei trêmulo e guardei o segredo até dos mais íntimos.

Este livro extraordinário me explicou o sentido do mundo, que varia sempre e não se subordina a qualquer filosofia. Explicação que não explica, pois sendo infinitas as variações, qualquer delas só dura o tempo de leitura de uma página, ou meia.

Não posso continuar guardando o volume, e não sei o que fazer dele. Tenho medo de abri-lo; medo de rasgá-lo; medo de que o furtem; medo de ler nele uma sentença aniquiladora, a última sentença, depois da qual o mundo deixaria de ser vário e, portanto, de existir.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

Minha Estante de Livros (Renato Cascão & Sammy Maluco: Uma dupla do balacobaco, de Sammis Reachers)

 
 
Introdução do Livro, pelo autor

Este pequeno volume reúne algumas memórias de minha infância, transcorrida entre meados da década de 80 e inícios da década de 90 do século passado. Não faz assim tanto tempo, mas ainda era numa época em que as crianças, então não feridas pelas virtualidades da web ou enjauladas pelo risco da violência lá fora, brincavam de fato e de direito. E era um brincar na acepção plena do termo, na configuração máxima das 24 horas do dia, onde os pequerruchos exploravam o seu geralmente vasto espaço vital à exaustão.

Claro, nem tudo eram flores; a pobreza exercia o seu duro reinado, e aprendendo a driblá-la levávamos a vida – uma vida sofrida, transida de malandragem e inocência, mas, atropelando os pesares, profundamente feliz. Afinal, o chão da memória é apagar o grosso das sofrências, ou romantizar pela nublagem o rude dos amargos momentos.

Há um texto anônimo de grande beleza, e que acredito sirva de excelente introdução às pequenas e divertidas narrativas que aqui vão rascunhadas:

O QUE É UM MENINO?

Os meninos se apresentam em tamanho, peso e cores sortidas. Encontram-se por toda a parte, em cima, em baixo, dentro, fora, trepados, pendurados, caindo, correndo, saltando. As mães os adoram, as meninas os detestam, as irmãs e os irmãos mais velhos os toleram, os adultos os ignoram e o céu os protege. Um menino é a verdade de cara suja, a sabedoria de cabelo esgadelhado, a esperança de calças caindo. Tem o apetite do cavalo, a digestão do avestruz, a energia da bomba atômica, a curiosidade do mico, os pulmões de um ditador, a imaginação de Júlio Verne, a timidez da violeta, a audácia da mola, o entusiasmo do buscapé e tem cinco polidáctilos em cada mão, quando pratica suas reinações. Adora os doces, os canivetes, as serras, o Natal e a Páscoa; admira os reis e os livros de figuras coloridas; gosta do guri do vizinho, do ar livre, da água, dos animais grandes, do papai, dos automóveis e dos trens, dos domingos, das bombas e traques. Abomina as visitas, o catecismo, a escola, os livros sem figuras, as lições de música, as gravatas, os casacos, os barbeiros, as meninas, os adultos e a hora de dormir.

Levanta cedo e está sempre atrasado à hora das refeições. Nos seus bolsos há sempre um canivete enferrujado, uma fruta verde mordida, um pedaço de barbante, dois botões e algumas bolinhas de gude, um estilingue, um pedaço de substância desconhecida e um objeto raro, que lhe é precioso por 24 horas. É uma criatura mágica. Você pode fechar-lhe a porta do seu quarto de ferramentas, mas não a do seu coração... Pode expulsá-lo do seu escritório, mas não do seu pensamento. Toda a sua importância e a sua autoridade se desmoronam diante dele, que é o seu carcereiro, seu chefe, seu amo... Ele, um despótico e ruidoso mandãozinho!... Mas quando você volta para casa, à noite, de esperanças e ambições despedaçadas, ele pode compô-las num instante com as suas palavrinhas mágicas: "OH! — MAMÃE!".

É de se imaginar que as travessuras aqui narradas tenham como personagens principais esses dois aí do título: Meu amigo de infância, Renato “Cascão”, e o Sammy “Maluco”, este pacato alucinado que vos escreve. Mas não apenas eles ou nós: Outros atores desta ópera bufa que é a vida numa periferia se fazem presentes, emprestando suas histórias para, queira Deus, trazer um pouco de alegria e diversão a você, amigo leitor.
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Sobre o Autor
Nascido em 1978, em Niterói, mas desde sempre morador de São Gonçalo, ambos municípios fluminenses, Sammis Reachers é poeta, escritor, antologista e editor. Autor de dez livros de poesia e três de contos/crônicas, organizador de mais de quarenta antologias e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou vice-versa. Possui textos em vários blogs e sites.

Como autor, publicou:
São Gonçalo de Todos os Santos (poesias, 1999); Uma Abertura na Noite (poesias, 2006); A Blindagem Azul (poesias, 2007); Poemas da Guerra de Inverno (poesias, 2012); Deus Amanhecer (poesias, 2013); Pulsátil – Poemas canhestros & prosas ambidestras (poesias, 2014); Grãnadas (poesias, 2015); O Pequeno Livro dos Mortos (crônicas, 2015); Rodorisos – Histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários (contos, 2017); Poemas de Amor em Trânsito (poesias, 2018); Cartas & Retornos (poesias, 2021); Renato Cascão e Sammy Maluco – Uma dupla do balacobaco (crônicas, 2021).


Fonte:
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco – Uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. Do Autor, 2021.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Versejando 87

 

Júlia Lopes de Almeida (O Véu)

(Das memórias de um estudante)

... nas férias desse mesmo ano, decidi visitar a família, meu pai e duas irmãs, na pequena vila do meu nascimento, em S. Paulo. Revoltado pela injustiça dos lentes, que me reprovaram no meu quarto ano de medicina, resolvi ir para o mato escrever em sossego contra eles. A vingança seria tremenda.

Parti num dia de muito calor; ia indisposto e sonolento. Dando um puxão ao meu boné para os olhos, dispunha-me a adormecer quando vi sentarem-se na minha frente duas senhoras.

Uma era alta, a outra baixa; uma esbelta, a outra atarracada. A baixa levava sobre o vestido de merinó* preto um guarda-pó de linho com reversos de cor, chapéu de palha havana e luvas de meia pardas. Era mulher de uns quarenta e poucos anos, morena, luzidia e de lunetas de aro: tipo vulgar, burguês. A esbelta trajava com elegância um vestido simples de riscadinho cinzento, sem folhos nem fitas, guarnecido de pespontos, com um casaco justo que lhe denunciava a formosa linha do corpo e um colarinho à inglesa, muito unido ao pescoço. Chapéu do mesmo tom que pareceria mais um chapéu de homem se não lhe tivessem pespegado na frente uma grande ave de asas abertas.

Desço a essas minudências de toilete porque elas constituíram logo para mim um ponto de estudo. A maneira de vestir indica fatalmente a maneira de pensar de uma mulher. E entre aquelas duas... que abismo! que extraordinária diferença! Era caso realmente para meditação. Eu observava ora uma, ora outra.

As luvas de meia de algodão pardas da baixa faziam-me adivinhar mãos curtas, grossas, ágeis, afeitas à vassoura, à agulha, calejadas da tesoura, marcadas por queimaduras de calda ou água a ferver; as luvas de pelica da alta, justas e bem abotoadas, faziam-me sonhar com umas finas mãos muito macias e brancas, acostumadas a correr pelo teclado de um piano de Erard, a folhear os livros de Bourget, ou dos Goncourt, e a acariciar um angorá de preço, no aconchego tépido de um divã de seda. Os sapatos de entrada baixa da gorda, mostrando-lhe as meias cruas engelhadas nos tornozelos grossos, faziam declarações terrivelmente indiscretas: que aqueles pés tinham calos e unhas encravadas, que se punham assim à vontade pela obrigação de longas caminhadas enfadonhas e cansativas. As botinas de pelica da outra, lustrosas e estreitas, diziam o contrário. Estavam ali dentro pés mimosos, acetinados, habituados à valsa e à fábrica Ferry.

Na larga cara da morena, úmida de suor e salpicada do carvão da máquina, li como num livro aberto: atividade, despretensão, pouca inteligência e uma pontazinha de gênio. Na cara da companheira é que não pude ler nada! levava-a encoberta por um largo véu claro, que passava e repassava em torno da cabeça, escondendo-lhe totalmente as feições. Era clara, loira, trigueira, rosada ou pálida? Não o podia eu então saber.

Devia ser loira, que é o tipo requintadamente aristocrático. Aquela singularidade mesmo de um véu tão espesso, coisa perfeitamente explicável numa viagem em trem de ferro em tempo de seca e de pó, contribuiu para tornar mais curiosa e interessante a figura patrícia daquela senhora. Eu estudava-a e, à proporção que a estudava, ia-me apaixonando! Ah! não se riam! Que diabo há de fazer um rapaz de dezenove anos durante um dia inteiro de viagem, quando o acaso lhe atira para diante dos olhos uma estampa tão sedutora? Apaixonei-me, sim; mas não foi também tão subitamente como à primeira vista pode parecer! Fui-me apaixonando minuto a minuto, lentamente, primeiro pelos pezinhos, depois pelas mãos, depois pela distinção do porte, e finalmente pelo rosto que eu não via, o que não obstava a que o soubesse de uma brancura de leite e rosas, iluminado por um par de olhos rasgados, úmidos, prometedores de inefáveis doçuras. E, assim como eu percebera o caráter da outra pela cara, percebi, pelo conjunto gracioso desta, o seu gênio também. Era recatada, tímida, honesta, altiva, indolente – tanto quanto o exigisse a sua alta posição na sociedade –, rica e solteira. Encobria-se assim (e já eu fazia as minhas conjecturas!) porque, viajando sem o pai, acanhava-se de se dar a conhecer a toda a gente, evitando comentários; uma prudência louvável. Seria casada? Também podia ser; o papel de pai identificava-se com o de marido, sem que por isso o dela sofresse alterações: irmã ou filha da outra é que não era; isso jurava eu.

O meu olhar fixava-se por tal forma na sua gentilíssima figura, que ela principiava a inquietar-se.

“Sou um grosseiro”, dizia eu de mim para mim; mas não conseguia desviar a vista.

Ali mesmo formei logo intenção de escrever um livro a que poria o título – as mulheres; livro esquisito, original, farfalhante como as sedas de Lyon. Era essa desconhecida quem me suscitava tão boa ideia.

Abençoada fosse ela! Propunha-me (julgava-me habilitado para isso) a descrever os caracteres das mulheres que eu daí por diante encontrasse, só pelas suas manifestações exteriores. Na missa, no baile, em casa, no teatro, na maneira de ajoelhar, de abrir o livro, de dançar, de mover o leque, de receber uma visita ou de assistir a um drama, julgava eu, ainda inexperiente das suas dissimulações, que as poderia definir clara e positivamente, estampando-as depois com todos os cambiantes nas páginas do meu volume. Seria dedicado o meu trabalho à bela e misteriosa companheira de viagem, de quem então eu já deveria saber o nome.

O nome! Como se chamaria ela? E andei à procura de um nome de mulher loira: Laura... Matilde... Alice... Lúcia... Aurora!

Entretanto, chegamos a S. Paulo. Anoitecia; os lampiões de gás espalhavam pontinhos de ouro pela cidade. Acabava-se o meu romance tristemente... não me podia resignar a isso. E, apanhando à pressa a minha mala, acompanhei as duas senhoras através da gare**.

Um sujeito aproximou-se delas, e curvando-se diante da mais alta, recebeu algumas ordens, rapidamente, depois acompanhou-as à rua, abriu a portinhola de um carro particular e voltou. Elas partiram, e eu, numa resolução digna dos meus dezenove anos, acompanhei-as noutro carro, até vê-las entrar numa casa apalaçada, ao lado de um jardim.

A minha vila que me perdoe, e que me perdoe a minha família e que se regozijem os meus lentes ameaçados! Esqueci-os e instalei-me por largos dias no Grande Hotel! As manhãs e as tardes gastava-se ou em passeio diante daquela grande casa sempre fechada, misteriosa como o véu, aristocrática como a dama. Por fim, num desespero de namorado infeliz, encostava-me à grade e ficava horas esquecidas olhando para dentro, sem medo de me tornar suspeito para a criadagem ou para a polícia, a ver cair lentamente, como lágrimas de sangue, as pétalas carnudas das camélias vermelhas. Tanto maior era a obstinação daquela senhora em se não mostrar, quanto mais veemente era o meu desejo de a ver.

Passados não sei quantos dias, lobriguei numa manhã a companheira de viagem, a gorda, a sacudir um tapete numa janela; cumprimentei-a, sorri-me, fiquei atrapalhado, com vontade de perguntar alguma coisa, mas evitando praticar semelhante asneira. Ela compreendeu-me de certo, porque teve a amabilidade de convidar-me para descansar.

– A senhora baronesa ainda está recolhida, disse com malícia; mas isso não o priva de entrar e tomar uma canequinha de café.

Recusei e segui.

Para encurtar razões: escrevi um dia à baronesa, e mandei-lhe a carta. Nessa tarde recebi um cartão dela consentindo que eu lhe fosse beijar a mão.

Entrei na sua casa transportado de júbilo e já com o prólogo do meu livro feito para lhe mostrar... Nessa parte da minha obra, escrita em noites de febre um tanto romanesca, pusera eu, entre muitos adjetivos e frases modernas perfeitamente desconexas, num estilo à la diable, toda a minha alma e aspiração de glória!

Tinha antíteses medonhas, quadros terríveis em que a dúvida se divertia a queimar um pobre coração, revolvendo-o nas chamas de um amor intensíssimo! E por sobre isso tudo, uns salpicos de opoponax, que era o aroma em voga, e uns sonhos ideais, cheios de coisas mansas e doces melancolias, com que eu contava apossar-me do coração da bela baronesa. E era só imaginar o brilho dos seus olhos lânguidos quando me dissesse entusiasmada e feliz:

– Como é belo!

Fizeram-me esperar numa sala, em que ocupava a principal parede um barbaças condecorado. Estava ali havia uns bons dez minutos quando um criado veio dizer-me que a senhora baronesa rogava-me o obséquio do ir ter com ela a uma outra sala.

Fui.

Estava de pé e veio receber-me sorrindo com tristeza, e talvez também com um pouco de ironia...

Ai de mim! Por que tirara ela o longo véu piedoso?! Era velha, a baronesa, velha e feia; mas bem velha e bem feia!

Fiquei atônito, tendo a estupidez de deixar transparecer na fisionomia a minha amarga decepção; e ela, para vingar-se daquele imperdoável movimento, deixou-me logo cair no ouvido estas palavras agudas como punhais:

– Meu menino, não se canse jamais em seguir as mulheres... que usarem véus muito espessos!
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Notas:
* Merinó = Lã de carneiro de raça espanhola. Sua lã é apreciada por ser muito fina.

** Gare = Estação de trem.

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Ânsia eterna. 2. ed. rev. Brasília : Senado Federal, 2020. Publicada originalmente em 1903.

João Batista Xavier Oliveira (Trovas de Quem Entende de Trovas) V


A alegria despertava
quando a porteira se abria.
Hoje aberta... sem a trava...
só transita nostalgia!
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A goteira enciumada
feriu a rosa em botão
porque à chuva misturada
nunca chamou atenção.
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A neve em nossos cabelos
não arrefece a união;
o tempo com seus desvelos
aquece nossa paixão.
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Anos dourados, orquestras,
rostos colados, penumbra,
voltas em passadas destras...
o meu passado vislumbra!
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Após a invenção da roda
apressa, numa rodada,
parece que virou moda
na roda-viva enrolada!
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Busquei na vida sentido
para compreender meus ais:
um grande orgulho contido
e amor pequeno demais!
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Como sou tão distraído!
Após você ir embora
notei quem tinha fugido:
eu de mim... somente agora!
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Cultivar rosas consiste
em saber do espinho oculto;
a ilusão dorida existe
na vida envolta num vulto.
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Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite;
quem espera sempre ao léu
não passa de um vil enfeite.
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Eu me sinto um fugitivo
sem teu olhar prisioneiro
pois na prisão em eu vivo
o amor é o meu carcereiro!
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Minha luz interior
tomou forma e consistência
quando descobri o amor
na mais singela existência!
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Não é ilusão dos meus olhos
nem delírio de carência;
são os sinais dos escolhos
desenhando a tua ausência!
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Não quero rimar espera
na tua ausência dorida;
ao chegar a primavera
a esperança é colorida!
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Nas noites esperançosas
meu sonho... apenas um vulto...
é um jardineiro entre as rosas
nos seus espinhos oculto!
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No jardim da minha infância
quantas flores eu colhi!
Ainda sorvo a fragrância
toda vez que volto aqui!
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O chilrear matutino
numa cadência sem fim
é o legado do menino
cantando dentro de mim!
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O ponto de referência
que nos uniu de verdade
foi a esquina da paciência
com as ruas da saudade!
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Parece um sonho e me espanta
nosso amor tanto expandir.
A felicidade é tanta
que receio até dormir...
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Pés na calçada da fama;
mãos abanando fortuna...
porém sua alma reclama
na solidão que importuna!
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Procurei felicidade
todos momentos da vida.
Encontrei-a na humildade:
estava em mim... escondida!
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Procurei na vida um jeito
de viver que me incentiva:
no jardim, amor-perfeito;
na esperança a sempre-viva!
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Quando o céu desaparece
o espírito em desarranjos
para encontrar-se na prece
precisa de muitos anjos!
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Quando se enxerga o inimigo
o embate é menos atroz,
pois ele é maior perigo
estando dentro de nós!
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Que valor tem conquistar
poder e glória sem fim...
se no aconchego do lar
solidão ganha de mim?!
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Quisera, nos meus delírios
que alcançam versos celestes,
a liberdade dos lírios
nos vastos vergéis agrestes.
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Quisera uma flor apenas
no meu portal de esperanças;
suas pétalas pequenas
são sorrisos de crianças!
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Teatral! Muito fagueira
a trova não é pequena:
representa a peça inteira
em uma única cena!
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Um grande amor é igual planta
pois cresce sem ser notado.
Diamante somente encanta
depois de ser lapidado.
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Um pequeno gesto basta;
pode mudar uma vida:
No instante que a mão se afasta
de outra mão na despedida.

Contos e Lendas do Paraná - 6 (Mamborê) Pala Branca


O conhecido Pala Branca veio da região de Caçador, Santa Catarina, após um tiroteio com a polícia daquele lugar. Passou a residir na região de Pensamento e possuía um documento com o nome de Fermino Caneveze, outro com o nome de Augusto Cela e havia, ainda, um terceiro documento.

Era chamado de Pala Branca, pois sempre usava um pala desta cor, para cobrir as armas de fogo que carregava presas ao seu corpo. Ele tinha três filhos e três filhas, todos muito educados. Todos os membros de sua família eram muito acolhedores, segundo contam os antigos. Ao chegar, à noite, na casa de alguém, por mais que fosse conhecido, não incomodava. Dormia próximo à cerca e só pela manhã chamava os donos da casa.

O Pala Branca era temido por aqueles que o conheciam ou sabiam de sua fama. Ao mesmo tempo, para os amigos, era um bom homem e estes usufruíam de sua proteção. Não era difícil para ele tirar a vida de alguém. Bastava que este o provocasse, ou prejudicasse um amigo seu.

Numa festa em Pensamento, um bêbado o provocou e o ameaçou com uma faca. Pala Branca afastou-se até os limites dos galhos de uma árvore. Aí o bêbado o feriu na cabeça. Pala Branca sacou sua arma e o matou. Entre os integrantes de sua gangue, destacavam-se Pé Grande, Cabeça de Tigre e Camisa de Couro.

Numa ocasião chegou a entrar a cavalo num bar em Mamborê, à procura de alguém.

Alguns proprietários de cavalos procuravam fazer amizade com Pala Branca; assim, ficavam mais tranquilos e os animais não seriam roubados. Para alguns que o conheceram, ele não era um “ladrão de cavalos”, propriamente dito. Houve casos nos quais ele e seus homens retiraram animais de propriedades, só com a intenção de prejudicar o proprietário, inimigo seu. Estes animais não eram para ser vendidos nem utilizados por Pala Branca.

Ele, porém, era envolto num grande mistério. Ninguém explicava como Pala Branca desaparecia nos momentos em que sua liberdade parecia ameaçada. Casos como o de uma festa com os amigos, numa residência em Mamborê. Lá pelas tantas, apareceu a polícia à procura de Pala Branca. Simplesmente ele desapareceu, voltando ao meio dos amigos algum tempo mais tarde.

Numa ida a Pensamento com um amigo, à noite e a cavalo, após aproximadamente cinco quilômetros da cidade, Pala Branca avistou dois Jeeps da polícia vindo em sentido contrário; disse ao amigo para que seguisse adiante. Assim ele fez. Passando a ponte, os policiais perguntaram ao amigo por Pala Branca. Este disse não saber. Os policiais seguiram em frente. Minutos mais tarde Pala Branca alcançou o amigo. Acontece que naquele trecho a estrada se transformava num verdadeiro corredor, com mato e cerca dos dois lados, não havendo a mínima possibilidade de se esconder.

Numa outra feita, Pala Branca e os amigos estavam numa zona do baixo meretrício, que se localizava nas proximidades da esquina da atual Av. Paulino F. Messias e rua Pirai. A polícia apareceu de repente na porta. Pareceu ser automático: entrou a polícia, Pala Branca sumiu. Os amigos disseram aos policiais que ele estava ali e que não sabiam para onde tinha ido. Apenas sua mula foi levada para a delegacia. Uma hora mais tarde, mais ou menos, Pala Branca já estava novamente entre os amigos e as mulheres.

Quando saiu de mudança para Pinhão foi ferido e escondeu-se em Pensamento, por um certo tempo. Veio a morrer mais tarde em uma briga com seus capangas, em Laranjeiras do Sul. Nesta, morreram, além de Pala Branca, mais duas pessoas.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Isabel Furini (Poema 23) Escrever

 Isabel é de Curitiba/PR


Baú de Trovas XXXVII



Traz o palhaço a mão cheia
de sementes de esperanças;
e alegremente as semeia
no coração das crianças!
A. A. de Assis
Maringá/PR

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Em momentos exaltados
sem poder falar e agir
o silêncio dá recados
que poucos sabem ouvir.
Alba Christina Campos Netto
São Paulo/SP
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Trago vivos na memória
lampejos do que passou...
São retalhos de uma história
que o passado recortou.
Ana Cristina de Souza
Teresópolis/RJ,  ????  – 2020, São Paulo/SP

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Dia a dia vai se impondo
este conceito batata;
a Terra é um mundo redondo
repleto de gente chata...
Aparicio Fernandes
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

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Êste mundo é um grande circo,
nós somos palhaços seus;
ele tem o céu por pano
e seu diretor é Deus.
Bernardo Guimarães Filho
Belo Horizonte/MG

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Eu já não tenho mais vida!
Tu já não tens mais amor!
Tu só vives para os risos,
eu só vivo para a dor.
Castro Alves
Curralinho/BA, 1847-1871, Salvador/BA

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Regressas… verás, contudo,
que enquanto o tempo passou,
tua ausência matou tudo
o que já fui… e o que sou,
Divenei Boseli
São Paulo/SP

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Da mulher, tanta feiúra
o espelho não aguentou,
escapuliu da moldura.
fez-se ao chão... se suicidou!
Élbea Priscila S. e Silva
Caçapava/SP

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Perdi-me na curva infinda
deste mundo de meu Deus,
por partir sem ter ainda
toda a luz dos olhos teus.
Evandro Moreira
Cachoeiro de Itapemirim/ES

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Tudo descora e se apaga,
é esta do mundo a lei;
desde a choça do mendigo,
até os paços do rei!
Fagundes Varela
Rio Claro/RJ, 1841 – 1875, Niterói/RJ

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Cai o orvalho, de mansinho,
nesta aridez do sertão...
E o povo aceita o carinho
que ameniza a insolação!
Giva da Rocha
São Paulo/SP

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Certos corações fechados,
a bater no isolamento,
têm mais mistérios guardados
do que um cofre de avarento!
Héron Patrício
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG

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Tão etérea, tão airosa,
passou naquele momento,
que parecia uma rosa
despetalando-se ao vento...
Luiz Otávio  
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

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Só ruínas... e mais nada...
- e me entristeço de novo -
Na herança mal preservada
se perde a história de um povo.
Luzia Brisolla Fuim
São Paulo/SP

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Na altivez deste meu porte
de rainha em pedestal,
existe a mulher que é forte
e a outra… que é de cristal!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes/PR

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Na partilha dos teus bens,
segue essa ideia que é linda;
divide o pouco que tens
com quem tem menos ainda.
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

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Ao homem Deus deu Terra
e veja o que o homem faz:
cria as hienas da guerra
e mata as pombas da paz.
Olympio da Cruz S. Coutinho
Belo Horizonte/MG

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Passou... Bonita de fato!
E o mar, ao vê-la, tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela!
Orlando Brito
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

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Nos caminhos que, hoje, eu trilho
nos lares não se usa mais...
Eu sou do tempo em que o filho
pedia a bênção aos pais.
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

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Meu portão velho e sem brilho...
mas, na pintura sem cor,
os rabiscos do meu filho
valem poemas de amor!
Vanda Fagundes Queiroz
Curitiba/PR

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Saudade vive e contesta,
acorda de madrugada,
faz lembrar o fim da festa...
o beijo... e a noite estrelada...!
Vânia Ennes
Curitiba/PR

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A quem cultiva um jardim,
a natureza lhe ensina:
se a estiagem não tem fim,
orvalho é benção divina.
Yedda Ramos Maia Patrício
São Paulo/SP